13 é um número místico. Zagallo que o diga. Para muitos,
número de sorte ou azar. Mas para a maior torcida do país, 13 tornou-se um dia “mágico”,
apesar de toda a mística negativa que cercava o número, pelo menos até aquele
13 de dezembro 1981, quando o Flamengo conquistou seu primeiro título mundial,
no Japão, contra os ingleses do Liverpool.
Em 2011, o jornalista da ESPN, Eduardo Monsanto, lançou o
seu “1981 – O ano rubro-negro” (Editora Panda Books) e é em uma simples “orelha”,
aquele texto impresso nas abas laterais de quase todo livro, que o craque da
imprensa brasileira, Geneton Moraes Neto deixou eternizado o 13 de dezembro.
13 DE DEZEMRO É
FERIADO NA REPÚBLICA RUBRO-NEGRA DO FLAMENGO.
Por Geneton Moraes
Neto
Ah, os dias 13 de dezembro...
“Pai, afasta de mim este cálice”: num 13 de dezembro, em
1968, o regime militar baixou o AI-5, o Ato Institucional que jogou a República
Federativa do Brasil numa ditadura escancarada.
Em outro 13 de dezembro, o de 1981, um general de nome
esquisito – Jaruzelsky – tentou sufocar, com a imposição da Lei Marcial, um dos
mais arrebatadores movimentos de oposição surgidos no mundo comunista: o
Sindicato Solidariedade, na Rzeczpospolita Polska (ou sejam República da
Polônia).
Ah, a urucubaca dos 13 de dezembro...Que estranha
maldição é essa que persegue a data?
Um torcedor do Flamengo bradaria: “Nenhuma! Nunca houve
maldição!”.
Corvos, façam o favor de voar para bem longe! Mensageiros
de mau agouro, tratem de sumir do mapa com suas bruxarias sobre o número 13!
Porque, para as multidões que habitam a República Rubro-Negra do Flamengo, o 13
de dezembro haverá de ser, para sempre, feriado nacional.
Num 13 de dezembro, 11 rubro-negros entraram em campo no
Japão para tentar conquistar o mais importante título da história do Flamengo:
o de campeão mundial interclubes. Conseguiram. O Liverpool desabou por 3 x 0.
Eduardo Monsanto fez o que todo jornalista interessado em
reconstruir uma história deve fazer: uma pesquisa exaustiva, tratando de ouvir
os personagens envolvidos. Em suma: fez reportagem. Não fez tese. Ainda bem.
Porque não há, no jornalismo, nada tão importante quanto sua excelência, o
fato. E o fato mais importante da história do Flamengo é descrito aqui com
detalhes.
O resultado: um livro que guardará, “para todo o sempre”,
a memória daquela jornada épica.
A garimpagem feita por Monsanto não trata apenas do jogo
no Japão: reconstitui todo o caminho que o Flamengo trilhou – nos campeonatos
carioca e nacional e na Libertadores – até desembarcar em Tóquio. Aqui estão as
derrotas, as frustrações, as conquistas, os tropeços, as dúvidas que foram
pavimentando o caminho até o encontro histórico com o Liverpool.
Um detalhe pode ajudar a explicar a vitória: quando
estava se preparando para entrar em campo, o time do Flamengo fez uma corrente
de oração. Jogadores do Liverpool riram da cena. O riso – provavelmente irônico
– foi suficiente para “mexer com os brios” dos brasileiros. Quando entraram em
campo, os representantes da República Rubro-Negra do Flamengo trataram de
mostrar que não estavam ali para brincadeiras.
É impossível saber ao certo se aqueles risos britânicos
tiveram uma influência decisiva no ânimo dos brasileiros. Talvez sim, talvez
não. Independentemente de qualquer provocação, é claro que eles seriam capazes
de derramar sangue para ganhar o jogo. Porque sabiam que, pelo menos para
aquela geração, não haveria outra chance. Mas é tentador imaginar que um riso
de escárnio teria despertado o furor dos guerreiros. Não é assim que nascem as
lendas do futebol?
Que assim seja.
O Flamengo, além de fazer o Liverpool chorar, conseguiu
criar uma nova crença: a partir daquele dia, pelo menos para a República
Rubro-Negra, o 13 de dezembro passou, sim, a ser um dia de sorte. Então, bye, bye,
AI-5, Adiós, Jaruzelsky. Podem
entrar, Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Adílio, Andrade, Zico, Tita,
Lico e Nunes. O 13 de dezembro vai ser sempre de vocês.
Geneton Moraes
Neto
É repórter. Entre outros títulos, publicou Dossiê 50, livro que reúne depoimentos
dos 11 jogadores brasileiros que pertenceram a Copa de 1950 no Maracanã.
Sobre o autor:
Eduardo Monsanto
Nasceu em Petrópolis (RJ) e é jornalista formado pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Militando na imprensa esportiva
desde 1998, é narrador e apresentador dos canais ESPN, onde chegou em 2005.
Pela emissora cobriu a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, e os Jogos
Olímpicos de 2008, em Pequim. Apresenta ao lado de José Trajano o Pontapé
Inicial, programa matinal da ESPN Brasil que mistura esportes e cultura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário