Um livro obrigatório para os amantes da literatura
esportiva. Saiu a autobiografia de um dos maiores esportistas brasileiros de
todos os tempos. Guga, Um Brasileiro (Editora Sextante) foi construído a partir
de depoimentos do tenista ao jornalista Luís Colombini.
Histórias de superação, de conquistas, de um sonho nunca
sonhado transformado em realidade em quadras espalhadas pelo mundo: Gustavo
Kuerten, o Guga, 20 títulos individuais e primeiro do ranking mundial por 43
semanas !
Histórias como a do Guga menino, que sonhava ser
bombeiro. Em recente entrevista a Revista Época (http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Vida/noticia/2014/09/guga-se-eu-nao-fosse-brasileiro-nao-teria-sido-o-numero-1-do-mundo.html
), Guga relata o “custo” para chegar tão longe: “A minha mãe vendeu piano, jóia, relógio do
meu pai, carro e estava pronta para vender a casa. Minha família foi
dissolvendo todos os investimentos seguros. Isso é bem empolgante no livro
porque a gente vê que, apesar de não ter nenhuma certeza, a gente estava
convicto de que ia dar certo. Porque como é que a gente estava tendo coragem de
botar tudo em risco assim para alguma coisa que não fosse acontecer?”
Apesar de todas as conquistas, Guga segue com a mesma
simplicidade que sempre o caracterizou, dentro e fora das quadras. Sua inacreditável trajetória vencedora, como
ele mesmo afirma, não teve nada de anormal: "Se você olhar hoje pensa: não
pode ser verdade, é inacreditável ver aonde cheguei. Mas não tem nada de
mágico, uma fórmula secreta ou um cometa Halley que passa a cada tantos anos. É
a história de um cara comum que aproveitou as oportunidades".
Mais ou menos Guga. Você é pra lá de especial.
Apresentação (da
editora)
É em junho de 1997 que Gustavo Kuerten inicia a maior
virada de sua vida. O palco é Roland Garros, o torneio de tênis mais charmoso
do mundo. Como personagem inicialmente coadjuvante e depois protagonista, o
desconhecido cabeludo, surfista e boa-praça iria abalar as tradições do esporte
refinado e entrar para a história mundial do tênis e do esporte brasileiro.
Mas sua trajetória brilhante rumo ao topo do ranking tem
início muito antes, quando ainda era criança em Florianópolis, onde seria
preparado pela família, pelas tragédias e por um treinador que esteve ao seu
lado em todos os grandes momentos.
Em um relato absolutamente sincero, empolgante e
emocionante, Guga revela através de seus sentimentos as passagens mais
marcantes de sua vida. Ele descreve as memórias de sua infância e adolescência
com o mesmo estilo modesto e divertido que o caracteriza como jogador.
A forte base familiar, a inspiração no pai, a admiração
pelo irmão tenista, o apoio irrestrito da mãe, a paixão pelo irmão caçula e a
confiança inabalável do treinador são peças fundamentais em sua história, a
base que o levou a superar a falta de incentivo, a descrença em si mesmo e os
adversários mais temidos de sua época.
Essa jornada sem igual, passando pelos torneios juvenis e
profissionais, o tricampeonato de Roland Garros, a chegada ao topo do ranking
mundial, entre outras conquistas, é contada a partir da visão única do menino
que nasceu para ser campeão e cativou o coração de todos os brasileiros.
Literatura na Arquibancada destaca abaixo uma das muitas
histórias narradas por Guga.
“Estava tão tenso, tão dominado pelas emoções, tão
apavorado que, se Kafelnikov devolvesse dentro, não me enxergava em condições
de dar continuidade ao ponto. Caso a bola voltasse para o meu lado, já me via
paralisado, sem ação, só observando minha ruína. Tudo bem que ainda podia ter
mais jogo pela frente, mas, se eu já me sentia destruído naquele momento, de
onde tiraria força para ir além?
O russo ficava me encarando com uma expressão
provocativa, querendo dizer “Vai, cara, manda, você está tão nervoso que tá
óbvio que não vai acertar”. Saquei na direita dele. Queria muito dizer que dei
um ace fulminante. Mas não foi nada disso. Com o braço encolhido, o saque saiu
muito lento, supostamente fácil para o russo. Só que demorou tanto para chegar
que ele se atrapalhou e rebateu torto com o aro da raquete, isolando a bola uns
três metros para fora da quadra. Por dentro, eu dava pulos de alegria. Empatei,
40/40.
