Ele
é jornalista “de primeira” e nem por isso deixou de declarar o clube de coração
durante toda a carreira profissional. Nestor Mendes Jr é mais um entre os
milhares de torcedores do Bahia espalhados pelo país. Ele que já era autor do
livro sobre os 70 anos do Bahia, agora, deixa para a literatura esportiva um
livro importantíssimo sobre um tema polêmico, desafiador e que poucos autores
(independentes) se atrevem escrever, por conta de retaliações. “Nunca mais! –
25 anos de luta pela liberdade no Esporte Clube Bahia” é revelador dos
bastidores políticos em um dos clubes mais populares do Brasil.
Sinopse
O
livro Nunca mais! – 25 anos de luta pela
liberdade no esporte clube bahia, do jornalista baiano Nestor Mendes Jr., com apresentação de Juca
Kfouri, conta
a história de 25 anos do movimento político de oposição que culminou, em 2013,
na derrocada do grupo de cartolas que comandava o Bahia desde a década de 1970.
O
título da obra foi tomado por empréstimo dos versos do Hino ao Dois de Julho, de Ladislau de Santos Títaro: “Nunca mais o
despotismo /Regerá nossas ações/ Com tiranos não combinam /Brasileiros
corações”. “A letra do Hino da Independência da Bahia reage a um governo sem
leis, em que só uma pessoa possuía o direito de governar e a população não podia
nem se manifestar. A mesma coisa acontecia no Bahia. E, posso garantir que,
nunca mais, depois da democratização, o Bahia será o clube de um dono só”,
explica Mendes Jr.
Fundado
em 1931, o Esporte Clube Bahia conta com uma das torcidas mais apaixonadas do
Brasil. Foi o primeiro campeão brasileiro, em 1959, repetindo o feito em 1988.
Clube de massas, popular, contudo, em mais de 83 anos de existência, o Bahia
nunca foi democrático.
“Durante
toda essas décadas após o Bi-Brasileiro, houve uma incontida insatisfação entre
os cardeais tricolores, no Centro de Treinamento do clube, o Fazendão, e em
parte da torcida, contra o personalismo de Paulo Maracajá. As conquistas do
hepta no Campeonato Baiano e do Campeonato Brasileiro de 1988 criaram a nuvem de fumaça que encobriria a
verdadeira realidade do clube de um dono só, sem planejamento e sem qualquer
visão de futuro”, conta Mendes Jr.
No
seu primeiro livro sobre o clube – Bahia
Esporte Clube da Felicidade: 70 anos de glórias – o jornalista praticamente
ignorou os cartolas, lançando todo o protagonismo da triunfal existência do
Bahia sobre os jogadores e a fanática torcida tricolor. “Desta vez, não. Osório
Vilas Boas, Paulo Maracajá e seus títeres, os Guimarães, estão todos retratados
a partir de fatos, assim como os nomes dos que ousaram se insurgir contra a
Bastilha Tricolor. A bibliografia é extensa porque cito todas as reportagens,
artigos e livros onde foi retirado o material para essa narrativa histórica”,
conta Mendes Jr.
A
política, os conchavos de bastidores, a ditadura, a farsa eleitoral, o Conselho
Deliberativo de faz-de-conta, os movimentos de oposição, a posição de cada um
dos principais atores dessa batalha são os elementos que perpassam todas as 248
páginas de Nunca Mais! – 25 anos de luta pela liberdade no Esporte Clube Bahia.
“Nomes
como o de Fernando Jorge Carneiro, Luis Osório Vilas Boas, Fernando Schmidt,
Fernando Passos, Fátima Mendonça, Samuel Celestino, Mário Kertész, Guilherme
Bellintani, Reub Celestino, Jorge Maia, Darino Sena, Emanuel Vieira, Pedro
Barachísio Lisboa, Paulo Roberto Sampaio, Carlos Rátis, Pedro Barachísio
Lisboa, Antonio Miranda, Saul Quadros, André Uzêda, Marcelo Santana, Sidônio
Palmeira, Nelson Barros Neto, entre tantos outros, foram decisivos para virar o
jogo e democratizar radicalmente o Bahia”, diz o autor.
“Não
lutamos e derrotamos a ditadura no Bahia para tomar o poder, mas para que
pudéssemos ter regras claras, legais e democráticas por essa disputa de poder.
Maracajá dizia que, com a democracia, o “anão do Baby Beef” (em referência ao
porteiro de um extinto restaurante de Salvador) corria o risco de ser eleito
presidente do clube. Talvez, o anão tivesse mais sucesso que os testas-de-ferro
inexpressivos que ele colocou para tomar conta de sua cadeira de presidente.
