Mais um livro de
referência para a literatura esportiva brasileira, especialmente, para os leitores
amigos do tema “esporte olímpico”. Mais um livro para a coleção de títulos já
publicados por ela, uma das maiores especialistas neste tema. A obra da vez é Psicologia,
Esporte e Valores Olímpicos (Editora Casa do Psicólogo). E tudo que
sai da “caixola” dela é recomendadíssimo. Dra. Katia Rubio em crônicas, muito
mais do que instrutivas, mas saborosas. Literatura na Arquibancada já publicou
neste espaço algumas delas, que podem ser acessadas nos links ao final deste
artigo. Abaixo, confira o prefácio, assinado pelo comentarista dos canais ESPN,
Paulo Calçade, e o texto de apresentação da obra assinado pela Dra. Katia Rubio.
Prefácio
Por Paulo Calçade
Ao cravar
limites na trajetória do ser humano deixamos de acreditar em nós mesmos.
Provavelmente nenhuma outra atividade nos confronte tanto com o desejo de ir
além, de superar limites e de conquistar, como o esporte.
Durante os Jogos
Olímpicos de Londres, a professora Katia Rubio nos emprestou um pouco do seu
conhecimento em 17 programas realizados na ESPN com o sugestivo nome de
Segredos do Esporte.
O objetivo não
era analisar o dia a dia da competição. Como anunciava um dos quadros da
atração, nosso desejo era tentar desvendar o que estava por trás da imagem, os
Jogos Olímpicos.
Tenho convicção
de que fizemos um bom programa e que atingimos o objetivo de oferecer aos fãs
de esporte um viés positivo e otimista, procurando entender todos os lados da
grande competição, mesmo quando os nossos temas esbarravam na incompetência dos
dirigentes ou na má gestão dos recursos do esporte.
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Jogos Olímpicos de Londres, 2012. |
Nos divertimos
muito e aprendemos demais. Contribuímos.
Com seu trabalho
sustentado por uma linha de pesquisa que deveria ter sido aplaudida pelo Comitê
Olímpico Brasileiro desde o primeiro momento e não ameaçada por contribuir,
esta obra também deve ser encarada como mais uma vitória.
Talvez a reação
inicial do COB não tenha ocorrido apenas por mera indelicadeza, mas orientada
pelo constrangimento de quem se considera dono da história.
Realmente deve
ser desagradável quando alguém trabalha e pensa por você. Nada como a
transparência e o tempo!
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Katia Rubio, na Universidade de Birmingham. |
“Por que
pesquiso? Porque quero respostas menos óbvias para questões que parecem resolvidas
ou insolúveis”, diz Rubio. É o que move o conhecimento.
Tenho quase três
décadas dedicadas ao jornalismo, uma escolha bastante óbvia para quem imaginava
ser incapaz de viver longe do esporte, logo transformado em trabalho sério e
dedicado.
O esporte que eu
imaginava saber tudo aos 20 anos de idade não existe mais. Aliás, nunca
existiu. Hoje a complexidade desse fenômeno está clara, nas mais variadas áreas
da ciência.
Enxergá-lo numa
dimensão mais próxima da realidade da indústria do entretenimento tornou-se uma
imposição, uma necessidade para continuarmos nos divertindo e nos emocionando.
Esse é o
desafio: perceber o impacto do conhecimento na linha de chegada e tratar de
questões eminentemente técnicas sem perder a emoção, a matéria-prima mais
importante.
Da psicologia à
gestão, das ciências do treinamento ao desenvolvimento de novos materiais não
há limite para o saber e nem há motivo para buscar o ponto final da capacidade
humana.
A melhor
sensação é a de que estamos livres para aprender, refletir e experimentar. E
que temos muito a fazer.
O que fazer com um limão? A título de introdução.
Por Katia Rubio
Em janeiro de
2010 a vida me pregou uma daquelas peças que a gente busca apagar da história
de vida, mas sem contar com essa possibilidade no menu de opções, passamos
adiante, ou seja, relevamos, sem no entanto esquecer.
Naquele fim de
férias de verão fui surpreendida por uma intimação por parte do Comitê Olímpico
Brasileiro para recolher o livro Esporte, Educação e Valores Olímpicos por não poder
“fazer uso da palavra” olímpico sem
prévia autorização do COB. O que parecia uma piada ganhou a proporção de um
caso internacional de censura e abuso de poder que culminou em um recuo por
parte do Comitê e um posterior pedido de desculpas. O que no princípio foi
quase uma tragédia pessoal acabou por se transformar em uma possibilidade de
ampliação de horizontes, fosse pelo contato com pessoas de toda a parte do
mundo que fizeram questão de mostrar sua indignação e manifestar seu apoio de
diferentes formas, como também me proporcionou a possibilidade de ter um canal
de divulgação daquilo que penso e observo tanto na Psicologia do Esporte como
nos Estudos Olímpicos, seja no Brasil seja por esse mundo de meu deus.
