Mais um livro “explosivo”. Depois de “Jogo Sujo – O mundo secreto da Fifa”
(ver artigo aqui http://www.literaturanaarquibancada.com/2013/10/jogo-sujo-o-mundo-secreto-da-fifa.html),
lançado em 2011, o jornalista escocês Andrew Jennings e a editora Panda Books
trazem a você, leitor, o “livro-bomba”, “Um
jogo cada vez mais sujo – O padrão Fifa de fazer negócios e manter tudo em
silêncio”.
Considerado o inimigo número 1 da Fifa, Jennings
investiga os bastidores da entidade há 20 anos. Foram suas denúncias que
acabaram resultando nas expulsões de João Havelange e Ricardo Teixeira da
entidade.
Um dos capítulos do livro denuncia o esquema fraudulento
da venda ingressos na Copa, fato que já começamos a ver no país, um mês antes
do início da competição. Evidente que os denunciados não iriam ficar em
silêncio. Mesmo com ameaças, a Editora Panda Books também entrou na briga. Assim
que tomou conhecimento das denúncias do novo volume de Jennings, o escritório
de advocacia BM&A, que representa a Fifa no Brasil, enviou uma notificação
para a editora, ameaçando processá-la por “falsas acusações, conteúdo
calunioso, conteúdo inverídico e danos à honra e à imagem” caso o livro seja
publicado no país. Segundo a editora apurou, o escritório BM&A tem
como um dos sócios Francisco Müssnich, advogado e amigo de Ricardo Teixeira,
ex-presidente da CBF, ex-membro do comitê executivo da Fifa e uma das figuras
centrais do, como diz Jennings, “Padrão Fifa de fazer negócios e manter tudo em
segredo”. Por meio dessa amizade, Müssnich ganhou de Teixeira um cargo no
comitê organizador da Copa e também uma vaga no Superior Tribunal de Justiça
Desportiva.
Apresentação
Por
Andrew Jennings
Em março de 2013, a Reuters informou que
o filho de Jack Warner, Daryan, estava cooperando como testemunha,
presumivelmente revelando as contas bancárias do papai nos paraísos fiscais.
Foi dito também que havia evidencias interessantes nos vídeos das câmeras de
segurança do Casino Bellagio, em Las Vegas.
É provável que Chuck Blazer também
esteja cooperando. O FBI e a Receita Federal tomaram conhecimento, no final do
verão de 2011, de que Blazer mantinha seus esquemas de evasão fiscal através de
bancos no Caribe. Mas quase três anos depois, ele ainda não foi indiciado.
Será que o Barrigão vai para a cadeia? Será que Warner,
Blatter e os outros líderes da Fifa são células adjacentes?
Prólogo
Em Palermo
– Aprendendo sobre a máfia
A máfia costumava submeter gigantescos pedidos fraudulentos
de subsídios para a produção de suco de laranja que jamais existiu. Os mafiosos
subornavam e intimidavam funcionários para endossar os pedidos – e roubavam milhões
de dólares. O esquema foi desbaratado, os bandidos escaparam. Mas aqui é a Sicília
e eles estão por toda parte, de olho.
Um enorme sedã preto com vidros escuros passa por mim e
minha equipe de filmagem e estaciona. De dentro do carro desce um homem
corpulento que caminha na minha direção. Faz gestos por cima do ombro apontando
para uma pessoa invisível, mas obviamente importante, atrás dos vidros escuros
e anuncia rispidamente: “Ele
dizer vocês num filmare qui” (“Ele esta dizendo que vocês não podem
filmar aqui”).
Finjo que não entendo, o que dá ao meu cinegrafista tempo
para fazer mais algumas tomadas externas do edifício abandonado. No exato
instante em que os olhos do sujeito começam a ficar arregalados de fúria,
agarro a mão dele, aperto com firmeza, digo “arrivederci” e grito para a
equipe: “Hora de ir embora!”.