Nessa hora, em mais uma legítima e arrebatadora
esquizofrenia de tenista, saí do fundo do poço e fui direto para a
estratosfera.
– Ganhei o jogo! Agora não tem mais jeito. O cara não
aproveitou a chance dele e ele que se lasque. Este jogo é meu – decretei, os
olhos cintilando, a convicção espantando as dúvidas e, com elas, todos os meus
fantasmas e demônios.
A sensação da vitória era tão profunda que retomei o
desempenho do primeiro set, um cara mirando no alvo e disparando em linha reta
até acertar na mosca. Quando finalizei o game, ganhando a partida e
concretizando o inimaginável, urrei como se tivesse conquistado o título.
Ainda com adrenalina saindo pelos olhos, Rafa exultava,
berrava, vibrava. Em lágrimas, Letícia, a namorada dele, quase esmagava meu
irmão no abraço de comemoração. Larri estava eufórico e emocionado. A plateia
foi ao delírio e aplaudia, sorrindo com o ar de satisfação de quem presencia um
fenômeno raro, o cometa flamejante que só cruza o céu a cada duzentos anos.
Caramba, o que tinha sido aquilo? Depois de estar
perdendo de 2 sets a 1, como é que eu havia mudado o roteiro da história? Como
tinha sido possível ganhar do Kafelnikov, o número 3 do mundo?! Como aquele
absurdo tinha acontecido? Apesar de ter sido o protagonista da história,
naquela hora eu não tinha resposta para nenhuma das perguntas. Ainda mal
acreditava que tinha vencido, que aquele carnaval na torcida era todo para mim.
No entanto, era real. Eu tinha derrotado o monstro e a escalada da montanha
continuava.
Eu estava na semifinal de Roland Garros.”
Sobre Gustavo
Kuerten (da Wikipédia):
Nasceu em
Florianópolis, no dia 10 de setembro de 1976. É considerado o maior tenista da
história do Brasil. O único tenista da história a ganhar de Pete
Sampras e Andre Agassi no mesmo torneio. Guga, Roger Federer, Rafael Nadal e
Novak Djokovic são os únicos quatro jogadores não norte-americanos a jogar pelo
menos uma vez a final de todos os quatro Masters Series ATP jogados na América
(Indian Wells, Miami, Montreal/Toronto e Cincinnati).
Gustavo Kuerten teve a vida marcada por duas tragédias
familiares. A primeira foi a morte de seu pai, Aldo Kuerten, jogador amador de
tênis e incentivador da educação pelo esporte, que colaborava nos campeonatos
como juiz de cadeira. Quando Guga contava apenas 8 anos de idade, em 1985, teve
que enfrentar a morte do pai devido a um ataque cardíaco, enquanto arbitrava
uma partida entre juniores em Curitiba. A segunda envolve o irmão caçula,
Guilherme Kuerten, que durante o nascimento sofreu de privação prolongada de
oxigênio, causadora de dano cerebral irreversível e conseqüentes deficiências
física e mental severas. Guilherme faleceu em 7 de novembro de 2007, vítima de
parada cardiorrespiratória.
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Guga, seu irmão e a mãe. |
Desde cedo Guga foi estreitamente ligado à luta diária do
irmão, algo que incorporou em sua carreira de tenista: em cada jogo disputado,
a partir de 1998, Kuerten doava duzentos dólares a instituições de caridade;
além disso, todos os troféus conquistados eram dados para o irmão caçula (incluindo
as três réplicas em miniatura do troféu de Roland Garros). Gustavo Kuerten
começou a jogar tênis aos 6 anos, por incentivo paterno. Começou treinando com
o professor Paulo Allebrandt. Quando tinha 14, conheceu Larri Passos, seu
técnico pelos 15 anos seguintes. Foi ele quem convenceu o jogador e sua família
de que o jovem tenista tinha talento suficiente para se profissionalizar. Ambos
- Kuerten e Larri - começaram a participar de torneios juniores no Brasil e no
exterior. Em 1995 Kuerten tornou-se profissional. Além do tênis, Guga costuma
praticar o surfe nas praias de Florianópolis. No futebol, Guga torce pelo Avaí
Futebol Clube de sua cidade natal . Também é conhecido por ser extremamente
humilde e respeitar seu público, quando fora das quadras.
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