Quantas vezes você, leitor, já ouviu falar sobre o tal
“futebol como uma metáfora da vida”? Centenas de estudos acadêmicos já
esquadrinharam essa relação social. Agora, de maneira muito simples e direta, o
professor piauiense Raimundo Clementino Neto, cordelista de mão cheia,
escreveu o livro Futebol e Vida – Qualquer semelhança é mera
coincidência (edição do autor).
Na quarta capa da obra, a definição do olhar do autor
sobre o tema:
“Os problemas da vida são infinitamente superiores aos
problemas encontrados no futebol. Devido tanto complexidade, deveriam ser
encarados com muito mais seriedade, o que nem sempre acontece, talvez por
acomodação e/ou circunstâncias outras. Cada “não” que se recebe na vida, é como
se fosse uma bolada dentro de campo. A vida é um jogo sério e decisivo, o
futebol é um alerta, está a serviço das pessoas, é o deslumbramento da arte num
verdadeiro encantamento através do qual percebemos que é possível brincar de
viver”.
Literatura na Arquibancada destaca abaixo o texto de
apresentação da obra de Raimundo Neto, e logo a seguir, um dos capítulos de Futebol
e Vida – Qualquer semelhança é mera coincidência.
Apresentação
Por Raimundo Clementino Neto
Antes que o leitor venha a se perguntar coincidências
entre futebol e vida, para que serve, o que é que eu tenho a ver com isso? –
Exatamente. Podemos viver sem futebol, mas no lumiar do abstracionismo, surgem
novas interrogações. Por que tão rapidamente tornou-se o esporte mais popular
do planeta? Será que a humanidade consegue enxergar no futebol uma alternativa
para um melhor entendimento entre as pessoas? Por que é tão envolvente?
Pegar o exemplo, do futebol, dentro das quatro linhas, e
trazer para a vida, constitui uma das principais metas, ou o principal objetivo
que se espera alcançar, com a publicação deste trabalho. Claramente percebe-se
que o futebol é um laboratório de experimentos para a vida.
A essência deste esporte, quando detalhada e estudada
minuciosamente, ajuda a esclarecer melhor os “por quês” de certos
comportamentos e atitudes das pessoas, assim como facilita a compreensão de
vários problemas do nosso dia-a-dia. Através do futebol, podemos melhorar o
nosso relacionamento, com toda certeza. “Posso até ser um sonhador, mas não sou
o único”, você também há de concordar comigo. O famoso cronista Rubem Alves,
(2006, p.10) – analisa a questão deste modo: “...E fico sonhando com a
possibilidade de se transferir um pouco do entusiasmo do futebol para as coisas
sérias da vida.” Já o jornalista Moacir Japiassu, (2011, p.7) abordando o mesmo
assunto, faz a seguinte análise:
“Se a vida é um jogo, como insistem alguns torcedores,
então pode ser mesmo comparada ao futebol, com suas paixões mais ardentes e as
alegrias, tristezas e entreveros de cada dia”.
O mundo fala vários idiomas, mas a linguagem dos
jogadores é única e todos entendem. Com a simplicidade e popularidade do
futebol, não se faz necessário o uso de um vocabulário tão sofisticado. A
leitura fácil e agradável, já é um estímulo para o leitor, que quer entrar no
jogo, sem sair das páginas do livro. 1º Tempo, 2º Tempo, Prorrogação e
Pênaltis, encontrados entre as páginas, apenas subdividem o trabalho em
pequenos trechos fracionados, para um melhor entendimento da nossa mensagem.
No papel de melhorar o mundo, sua tarefa, caro amigo, é
trazer para a vida, o exemplo verificado dentro de campo. Experimente, use o
futebol para ser um vencedor no campeonato da vida. Faça sua parte!