Não foi um bom dia. Mais cedo tínhamos ido até a
cidadezinha de Altofonte, nas colinas acima de Palermo. Sabíamos que se tratava
da terra natal de um chefe da máfia que agora era um dos cabeças da organização
em Londres. As ruas eram estreitas, e o nosso carro alugado se espremia entre
muros altos e brancos dos dois lados. Erramos o caminho, demos uma guinada à
esquerda e entramos em outra viela estreita – e demos de cara com quatro
cavalos pretos com plumas pretas na cabeça. Oh, não! Um funeral. Encontramos espaço
suficiente para passar raspando pelos cavalos e o rabecão. Não ousamos encarar
nenhum rosto na fileira de gente enlutada que caminhava atrás do carro fúnebre.
Sem demora, encontramos outra estrada e saímos da cidade.
Na noite seguinte, fomos escoltados por policiais armados
através dos corredores de concreto e espessas portas de aço à prova de explosões
em um labirinto sob o Palácio da Justiça em Palermo. Por fim chegamos ao
minúsculo gabinete do magistrado investigador Giovanni Falcone. Um homem
jovial, cujas bem-sucedidas campanhas contra a máfia fizeram dele o principal
alvo da Cosa Nostra, Falcone deixou de lado os relatórios de inteligência que
estava analisando, tirou da gaveta uma garrafa de uísque escocês e nos brindou
com informações sobre os criminosos que estávamos investigando.
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Giovanni Falcone |
Cinco anos depois, a máfia siciliana matou Falcone e sua
esposa – a juíza Francesca Morvillo –, além de três agentes da sua escolta. O
carro do magistrado foi desintegrado por uma carga de dinamite na autoestrada
que ligava o aeroporto militar siciliano de Punta Raisi a Palermo. Próximo à
cidade de Capaci, um comando militar mafioso havia enchido de explosivos um
largo duto de escoamento de águas pluviais que passava debaixo do asfalto da
pista de rolamento.
Concluí as minhas filmagens, revelando de que maneira a
máfia lavava milhões de dólares provenientes da venda de heroína por meio de
bancos em Londres, dinheiro que mais tarde voltava para a Itália. Depois eu
quis saber mais sobre como a máfia funcionava. Estudei ensaios e li relatórios de
policiais tarimbados e criminologistas experientes, examinando as definições e
as estruturas dos Sindicatos do Crime Organizado. Isso se tornou uma preparação
essencial para o trabalho de investigação das federações esportivas
internacionais.
Vasculhei e bisbilhotei a Fifa na década de 1990 e a
partir do final de 2000 comecei a concentrar as minhas investigações em torno
de Joseph “Sepp” Blatter e João Havelange. Logo me dei conta de que estava de
volta ao éthos sombrio
da Sicília – mas transferido para outro continente. Voltei ainda mais no tempo,
pesquisando e lendo, e cheguei ao Bangu de cinquenta anos atrás. Do mundo dos
bicheiros eu viajei de volta a Europa e descobri maletas secretas carregadas de
lingotes de ouro arrebanhados em Zurique. Seguindo as barras de ouro, completei
o círculo de volta a Copacabana, e agora... à Copa do Mundo de 2014.
Andrew
Jennings
Cumbria,
abril de 2014
Bem-vindos
ao Rio
A
violência dos amigos de Havelange não tem fim
8 de abril de 2010. Avenida das Américas, Rio de Janeiro.
Bum! O Toyota Corolla é blindado para
resistir a tiros de fuzil, mas a couraça extra de aço das portas não dá conta
de proteger o motorista adolescente da bomba amarrada debaixo de seu banco.
Tudo que os guarda-costas armados nos dois carros que vinham atrás podem fazer
é lamentar a morte instantânea de Diogo Andrade, de 17 anos de idade. Talvez
jamais consigam encontrar todos os pedaços de seu corpo.
Rogério, o pai do garoto, sentado no banco do passageiro,
escapa com o nariz quebrado. Mais tarde, em uma cama do Hospital Barra d’Or,
ele começa a tramar o seu plano de vingança. Ele sabe quem deu a ordem para o
atentado à bomba. Como a sua equipe de segurança cometeu o vacilo de não ver o
artefato?
