Este livro demonstra até onde o futebol motiva tanta
polêmica e paixão entre seus torcedores. Um jogo ocorrido há 70 anos, mais
exatamente, no dia 11 de setembro de 1944, entre Flamengo e Botafogo, rendeu
histórias, lendas e muita polêmica entre os torcedores dos dois clubes.
Jogo
do Senta – A Verdadeira Origem do Chororô (Editora Livrosdefutebol.com) tem como
autor uma figura queridíssima no Rio de Janeiro, o professor Paulo Cezar
Guimarães, botafoguense de quatro costados.
Apresentação
Por PC Guimarães
Reprodução jornal Diário da Noite, 11/9/44 |
Alô, Torcida do Flamengo, aquele abraço!
Vou logo
avisando: sem choro, por favor! Este livro não é uma obra de ficção, e, muito
menos, é sobre o Flamengo. É, sim, sobre uma vitória histórica do Botafogo
contra um dos seus principais adversários em âmbito regional e sobre um fato
marcante na história do futebol brasileiro que completa 70 anos em setembro de 2014.
Data redonda ou efeméride como gostam de destacar os jornalistas. O jogo poderia
ter sido contra o Flamengo, contra o Vasco ou contra o Fluminense.
Se Jogo
do Senta – a Verdadeira origem do Chororô tivesse sido escrito para
falar do Flamengo, como alguns dos meus amigos flamenguistas andaram pensando
(ou melhor, chorando), seria uma boa falar da “lenda urbana” que diz que
Gilberto Gil usou a frase “Alô, Torcida do Flamengo, aquele abraço!” para zoar
os flamenguistas por causa de uma derrota do Flamengo num jogo contra o
Fluminense em 1969. No site
de Gilberto Gil, no
entanto, nada consta sobre essa história: “Meses depois de solto, eu vim ao Rio
tratar da questão da saída do Brasil com o Exército. Na manhã do dia da minha
volta para Salvador, fui visitar Mariah Costa, mãe de Gal; ali, na casa dela,
eu ideei e comecei Aquele Abraço. Finalmente eu ia poder ir embora do País e
tinha que dizer ‘bye-bye’; sumarizar o episódio todo que estava vivendo, e o
que ele representava, numa catarse. Que outra coisa para um compositor fazer
uma catarse senão numa canção? (...) ‘Aquele abraço, Gil!’– Era assim que os
soldados me saudavam no quartel, com a expressão usada no programa do Lilico,
humorista em voga na época, que tinha esse bordão.
Ele até ficou aborrecido com a música; achou que deveria ter direito à canção.
Mas eu aprendi a saudação com os soldados. Eu não tinha televisão na prisão,
evidentemente, mas eles assistiam o programa; eu só vim a ver depois, quando
saí.”
Quando
pensei em escrever este livro sobre o “Jogo do Senta”, ouvi e li as mais
esdrúxulas desculpas dos flamenguistas: “Esse jogo não existiu”, “isso é uma calúnia”,
“quero ver você provar”, “cadê as fotos?”.
Flamenguistas
são seres estranhos, muito estranhos. Para eles, qual o conceito de passado?
1981, quando conseguiram a Copa Toyota no Japão num jogo contra um time de
“embriagados ingleses”, como dizem as pessoas más, não é passado? E quando
choram até hoje por causa do gol do Maurício em 1989? 1989 não é passado?
Jogo do
Senta – A verdadeira origem do Chororô, repito, é apenas uma lembrança de um
jogo histórico que aconteceu em 10 de setembro de 1944 e um resgate de outros
célebres jogos em que um time reclamou da arbitragem por causa de um lance ou
uma determinada situação que teria favorecido o adversário.
Tudo
documentado através de pesquisas em jornais e entrevistas com personagens envolvidos
nesses jogos ou “testemunhas oculares” da História.
Não tem achismo.
Tem o que poderia se chamar de “aspismo”. É claro que por resgatar
principalmente um – vá lá – polêmico jogo entre Botafogo e Flamengo não pude
deixar de fazer uma comparação entre o que aconteceu em 1944, quando o Flamengo
sentou em campo, após tomar o quinto gol de uma goleada de 5 a 2; com o chamado
“Jogo do Chororô”, em 2008, quando jogadores, técnico e Presidente do Botafogo
se reuniram no vestiário para reclamar da arbitragem – e, vá lá, chorar.
As pesquisas
e entrevistas realizadas para a produção do livro acabaram provando por a mais
b – ou B mais F – quem é o maior chorão do futebol carioca, talvez do Brasil,
quiçá do mundo. Tudo, como disse, documentado com fatos.
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Botafogo, campeão de 1995 |
Em 14 de
agosto de 2007, após uma das muitas partidas em que o alvinegro foi prejudicado
pela arbitragem, o jornalista Renato Maurício Prado escreveu em sua coluna: “Em
tempo: o Botafogo foi, uma
vez mais [grifo meu], prejudicado. Continuo a não crer em complô. Mas que está ficando
estranho, está”.
