Ele já esteve por aqui, no Literatura na Arquibancada,
quando lançou o seu “Alguém tem que
ficar no gol”, livro que fala do amor pelo futebol, da importância do
perdão e da superação, das relações familiares e das profecias como um alerta
para que o homem aprenda a respeitar a natureza. Neste livro Jorge Fernando
utilizou a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1950, nosso maior
trauma no futebol, como pano de fundo para sua narrativa.
Agora, Jorge Fernando chega com mais um livro para
engrossar sua extensa biblioteca de títulos já publicados. Cordel da bola que rola: a história
e as lendas do futebol (Editora Paulus) se junta às mais de 40 obras publicadas pelo
autor, que não se limita ao mundo dos livros, pois ele também faz teatro,
música e de vez em quando ainda ataca como roteirista de televisão.
O novo
título é classificado como literatura infantojuvenil, mas com certeza, vai
encantar muitos marmanjos por conta da beleza e criatividade estética e
narrativa da obra. Desta vez, Jorge Fernando contou com os traços maravilhosos
do artista Cláudio Martins. Uma dupla que harmoniza palavras e traços como ninguém.
O futebol vem de
longe,
Da china antiga dos monges,
Com o nome de cuju.
Quando as cabeças rolavam
Os inimigos chutavam
Sem nem lavar com xampu.
Da china antiga dos monges,
Com o nome de cuju.
Quando as cabeças rolavam
Os inimigos chutavam
Sem nem lavar com xampu.
O trecho acima pertence a mais nova obra da PAULUS, Cordel da bola que rola: a história e as
lendas do futebol, de Jorge Fernando dos Santos. Esporte
universal, praticado em quase todo o mundo, o futebol é primeiro lugar em
popularidade. E, de acordo com o autor, o tema é pertinente, pois deverá
contribuir muito para o conhecimento, sobretudo no que diz respeito à história
dos povos.
O autor conta que sua motivação veio da boa repercussão
de suas outras obras, e também da proximidade da Copa 2014. “Também o amor do
brasileiro pelo futebol me levou a isso. Afinal, quase todo mundo gosta do
esporte ‘bretão’, mas desconhece sua história. Além do mais, o cordel sempre
foi visto meio de lado pelos nossos literatos, mesmo sendo uma forma poética
interessante, que pode servir de suporte pedagógico nas escolas”, diz Jorge
Fernando.
A obra é indicada não só para leitores infantojuvenis,
mas também para adultos. O tema é universal e abordado de forma leve e
bem-humorada. O autor narra a historia do futebol através dos tempos, da China
antiga até os dias de hoje. As ilustrações de Cláudio Martins completam a
beleza do livro.
“Quero continuar escrevendo, visitando escolas e
participando de feiras literárias. Quero viver de literatura. No momento, estou
procurando editor para o romance adulto Condomínio
Solidão, premiado com menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte,
que é o mais antigo prêmio literário do país”, afirma o autor.
Literatura na Arquibancada conversou com o autor
Jorge Fernando sobre seu novo livro. Recomendamos ainda a leitura de sua
primeira entrevista por aqui
Literatura na
Arquibancada:
Na página de
agradecimento, você dedica o livro a Roberto Drummond e faz uma citação que
merece explicação: “que viu atleticanos torcerem contra o vento.”
Jorge Fernando:
O escritor e cronista esportivo Roberto Drummond era um
atleticano fanático. Dentre outras coisas sobre o nosso time do coração, ele
escreveu: "Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal durante uma
tempestade, o atleticano torce contra o vento". Por isso a citação em
forma de epígrafe.
L.A:
Em um livro como
este, bastante ilustrado, qual sua interferência e como se dá o processo de
criação do ilustrador?
J.F:
A minha interferência nas ilustrações é quase nula. O
ilustrador é livre para interpretar e traduzir o texto por meio do seu traço.
Muitas vezes o autor nem conhece o ilustrador. No presente caso, tive a sorte
de cair nas mãos do Cláudio Martins, que além de ser meu amigo já ilustrou
outros cinco livros de minha autoria. Mesmo assim, vi as ilustrações depois de
prontas e não foi necessário sugerir nada. Afinal, o Cláudio é um craque e só
faz gol de letra.
L.A:
No verso sobre a
seleção tricampeã de 1970, você cita: “time cheio de artimanha, batizado com
água benta”. O que quis dizer exatamente?
J.F:
Foi só uma rima a mais. Contudo, acredito que naquele
tempo a pressão oficial era tanta para ganharmos a Copa do México que até o
bispo deve ter abençoado as "feras do Saldanha", sob o comando do
mestre Zagallo.