Chocados, os motoristas engarrafados atrás dos destroços,
ao longo do bulevar paralelo às praias reluzentes na Barra da Tijuca, saem de
seus carros para observar o trabalho da polícia e dos paramédicos, que na
claridade da ensolarada manhã usam luvas para recolher os pedaços chamuscados
do rapaz espalhados pela calçada e na sarjeta. Embasbacadas e boquiabertas, as
pessoas olham com espanto para o Corolla fumegante e outro veículo incendiado –
também destruído pela explosão. São as guerras de quadrilhas em sua violenta
disputa pelo milionário mercado do jogo ilegal. Será que nunca terão fim?
Primavera de 2010. Os empreiteiros e seus amigos
poderosos estão extorquindo os contribuintes com planos extravagantes para
reconstruir e remodelar o estádio Maracanã, reduzindo a capacidade das
arquibancadas populares de modo a abrir espaço para uma fileira de camarotes
que somente os playboys internacionais
podem pagar.
Bem-vindo ao Rio de Janeiro, cidade em que os homens de
colarinho branco, usando como armas advogados e políticos, estão travando uma
batalha para se apoderar da riqueza que a Copa do Mundo e as Olimpíadas podem propiciar.
A batalha bem visível – aquela da avenida das Américas – é mais um episódio nas
guerras por território em curso no Rio: as disputas de uma organização dividida
em facções que rosnam e arreganham os dentes na tentativa de comandar os lucros
da contravenção da cidade, a exploração do jogo do bicho, das máquinas caça-níqueis
e do tráfico de cocaína.
Esqueça os traficantes pés de chinelo nas ladeiras das
favelas com lindas vistas para o oceano, trocando tiros com a Polícia Federal e
o Exército, os agentes da limpeza étnica preparando o terreno para a chegada
das redes de hotéis. A terra é uma das mercadorias mais preciosas na cidade, e,
se for preciso, vão derrubar casas com escavadeiras de terraplenagem – é isso
que se faz para construir uma economia de primeiro mundo e esconder os lucros
em bancos do Caribe.
Os assassinos no bulevar são membros de outra elite da cidade,
duradoura e celebrada na mídia e no mundo dos esportes, protegida pela polícia
e pelos políticos corruptos.
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Havelange, Teixeira e Castor de Andrade. |
Os ecos da explosão ricocheteiam nos morros. Será que o
Cristo Redentor, lá no alto do Corcovado, derrubou uma lágrima pelo rapaz
morto? Descansando em seu elegante apartamento, João Havelange estremece. Essa violência
vulgar e desnecessária. Ele não tinha feito tudo pela família Andrade? Não havia
posto o poderoso chefão do Rio no comando da delegação da Seleção Brasileira? Não
lhe dera prestígio no futebol? Não tentou impedir a ação da polícia antimáfia?
Quando aquela maldita juíza se recusou a ser intimidada, não foi visitá-lo na
cadeia?
Seu velho amigo Castor, tio-avô do jovem morto no ataque
à bomba, tinha mantido a cidade em ordem. Número mínimo de assassinatos.
Financiava o Carnaval para as massas cariocas. Ao mesmo tempo, o aristocrata
Havelange estava aprendendo a receita de como criar uma organização global sem
matar ninguém, sem precisar quebrar uma perna sequer. O combustível era o
dinheiro, fornecido pelas marcas globais e pelas redes mundiais de televisão,
todas competindo para abocanhar uma fatia da mercadoria que ele controlava.
