Por tudo isso, a iniciativa de Raul Andreucci, tanto ao
escrever e produzir a primeira obra de sua editora No Barbante torna-se um
marco no universo da literatura e no jornalismo futebolístico.
A Selva do Futebol é uma combinação de histórias, uma
adaptação de uma reportagem especial sobre a realidade do futebol amazonense às
vésperas da inauguração da Arena da Amazônia e a extração ilegal de madeira que
sustenta as estruturas desse mesmo estádio, utilizado durante a Copa do Mundo
no Brasil, em 2014.
Trabalho minucioso de pesquisa e investigação dos
autores, Raul Andreucci e Túlio Kruse. A obra é dividida em três partes. A
primeira e a terceira, escritas por Raul, revelam as andanças dele por Manaus,
ouvindo e revelando histórias de superação, corrupção, descaso e a paixão pelo
futebol, mesmo em um cenário caótico. Na segunda parte, Túlio ilumina todo esse
rastro surreal percorrido por seu parceiro Raul. Como afirma Raul, “quisemos
destacar, também de uma forma gráfica, esse contraditório entre a selva e o
concreto. Assim não apartamos as histórias, como se cada uma fosse para um
lado. Reforçamos e lembramos que, como na vida, está tudo, de fato,
entrelaçado. Dá para ler na ordem disposta, pulando e começando pelo centro –
ao gosto do leitor”.
Esta resenha sobre A Selva no Futebol não foi produzida
pelo fato de o editor do Literatura na Arquibancada ter sido convidado para
prefaciar esta obra. Livro e editora criam, simultaneamente, um novo espaço no
modo de curtir e viver a bola, um contraponto e um complemento a diversas
outras experiências no mercado editorial da literatura relacionada ao futebol.
Abaixo, destacamos prefácio e um dos capítulos da obra.
Da
inspiração
Por André
Ribeiro
No Facebook, uma mensagem que, para
mim, não fazia muito sentido. Era o jovem Raul Andreucci, um dos autores desta
obra, convidando para escrever o Prefácio. Estou afastado do jornalismo
esportivo e da literatura esportiva. Não publico artigos ou livros há alguns
anos. Gente muito mais competente e famosa poderia trazer brilho ainda maior
sobre o conteúdo que inaugura a vida da Editora
No Barbante.
Aceitei por conta das primeiras
linhas: “Conheço seu trabalho desde
moleque, quando li a biografia do Telê Santana. E sou órfão do Literatura na
Arquibancada, uma das sacadas que me trouxe até aqui”.
Sem falar na linha editorial: “Estou lançando a Editora No Barbante, dedicada ao futebol. E não qualquer futebol.
Aquele para além do clube de coração, do sucesso das taças ou da fama das
estrelas. Somos uma editora para quem quer futebol com mais cores, profundidade
e coração. Dos que vibram com as histórias em torno da bola no barbante.
Qualquer uma”.
Impossível recusar. Tudo remetendo a
um passado não tão distante, do meu olhar sobre o futebol e quase tudo o que já
produzi. Um dos projetos, o blog que tanto inspirou Raul em sua trajetória
profissional.
Por seis anos, entre 2011 e 2016, o Literatura na Arquibancada reuniu
conteúdos variados, personagens, resgates de vidas, história da criação de
jornais, revistas, rádio, televisão, a paixão de famosos da música ou de
qualquer outro canto ou tipo da sociedade pelo futebol.
Muitos leitores (e eu também)
descobrimos raridades, escritos deixados por gente como Clarice Lispector,
Carlos Drummond de Andrade, Décio Pignatari, Manuel Bandeira, Gilka Machado e
tantos outros.
E o que Raul e sua No Barbante propõe como pontapé
inicial? Tudo isso e muito mais. Livros da literatura de futebol que, estivesse
o Literatura na Arquibancada em
atividade, seria tema de um artigo.
A criação do blog foi fruto dessa
paixão pelos livros, e, também para mim, aqueles feitos em papel – nada contra
as tecnologias recentes.
Outra lembrança deliciosa dos tempos
do Literatura na Arquibancada, e que
tem a ver com a proposta editorial da No
Barbante: textos de Gabriel García Márquez sobre sua paixão pelo futebol
“perdidos” numa coleção enorme que, se não me falha a memória, chegavam a
quatro volumes. Quem poderia imaginar Gabo, um dia, escrevendo sobre bola?
