O primeiro camisa
10 e autor do primeiro gol da seleção brasileira em Copas do Mundo. João Coelho Netto, conhecido
no esporte como “Preguinho”, ganha, finalmente, uma merecida biografia.
A vida desse
verdadeiro superatleta não se restringe apenas ao mundo do futebol. Conquistou
quase 70 títulos e 380 medalhas, nas diversas modalidades esportivas que
participou, entre elas, natação, polo aquático, remo, salto de trampolim,
atletismo, basquete, voleibol e hóquei sobre patins. E não foram apenas títulos
locais ou nacionais.
“Preguinho –
Confissões de um gigante” foi escrito e publicado por Waldyr Barboza Jr, filho
do jornalista Waldyr Barbosa, e por Waléria Barboza. Um
documento raro que entra para a história da literatura esportiva.
Sinopse: (do
Editor e autor):
"Preguinho – Confissões de um gigante",
trata da vida e obra de João Coelho Netto, mais conhecido como Preguinho,
maior atleta brasileiro de todos os tempos, que fez história pelo Fluminense
Football Club, sétimo artilheiro, segundo cestinha, campeão em oito modalidades
diferentes, autor do primeiro gol brasileiro em Copas do Mundo de futebol e
primeiro capitão pelo Brasil em Copas (1930 - Uruguai).
O livro conta suas histórias de infância e fatos
inusitados, através de depoimentos inéditos narrados ao jornalista Waldir
Barbosa, meu pai, que também é homenageado 'in memoriam', além de conter
estatísticas de todos os jogos e gols marcados por Preguinho pelo
Fluminense Football Club, em uma obra que resgata a figura única e inigualável
de um atleta que se negou a receber para jogar por seu time de coração.
Literatura na Arquibancada agradece aos autores pela
cessão de um dos capítulos da obra.
A trajetória
Certa ocasião no ano de 1928, numa tarde de maio, o
Fluminense ia enfrentar o Flamengo no campo da Rua Paysandú; dias antes, porém,
todos os jogadores do clube haviam recebido telegramas, mais ou menos com o
seguinte texto:
“Preguinho, és um sopa pt amanhã não farás gol pt ass
Amado pt”
Quem assinava era Amado Benigno, arqueiro do Flamengo, um
dos mais importantes da história do rubro-negro; tanto este telegrama, como de
seus companheiros, foram colados num quadro na sede do clube, e Preguinho,
falando ao jornalista Aloísio Fonseca, amigo e redator de esportes do “Rio
Esportivo”, respondera em tom de brincadeira que faria não um, mas dois naquela
tarde de Fla-Flu.
No dia do jogo, o periódico colocava na manchete:
“Preguinho disse que fará dois gols em Amado, goleiro
do Flamengo”
“O pior aconteceu depois”, revelou Preguinho: “Quando
entrei em campo, levei a maior vaia da minha vida, sabia que o que dissera foi
brincadeira, mas naquela hora não adiantava defesa alguma”, suspirou; “Começou
o jogo, e aos quarenta segundos, tive a felicidade de tomar a bola de Amado e
marcar o primeiro gol; dez minutos depois fiz o segundo, um dos mais bonitos de
minha carreira, uma virada de fora da área. No final, vencemos de 4 a 1...”
Algum tempo após o jogo, um jornalista lhe perguntou:
- Satisfeito, Preguinho?
Preguinho respondeu:
- Qual nada! Nem aceitei as homenagens dos associados do
clube. Tomei uma condução e fui parar no Café Rio Branco, quartel-general do
Flamengo, lá encontrei o Amado e expliquei-lhe tudo.
“Sabia que você, Prego, não diria aquilo”, foi o que
falou o arqueiro rubro-negro. Até hoje a autoria do bilhete é desconhecida,
provável artimanha de um dirigente do próprio Fluminense para inflamar os
jogadores.
