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Marcelinho |
O Brasil trata com respeito seus “velhos” ídolos do
esporte? O edito Cesar Oliveira faz interessante reflexão.
UM PAÍS JOVEM,
CHEIO DE IDOSOS, QUE TRATA MAL OS SEUS VELHOS
E OS NEM TANTO. POR
QUÊ?
Por Cesar Oliveira
Pessoas que chegam aos 60 ou 70 anos em plena saúde física e mental
devem se aposentar? O que leva o brasileiro a descartar a experiência dos
idosos, no esporte e na vida?
Ao longo dos últimos 50 anos, a população brasileira
quase triplicou: passou de 70 milhões, em 1960, para 190,7 milhões, em 2010.
O crescimento do número de idosos, no entanto, foi ainda
maior. Em 1960, 3,3 milhões de brasileiros tinham 60 anos ou mais e
representavam 4,7% da população. Em 2000, 14,5 milhões, ou 8,5% dos
brasileiros, estavam nessa faixa etária. Na última década, o salto foi grande,
e em 2010 passou para 10,8% da população (20,5 milhões).
Essa informação está baseada nos censos demográficos do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1960, de 2000 e de
2010, e foi divulgada recentemente pelo site G1, da Infoglobo.
E por que estou escrevendo isso num blog sobre literatura esportiva?
O motivo é o desabafo do atleta Marcelo Elgarten, o
Marcelinho, experiente levantador e capitão do Vivo/Minas, que foi eliminado
ontem na semifinal da Superliga pela equipe do OGX/Rio de Janeiro.
Entrevistado ao final da partida, Marcelinho desabafou,
entristecido e quase revoltado, cobrando que a imprensa esportiva brasileira
pare com a lamentável e obscurantista mania de indicar a idade de um atleta
como se isso foi empecilho para um desempenho de alto nível, como ele sempre
apresentou.
Os títulos dele demonstram quem ele é: foi três vezes
campeão da Superliga Masculina (1996/1997, pelo Report/Suzano; 1998/1999, pelo
Olympicus/Telesp e em 2003/2004, pelo Unisul/Florianópolis); foi campeão carioca
em 2000, pelo Vasco da Gama/Três Corações; e foi campeão da Copa Europeia
atuando pelo Sisley Treviso. Pela Seleção Brasileira, foi bicampeão da Liga
Mundial em 2006/2007); campeão mundial em 2006; prata nas Olimpíadas de 2008; e
bronze no Pan de 2003.
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Nilton Santos |
É impressionante como os jovens repórteres brasileiros
estão sempre com a palavra “aposentadoria” na boca, como se todos os veteranos
atletas devessem perdurar as chuteiras, os tênis, as raquetes, as sapatilhas,
as luvas etc. porque já estariam velhos demais para continuar competindo.
A história esportiva brasileira está coalhada de
veteranos vitoriosos. Nilton Santos foi bicampeão carioca e mundial com 37
anos. Isso sem falar no piloto Emerson Fittipaldi, na saltadora Aída dos
Santos, no boxeador Fernando Barreto.
Uma grande corporação jornalística, com atuação em todas
as mídias, tem por hábito demitir seus colaboradores quando eles completam 60
anos. Raros escapam da incompreensível guilhotina. Na contramão disso, a ESPN
homenageou, no mês de março, nos seus programas Loucos por Futebol e Pontapé
Inicial, os veteranos jornalistas Roberto Porto, João Máximo e Fernando
Calazans, todos setentões que comemoraram 50 anos de jornalismo esportivo em
atividade, com produção de altíssimo nível.
E não é só no esporte. Ano passado, o ministro Massami
Uyeda, do Superior Tribunal de Justiça, completou 70 anos e, como manda a Constituição
Federal, terá que se aposentar. Ano passado, os ministros Cezar Peluso e Ayres
Britto, do Supremo Tribunal Federal, em pleno controle de suas funções físicas
e mentais, também foram compulsoriamente aposentados por idade. Uma perda
enorme para a Justiça Brasileira, que abriu mão de sua larga experiência para
decisões de grande importância para o País.
“Se olharmos para o modo como os orientais tratam seus idosos,
perceberemos que seus conhecimentos milenares os possibilitam enxergar no ‘ultrapassado’
um grande exemplo para o futuro. Sabiamente valorizam as experiências, os
ensinamentos, a visão do que já foi vivido e experienciado em suas vidas e suas
relações. É uma grande honra ter em seu lar um idoso da família. Isto, porque
são muitas as possibilidades de aprendizado! Uma delas é a oportunidade de
poder evitar desperdício de tempo, energia e disposição em alternativas já
desgastadas e que nos levam a situações de fracasso”. (Karine Dutra
Mesquita Nalini, psicóloga, in Casa
de Eurípedes, site espírita).
Somos um País jovem demais para desprezar tudo o que os
mais velhos têm para dar e aconselhar. Já passou da hora de pararmos de falar a
idade das pessoas (ou o sexo, ou orientação sexual, ou condição social, ou raça
ou o que quer que seja...) para desvalorizar seu trabalho e atuação.
Espero, sinceramente, que o recente desabafo do
Marcelinho Elgarten, seja um divisor de águas nessa mania da imprensa
brasileira. No meu trabalho de editor, mal comparando, prefiro privilegiar a
história e as biografias dos grandes atletas, aqueles que performaram com
grande qualidade, que conquistaram títulos e glórias, e que foram exemplo para
as futuras gerações.
Sobre Cesar
Oliveira:
Carioca, quase 60tão, editor de livros de futebol,
botafoguense militante, mangueirense apaixonado, tarado por bossa nova, sushi e
sorvete, cozinheiro razoável. É editor da www.livrosdefutebol.com , formado na
Escola Superior de Propaganda e Marketing, no Rio de Janeiro.
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