Literatura é isso. No processo da
escrita e leitura, descobertas. Via de duas mãos. Para quem escreve e para o
leitor. Longa viagem no processo do conhecimento. Como disse um dos maiores
críticos literários do país, Antonio Candido, a literatura “não corrompe nem edifica, mas humaniza em sentido profundo
porque faz viver”. Muito
mais do que isso, a literatura é um dos mais importantes instrumentos de
educação e formação do homem.
Por ser
fruto de pesquisas, Literatura na
Arquibancada também se transformou em resgates de teses acadêmicas. Adorava
entrar em bancos de dados das universidades e encontrar estudos inimagináveis.
Foi assim que me deparei, antes do processo de criação do blog, com a
monografia de Angela Francisca Mendez, em 2008, no curso de Letras do Centro
Universitário Ritter dos Reis, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Está lá, bem
guardada, uma definição que sempre carreguei dentro de mim. “A literatura é a transfiguração do real, é
nela que estão retratados os sentimentos humanos e as diversas formas de
relação do homem com aquilo o que sente (...) Ler é criar consciência do que
somos, é examinar o mundo em que vivemos para transformá-lo no mundo em que
gostaríamos de viver”.
E o que
fazem Raul Andreucci e Tulio Kruse no livro que, agora, você, leitor começa a
ler? Literatura. Sim, reportagens escritas para jornais ou revistas, em papel
ou online, podem se transformar em
livros. A Selva do Futebol é a
adaptação de uma reportagem de fôlego escrita por ambos sobre a realidade do
futebol amazonense às vésperas da inauguração da Arena da Amazônia e a extração
ilegal de madeira que sustenta as estruturas desse mesmo estádio, utilizado
durante a Copa do Mundo no Brasil, em 2014.
Se a saga
em si já é histórica, chegar até lá, na distante Manaus, valoriza ainda mais o
resultado de todo esse trabalho. Não tiveram apoio financeiro algum para todas
as despesas com transporte, estadia e alimentação. Foram, como se diz por aí,
com a cara e a coragem.
Retornaram,
escreveram e editaram todo o material coletado com a única empresa que
acreditou em suas ideias. O BRIO, que
apostava na publicação de reportagens especiais, com textos jornalísticos mais
longos.
Raul e
Tulio revelaram histórias do futebol jogado em um lugar esquecido pela chamada
“grande mídia”. Os clubes que disputam o campeonato estadual têm nomes que
devem soar estranho para jovens torcedores de outras regiões do país. Mais
estranho ainda é entender como Iranduba, Princesa do Solimões, São Raimundo,
Sul América, Fast, Holanda, Nacional e Rio Negro, alguns dos que lutam no
futebol amazonense, sobrevivem a tanta precariedade, em alguns casos, amadorismo
puro.
Raul foi
o responsável no livro por resgatar histórias dessas agremiações, personagens,
torcedores, jogadores, dirigentes que, de alguma forma, revelam o outro lado do
futebol, longe do glamour de estádios europeus ou, simplesmente, de outras
capitais brasileiras, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto
Alegre. Em que, “Quando o Estadual acaba,
todos ficam sem atividade e, os jogadores, desempregados, precisam correr atrás
do próximo campo de futebol”.
Tulio não
fica atrás. Escancara a contradição dos responsáveis por um dos palcos da Copa,
principalmente no que diz respeito à questão ambiental. “Nem as promessas, nem o alarde, porém, foram o suficiente para evitar
a marca do desmatamento no maior patrimônio ambiental brasileiro. Cinco toneladas
e meia de aço estão nas bases profundas da Arena da Amazônia, em compridos
vergalhões debaixo do concreto armado das arquibancadas, nos pilares e nas
grades. O carvão que abasteceu siderúrgicas e chegou ao estádio na forma deste
aço nasceu justamente nas bordas desmatadas da Amazônia, no sertão do Goiás e
em terrenos devastados ao longo do Cerrado brasileiro. Muito mais do que o
verde, o cinza”.
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Túlio Kruse (esquerda) e Raul Andreucci (2º esq/dir) |
Juntando
esforços e talentos, a dupla conseguiu, na prática, uma história parecida à maneira
com que um dos maiores escritores do país, Nelson Rodrigues, enxergava a
cobertura de um evento como o futebol:
“Houve
um tempo, no passado do homem, em que o fato tinha, sempre, um Camões, um
Homero, um Dante à mão. Por outras palavras: o poeta era o repórter que dava ao
fato o seu encanto específico. Hoje, nós temos tudo: jornal, rádio e tevê. O
que nos falta é, justamente, a capacidade de admirar, de cobrir o acontecimento
com o nosso espanto”.