Como veem, o profético artilheiro do Fluminense não ficou
satisfeito enquanto não desfez o mal-entendido com o colega adversário, somente
dentro de campo Preguinho corria obstinado conduzindo a bola à meta oposta,
dividindo sempre com seus companheiros as vitórias.
Preguinho nunca foi profissional na acepção do termo,
apesar de ter jogado no começo do profissionalismo, ao lado de grandes
jogadores como Romeu e Fausto. Humilde como era, confessou que certa vez, em
outro Fla-Flu, chorou após um gol perdido debaixo da trave adversária: “Palavra,
tive uma crise de choro, que até hoje dói no peito...”
Na época em que Preguinho brilhou no Fluminense, o time
dos sonhos contava com a seguinte formação: Batalha, Paulo e Py; Nascimento,
Floriano - conhecido como o “Marechal da vitória” - e Fortes; Ripper, Lagarto,
Alfredo, Milton e Preguinho. Dentre as figuras que Preguinho faz questão de
lembrar também está Del Debbio, zagueiro que defendia o Corinthians na época: “Devo
muito a Del Debbio por seu protesto a minha não convocação para a Copa do Mundo
de 1930, sem ele não teria integrado o escrete e demonstrado meu futebol, e ele
sabe que não sou esquecido nem ingrato; devo muito também a meus amigos Irineu
Ramos Gomes, Fred Braune, Luís Vinhaes e Carlito Rocha, que sempre me
incentivaram, dando-me apoio e encorajando-me a todo instante.”
Falar de tantas partidas e gols importantes era para
Preguinho uma volta salutar aos dias de glória, porém, não identifiquei nenhuma
vez em seu semblante ou no tom em que falava um único sinal de presunção ou
falta de modéstia, havia sempre respeito pelos adversários, admiração pelos que
vira jogar ao seu lado e do lado contrário do campo, e Preguinho aprendera
tanto ou mais do que certamente ensinara. Sobre seu gol mais importante, não
sabia apontar um que pudesse sê-lo, mas o mais bonito, ou melhor, o que lhe
dera mais satisfação ao ver que o concluíra, havia sido feito no campo do
Botafogo, diante de uma multidão de espectadores: a vítima foi Aymoré Moreira,
goleiro dos mais respeitados e futuro técnico campeão mundial de 1962, que
jogava no América; entrevistado alguns dias antes da peleja, o goleiro disse
que quem tomasse um gol de fora da área era um frangueiro.
Pois bem, na véspera
da partida, telefonaram para Preguinho e perguntaram o que achava da entrevista
de Aymoré, e se ele, Prego, poderia fazer um gol naquela tarde. Preguinho respondeu
que dependeria da oportunidade e da sorte no dia, que poderia fazer ou não, e a
sorte, ou a competência, sejamos francos, estava mais uma vez ao lado do
jogador, e aos três minutos do primeiro tempo Aymoré bateu um tiro de meta, a
bola fez uma parábola e encontrou Preguinho no meio de campo, o atleta dominou
a bola no peito e sem deixar cair chutou em direção à meta adversária, fazendo
o gol que o Rei Pelé queria ter marcado.
Perguntado uma vez sobre o significado das vaias,
Preguinho respondeu: “Quando o jogador não está preparado cria um estado
negativo, dificilmente se reencontrando no gramado, suas reações passam a não
ter o reflexo ideal e o rendimento cai, sua produção diminui
circunstancialmente, acho que não preciso dizer mais nada. No primeiro
Campeonato do Mundo de futebol, em Montevidéu, aconteceu um fato interessante:
meus companheiros, menos Fausto, ficaram intranquilos, com medo do adversário,
pois os iugoslavos eram gigantes, e a cada vaia da torcida diante de uma jogada
imprecisa, nossos companheiros de time ficavam mais nervosos e erravam passes
sucessivos; aí tivemos Fausto e eu que recorrer aos ensinamentos que acumulamos
durante anos de futebol, tentando manter a calma e o autocontrole; se
tivéssemos tido mais fleuma, mais arrojo e indiferença às vaias em alguns
lances capitais da partida, era bem possível, bem possível mesmo, que
tivéssemos ganhado; a verdade é que mesmo em um jogo aqui no Brasil, numa
decisão de um campeonato clássico, seja estadual ou brasileiro, até o Rei Pelé
foi vaiado e se perdeu emocionalmente, para muitos a vaia é uma espécie de
artifício do antiesporte.”
