Brasil X Argentina, o maior clássico do futebol mundial. Um
das maiores rivalidades dentro dos gramados. Tudo é “maior” nesse caso. É assim
há mais de um século. E sempre será. Durante a Copa do Mundo, no Brasil, dois
dos maiores astros do futebol mundial (e que jogam juntos), estarão frente a
frente: Neymar e Messi. Esse momento histórico, com certeza, estará presente em
futuras edições de um “livraço” que dois craques do jornalismo escreveram.
“Os Hermanos e Nós” (Editora Contexto), de Ariel Palacio
e Guga Chacra, contudo, tem uma resposta diferente sobre essa tal rivalidade
entre brasileiros e argentinos.
Sinopse (da
editora):
Além da paixão pelo futebol, brasileiros e argentinos têm
em comum a admiração que suas seleções despertam ao redor do planeta.
Quando elas entram em campo, param o mundo. Pergunte a um
palestino e a um israelense, a um grego e a um turco para qual time torcem na
Copa do Mundo, quando o deles não está na disputa. Se não for o Brasil, será a
Argentina.
Neste livro, os jornalistas brasileiros Ariel Palacios –
que vive em Buenos Aires – e Guga Chacra – que já morou lá – contam de forma
deliciosa o que é o futebol argentino desde sua história até seu estilo de
jogo. Como se manifesta o fanatismo das torcidas argentinas, aquelas que cantam
sem parar, esteja o time ganhando ou perdendo? Quais seriam os equivalentes
brasileiros de clubes argentinos como o River Plate, o Racing ou o Boca
Juniors? E, afinal, é verdade que o maior rival da Argentina é o Brasil? (Já
desvendamos o segredo: não é.)
Nós amamos odiá-los, eles odeiam nos amar, mas ambos somos os maiores praticantes do futebol-arte. Leitura imperdível e deliciosa.
Nós amamos odiá-los, eles odeiam nos amar, mas ambos somos os maiores praticantes do futebol-arte. Leitura imperdível e deliciosa.
Os argentinos e el fulbo
Por Ariel Palacios e Guga Chacra
Brasileiros e argentinos são os únicos no mundo que, ao
viajarem para outros continentes e dizerem ser naturais do Rio de Janeiro ou de
Buenos Aires, ouvem uma simpática saudação de “Pelé”, “Maradona”, “Ronaldinho”
ou “Messi”. A camisa amarela da seleção brasileira e a azul e branca da
argentina são reconhecidas no Gabão, na Eslovênia, no estado americano de Wisconsin
ou em um balneário no Azerbaijão, às margens do mar Cáspio.
As diferenças históricas entre Brasil e Argentina já
estão resolvidas desde a metade do século XIX. Pode-se até dizer que, de certa
forma, somos os melhores amigos um do outro. Mas, se no campo da política não
existem divergências, em todo o universo dos esportes é difícil haver uma
rivalidade tão forte quanto a de Brasil e Argentina no futebol.
Seria como na geopolítica internacional ser americano
ou soviético nos tempos da Guerra Fria. Os demais apenas observam a nossa
superioridade.
Pergunte quem é o melhor jogador de todos os tempos e,
no mundo todo, haverá quase unanimidade entre três nomes – Pelé, Maradona e, mais
recentemente, Messi. Qual a melhor seleção de todos os tempos?
Provavelmente dirão – inclusive os argentinos – que o
Brasil de 1970.
Apesar dessa rivalidade, colocada a prova em quatro
jogos de Copa do Mundo, em 1974, 1978, 1982 e 1990, e em dezenas de partidas ao
longo de um século de história, brasileiros e argentinos ainda desconhecem muito
do futebol do país vizinho, de suas características e de sua história.
Neste livro, contaremos ao leitor brasileiro o que é o
futebol argentino (a partir da ótica de brasileiros que, como no caso do Ariel,
vivem na Argentina e, no do Guga, viveram na Argentina), desde sua história até
seu estilo de jogo. Por que nas seleções argentinas há tantos jogadores com
sobrenome italiano? Por que existem dois campeonatos argentinos por ano? Quais
foram os títulos conquistados pela Argentina? Qual foi a ocasião em que
argentinos e brasileiros – ao lado dos italianos – ganharam juntos uma Copa do
Mundo?
É verdade que eles chamam os brasileiros de
“macaquitos”? E que, ao contrário de nós (que preferimos uma derrota argentina
a uma vitória brasileira), a maior alegria deles não é sequer ganhar dos
brasileiros?