A ESCALAÇÃO DA
EQUIPE
Por Raimundo Clementino Neto
Imagine um time com a seguinte formação em ordem
alfabética: André, Bartolomeu, Felipe, João Evangelista, Judas Iscariotes, Judas
Tadeu, Mateus, Pedro, Simão, Tiago (o maior), Tiago (o menor) e Tomé.
Você sabe que time é este?
Facilmente percebe-se que esses foram os escolhidos ou
enviados como Apóstolos. Era uma equipe formada por doze membros, cujo objetivo
principal era melhorar as relações entre as pessoas, divulgando algo capaz de
transformar o mundo e demonstrar como isso seria possível, através do cultivo
do perdão, da caridade, da misericórdia, ou seja, fazer o bem habitar a mente
das pessoas e os corações da humanidade.
Assim como os Apóstolos, os jogadores de futebol também
têm uma missão específica. Muitos acreditam que Deus os escolheu para
executarem tal tarefa, exatamente porque os fez nascer com talento.
Aqui no nosso trabalho, o futebol é visto como um
mecanismo universal abrangente, que, a partir de doze componentes, onze
jogadores e um juiz, mesma quantidade de Apóstolos, procura estabelecer um
relacionamento mais justo e humanitário entre os povos.
Relacionamento este, cuja eficácia vai depender da
intensidade com que colocarmos o futebol a serviço da vida.
Voltando ao gramado, observamos que todos os princípios
de igualdade são praticados dentro do campo de jogo.
Os jogadores têm os mesmos direitos na disputa entre as
quatro linhas e, se não bastasse ainda, o futebol vai além das condições de
igualdade, com a ausência total de discriminação. Vemos isso no contato físico,
no compartilhamento do mesmo suor entre seus praticantes, verificado nos
encontrões e nas faltas.
A bola, instrumento de interação do grupo ou ferramenta
de trabalho, pelo seu formato esférico pode seguir igualmente infinitas
direções, no sentido de chegar a qualquer jogador, sem distinção.
O juiz é uma autoridade legalmente constituída com
idoneidade e competência técnica e moral, para dirigir o espetáculo e impor
respeito.
Quanto aos jogadores, estes são os “iluminados” ou
“escolhidos”. Não é todo mundo que serve para ser jogador de futebol, o
autêntico craque já nasce feito, ao descobrir que tem potencial para executar
sua arte, só precisa dedicação e aprimoramento. Quando “Deus fez o homem à sua imagem e semelhança”, com sua sabedoria,
não levou em consideração tão somente a parte física/imagem. A parte intuitiva,
(o raciocínio, o pensar) - também ficou implícita em cada pessoa distintamente,
em alguns de forma leve, sutil ou tangenciada superficialmente, em outros de
forma mais aprofundada.
O bom artista tem, dentro de si, um diferencial divino na
arte que executa, é um privilegiado.
O jogador de futebol é um destes artistas, não adianta
querer ser jogador “na marra”, é necessário nascer com os requisitos mínimos
exigíveis. Estes requisitos somente os “iluminados” possuem. E porque só eles
possuem? Ninguém sabe ao certo. Ser um “enviado” é um mistério da divindade,
foi assim com os Apóstolos, é um supremo e sagrado segredo indecifrável, tal
qual a morte que é desprovida de clareza e explicações, caso contrário, todos
queriam ter este privilégio, que está ao alcance de uma minoria, que são os
verdadeiros “escolhidos” para darem ao mundo, através do futebol, o real
sentido da boa convivência, diante da emoção que nos proporcionam e através dos
bons exemplos praticados dentro de campo na hora do jogo. E a humanidade que os
siga!
Dentro das quatro linhas, estão jogando somente pessoas
que o destino escolheu “a dedos” para execução da tarefa, são os “escolhidos”,
os “iluminados”, ou mesmo “os guerreiros de Deus”, que nos fazem lembrar a bela
canção “Guerreiro Menino” do saudoso
poeta Gonzaguinha. Parece até participarem de uma suposta guerra santa.