Em outra parte da cidade, Romário está conversando com
dirigentes do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Quer destronar Ricardo
Teixeira, o longevo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e
sua súcia de conspiradores, que dominavam e se apropriavam dos recursos do
esporte brasileiro havia décadas. Uma das maneiras seria concorrer a uma
cadeira de deputado federal nas eleições para a Câmara dali a seis meses. Os políticos
tem poder. E há a pequena Ivy, a filhinha de cinco anos de Romário, portadora
da síndrome de Down. Romário descobriu e sentiu na pele quanto o Brasil cuida
mal de seus deficientes. Ele passa alguns fins de semana jogando partidas beneficentes
em cidadezinhas de todo o país para arrecadar recursos destinados a entidades de
apoio a pessoas com necessidades especiais, como a Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais (Apae).
Os chefões da cartolagem brasileira dão risada. Romário?
Ele não passa de mais um playboy,
um ex-astro do futebol. Já pendurou as chuteiras. Seus dias de artilheiro
chegaram ao fim. Que tipo de ameaça esse filho das favelas pode representar para
eles, homens poderosos, ricos, e com um esquadrão de políticos obedientes em
sua folha de pagamento?
Em São Paulo, José Maria Marin, um dos queridinhos da
ditadura militar – ao lado de seu parceiro, o político Paulo Maluf –, e agora
vice-presidente da CBF. Tudo bem, o povo há muito tempo se esqueceu de como
Marin ajudou a dar sustentação política à ditadura e como um discurso dele foi
decisivo para que o corajoso jornalista Vladimir Herzog fosse preso e torturado
até a morte. E se Ricardo Teixeira tem de fugir abruptamente do país – no
tradicional estilo latino-americano –, buscando refúgio em uma de suas lindas
casas na Flórida, José Maria Marin o substituirá, encarregando-se de cuidar do
pote de mel.
O estrondo da mortífera explosão na avenida das Américas não
pode ser ouvido na longínqua Johannesburgo. Faltando oito semanas para o jogo
de abertura no Soccer City, Sepp Blatter e seus capos sul-africanos já estão enfrentando problemas
demais. Revoltados com os preços extorsivos dos ingressos, os torcedores e fãs de
futebol vão ficar em casa. Nas cidades, os cidadãos protestam todos os dias; os
motins mandam uma mensagem clara para os políticos: o dinheiro público deveria
ser gasto na construção de casas, nas redes de abastecimento de água e estações
de tratamento de esgoto e na criação de empregos, e não em estádios que se tornarão
elefantes brancos. Por que os políticos lhes dariam ouvidos? Eles contam com a
polícia para espancar os manifestantes.
A Copa do Mundo de 2010 é uma boa notícia para Danny
Jordaan, dirigente da Federação de Futebol Sul-Africana e agora chefe executivo
do Comitê Organizador Local (COL) do torneio. Na surdina, seu irmão Andrew ganhou
de bandeja um emprego muito bem remunerado como agente de hospitalidade junto a
MATCH Events Services no estádio de Port Elizabeth. Um dos acionistas da MATCH
é Philippe Blatter, sobrinho de Sepp Blatter. Os sócios majoritários são os
irmãos mexicanos Jaime e Enrique Byrom, baseados em Manchester, na Inglaterra,
e em Zurique, na Suíça, com movimentação de contas bancárias na Espanha.
Os irmãos Byrom não estão felizes. Sepp Blatter
agraciou-os com o lucrativo contrato de exclusividade na comercialização de
pacotes de hospedagem para a Copa do Mundo, pacotes cujo alvo são os abastados “clientes”
e endinheirados “consumidores” do futebol, na maioria estrangeiros. Como se
isso não bastasse, Blatter também lhes deu o contrato para gerenciar e
distribuir os 3 milhões de ingressos. Os irmãos Byrom estão cobrando preços exorbitantes
pelos hotéis e voos internos, e a essa altura esperavam ter lucros monumentais.
Em vez disso, estão em via de amargar um prejuízo de 50 milhões de dólares. Planejam
recuperar essas perdas na Copa do Mundo no Brasil, dali a quatro anos. Enquanto
isso, estão sorrateiramente mexendo os pauzinhos e tomando providências para
fornecer a Jack Warner, um dos vice-presidentes da Fifa, uma enxurrada de
ingressos para serem vendidos no mercado negro, como fizeram na Alemanha em
2006.
