Um “time” de mestres, literalmente, deixa para a
literatura esportiva um documento histórico. “A Copa das Copas? Reflexões sobre o Mundial de 2014 no Brasil” (Edições
Ludens”), teve a organização do professor José Carlos Marques, da Unesp, em
parceria com o Ludens e o GP de Comunicação e Esporte da Intercom. A obra reúne
alguns dos principais pesquisadores sobre o futebol da universidade brasileira.
Literatura na Arquibancada agradece ao prof. José Carlos
Marques, a cessão do link com o e-book completo para leitura:
Prefácio
“As minhas copas”
Por Prof. José Carlos Marques
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Prof. José Carlos Marques |
No dia 27 de
maio de 1998, a poucos dias do início da Copa do Mundo da França, o escritor
Luís Fernando Verissimo publicava no Jornal
do Brasil e em O Estado de S. Paulo
a crônica intitulada “A do Pelé”. Ao longo do texto, o cronista gaúcho
comentava as contradições que envolveram o Mundial do México de 1970 e o
período no qual o Brasil assistia à Ditadura Militar instituída em nosso país
em 1964. Tratava-se de um momento em que, segundo o mesmo Verissimo, vivíamos
“numa espécie de clandestinidade clandestina”, pois aquela competição fora
disputada num clima de ambiguidades entre o apoiar e o não apoiar a Seleção
Brasileira. Ainda nas palavras dele, “Nunca foi tão difícil e nunca foi tão
fácil torcer pelo Brasil. Difícil porque torcer era uma forma de
colaboracionismo, fácil porque o time era de entusiasmar qualquer um.”.
O que me
chama a atenção nessa crônica, entretanto, é seu primeiro parágrafo, no qual o
autor subordina temporalmente nossa vida em torno do ciclo quadrienal cumprido
pelas Copas do Mundo:
Como o personagem do poema de T.S. Eliot que podia medir sua vida em
colherinhas de café, podemos medir nossos últimos 28 anos em Copas do Mundo.
Foram sete, cada uma correspondendo a uma etapa do nosso relacionamento com o futebol,
ou com a Seleção, que é o futebol depurado das suas circunstâncias menores, e
portanto com o país.
No meu caso
particular, posso afirmar que este ciclo teve início em julho de 1966, quando
eu ouvia, de dentro da barriga de minha mãe, as comemorações de meu pai, de
meus tios e de meu avô ao ouvirem, pelo rádio, as façanhas que a Seleção
Portuguesa realizava na Copa da Inglaterra por meio do virtuosismo de craques
como Torres, Coluna, Eusébio & Cia. Fui nascer apenas em outubro daquele
ano, já em meio à ressaca do terceiro lugar conquistado por Portugal em campos ingleses,
mas quatro anos depois eu já era submetido a novo batismo de fogo, agora
acompanhado de um irmão de apenas seis meses, com quem eu julgo ter assistido
aos festejos do tricampeonato brasileiro, na tal “Copa do Pelé”.
O que os
artigos aqui reunidos querem fazer é algo bastante similar, ou seja,
interpretar os fatos e circunstâncias que envolveram a Copa do Mundo de 2014 e
perceber de que forma um acontecimento esportivo consegue dotar-se de tanta
significação em meio à sociedade brasileira, influenciando e marcando a cena
cotidiana por inúmeras semanas, antes e depois de o evento ter ocorrido. Quais
imbricações culturais, políticas, sociais, econômicas, entre outras, são e
foram operadas com a realização deste megaevento na Terra Brasilis? Tanto ou mais importante do que a academia discutir
e debater a organização da Copa-2014 antes de ela começar era a academia
voltar-se a este evento após a sua realização e procurar dar sentido a ele. Daí
o significado desta iniciativa.
Para tanto,
foram convidados alguns pesquisadores que, nos últimos anos, vêm sendo
responsáveis por incluir e manter o esporte, de forma geral, e o futebol, em
particular, na agenda da pesquisa e da discussão acadêmica no Brasil. Nenhum
dos autores aqui presente caiu de paraquedas na obra, e muitos já solidificaram
suas carreiras por meio das investigações e da dedicação que destinam a este
tema em suas universidades. O leitor pode estar certo de que tem em mãos um retrato
abrangente dos principais grupos e pesquisadores contemporâneos que tratam do
futebol na universidade brasileira, nem que, para isso, tivéssemos que recorrer
a um estrangeiro, mas que mantém presença constante nos eventos e congressos
acadêmicos em nosso país. A lamentar temos apenas a ausência de alguns poucos
atletas, que não puderam atender ao chamado, ora porque estavam sobremaneira
atarefados, ora porque entregues “ao departamento médico” durante os meses em
que este livro foi composto.
Por último,
cabem alguns agradecimentos: aos autores, inicialmente, pela gentileza em
aceitar a convocação e por retribuírem a ela com sua contumaz habilidade
crítica; ao GECEF (Grupo de Pesquisa e Estudos em Comunicação Esportiva e
Futebol), por meio do qual a obra pôde ser pautada e organizada; ao
Departamento de Ciências Humanas da Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação da UNESP/Campus de Bauru, pelo auxílio e financiamento de sua
publicação; ao Grupo de Pesquisa em Comunicação e Esporte da Intercom, pela parceria
no agendamento das discussões que culminaram com o lançamento deste projeto; e
às Edições Ludens, pela colaboração na reta final com a edição dos materiais.
Boa leitura!
Apresentação
Por Ary José Rocco Júnior
A belíssima
imagem do Cristo Redentor, iluminado em verde e amarelo, com o Estádio do
Maracanã ao fundo, banhado por intensa queima de fogos, correu o mundo na noite
do dia 13 de julho de 2014. Estima-se que mais de um bilhão de pessoas tenham
visto essa imagem em todo o mundo.