Como escreveu o poderoso jornalista Cruz Rios, em 1996, o cartola imitava a
Luís XV, rei de França: ‘aprés moi le deluge’ - depois de mim, o dilúvio”,
relata o escritor.
O
livro também conta a história da dinastia da família Guimarães, pai e filho, no
clube. O primeiro contato do pai com o clube já foi muito desastroso. Em 10 de
maio de 2005, em entrevista ao Correio da Bahia, o próprio Marcelo Guimarães
disse que o seu envolvimento com o Esporte Clube Bahia começou durante a
infância, na Ribeira. “Eu acompanho a vida do clube desde 1959. Tinha apenas 10
anos e sua concentração era na Ribeira, perto de minha casa. Eu conhecia todos
os jogadores. Era eu quem ia comprar cigarro para Marito, Biriba, Vicente e
outros grandes craques do passado”.
Os
reinados de “Marcelo I” e “Marcelo II” foram desastrados. São tempos de
goleadas históricas para o arquirrival, rebaixamentos por diversas vezes para
as Séries B e C do Campeonato Brasileiro, acusações de negociatas e transações
poucos transparentes, além de insolvência e total perda de credibilidade.
Nunca Mais! – 25
anos de luta pela liberdade no Esporte Clube Bahia também relata os
bastidores da primeira intervenção judicial no clube, em 6 de dezembro de 2011,
em ação movida pelo advogado Pedro Barachísio Lisboa, que durou menos de 24h,
mas se desenrolaria através do tempo pelos escaninhos e labirintos do Tribunal
de Justiça da Bahia. Em 2013, depois de o presidente Marcelo Guimarães Filho
debochar e fazer escárnio das decisões da Justiça nas redes sociais, a
diretoria do clube é destituída definitivamente, com a posse do interventor
Carlos Rátis.
Eleito pelo voto direto
dos sócios do Bahia, o presidente Fernando Schmidt cumpriu fielmente as suas
promessas de campanha, principalmente no que tange à garantia de absoluta
transparência. Sem temor, abriu todas
informações do relatório da auditoria, que apontava, preliminarmente, um rombo
de R$ 83,2 milhões nas contas do clube.
O seu principal feito
nesta área, contudo, foi divulgar a “Lista do Jabá”, divulgando os nomes dos
radialistas que se recebiam benesses
e eram favorecidos por contratos suspeitos com o clube. Mais de 95% da torcida
apoiou a divulgação dos nomes, segundo enquete, realizada durante 10 dias, pelo
site ecbahia.com, ouvindo cerca de 5.500 internautas.
Enquanto a hipocrisia
grassava pelos microfones em estéreis notas dissonantes, a torcida do Bahia
entrava em convulsão orgásmica. Jura da Ribeira e Vitaum foram a sensação no
Youtube com a música "Jabazeira Eu, Jabazeira Ela", parodiando um
sucesso da banda Chiclete com Banana.
Ao final do livro, Nestor
Mendes Jr. diz que essa epopeia dos movimentos de oposição foi para garantir a
transparência, a lei e a democracia: “Não foi um grupo que chegou ao poder em
razão direta da queda de outro. Não foi a vitória da oposição contra a eterna
situação. Foi uma mudança definitiva no jeito de fazer as coisas. Foi uma
espécie de vacinação coletiva contra o arbítrio. A refundação do Bahia foi
operada por sua própria torcida, única e eterna proprietária do destino do
Esporte Clube Bahia, nascido em 1º de janeiro de 1931. Nunca mais o Bahia terá
um dono: o dono agora somos todos nós, seus sócios e torcedores”.
Sobre o autor:
Nestor
Mendes Jr., 51 anos, nasceu em São Sebastião do Passé, Bahia. Formado em
Jornalismo, pela Universidade Federal da Bahia, e em Direito, pela Universidade
Católica do Salvador, trabalhou em diversos veículos de comunicação do Estado,
como A Tarde, TV Bahia, Tribuna da Bahia, Correio da Bahia, Bahia
Hoje, Rádio Sociedade e Rádio Educadora e como repórter free lancer do Jornal do Brasil.
Atuou,
fazendo marketing político, em 14 campanhas eleitorais.
É
autor do livro Bahia Esporte Clube da
Felicidade – 70 anos de Glórias, com 186 páginas, em edição de luxo, que
conta a trajetória de 70 anos do Esquadrão de Aço.
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