Após breve pausa para um gole d’água, Preguinho
continuou: “Não comungo da opinião de alguns cronistas que defendem que a vaia
representa o repúdio ao jogador em campo, acho que a torcida goza do direito de
apupar o jogador, é um direito consolidado, é uma constante em todo o mundo,
pode levá-la um atacante, um zagueiro ou até o arqueiro, diante de um erro ou
de uma falha clamorosa, mas acaba ficando para toda a vida, principalmente numa
decisão de campeonato, e fique certo de que interfere de maneira direta no
estado emocional do jogador que não está preparado para ela, em qualquer
modalidade que pratique. Para ilustrar o que digo, relembro outro caso ocorrido
em Montevidéu, com Fausto: quando pedi a ele que fosse à frente da zaga
adversária me ajudar, ele me lembrou que era o único negro da seleção
brasileira, e diante do forte preconceito na época, concordei que seria cruel
exigir dele tamanho esforço, sujeitando-o a tal humilhação, que certamente
seria representada por um coro de vaias.”
Indaguei a Preguinho no meio de nossa conversa se havia
alguma mágoa ou tristeza que o esporte tivesse deixado, e ele serenamente
respondeu: “Não posso me queixar da vida, Barbosa, pois ela me deu muitas
alegrias”. Perguntei a ele se nem a morte precoce do irmão querido o fizera
pensar por um momento em parar, e ele lucidamente reiterou: “Nada disso, foi um
acidente do esporte. Nada mais.”
A modéstia quase infantil, peculiar a Preguinho, não
deixou que ele continuasse, mas o notável atleta conquistou aproximadamente
setenta títulos e 380 medalhas, em todos os desportos de que participou, e
dentre estes, destacam-se os conquistados na natação, pelo Guanabara, onde foi
campeão carioca, brasileiro e sul-americano, nos 200 e 1.500 metros livre (a
propósito, em 1922, Preguinho sagrou-se campeão continental em piscina
improvisada armada na Praia da Urca, quando do centenário da Independência), no
polo aquático participou da conquista de diversos campeonatos, tendo inclusive
enfrentado e vencido os belgas que na época eram os vice-campeões do mundo; no
remo, como patrão, participou de vários campeonatos desde 1921; no salto de
trampolim venceu com muito respeito seu velho mestre Oswaldo Gomes, que foi
famoso como centromédio, oito vezes campeão carioca pelo Fluminense,
companheiro de seu irmão Mano e autor do primeiro gol da seleção brasileira de
futebol, em um amistoso contra a equipe do Exeter CityFootball Club, em 1914; no
atletismo, destacam-se um campeonato carioca conquistado em 1925, na prova de
1.500 metros; no basquete foi cinco vezes campeão carioca e duas vezes
brasileiro, sempre pelo Fluminense; no voleibol, foi campeão em dois
torneios-início e vice-campeão carioca em quatro ocasiões, e no hóquei sobre
patins participou do selecionado brasileiro.
No futebol, sua maior paixão, jogou no infantil, no
terceiro, segundo e primeiro quadros, sendo campeão duas vezes; como adulto,
participou da conquista de dez torneios e campeonatos, jogando sempre no
ataque. Foi o primeiro camisa 10, capitão e artilheiro da seleção nacional,
marcando ao todo nove gols, inclusive o primeiro do Brasil em campeonatos
mundiais; foi autor também do centésimo gol do futebol brasileiro. Para
completar, Preguinho destacou-se também no escotismo, tendo uma respeitosa
folha de prestação de serviços.