O futebol nos remete à batalha da vida, assemelhando-se
com uma simulação bem distante da guerra, através do sentimento de rivalidade e
do seu vocabulário, com a utilização de, entre outros, os seguintes termos:
tiro de meta, artilheiro, guerreiro, canhão, atirou, fuzilou, ataque, defesa,
recuo, arremesso, desarmes, linha de frente, retaguarda, arqueiro, pontaria...
O autêntico craque já nasce com a particularidade de
dominar a bola com os pés, sem olhar para ela, e olhar sim, para os
companheiros, os adversários, só assim, terá uma melhor visão de jogo, sem
perder o controle da bola. Consideramos esta a principal, a imprescindível e a
mais difícil exigência para o elemento se tornar um verdadeiro jogador de
futebol. Não é fácil dominar, correr com a bola, sempre de cabeça erguida, sem
perder o controle, como deveria ser na vida, a pessoa ter domínio sobre os
obstáculos e estar sempre de cabeça levantada para seguir em frente.
A vocação é o caminho mais próximo para Deus e o bom
jogador tem que ter, antes de tudo, vocação, no caso do futebol, seria ter
domínio da bola, mas sem baixar a vista, manter o controle da mesma e conseguir
êxito na armação e execução das jogadas, assim como, ter facilidade nos
desarmes, enfim, jogar se divertindo. Se divertir, seria a forma ideal de
remunerar o Homem, quando ele fizesse sua parte, na tarefa de melhorar o mundo,
- afinal, ninguém gosta de fazer nada de graça. E jogar é um prazer para quem
está em campo e uma grande diversão para quem assiste.
Não existe faculdade para formar jogadores. Um
extraordinário jogador jamais será revelado em um centro de ensino ou uma
escola especializada. Este se limitará ao aperfeiçoamento das técnicas. É uma
grande piada no futebol, se falar em cotas raciais para pobres, índios e
afrodescendentes, criadas para amenizar a desigualdade social. No campo de
jogo, todos têm os mesmos direitos!
A Copa do Mundo de Futebol, evento promovido pela FIFA,
que acontece de quatro em quatro anos, é uma boa oportunidade de se observar
que estão em campo jogando apenas seres “iluminados”. Somente privilegiados
fazem parte da escalação da equipe, são os legítimos representantes de um país,
que assumem a responsabilidade de bem representá-lo. Quantos queriam estar ali!
O mundo inteiro fica de olho em tudo que acontece naquela arena sagrada. Dentre
os responsáveis pelo espetáculo, cada qual quer dar o melhor de si, quer se
doar inteiramente, para que sirva de exemplo. Enxergo naqueles atletas, os
“escolhidos”, ou “enviados”, por quem os criou, para promoverem numa sintonia
universal, o alinhamento humano de um planeta em desalinho, através de uma arte
contagiante que desenvolvem e que consegue adentrar os mais incrédulos
corações.
Já passou da hora de formarmos a nossa equipe com o
objetivo de sairmos vitoriosos no jogo da construção de um mundo melhor, para
nós mesmos e nossos semelhantes. Todos estão escalados, nesse time não existem
reservas.
Sobre o autor
Raimundo Clementino Neto nasceu em Bocaina, Piauí, em 17 de setembro de 1959. Adolescente ainda, foi morar em São Paulo, onde estudava regularmente e concluiu o Curso de Engenharia, tem Especialização em Linguística. De volta ao Piauí monta então uma pequena gráfica em Teresina (gráfica rima) e começa a investir mais em seus trabalhos literários. É professor da rede pública de ensino. Começou escrevendo Cordel, de onde pegou uma sólida base de rima e métrica que são características marcantes em seu trabalho poético. É letrista e escreve espetáculos musicais, além de oficinas de Literatura de Cordel. Escreve uma poesia bem humorada, de temas e formas diversificadas, como a poesia de amor, de crítica social, filosófica, histórica, satírica, em estilos variados.
Serviço: para os interessados em adquirir o livro,
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