Os advogados de Zurique receberam seus honorários. Em
poucas semanas virá a público o anúncio de que está concluída a investigação criminal
de altos dirigentes da Fifa, que receberam propinas da International Sports and
Leisure (ISL) em troca de facilidades na obtenção de contratos de marketing. Os
advogados conseguiram uma proeza e tanto; os nomes serão mantidos em sigilo
para todo o sempre. Apenas uma ninharia do dinheiro será devolvida. Caso
encerrado. Os dirigentes brasileiros estavam envolvidos? Sem comentários. E
quanto ao senhor, presidente Blatter? Nada a declarar.
O presidente da Fifa andava preocupado, temeroso de que a
polícia divulgasse a prova concreta de que em março de 1997 ele havia segurado
em suas mãos uma ordem de pagamento de 1 milhão de francos suíços (cerca de 1,5
milhão de reais), a propina destinada a João Havelange. Alguém tinha dado com a
língua nos dentes e fornecido a informação àquele maldito jornalista britânico.
Se a história voltasse de novo à tona, ele contrataria seus próprios investigadores
a fim de ser inocentado. Meses depois, naquele mesmo ano, um dos investigadores
suíços levou o jornalista britânico para jantar em um restaurante com vista
para um lago. “Não desista”, ele disse.
O presidente da Fifa está visivelmente deprimido. Será que
seu reinado está chegando ao fim? Em fevereiro ele concede uma entrevista a uma
repórter do jornal Al-Ahram,
do Cairo. De repente, Sepp enceta uma grandiloquente lista de suas supostas realizações
e conquistas. Parecia o seu obituário. Uma vez que a jornalista era uma árabe bem
informada, Blatter não conseguiu se conter. “Sempre me dei muito bem com
Mohamed, sempre fomos amigos, até o último congresso em maio”, diz Blatter. “De
repente a nossa amizade se rompeu. Pergunte a ele: ‘Por quê?’. Eu não sei”.
Não é verdade. Sepp sabe, sim. Mohamed, a jornalista bem
sabe, e Mohamed Bin Hammam, dirigente do Catar e presidente da Confederação Asiática
de Futebol (Asian Football Confederation ‒ AFC). Durante 12 anos ele forneceu o
dinheiro para comprar os votos que mantiveram Blatter no trono de presidente.
Agora Bin Hammam quer o emprego para si mesmo. Ele é capaz de arrecadar mais
dinheiro do que Sepp e vai vencer. A eleição seria realizada dali a um ano e,
enquanto o coitado do Diogo foi pelos ares, Mohamed segue empilhando seus sacos
de dinheiro e envelopes marrons. Sim, ele realmente guarda suas propinas em
envelopes de papel marrons. Em 2011, alguém fotografaria um deles.
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Mohamed Bin Hammam e Blatter. |
Os velhos gananciosos da Fifa não ouvem o estrondo da explosão.
Eles só têm ouvidos para o farfalhar das verdinhas. Esse ano, 2010, será o ano
mais rentável. Quatro meses depois da Copa do Mundo na África, eles decidirão que
país realizará a Copa do Mundo de 2018. Temendo a possibilidade que talvez não vivam
mais quatro anos, perdendo assim a chance de encher os bolsos com mais propinas
durante o processo de escolha do país anfitrião da Copa do Mundo de 2022, os
cartolas decidem que em dezembro de 2010 anunciarão de uma só vez as sedes das
Copas de 2018 e 2022. Presentes de Natal em dobro.