Depois de um longo suspiro, Preguinho voltou ainda mais
no tempo, à época de criança, quando a sede de seu clube era em sua casa: “Comecei
no Sport Club Curupaity, mas nasci no Fluminense, são reminiscências
impossíveis de esquecer, pois hoje onde é a piscina do Fluminense era uma parte
da rua na qual nasci; a minha vida esportiva começou como uma coisa que parece
incrível, eu fui benemérito de um clube com cinco anos de idade, os meus irmãos
mais velhos quiseram organizar um clube e havia um campo abandonado, e como eu
era muito esperto eles me pediram para falar com um homem que tomava conta do
lugar; ele achou muita graça e permitiu, aí os mais velhos fundaram o Clube
Athlético Guanabara. O campo, era aquele da Rua Paysandú; o clube foi adiante,
ganhou o campeonato da segunda divisão, mas eu acabei ficando em segundo plano,
por que era muito pequeno; isso foi em 1912. No momento em que foram distribuir
os primeiros títulos de sócio aos que tinham suado a camisa pelo clube, Mano,
um dos meus irmãos, se levantou e disse que se não houvesse um campo, não
haveria clube, e me indicou para ser o primeiro benemérito, pois afinal eu que havia
arrumado; mais tarde, porém, o Flamengo, podendo pagar mais, acabou ficando com
o campo; os jogadores do Guanabara se dividiram então entre dois clubes,
Botafogo e Fluminense, o primeiro ficou apenas com um, o Tangerina; Batista,
Guimarães, Zezé, Laís, Mano e Fortes foram para o Fluminense, isso aconteceu em
1915. Nós, os menores, continuávamos sem ter vez, mas tínhamos como bom amigo
um ex-jogador, que havia perdido uma das mãos em um acidente, era o Euclides
Joaquim da Silva, o célebre Cuca, que apaixonado por futebol, resolveu fundar
um clube infantil e ficou sendo o técnico, aí surgiu o mais célebre clube em
matéria de revelações do futebol brasileiro, o Curupaity, que não perdia pra
ninguém. Nele surgiram Nilo Murtinho Braga, que jogou depois no Fluminense e no
Botafogo, Chiquinho Figueiredo, que junto com Nilo participou anos mais tarde
do escrete nacional, Agostinho, centroavante do América, Alberto Araújo, mais
tarde goleiro do Fluminense, Joel Roxo, Seabra e Dino, que formaram uma linha
média no Flamengo que ficou famosa, e tantos outros... Eu entrei no Fluminense
em 16, junto com meu irmão Paulo e com Chiquinho e Nilo, que não estreou no
Botafogo, como se diz, ele estreou no Fluminense, como a gente.”
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Nilo, amigo e companheiro de infância de Preguinho, com a camisa do Botafogo. |
A
trajetória de Preguinho é mesmo muito curiosa: seus pais vieram morar no bairro
das Laranjeiras em 1903, e receosos de perderem os outros sete filhos dos
quatorze que Dona Gaby teve, resolveram contratar um professor italiano para
lhes ensinar ginástica, e graças à modalidade, todos encontraram um ponto de
equilíbrio, um firme propósito, a decisão e o poder de concentração para
suportar as pressões cotidianas. Preguinho, numa entrevista a uma publicação do
Fluminense, deu um depoimento em relação a este assunto: “Quando mudamos para
perto do clube, meu pai, contemplando o verde que era a moldura das montanhas,
achou que teríamos que deixar que a natureza determinasse uma paixão por esse
grande sanatório que é o esporte, e falou: ‘Venha aqui Gaby, veja como o sol
brilha nas montanhas. A partir de agora as janelas jamais fecharão nesta casa.
Esquente o sol, esfrie a chuva, a natureza determinará a forma que a medicina
do amor dará aos nossos filhos. Essa é a minha esperança, Gaby’, e o Fluminense
passou a ser o prolongamento da nossa casa.”
