Uma homenagem eternizada em livro para o Dr. Sócrates que
partiu há um ano, no dia 04 de dezembro de 2011. A obra é uma coletânea das
crônicas escritas por Sócrates para a coluna Pênalti, da revista CartaCapital, onde escrevia desde 2001. “Sócrates,
Brasileiro” foi organizado pela editora Confiança, a mesma que publica a
revista CartaCapital e talvez por
essa razão o livro circulará pelo país, em cidades específicas como São Paulo ,
Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Brasília, Ribeirão Preto e
Campinas. Mas a boa notícia é que a obra também poderá ser adquirida em bancas
de jornal.
Sinopse (da Editora):
A Editora Confiança, em 11 de dezembro, fará o
pré-lançamento do livro “Sócrates, Brasileiro”, que reúne crônicas do médico e
jogador de futebol Sócrates publicadas na revista CartaCapital.
Durante o evento que ocorre às 19h30 na loja Futebol
SuperStore, no Museu do Futebol, em São Paulo , os convidados assistirão a um
bate-papo entre os jornalistas Juca Kfouri, que escreveu o prefácio do livro, o
ex-lateral esquerdo do Corinthians Wladimir e Sergio Lirio, redator-chefe de CartaCapital.
A publicação conta com oito capítulos, compostos por 87
textos de Sócrates escritos para a revista por mais de dez anos, além de uma
entrevista concedida à CartaCapital.
O Doutor Sócrates escreveu seu primeiro artigo para a
revista em 2001, quando a publicação passou de quinzenal a semanal. Em suas
crônicas exprimiu regularmente suas ideias e posições que, desde o primeiro
texto, ocuparam um espaço único na revista.
Nos textos, Sócrates falava sobre futebol, mas não
deixava de tratar outros temas e questões políticas que permeiam o esporte,
sempre com seu estilo próprio de escrita.
“Doutor Sócrates sempre disse que futebol se joga com a
cabeça. A reunião de seus textos neste livro revela outra de suas habilidades:
a de escrever como se tocasse de calcanhar”, afirma o jornalista Juca Kfouri.
Segundo Mino Carta, diretor de redação da CartaCapital, Sócrates se foi muito
antes do tempo, mas soube viver a vida e de vários pontos de vista. “Há tempos
o conheci, por dez anos privei com ele na sua qualidade de colunista de CartaCapital e nunca duvidei da nitidez
dos seus propósitos e dos seus ideais”, declara.
O livro será distribuído em São Paulo, Rio de Janeiro,
Recife, Salvador, Belo Horizonte, Brasília, Ribeirão Preto e Campinas, em
bancas de jornal a partir do dia 14 de dezembro. A edição é única com tiragem
de cinco mil exemplares.
(fonte: www.comunicacaomais.com.br )
Em uma das crônicas escritas por Sócrates, publicada no
site da revista no dia 29/09/2010, ele fala sobre o relacionamento com um de
seus técnicos, Telê Santana. Nesse momento, no céu, os dois devem estar batendo
uma bolinha...
Treino de futebol é futebol
Por Sócrates
Nenhum jogador gosta de treinar sem bola! Esta foi uma
das minhas inúmeras constatações durante os 15 anos de militância na área. Em
princípio, pensei se tratar de um sentimento pessoal, uma intuição de estreita
relação com a situação em que me encontrava. Também das dificuldades que tinha
para arranjar tempo necessário para me dedicar aos treinamentos de campo,
diante do fato de ser estudante de medicina ou mesmo arredio aos suores
provocados por exaustivas sessões de atividades físicas, muitas vezes
incompatíveis com a minha realidade estrutural.
Quando fui orientado por Telê Santana, imediatamente
percebi uma distância gigantesca de sua filosofia de trabalho com a dos outros
treinadores com os quais atuara: a maior parte do tempo que era dedicado ao
desenvolvimento dos fundamentos necessários para a melhora de nossas qualidades
técnicas o era em contato com a bola. E, principalmente, mimetizando a
competição que enfrentaríamos logo a seguir. Ou seja, ele provocava em treinos
situações que seriam encontradas nos jogos.
Conheci Telê quando ele me convocou pela primeira vez
para a Seleção Brasileira que acabara de assumir. Cheguei ao hotel apreensivo,
o velho Solar das Paineiras. Não sei exatamente a razão, mas sempre me sinto um
pouco desconfortável quando devo enfrentar situações desconhecidas, seja por
culpa do ambiente, seja das pessoas. Felizmente, a maior parte dos outros
companheiros eu já conhecia bem.
Entrando no hall, percebo algumas pessoas sentadas à
minha direita. Dirijo-me para cumprimentá-las. Ele era um deles. Percebi que se
vestia com simplicidade e estava sentado confortável e discretamente. Quando me
viu, abriu um largo e tímido sorriso e fez questão de se levantar para se
aproximar. Demo-nos as mãos. Seu olhar era profundo e incisivo, despertava
absoluta confiança. Sua pele áspera e rude estampava a trajetória de vida.
Apesar de sua pequena estatura, passava uma impressão forte e segura. Não pude
deixar de compará-lo a meu pai. Soube a partir daquele instante que nos
daríamos muito bem. Indivíduos que possuem entre suas virtudes a sensatez e a
sinceridade facilitam os relacionamentos, mesmo em posições hierárquicas
diferentes. As relações, neste caso, sempre são transparentes e honestas.
Já nos primeiros contatos em campo percebi que ali havia
algo diverso do que conhecia até então. Todos os dias, em algum período,
enfrentávamos um adversário. Em geral, não os companheiros que ficavam ou
ficariam na reserva da equipe, e, sim, um oponente sem compromisso conosco, que
não dividia a mesma mesa nem desfrutava da mesma refeição.
Era um adversário de verdade querendo mostrar serviço não só
ao técnico da Seleção, mas também e principalmente à população brasileira que
acompanhava com paixão os treinos do time nacional. Uma verdadeira competição
como a de qualquer jogo oficial. Já ali entendi o seu objetivo, mesmo que fosse
intuitivo e sensitivo, ou mesmo que fosse exclusivamente técnico. E, na
verdade, os resultados físicos se mostravam muito mais rapidamente que os
táticos ou os técnicos.
Alguns meses mais tarde, outra surpresa. Desta vez, muito
mais agradável: eu seria o capitão da equipe. Mas também sabia que aquilo era
uma tremenda responsabilidade que ele colocava nos meus ombros. Chegar à
Seleção Brasileira sempre foi um sonho e foi o que me fez retardar a carreira
médica, mas jamais havia imaginado que um dia assumiria algo tão portentoso.
Carregar aquela tarja verde-amarela no braço esquerdo era
um peso e uma honra, que eu deveria rapidamente entender o que representava.
Mesmo assustado com a novidade, sentia-me orgulhoso e confiante. O que mais
intrigava era por que ele havia me escolhido, se no primeiro jogo nem mesmo fui
titular? Que tipo de lógica ele tinha utilizado para determinar a nova ordem?
Até hoje não tenho convicção das suas razões, mesmo que tenha suposições que,
eventualmente, possam esclarecer estas dúvidas, mas só ele poderia responder a
essas questões. Sabia apenas e mais que nunca que, a partir dali, eu teria de
fazer de tudo para corresponder à sua confiança.
Confiança, aliás, que só aumentava a partir do que
aprendia com ele. Uma das grandes lições que ele me deixou, por sinal, foi que
o treino de futebol deve ser de uma forma ou de outra… futebol. Se o nadador
treina nadando, se o sprinter treina correndo, por que não há de ser futebol o
treino do jogador de futebol?
SENSACIONAL!
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