Vamos dar uma olhada nos países concorrentes! Putin está doido
para levar a Copa do Mundo para a Rússia. Os homens ricos do Catar, vestindo
suas jalabiyas –
típicas túnicas longas brancas ou em cor pastel –, também querem o torneio. Duas das nações mais
ricas do mundo em petrodólares estão implorando. Uau! Que alegria! Ricardo
Teixeira passou o ano todo com um sorriso estampado no rosto. Do outro lado da
fronteira, em Assunção, capital do Paraguai, Nicolás Leoz, presidente da
Confederação Sul-Americana de Futebol (Confederacion Sudamericana de Futbol ‒
Conmebol), sente cheiro de dinheiro – e mais. Ele coexistiu tranquilamente com Alfredo Stroessner,
e há uma eternidade vem usando o futebol como fonte de propinas. Ele ainda não sabe,
mas seus hábitos vorazes serão tema de um programa da televisão britânica dali
a sete meses.
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Amos Adamu |
No norte do continente, no Cairo, o camaronês Issa
Hayatou, presidente da Confederação Africana de Futebol (Confederation
Africaine de Football ‒ CAF), não está ficando mais pobre. Meses depois a BBC
identificou um pagamento de propina feito a ele. Há muitos e muitos dirigentes
que suscitam dúvidas e suspeitas, mas é difícil obter provas. Outro dos que estão
sempre em evidência é o tailandês Worawi Makudi, também membro do Comitê Executivo
da Fifa. As acusações de corrupção e irregularidades em sua gestão à frente da Associação
Tailandesa de Futebol se acumulam: Worawi rebate e se safa, seus colegas da
Fifa se calam e o protegem.
Seis meses antes, João Havelange, o mais antigo membro do
Comitê Olímpico Internacional (COI), liderou a delegação brasileira que foi a
Copenhague apresentar a candidatura do Rio de Janeiro a sede das Olimpíadas de
2016. O evento não custaria caro, porque apenas dois anos antes a cidade fora
sede dos Jogos Pan-Americanos e as instalações esportivas precisavam apenas de
uma demão de tinta e estariam prontas para as competições.
Nominalmente, o líder da candidatura carioca era Carlos
Nuzman, membro do COI e presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), mas
Havelange estava acompanhado de Jean-Marie Weber, o “Homem da Mala”, o gerente
de marketing da ISL que distribuiu 100 milhões de dólares a dirigentes
esportivos – incluindo Havelange – no século passado. O presidente Obama
discursou em nome de Chicago. Weber falou com seus velhos amigos do COI – e deu
no que deu.
Uma saraivada de tiros de fuzil atingiu o sargento do
Corpo de Bombeiros Antônio Carlos Macedo enquanto pilotava sua Harley-Davidson
pelas ruas do Rio. Ele atuava como chefe da segurança do próprio Rogério
Andrade e foi executado no final de 2010, um mês antes do anúncio das sedes das
Copas de 2018 e 2022. Rogério tinha concluído que Macedo fora o responsável por
plantar a bomba que explodira seu filho. A família Andrade vinha se matando
desde que o bicheiro Castor de Andrade, o patriarca do clã e amigo de Havelange,
morrera depois de um infarto em 1997. Paulinho de Andrade, filho e herdeiro
direto do império de negócios ilegais de Castor, foi assassinado em 1998,
supostamente por Rogério. Diversos outros bandidos foram eliminados, mas é
improvável que a cidade volte a ser estável como antes, no tempo em que Castor
mandava.
Sobre o autor:
Andrew Jennings é repórter
investigativo há mais de trinta anos, cineasta, consultor e comentarista.
Trabalhou nos jornais britânicos The
Sunday Times e Daily Mail, na BBC, além de contribuir
em diversas publicações. Autor de documentários e livros sobre corrupção nos
esportes, Jennings tornou-se conhecido no mundo todo como o “único profissional
de imprensa banido das coletivas da Fifa”. Traduzido para mais de 12 línguas,
Jogo Sujo (Foul!) foi transformado em documentário da BBC e exibido em todo o
mundo.
Que petardo, hein!
ResponderExcluirGostaria muito de poder ler esse livro (e o antecessor) imediatamente, mas infelizmente estou com outras prioridades e vou ter que colocá-lo na minha lista de leituras futuras.
Mas valeu demais se resenha.
Vou certamente ajudar a divulgar.
Abs.