Certa
vez seus irmãos mais velhos resolveram ir remar, e Preguinho se aborreceu com
um deles porque não queria deixar que ele fosse no barco, foi quando ele
protestou:
- Se
vocês não me levarem, vou nadando sozinho até a Praia do Flamengo!
Eles
se encontravam na Urca, e ninguém acreditou que o menino franzino tivesse tal
coragem, mas resultado: pulou no mar e nadou até o Morro da Viúva; os irmãos
não acreditaram que ele pudesse ir tão longe, mas quando viram que era sério,
bateram à porta do Guanabara, que ficava mais perto, e contaram ao Comandante
Irineu Ramos Gomes, então presidente do clube, e este imediatamente foi
buscá-lo; depois disso, Ramos Gomes resolveu aproveitá-lo como patrão de remo,
não havia disputa de provas de natação entre clubes naquela época; sua primeira
participação nadando foi em um torneio interno, no Fluminense, onde venceu duas
provas de natação e duas de salto, depois disso pediram que não competisse mais
com os de sua idade.
Um
lance que marcou Preguinho profundamente foi quando soube do falecimento do
Comandante Ramos Gomes: “Ele foi um verdadeiro pai esportivo para mim, eu
saltava, nadava, fazia qualquer coisa que ele pedisse para defender o clube,
paixão da vida dele; naquela época eu fazia curso de línguas e tinha um amigo,
um nadador fantástico chamado Armando Ferreira Gomes, que ia me buscar todos os
dias para irmos juntos aos treinos; quando ele ganhava, eu era o segundo, e
vice-versa; no ano de 1924 Armando tinha sido campeão, e na véspera do
campeonato do ano seguinte, em 1925, quando eu ia chegando ao clube, soube que
Armando havia morrido; fiquei desesperado, então o Comandante Irineu me pediu
que defendesse o título do Armando em homenagem ao grande nadador guanabarino.
Eu apertei a mão do Comandante e lhe disse: ‘Comandante, tudo farei para honrar
o nome do companheiro’, e daquele instante em diante, passei a treinar com uma
força de vontade tão intensa que já era uma obsessão em minha mente; entrava na
água às cinco horas da madrugada e corria em seguida para a Rua do Acre, para
pegar no serviço na Casa Mayrink Veiga; era um esforço extremo, porém, nada me
abalava, tinha um compromisso de honra e não fugiria da responsabilidade por nada
neste mundo. No dia da prova, 19 de abril, cheguei e não falei com ninguém até
o início dela, sagrei-me campeão dos 600 metros e meu querido amigo Armando
continuou como campeão da prova.”
Em
1916 foi campeão de futebol infantil pelo Fluminense e de polo aquático pelo
Guanabara, seu primeiro título de campeão de terra e mar veio quando tinha onze
anos, após isso aconteceram outras coisas muito interessantes em sua carreira
de atleta: no Tricolor iniciou no futebol, mas depois de um período em que
julgou não estar sendo muito utilizado, começou a namorar o basquete: “Joguei
dez minutos, marquei 48 pontos na partida e fui logo convocado para o escrete.”
Preguinho,
com dezessete anos, já havia sido campeão carioca de natação, mas não pensem
que levava uma boa vida, dedicada ao esporte somente: “Com dezenove já
trabalhava como estoquista na Casa Mayrink Veiga, entrava às sete da manhã e
largava às sete da noite; treinava natação às cinco da manhã!”