Minutos
antes, Philipp Lahm, capitão da seleção da Alemanha, havia erguido a Taça FIFA,
cobiçado troféu entregue à seleção campeã do mundo de futebol. Estava
encerrada, pelo menos de forma simbólica, a principal competição esportiva do
planeta, e, com ela, mais um importante capítulo da história recente do Brasil.
Desde o dia
7 de outubro de 2007, quando o país foi oficializado pela FIFA como sede de sua
competição mais importante, o Mundial de seleções, o Brasil viveu um dos
períodos mais interessantes de sua rica trajetória. Ao contrário daquilo que o
senso comum imaginava, por ser o “país do futebol”, a escolha do Brasil como
sede da Copa do Mundo de 2014 evidenciou as principais contradições de uma
jovem nação que ainda amadurece em suas instituições políticas, sociais e econômicas.
Aquilo que
parecia ser motivo de festa para o país, a celebração de seu esporte favorito e
do seu principal motivo de identificação no cenário internacional, foi alvo,
internamente, de manifestações populares que explodiram por todas as principais
cidades do Brasil, em busca de uma sociedade mais justa e democrática. A
realização do evento no país estava em xeque.
Celebrada
por uns, criticada por outros, a Copa do Mundo de 2014 marcou, assim, um dos
momentos mais importantes da história recente da República, em que conceitos
como democracia, cidadania, responsabilidade social, transparência, mobilidade
urbana, capacidade de sediar o evento etc., foram amplamente discutidos por
toda a sociedade brasileira.
É essa
riqueza de pontos de vista – cultural, social, político, econômico, jurídico,
midiático, esportivo – sobre a Copa do Mundo de 2014 que o público encontrará
nesta obra, A Copa das Copas?, que o
GECEF (Grupo de Pesquisa e Estudos em Comunicação Esportiva e Futebol), apoiado
pelo Grupo de Pesquisa em Comunicação e Esporte da Intercom e pelas Edições
Ludens, coloca à disposição do público leitor, interessado ou não no futebol
brasileiro.
Isso mesmo,
amigo leitor! A obra não se destina apenas aos fãs, estudiosos ou pesquisadores
do esporte mais importante do país. A
Copa das Copas?, pela importância da realização do Mundial em nosso país,
transcende o universo do futebol. O livro é, antes de ser um livro sobre
esporte, um olhar sobre o Brasil contemporâneo, suas contradições, dúvidas e
angústias, evidenciadas pela organização do evento mais visto em todo planeta.
A
importância cultural do futebol no país, principalmente na construção da
identidade do “ser brasileiro” em tempos de megaeventos marca presença nesta
obra. Afinal, “Copa pra quem?”. Assim como ocorrera com o Mundial de 1950, a
Copa do Mundo de 2014 trouxe vasta contribuição para a construção do imaginário
popular do brasileiro. Leia o livro e veja como.
A mídia,
parceira inexorável do esporte, também esteve presente de forma marcante no
Mundial. Em um livro sobre comunicação e esporte, a cobertura midiática do
evento não poderia deixar de chamar a atenção dos pesquisadores da área. “A
Copa das Copas?” também lança seu olhar sobre esse tema.
Alemanha e
Argentina fizeram o duelo final da Copa do Mundo de 2014.
A Copa das Copas? reproduz em suas páginas o confronto que decidiu a competição. Porém,
ao final da leitura do livro, o leitor não encontrará o campeão. Conhecerá,
sim, a visão dos finalistas sobre a competição realizada no Brasil. Nossos
vizinhos argentinos e os eficientes e pragmáticos alemães lançaram olhares
interessantes e peculiares dos trinta dias de competição em território
brasileiro. Leia a obra e entenda como ocorreu mais essa disputa entre europeus
e sul-americanos.
A
importância da gestão estratégica da comunicação entre entidades esportivas e a
sociedade também está presente no livro organizado pelo GECEF. A obra mostra
como a correta gestão de uma agremiação esportiva reflete, de forma clara, na performance esportiva no campo de jogo. A Copa das Copas? mostra isso de forma
bastante clara para você, amigo leitor. A relevância econômica e mercantil da
Copa do Mundo FIFA de 2014, o maior megaevento esportivo do planeta, não poderia
ficar de fora de uma obra de referência sobre o Mundial realizado no Brasil. Os
mecanismos de gestão imagética e o Código de Conduta nos Estádios durante o
evento são as duas vertentes da questão econômica abordados em A Copa das Copas?.
Para fechar
a obra, como a cereja do bolo, A Copa das
Copas? apresenta ao leitor o Homo
brasilis, o ‘sacana coça-saco tropical’, em uma discussão que envolve o
discurso fundador do país e um enigmático professor alemão. Para entender o que
tudo isso junto significa, só lendo de forma completa este material.
Para
finalizar, convido você, caro leitor, a responder, ao final da leitura integral
do livro, à pergunta que a obra do GECEF deixa pairando sobre a cabeça de todos
nós: A Copa das Copas? Não olhe com
essa cara para mim, amigo leitor. Mesmo após a leitura, não tenho ainda minha resposta.
Porém, uma coisa a você que está conosco agora posso garantir:
A Copa das Copas? é o “Livro dos Livros” sobre a Copa do Mundo de 2014. Leia e veja você
mesmo se não estou certo. Boa leitura!
Vou refletir...
ResponderExcluirVolto para comentar.
Beijo Andre.
Continuo sua fã.
Beijo.