L.A:
Por que o cordel é
tão pouco utilizado na literatura? Você afirma na divulgação da obra que “o
cordel poderia servir de suporte pedagógico nas escolas”. Como?
J.F:
O cordel é um gênero poético oriundo das camadas
populares. É fruto da cultura oral nordestina e muitas vezes o poeta nem tem
formação escolar. As origens desse tipo de literatura se perdem no tempo e têm
a ver com a cultura árabe durante a ocupação da Península Ibérica. Num país
elitista como o nosso, parece natural que intelectuais e acadêmicos
virassem a cara para aqueles autores não letrados e de origem humilde. Contudo,
trata-se de um gênero literário muito rico e de fácil assimilação. Por isso
venho fazendo alguns experimentos, que resultaram nos livros "Cordel das
Lendas Bovinas", publicado pela editora Paulinas, "Ave Viola - Cordel
da viola caipira" e agora nesse "Cordel da Bola que Rola - A história
e as lendas do futebol", ambos publicados pela Paulus Editora. Felizmente,
a repercussão tem sido muito boa, com exposição em feiras internacionais e
adoção em várias escolas do país.
L.A:
Em um verso, você
aborda o problema da violência das torcidas nos estádios. Mas você cita
especificamente a mídia: “a mídia faz sua média, transforma em drama a comédia,
destacando a violência. Torcidas organizadas, trocam tiros e pauladas, sem
medir a consequência.” Para você, a mídia então colabora para essa explosão de
violência nos estádios?
J.F:
Toda vez que a mídia dá à violência um caráter
espetacular, ela acaba estimulando os infratores. As brigas de torcidas
deveriam ser tratadas com o rigor da lei e sem muita badalação nos jornais. É
uma coisa execrável, que atrapalha o futebol naquilo que ele tem de mais belo,
que é justamente o convívio entre pessoas das mais diversas origens. A
mídia não é culpada, mas deveria inverter sua maneira de noticiar a violência.
Deveria fazer uma forte campanha contra os vândalos que usam do esporte para se
promover a qualquer custo.
L.A:
Em um dos versos,
você cita a “magia” que as antigas “peladas de rua” (pg 28) provoca na garotada
brasileira: “Uma pelada de rua, inda que em noite sem lua, sempre terá seu
lugar”. Nas grandes cidades, esse espaço físico praticamente não existe mais.
Onde os jovens de hoje podem encontrar essa magia?
J.F:
Talvez fosse o caso dos clubes e das prefeituras criarem
condições para que o futebol de rua pudesse voltar a ser uma realidade no país.
Se fecham as ruas das grandes cidades para outras formas de lazer e
entretenimento, por que não para a prática do futebol entre crianças e jovens?
Nossa infância hoje é muito sacrificada. A garotada vive enjaulada, presa
diante da TV ou do computador. Infância, pra mim, é sinônimo de movimento, de
prática esportiva e de outras brincadeiras. Por isso uma pelada de rua ainda
tem sua magia. Além do mais, antes da especulação imobiliária, o futebol era
bem mais democrático e gerava craques mais espontâneos.
L.A:
De que forma você
acredita que seu livro pode ajudar os jovens leitores a aprenderem a história
do futebol no mundo?
J.F:
Quase todo mundo tem alguma ligação com o futebol, mas
pouca gente conhece sua história. Espero que esse meu novo cordel possibilite à
garotada descobrir as origens desse que é o esporte mais popular do mundo.
Curiosamente, ele surgiu na guerra, quando chineses chutavam cabeças de
inimigos mortos nos campos de batalha. Felizmente a bola de couro tomou o lugar
das cabeças e o que era um ritual bélico se tornou um esporte popular e um
instrumento de aproximação pacífica entre diferentes povos. Por outro lado, ao
abordar a história do futebol, os professores poderão ensinar história e
geografia de maneira lúdica e divertida.
Sobre os autores:
Jorge
Fernando dos Santos
nasceu e sempre morou em Belo Horizonte. Escritor, compositor e jornalista, tem
mais de 40 livros publicados, entre eles Palmeira Seca (Prêmio Guimarães Rosa
de romance e dissertação de mestrado na Itália) e O Rei da Rua, ambos adaptados
para minisséries de TV. Publicou pela Paulus Editora os títulos No Clarão das
Águas, A Medalha Cigana, Alice no País da Natureza, Ave Viola – Cordel da Viola
Caipira, As Cores no Mundo de Lúcia e ABC da MPB, livro-disco ganhador do selo
“altamente recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
(FNLIJ). Teve 10 peças teatrais encenadas e mais de 60 músicas gravadas, a
maioria em parceria com outros compositores. Escreveu um Você Decide para a
Rede Globo e foi pesquisador e redator do programa Nos Braços da Viola, pela TV
Brasil.
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