Preguinho
praticou por mero acaso alguns esportes: em uma prova de atletismo, por
exemplo, faltou um atleta e ele foi preencher a vaga, conclusão: foi campeão
nos 1.500 metros! É bem provável que se tivesse continuado teria se
transformado em um grande fundista. Obteve títulos que só foi descobrir mais
tarde, por praticar de forma quase inocente as modalidades pelas quais se
encantava, não ligava para a fama, queria simplesmente participar e sair
vitorioso, por que o corpo tinha muita energia e era preciso aproveitá-la, mas
a tendência da época era a profissionalização; ele mesmo fez questão de
ressaltar: “Quando entrei para o Fluminense sabia que não ia fazer feio por que
sempre tive muita força de vontade, basta dizer que em 1925, ano de maior
significação em minha vida, fui campeão em muitas modalidades; pois bem, neste
mesmo ano, como contei antes, eu trabalhava no Centro, tinha apenas uma hora de
almoço, e quando os jornais estamparam em manchetes que eu tinha sido campeão
‘anfíbio’ (natação e futebol), e meus patrões, que até então não sabiam do
feito, foram me perguntar como eu conseguia treinar, entrando no trabalho tão
cedo e saindo tão tarde! E eu lhes respondi que acordava às quatro e meia da
manhã, fazia exercícios até às seis e quarenta e cinco e vinha correndo para o
serviço. Um deles mostrou espanto, dizendo: ‘Mas você pode então chegar mais
tarde um pouco’, porém, respondi que não aceitava, que tinha de cumprir as
regras da casa, que não era direito sobrecarregar os colegas e prejudicar a
firma. Meus patrões, todavia, tanto insistiram que me convenceram a aceitar a
pequena regalia, na forma de mais uma hora de tolerância na chegada ao
trabalho, mas raramente chegava depois do horário estabelecido por achar que
não estaria agindo corretamente.”
Preguinho,
enquanto relatava isso, lembrou-se de outra passagem interessante: “Uma vez fui
convidado para ser comentarista esportivo da Rádio Nacional, quando João
Saldanha assumiu a direção, mas como poderia comentar um jogo onde meu
Fluminense perdesse, achava que apontando seus erros, criticando os jogadores,
estaria de algum modo traindo o meu Tricolor; não aceitei, sou conservador e
pelo Fluminense dei a vida e dele recebi muitas alegrias e glórias.”
Nosso
craque certa vez, no auge da carreira, em 1934, teve o assédio de Botafogo e
América, interessados em ter o atleta em seus quadros profissionais; Preguinho
não aceitou o convite e sobre isso declarou ao Jornal “O Globo”: “Posso dizer
que dei meus primeiros passos no Fluminense, muito antes de construírem o
“stadium”, quando havia a cancha somente. Cresci e vi o Fluminense crescendo,
nunca vesti outra camisa, nunca defendi outra agremiação no futebol. Já não sou
o que se chama um jogador moço; (...) acho-me de tal forma ligado ao Fluminense
que não posso pensar em abandoná-lo e muito menos por outro club carioca.
Liguei ao nome do Fluminense toda a minha história, a minha mocidade, e quero
dar-lhe o que tenho ainda diante de mim.”
Preguinho
encerrou oficialmente sua carreira em 21 de junho de 1939, disputando pelo
Fluminense um amistoso contra a Seleção Niterói, do então estado da Guanabara,
no estádio Byron, casa do adversário, e ao fazer seu último tento nesta
partida, declarou: “Com este gol encerro minha carreira no futebol, e penduro
as chuteiras para a posteridade.”
Diante
de uma carreira tão vitoriosa, nada mais justo que o reconhecimento se desse em
nível nacional, e em 07 de maio de 1970, ano da conquista do tricampeonato
mundial, no México, Preguinho foi considerado o atleta número 1 do Brasil,
homenagem que o estado da Guanabara quis igualar, presenteando em 1973 o atleta
com o título de “Cidadão Benemérito do Estado da Guanabara”, em projeto do
vereador Ítalo Bruno, “Pelo muito que já fez em prol do nosso Estado.”
Sobre os autores:
Waldyr e Waléria Barboza são gestores de negócios imobiliários, esse é seu
primeiro livro publicado, homenagem iniciada por seu pai, o jornalista Waldir
Barbosa, a um dos mais emblemáticos ídolos do Fluminense Footbal Club; já tem
prontos um livro de contos, relacionados ao futebol, e um romance de suspense,
aguardando editora.
Serviço: para adquirir a obra, contatar o autor pelo
e-mail fluliterario@gmail.com ou WhatApp:55 21 98254-1847
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