Aqui mesmo, alguns dias atrás, destacamos os mistérios
que envolvem a camisa 10, especialmente, durante a disputa de uma Copa do Mundo
(http://www.literaturanaarquibancada.com/2014/06/a-magia-da-camisa-10-na-copa.html).
Eram 32 equipes. Vários deles voltaram para casa com o
peso e, talvez, a culpa pela derrota. Mas os que continuam na disputa terão a
chance de integrar o seleto grupo de “imortais” do futebol mundial. Mesmo os
que partiram sem vencer, entrarão para a literatura das copas, para o bem ou
para o mal...
O peso da 10
Por André
Ribeiro
Bilhões de
torcedores espalhados por todo o planeta sempre terão olhos especiais para o
jogador que ousar vestir essa camisa. Usá-la é estar ciente de que terá de
carregar, além das responsabilidades tradicionais de uma equipe que representa
uma nação, o peso das derrotas. Vencer autênticas batalhas não é o suficiente.
Têm que convencer e encantar, tornar-se o homem temido por outros jogadores,
outras nações inteiras.
São poucos
os que resistiram a essa pressão natural. Pelé ensinou ao mundo que para ser
rei não basta talento e genialidade, há também de se contar com a “luz”
especial recebida sabe-se lá de onde. Sucumbir ao momento crucial de uma
partida em uma Copa é saber que todos os esforços de anos de dedicação podem
desaparecer em fração de segundos. Foi o caso, por exemplo, do craque camisa 10
da Itália, Baggio, na Copa de 1994, nos Estados Unidos. Um pênalti perdido, a
derrota, o inferno eterno. Ninguém mais se lembraria de que fora ele um dos
maiores responsáveis por levar sua seleção até aquela final. Ninguém se
lembraria do esforço para se tornar conhecido no futebol, pelo pequeno Vicenza,
na série C, do campeonato italiano. Dos gols e jogadas sensacionais pela
Fiorentina, Juventus, Milan, Inter de Milão e Brescia. Só mesmo a paciência da
fé budista que cultuava para resistir a tantas pressões.
Que peso é
esse que uma simples camisa trás a um jogador? Raí, craque inquestionável do
São Paulo Futebol Clube, campeão mundial interclubes, em 1992 e 1993, sucumbiu
à pressão na Copa de 1994. Titular da posição, dono da camisa 10, terminou a
competição no banco de reservas, sem o brilho que se espera daqueles que vestem
a camisa mais cobiçada e temida do planeta.
Talvez por
essa razão, Riquelme, herdeiro da 10 no Boca Juniors e na seleção, do maior
ídolo argentino de todos os tempos, Maradona, e no poderoso Barcelona, também
não tenha suportado essa pressão quando decidiu sair do clube catalão e aceitar
jogar com a 8 pelo Villareal. Deixou a responsabilidade da 10 no “Barça” para o
brasileiro Ronaldinho Gaúcho e se foi. Coincidência ou não, sem o “peso”
da 10, Riquelme foi um dos principais responsáveis por levar o desconhecido
clube espanhol às semifinais da Copa da Uefa, em 2003 e à surpreendente
terceira colocação da concorrida Liga Espanhola nesse mesmo ano. Pela seleção,
inexplicavelmente, Riquelme jamais conseguiu suportar a pressão natural
exercida sobre qualquer 10 argentino, mesmo que todos admitam que ele
transformava a arte de jogar futebol em espetáculo.
Na seleção Robinho chegou a usar a camisa 10 que um dia pertenceu a Pelé, mas também com a “amarelinha” nunca se tornou seu legítimo representante. Essa dura missão foi confiada a outro talento brasileiro que nunca teve a 10 como seu “amuleto”, Kaká. No início de carreira, pelo São Paulo, vestiu camisas com numerações esquisitas, 30, 33, 8, mas nunca a 10 que um dia fora de craques consagrados como Raí, Pedro Rocha e Gerson. No caminho que todos fazem quando partem rumo à Europa, foi para o Milan e se consagrou com a camisa 22. Negociado com o Real Madrid, da Espanha, em transação milionária, recebeu a camisa 8 de presente. Na seleção brasileira, já jogou com a 7, com a 23, mas, na Copa de 2010, na África do Sul, Kaká enfrentou o destino que muitos outros tiveram. Do céu ao inferno, a eliminação contra a Holanda praticamente “sepultou” mais um talentoso jogador que ousou vestir a 10 em um Mundial.
A cada Copa,
o mundo inteiro volta os olhos para uma única camisa. São vários os camisas 10
em campo, a expectativa de vê-los é capaz de atrair milhares de torcedores aos
estádios e bilhões espalhados pelo mundo, na frente de uma televisão, de
um rádio ou pela internet. Como se diz na gíria futebolística, a “bola da vez”,
não é apenas um, mas alguns...No momento em que esse texto é escrito e
publicado, quando as oitavas de final ainda não se encerraram, a camisa 10 de
quase todos os países envolvidos brilhou.
Neymar
seguirá em frente e se tornará o novo “imortal”? Messi conseguirá, finalmente,
ganhar um título para a Argentina e ganhar definitivamente o coração dos
torcedores argentinos, que sempre desconfiaram de suas atuações pela seleção?
Os “deuses”
dos estádios guardam segredos desses homens que só ao final da Copa saberemos
quem poderá entrar para a galeria dos “imortais”.
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