Aliás, locutores esportivos argentinos não possuem
frase alguma que sustente que “ganhar é bom, mas ganhar do Brasil é melhor”.
Os brasileiros querem saber o que, afinal de contas,
aconteceu no tão falado jogo da Argentina contra o Peru em 1978, que alijou o
Brasil daquela Copa. E se Messi já é melhor que Maradona.
Como o futebol é representado no tango, no cinema, na
literatura e nos quadrinhos?
E uma informação que pode deixar muitos torcedores
brasileiros traumatizados: os argentinos admiram o futebol brasileiro e gostam do
Brasil como um todo. Ou melhor, além de gostar, admiram o Brasil por uma longa
lista de fatores, entre os quais está o lado mais frívolo ou de ócio, como as
praias, a caipirinha, o Carnaval, a paisagem litorânea, o samba, a bossa nova e
os cafés da manhã dos hotéis, pela vasta variedade de frutas tropicais que
oferecem.
De quebra, os argentinos consideram as brasileiras o
máximo da sensualidade. Conhecemos vários argentinos que tentam marcar um
encontro pelo telefone com garotas, só por sabê-las brasileiras, sem nunca as
terem visto pessoalmente.
No lado político-econômico, nas últimas duas décadas os
argentinos passaram a admirar a industrialização brasileira, a influência regional
crescente adquirida desde os anos 1990, o protagonismo político e econômico
mundial do Brasil e, acredite se puder, até consideram a classe política
brasileira “menos corrupta” e mais eficiente do que a da Argentina!
Mais um detalhe: não adianta contar a um argentino uma
piada sobre argentinos. Eles conhecem todas, e até mais algumas que a gente não
sabia. Acontece que essas piadas não foram feitas no Brasil, mas na própria
Argentina, em função do ácido humor que os argentinos – especialmente os
portenhos – possuem sobre si próprios.
Voltando ao futebol: os argentinos definem a forma de
jogar dos brasileiros com admiração, com a expressão “jogo bonito”, pronunciada
quase sempre com um peculiar sotaque: “xóôgo bónito”.
O acadêmico Pablo Alabarces, da Universidade de Buenos
Aires (UBA), que realizou com o brasileiro Ronaldo Helal (da UERJ) um debate interessante
sobre a relação futebolística entre os dois lados da fronteira, cunhou uma
frase que tenta resumir a intrincada trama de sentimentos mútuos: “Os
brasileiros amam odiar a Argentina, enquanto os argentinos odeiam amar o
Brasil”. Helal ressalta que “qualquer rivalidade contém uma dose de admiração e
de inveja. Somente rivalizamos com alguém que tem algo que desejamos possuir ou
superar”.
E, para encerrar: em meados de 2013, no Brasil, durante
sua primeira viagem internacional depois de eleito, o papa Francisco (torcedor fanático
do San Lorenzo) brincou com jornalistas sobre os cardeais brasileiros,
supostamente candidatos derrotados por ele, um argentino: “Deus já é
brasileiro... e vocês queriam também um papa brasileiro?”.
BRASIL X
ARGENTINA,
UMA RELAÇÃO DE
AMOR E ÓDIO
“Percam, por favor, rapazes,
percam!”: o primeiro jogo Brasil x Argentina (trecho 1º capítulo)
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Presidente Julio Argentino Roca |
Roca,
que havia protagonizado a primeira visita de um presidente argentino ao Brasil,
em 1899, era considerado um “brasilianista”. Por esse motivo, foi enviado em
missão especial pelo presidente Roque Sáenz Peña para desarmar os conflitos com
o país vizinho.
A
visita de Roca coincidiu com o 90° aniversário da proclamação da independência
do Brasil. Enquanto participava das festas do Sete de Setembro no Rio de
Janeiro, o combinado da Associação Argentina de Futebol jogava com o combinado
de São Paulo. O jogo terminou com um placar a favor dos visitantes de 6 a 3.
Ambos os lados festejaram o resultado esportivamente.
Haveria
uma revanche, no dia 10, no Rio, quando os argentinos enfrentariam um combinado
carioca. Mais uma vez, os visitantes venceram, com placar de 4 a 0. Enquanto
isso, Roca negociava com o governo do presidente Hermes da Fonseca.
No
dia 15, foi a vez do combinado brasileiro. Segundo o historiador Daniel
Balmaceda, o jogo começou às 15h35, perante 7 mil torcedores.
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Julio Roca e Campos Sales, presidentes da Argentina e Brasil. |
A
partida começou, enquanto a torcida brasileira aplaudia os passes de ambos os
lados. A Argentina fez o primeiro gol. Os jogadores argentinos foram
parabenizados e abraçados pelos brasileiros.