É isso, leitor, o que você tem em mãos. O espanto de
dois jovens talentosos sobre A Selva do
Futebol.
Boa leitura!
Um dos capítulos de A Selva do Futebol. Texto e enredo perfeitos. Ritmo que nos faz mergulhar e visualizar cada passo, dos personagens e autor.
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Estádio Francisco Garcia, Chicão |
Dinheiro contado
Cinco reais. Quem teme, paga. É esse o preço do pedágio clandestino que
dá acesso a um caminho lamacento que desvia do posto policial e nos faz cair,
ainda que gastando uns minutinhos a mais, livres e impunes no meio da AM-010 — oficialmente
uma rodovia, mas, na prática, uma estrada sem sinalização e fétida que
atravessa uma região de granjas como um convite a náuseas e acidentes. O
destino é Rio Preto da Eva, a 80 km de Manaus, a capital do Amazonas, estado
brasileiro que carrega o nome da maior floresta do mundo.
- Vai uma Coca? — oferece
o responsável por contar a grana e abrir o portão.
A caminhonete segue em frente com seu retrovisor esquerdo completamente
destruído, motivo para a rota alternativa, evitando qualquer problema com os
policiais da rodovia. O motorista é Renato Benigno. Nosso destino é o Estádio
Francisco García, o Chicão, sede do Holanda Esporte Clube, time que
enfrenta o Esporte Clube Iranduba da Amazônia pela última rodada
do Campeonato Amazonense de 2014. Estamos a exatos dois meses do início da Copa
do Mundo no Brasil, no dia 12 de abril daquele ano.
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Rafael Benigno |
Benigno é um homem que parece mais velho do que seus 36 anos,
especialmente por conta do rosto furado, cheio de marcas de espinhas da
adolescência. Suas roupas de grife e relógio dourado indicam uma posição
elevada, mas ele não sabe dizer ao certo qual cargo ocupa no Holanda. É uma
espécie de faz tudo, revezando-se entre o centro de treinamento no interior e a
sede administrativa do clube na capital amazonense. O certo é que sua família,
de origem italiana, faz parte da história do futebol local. Seu avô Ismael, já
falecido, foi presidente do São Raimundo Esporte Clube,
outro clube local, e permanece eternizado como nome do estádio do time —
apelidado e mais comumente chamado de Colina.
Em meio às caronas — aquela do dia do jogo não fora
a única —, Renato contou já ter dormido no volante e da vez em que praticamente
destruiu sua Montana, capotada de ponta cabeça depois da perseguição de um
namorado ciumento em festa no interior. Acreditava numa certa “zica” daquele
carro, vendido depois de dez acidentes. Um mês depois da nossa viagem a Rio
Preto da Eva, encontrava-se preso, aguardando julgamento por uma batida fatal,
com duas mortes. Segundo a polícia, estava embriagado, dirigindo a mesma S-10
prateada, que, nova, não saía à época por menos de R$ 74 mil.
Naquela viagem, atrás dos únicos dois bancos, o do motorista e o do
passageiro, pegava carona um bolo de notas, dinheiro vivo mesmo. Informação que
só foi revelada durante o trajeto, ao ser perguntado sobre a rescisão dos
jogadores. A sequência após o duelo entre Holanda
e Iranduba seria inapelável: apito
final, centro de treinamento, banho, malas, dinheiro vivo contado na mão e
adeus.
O Holanda lutava contra o
rebaixamento e não tinha motivo para continuar com os jogadores. Distante da
fama e das glórias da seleção homônima das terras baixas europeias, o maior
salário da equipe era de R$ 3.500 até alguns dias antes. Com a primeira leva de
demissões, o salário mais abastado passou a ser o de R$ 2.500.
O valor exato do bolo? Benigno não sabe (ou não quer) dizer, mas, para
pagar atletas e comissão técnica devia passar de R$ 20 mil. Medo de assalto?