![]() |
Katia Rubio nos arquivos da USP. Mais de 500 horas de gravações com atletas olímpicos. |
Os textos aqui apresentados
são uma coletânea do que publiquei ao longo desses dois últimos anos no
endereço eletrônico www.blog.cev.org.br/katiarubio, espaço virtual privilegiado que me foi cedido pelo Professor Laercio
Elias Pereira no auge da passagem desse furacão. Criado para que eu pudesse
divulgar o que ocorria naquele momento ele depois ganhou vida própria e me
permitiu exercitar, com uma linguagem menos formal que a acadêmica, a leitura
das coisas que acontecem com o esporte no Brasil. Mais do que dar receitas ou
dicas sobre preparação psicológica trouxe a público minhas inquietações sobre o
que observo do cotidiano do ambiente esportivo e também um pouco dos bastidores
do projeto de pesquisa que realizo sobre os atletas olímpicos brasileiros (1)
de todos os tempos.
Aqui se encontra
um pouco do making off dessa
pesquisa, aventuras, reflexões pós-entrevistas, angústias que trouxe para casa
após as viagens. Em formato de pseudo
crônicas tento por meios delas compartilhar um pouco do muito que esses atletas
e suas histórias representam para as futuras gerações e o Olimpismo no Brasil e
também a construção de uma metodologia de pesquisa em ciências humanas que pode
ajudar em muito a conhecer o esporte olímpico brasileiro.
Como se pode ver,
de um limão atirado em nossas cabeças se pode fazer não apenas uma limonada,
mas também mousses maravilhosas, temperos variados ou um belo chá para se
aquecer no inverno.
E para que esses
textos ganhassem a forma de um livro, uma vez mais contei com o apoio de meu
editor Ingo Guntert, que ao longo desses 12 anos de parceria, não apenas
acreditou em projetos improváveis, como sempre caminhou junto contribuindo para
uma linha editorial que inexistia no Brasil.
Ao meu advogado
naquele processo insano Alberto Murray Neto, que assim que foi consultado sobre
o que ocorria prontamente se prontificou em me defender, não apenas de um
processo, mas acima de tudo de um absurdo.
Ao amigo Juca
Kfouri, que assim como meu advogado, não apenas se indignou com o ocorrido como
se pôs em movimento de imediato para que aquele quadro se revertesse.
Ao Professor
Laercio Elias Pereira que iniciou o movimento de divulgação do fato, me “deu de
presente” o blog que depois levou à produção de todos esses textos e me ensinou
como usar essa ferramenta.
A todos que, depois
de tudo, me ajudaram a olhar e enxergar fatos, histórias, memórias, lembranças,
mensagens em vidas ainda públicas ou encobertas e escondidas por cidades e
recantos desse país, ou mundo afora, e que contam a história do esporte
olímpico brasileiro.
Meu muito
obrigada.
O projeto Memórias Olímpicas por atletas olímpicos
brasileiros é uma pesquisa realizada sob minha coordenação pelo Grupo de
Estudos Olímpicos, do Centro de Estudos Socioculturais do Movimento Humano, da
Escola de Educação Física e Esporte, da Universidade de São Paulo e tem o apoio
da Fapesp e da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP.
Crônicas já publicadas no Literatura na Arquibancada de
autoria da Dra. Katia Rubio:
As aventuras de uma pesquisadora olímpica
As palavras mal-ditas
Nota sobre um trabalho de base
Heroínas olímpicas brasileiras
O peso de ser olímpico
Quando falta inspiração
A César o que é de César
Serviço:
O lançamento do livro acontece na sexta-feira, 14 de dezembro, 19h, Rua Simão Álvares, 1020 - Pinheiros
-São Paulo-SP.
Sobre Katia Rubio:
Psicóloga, professora Associada da Escola de Educação
Física e Esporte da Universidade de São Paulo. Mestre em Educação Física e
doutora em Educação. Ex-presidente da Associação Brasileira de Psicologia do
Esporte. Autora e organizadora de 16 livros e vários artigos em revistas
nacionais e internacionais. Membro da Academia Olímpica Brasileira e
pesquisadora de Estudos Olímpicos e Psicologia do Esporte.
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