Mas,
três minutos depois, os argentinos fizeram o segundo gol. Houve aplausos, mas
em menor volume. Antes de o primeiro tempo terminar, os argentinos fizeram o
terceiro gol. As bandeirinhas argentinas começaram a sumir.
Roca,
que assistia ao jogo, foi ao vestiário. Primeiro, parabenizou os jogadores.
Depois, fez um apelo dramático: “Rapazes, o Brasil está festejando sua data
nacional. Hoje vocês têm de perder. Por favor, façam isso pela pátria
argentina! Percam pela pátria!”.
Os
argentinos voltaram ao campo. E fizeram mais dois gols. O jogo terminou em 5 a
0. Segundo as testemunhas, eles obedeceram às ordens de Roca, pois afirmaram
posteriormente que haviam dado uma “desacelerada”, caso contrário a goleada
teria sido maior.
Os
torcedores argentinos invadiram o campo e carregaram nos ombros o goleiro (goalkeeper na época) brasileiro Marcos
Mendonça.
A
Taça da Copa Roca, jogada em 12 ocasiões entre 1914 e 1976, ficou nas mãos do
Brasil, o último campeão.
Um século de disputas
entre brasileiros e argentinos
Em
primeiro lugar, por ter cerca de um século. Em segundo, por serem nações
vizinhas e disputarem torneios continentais. Terceiro, por desenvolverem talvez
o futebol mais artístico do mundo, com cinco jogadores sempre na lista dos
melhores da história – Pelé, Maradona, Messi, Di Stéfano e Garrincha. Quarto,
por serem duas das seleções mais vencedoras em Copas do Mundo, somando sete ao
todo. Por último, pela história envolvendo os mais de 100 jogos entre esses
dois times, que quase sempre são encarados como se fossem de Copa do Mundo.
Crianças
em Buenos Aires, Rosário, Córdoba, Santa Fé e La Plata, ao disputarem partidas
em campos de terra, sonham um dia jogar a final de uma Copa do Mundo contra o
Brasil, assim como seus pares brasileiros em Brasília, São Paulo, Rio, Manaus,
Recife e Porto Alegre. Certamente Pelé, Rivellino, Zico, Romário, Ronaldo e
Neymar já se imaginaram marcando um gol contra a Argentina.
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Brasil x Argentina, 1939. |
E,
da mesma forma, um gol na final do Mundial contra o Brasil passou pela cabeça
de Di Stéfano, Kempes, Maradona, Batistuta e Messi. Aliás, Jairzinho,
Rivellino, Zico, Serginho, Júnior, Ramón Díaz, Brindisi e Caniggia atingiram
esse objetivo em 1974, 1982 e 1990, apesar de não ter sido em uma final.
As
disputas entre Brasil e Argentina podem ser divididas em três períodos. O
primeiro seriam as partidas até os anos 1960, marcadas pela rivalidade em
torneios da América do Sul. O segundo, em Copas do Mundo entre 1974 e 1990. E o
terceiro, pós-Copas, quando a rivalidade migrou para outros torneios, como a
Olimpíada, a Copa das Confederações e a Copa América.
Sobre os autores:
Ariel Palacios
fez o master de Jornalismo do jornal El País (Madri) em 1993. Desde
1995, é o correspondente em Buenos Aires do jornal O Estado de S. Paulo e,
desde 1996, do canal de notícias Globo News. Foi também correspondente da rádio
CBN e da rádio Eldorado. Participou de coberturas de eleições, crises
políticas, tentativas de golpes de Estado, rebeliões populares e terremotos em
diversos países da América do Sul. Em 2013, publicou o livro Os argentinos pela
Editora Contexto. Criado em Londrina, Paraná, Ariel é formal e exclusivamente
torcedor do Londrina Esporte Clube (L.E.C.).Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News em pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em Nova York. Também trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Participou das coberturas da Guerra de Gaza (2009), do terremoto no Haiti (2010), da crise em Honduras (2009), do furacão Sandy (2012), das eleições nos EUA (2013), da crise econômica argentina (2000), da crise econômica nos EUA (2009) e do crescimento da Al Qaeda no Iêmen (2012). Palmeirense, na Argentina acompanhava o Boca e simpatiza com o Racing, por ser o equivalente do alviverde paulista no país vizinho.
Querido eu quero esse livro, onde posso encontrá-lo. Se possível entre em contato comigo.
ResponderExcluirMariana - marimaiareis@hotmail.com