Que nada. Se alguém fosse tentar alguma coisa, seria no começo do mês, por
volta dos dias 5 ou 10, os dias usuais de pagamento. Mesmo assim, Benigno
dirige em alta velocidade e, a qualquer sinal de emboscada, faz a ultrapassagem
do jeito que dá. Desconfia de todo mundo, dos jogadores do próprio plantel aos
engravatados do escritório em que dá as caras ao longo da semana. Qualquer um
pode passar a informação e armar o golpe. É de conhecimento geral que o homem
da grana, quando escalado para levar os pagamentos da capital ao centro de
treinamento, faz o trajeto sozinho, sem segurança.
Chegamos inteiros. No intervalo, o Holanda
vencia o Iranduba por 1 a 0. Faltava
um gol para que os donos da casa mantivessem as esperanças de evitar o
rebaixamento. Devido a uma combinação de resultados de vários jogos, era
preciso vencer por dois gols de diferença. O que motivaria, imagina-se, no
mínimo, gritos das arquibancadas e unhas roídas sem piedade.
Ali, no entanto, o que seria ou deixaria de ser do Holanda importava quase que exclusivamente às famílias dos
jogadores. Arquibancadas vazias, nem 50 almas.
Uma fumaça de alguma queimada nos arredores dominados pelas árvores
frondosas da Amazônia, que acompanharia o segundo tempo, começava a se formar.
Diante dos berros esparsos do público, o som de um alto falante ininterrupto do
lado de fora pedia que os moradores de Rio Preto da Eva ajudassem um senhor, já
de bengala, sofrido.
Nos acréscimos, o baixinho Weverton bateu uma falta no ângulo. O goleiro
nem se mexeu. Um golaço sem registro no YouTube. O Holanda fazia 2 a 0, resultado suficiente para seguir vivo até o
dia seguinte, domingo, quando torceria para um empate entre Sul América Esporte Clube e São Raimundo —
não fosse a falta de estádios em Manaus à época,
esse jogo deveria ter acontecido no mesmo dia.
Emoções suspensas no ar. Os jogadores não podiam explodir, extravasar,
tampouco chorar e se deprimir. Mas o dinheiro de Benigno não podia esperar.
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Vista aérea de Rio Preto da Eva |
Fundado em 2007, o Holanda
tem uma vida futebolística modesta. O nome foi escolhido por questões práticas.
É verdade que a cidade-sede do time, Rio Preto da Eva, é a maior produtora de
laranjas de toda a região Norte do Brasil. Também é verdade que os donos do
time se dizem fãs da seleção holandesa de 1974, conhecida como Carrossel e
Laranja Mecânica. Mas o fato é que o nome foi adotado porque Holanda estava disponível na Federação
Amazonense de Futebol (FAF), pois começara a ser usado por um clube amador
fundado em 1984. Como iniciar do zero um processo de registro na Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), a entidade máxima do esporte no país, levaria
tempo e custaria dinheiro, os cartolas aproveitaram o que estava à mão mesmo.
O time também serviu aos interesses pessoais do presidente do clube,
Paulo Radin, cunhado de Benigno. Além da aparente preocupação com a
prosperidade do futebol local, Radin alça seus voos políticos. Secretário-geral
do Partido Social Democrático (PSD) no Amazonas e peça-chave na campanha
vitoriosa do ex-governador Omar Aziz ao Senado, eleito em 2014, ele disse ter
encontrado no Holanda uma forma de
ocupar as crianças com quem trabalhava numa ONG.
Por isso mesmo, o time quase não tem torcida. Em um dos jogos da equipe,
contra o Sul América, em 6 de abril
de 2014, o público pagante oficial foi de zero pessoas. A bilheteria, ao lado
da porta de entrada, até estava aberta, só que sem bilheteiro. Um jovem
aparentando uns 16 anos cuidava da catraca, mas deliberadamente deixava passar
conhecidos, amigos e parentes de atletas. Estava muito mais preocupado em
cortejar uma moça de shortinho. Um vira-lata fazia as vezes de segurança. O
máximo que conseguia era colocar a língua para fora pedindo água, deitado num
mato mal cortado.
As dificuldades do Holanda
começaram já no primeiro jogo oficial, em 2008, ocorrido na cidade de
Itacoatiara, a 260 km de Manaus e a 180 km de Rio Preto da Eva. Os jogadores
seguiam em um ônibus que quebrou na estrada. Com o risco de perderem por WO,
chegaram ao estádio espremidos na carroceria de um caminhão.