Imparcial
como todo jornalista Botafoguense, procurei ouvir sempre os dois lados das
histórias. Não foi à toa que fiz questão de entrevistar Djalma Beltrami, o
árbitro que, ao marcar um impedimento inexistente de Dodô, apontado pelo assistente
Hilton Moutinho, ajudou o Flamengo a conseguir o primeiro dos três “Carioquinhas”
seguidos em cima do Botafogo e, dizem alguns botafoguenses, foi a origem do
protesto do ano seguinte. Marcelo de Lima Henrique, árbitro do chamado
"Jogo do Chororô", também foi procurado. Marcou duas entrevistas e
deu bolo. Em uma, na Federação de Futebol do Rio de Janeiro, próximo ao
Maracanã,
saiu antes da hora marcada. Na outra, no quartel do Centro de Educação Física
Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), na Avenida Brasil, onde exerce também
a função de Primeiro-Sargento Fuzileiro Naval, deixou um recado na portaria
dizendo que tinha saído para “uma missão”. Depois, não retornou mais as ligações.
Tremendo furão!
Ouvi
dirigentes, jogadores de futebol, técnicos, jornalistas, árbitros e testemunhas
oculares do “Jogo do Senta”. Tirando estes últimos, poucos disseram ter ouvido
falar do jogo, como Carlos Roberto de Carvalho, que formou com Gérson Canhotinha
de Ouro um dos maiores meios de campo da história do Botafogo e do Brasil:
Globo Sportivo, 15/9/44 - Plateia e Domingos da Guia, no destaque |
Embora seja
um dos mais ferrenhos alvinegros da face da terra, Carlos Augusto Montenegro,
que dispensa apresentações e foi presidente do Botafogo em 1995 quando o clube
ganhou o Campeonato Brasileiro em cima do Santos, nunca ouvira falar do “Jogo
do Senta”:
– Depois que
falei com você por telefone, fui conversar com algumas pessoas e poucas sabiam
do jogo. Difícil, né? O jogo foi em 1944 e quem tinha 14 ou 20 anos na época,
teria que ter nascido em 1930 ou 1924. Com certeza, alguns Grandes Beneméritos
do Botafogo foram ao jogo.
Gozador como
sempre, o ex-presidente do Botafogo provocou:
– Eu
adoraria ter visto isso. Gostaria de ter visto o Flamengo sentado em campo
depois de levar uma goleada. Não vi, mas vou esperar seu livro sair para ver.
A Rivalidade que
Atravessa Gerações
Por Roberto Porto (Eminente jornalista e escritor Botafoguense, Benemérito do Botafogo
F.R.)
Globo Sportivo, 15/9/44, poster da vitória |
Naquele
tempo, a Cidade era mais silenciosa que hoje e não era normal tão grande aglomeração
de pessoas nas ruas. Então, depois de um “urro” uníssono por trás dos muros
altos, mamãe esclareceu que estava acontecendo ali um jogo do Botafogo.
Na passagem
do lotação por um portão, ainda vi, de relance, os torcedores e o campo. Jamais
esquecerei disso.
Como o PC
Guimarães dirá no curso desse livro, já que me procurou para uma entrevista na
tentativa de recuperar uma efeméride mais velha que andar pra frente, meu
querido tio Júlio Lopes Fernandes, botafoguense do chapéu às polainas, detestava
o “Simpaticíssimo” e eu custei a saber a razão.
Esportista –
aplaudia os adversários quando entravam em campo; militar, não admitia que um
time não soubesse perder.
Até que um
dia – faz tempo isso – me relatou o verdadeiro “mico” que o Simpaticíssimo pagou
em General Severiano, com seus jogadores sentando em campo aos 31 minutos do
segundo tempo, para estupor de jogadores, dirigentes e torcedores do Glorioso
alvinegro.
Para o
“Simpaticíssimo”, apenas um tropeço – obviamente, inesperado – na rota para o
merecido tricampeonato. Para os torcedores botafoguenses, porém, apesar da
vitória de 5 a 2, ficou um travo amargo na garganta.
O chute de
Geninho, forte e em curva, a bola batendo no ferro da rede, quicando dentro do
gol e repicando para fora, para criar confusão e fazer História.
Numa época
romântica e cavalheiresca como aquela, era imperdoável o adversário não aceitar
uma derrota, principalmente por tantos gols de diferença.
Talvez
esteja aí a origem da rivalidade que atravessa gerações.
E que o
jornalista e professor PC Guimarães, desbragado botafoguense, meu herdeiro na
alvinegra tarefa de sempre gozar os adeptos do time da beira da Lagoa, recupera
com requintes de correção histórica.
Ele mostra a
história, mostra o porrete e sacramenta: sentaram pra não perder de mais.
Poderia ter sido pior. E choram as pitangas até hoje.
Sobre o autor:
PC Guimarães é jornalista e professor da Faculdade Hélio
Alonso, no Rio de Janeiro. Trabalhou com muito orgulho no "O Globo",
mas, por sua reconhecida e radical imparcialidade, nunca quis cobrir a área de
esportes. É botafoguense porque não gosta de torcer para times comuns e porque
viu Rogério, Gérson, Roberto, Jairzinho e Paulo Cezar Caju jogando juntos no
Botafogo. Escreveu "Edição de Impressos", livro sobre Jornalismo,
para as Faculdades CCAA (2010). É autor do Blog do PC (blogdopcguima.blogspot.com.br)
e editor do blog sobre o Botafogo no site do Jornal do Brasil.
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