Uma pequena homenagem a um dos maiores camisas 10 do
planeta, que nos deixou exatamente há um ano, um dia antes de completar 71 anos. Pedro Rocha,
uruguaio de sangue com coração brasileiríssimo. O texto abaixo integra o livro “A
Magia da Camisa 10” (Verus Editora), de André Ribeiro e Vladir Lemos.
Os donos do mundo
Por André Ribeiro
e Vladir Lemos
Pedro Virgílio Rocha Franchetti nasceu na cidade de
Salto, no Uruguai, em 3 de dezembro de 1942. Estreou no time do Peñarol com 17
anos, mesma idade de Tevez quando passou a defender o time principal do Boca. O
estilo elegante e os passes precisos jamais ousaram deixar de lado a raça,
característica marcante do futebol praticado em seu país. Ao chegar ao São
Paulo Futebol Clube, no início da década de 1970, tinha no currículo sete
títulos uruguaios, três Libertadores e dois Mundiais Interclubes, todos
conquistados pelo Peñarol, considerado na década de 1960 um dos melhores times
do continente americano.
Era um antigo sonho do clube brasileiro, mas que só pôde
se tornar realidade quando o futebol uruguaio viveu uma crise e se tornou um
mercado interessante para os clubes estrangeiros. O clube brasileiro pagou 150
mil dólares por seu passe, uma ninharia se comparada aos valores atuais, mas
uma fortuna para a época.
A adaptação não foi fácil, principalmente pela pressão e
expectativa geradas em torno do craque uruguaio. Afinal, mudar de país e chegar
ao Brasil avalizado pelas declarações do maior jogador do planeta traziam
responsabilidades ainda maiores para qualquer jogador. Pelé afirmara, logo após
a disputa da Copa do México, em 1970, que Pedro Rocha era um dos cinco melhores
jogadores do mundo, naquele momento.
Outro problema é que, quando Rocha chegou ao Brasil, a
camisa 10 do São Paulo já tinha dono. A estrela do time era Gérson, craque
carioca, parceiro de Pelé no tricampeonato mundial no México. Deslocado para a
meia-direita, Pedro Rocha soube esperar sua vez. Gérson voltou para o Rio de
Janeiro, e em pouco tempo o craque uruguaio passou a ser o dono absoluto da
camisa 10 do São Paulo, especialmente após a conquista do Campeonato Paulista
de 1971, fato que não ocorria havia 12 anos. Quatro anos mais tarde, ao vencer
novamente o torneio paulista, era disparado o jogador mais querido do clube.
Pedro Rocha jogou no São Paulo durante seis anos e, em
1977, quando estava com 35 anos, próximo da aposentadoria, tinha o orgulho de
ser um dos recordistas em participações consecutivas em Copas do Mundo. Rocha
defendeu o Uruguai nas Copas de 1962, 1966, 1970 e 1974. El Verdugo, como ficou
conhecido tanto no Brasil como no Uruguai, ganhou o apelido devido a suas
características de “matador”. Tinha um chute fortíssimo, cabeçadas arrasadoras
e uma visão de jogo fora do comum.
Encerrou a carreira aos 38 anos, depois de conquistar
ainda um Campeonato Paranaense, pelo Coritiba, e defender times do futebol
mexicano e da Arábia Saudita. Pedro Rocha gostou tanto do Brasil que jamais
voltou a seu país de origem. Virou técnico de diversas equipes, mas jamais
conseguiu a mesma fama obtida com a camisa 10 do São Paulo. Como sonhar não
mata ninguém, Pedro Rocha ainda tem esperanças de colocar em campo suas
estratégias: “Antes,
ver qualquer time do futebol brasileiro jogar era ver um show artístico.
Hoje, eles já atuam com quatro volantes. Antigamente, o meio-campista era o
organizador do jogo. Agora, é só força”.
Não se trata de saudosismo, apenas a certeza de quem um
dia encantou o torcedor brasileiro, com sua elegância, chute forte, visão de
jogo e conclusões precisas. Se hoje nada disso é possível, antes era um
passaporte invisível, reservado aos que partilham e fortalecem a magia da
camisa 10.
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