Naquele ano de estreia, num sucesso que poderia impulsionar sonhos de
grandeza por aquelas bandas, o Holanda
foi campeão da série B e subiu para a primeira divisão do Estadual.
Em 2014, o time teve apenas dois meses e 12 dias de atividades entre a
estreia e o último jogo no Campeonato Amazonense. Naquele sábado de abril,
havia a esperança de sobrevida. Com o resultado de domingo, o São Raimundo batendo o Sul América por 1 a 0, ocorreu o golpe
final do rebaixamento. O golaço nos minutos finais contra o Iranduba fora em vão.
No ano seguinte, a situação seria ainda pior. O time da camisa laranja
não jogou o campeonato local porque a segunda divisão do Estadual deixou de
existir, assim como já havia acontecido em outros anos. Mesmo quando a
segundona existe, nunca se sabe quem serão os times participantes. A
confirmação costuma ser de última hora, pois muitos podem não ter o dinheiro
necessário para entrar em campo.
Jogadores, torcedores e técnicos sabem dessa situação melhor do que
ninguém, assim como têm a clareza de que as chances de algo mudar efetivamente
são as mesmas de o Nacional Futebol
Clube disputar a Copa Libertadores. Para se ter uma ideia, o time mais popular
e vitorioso do Amazonas foi o único representante do estado no Campeonato
Brasileiro de 2014 — na
quarta divisão…
A situação se repete a cada ano. É sempre assim. Quando o torneio
estadual acaba, todos ficam sem atividade, e os jogadores, desempregados,
precisam correr atrás do próximo campo de futebol.
De 1993 a 2018, apenas sete dos 22 Campeonatos Amazonenses duraram mais
de três meses. No fim das contas, muitos profissionais acabam seduzidos por
ligas municipais e campeonatos amadores de todo tipo, que costumam pagar entre
R$ 50 e R$ 100 por jogo.
Esqueça, portanto, os milionários aos quais assistimos na TV e as cifras
siderais de transferências de jogadores. Pense no operário que joga para um
time na mesma condição que um pedreiro numa obra: o trabalho acaba quando o
campeonato acaba — e olhe lá. Pense no
jovem, em muitos casos, já com família para sustentar, que tem de se virar com
o pouco que recebe — isso
quando recebe. Pense na infraestrutura inadequada, no assédio moral e em todas
as aflições comuns a quem se preocupa com o sonho de um dia ser contratado por
um time médio para, oxalá, chegar a um grande. É dele que estamos falando,
desse pé-de-obra — uma multidão boleira
capaz de formar cerca de 730 times completos de futebol, com reserva e tudo,
conforme os dados do Bom Senso FC. Como nas séries A e B do Campeonato
Brasileiro, a nossa elite futebolística, há apenas 40 clubes, não resta dúvidas
de que, falando desses microcosmos, estamos retratando é grossa maioria do
futebol brasileiro. A realidade de quem quer viver jogando bola.
Apoie a publicação, participando da "vaquinha" coletiva, via crowdfunding
https://benfeitoria.com/aselvadofutebol
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Sobre os autores:
Raul Andreucci é o idealizador da No Barbante, uma editora dedicada ao futebol. Como qualquer projeto independente no país, faz de tudo um pouco. Principalmente como editor. Mas sai até de livreiro. E adora! A casa de publicações é o sonho concretizado de um jornalista e pesquisador que também gostava das Redações e da academia, mas ainda não tinha se encontrado definitivamente em nenhum desses dois cantos. Agora tem um pra lá especial para chamar de seu. E o melhor: descobrindo cada vez mais gente para curtir e fazer junto!
Repórter do Estadão, Tulio Kruse trabalhou como freelancer durante a maior parte da carreira – já são quatro anos. Na área de Direitos Humanos, já pesquisou sobre as cadeias produtivas do cacau, da construção civil e confecção da moda, e foi responsável pela pesquisa que embasou o documentário Terminal 3, sobre a vida de operários resgatados em condições análogas à escravidão em uma obra do maior aeroporto da América Latina, em Guarulhos. A Selva do Futebol foi a primeira reportagem publicada profissionalmente, fruto de um trabalho desenvolvido no seu último ano na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde se formou. Hoje, escreve sobre administração pública, polícia e o que mais lhe for pautado.
Estava pesqusando um livro para ler nas férias, eis que achei aqui. Gostei muito da matéria. Parabéns.
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