Um time de primeira da
Academia reunido em uma obra de referência da literatura esportiva:"Filosofia e Futebol: troca de passes" (Editora Sulina, 2012).
Sinopse (da editora):
“Filosofia e Futebol:
troca de passes” é uma mostra de talento na filosofia. A obra reúne acadêmicos
de diferentes especialidades – sociologia, comunicação, filosofia, educação
física e psicologia –, que nos convidam, cada um a sua maneira, a pensar
filosoficamente o futebol. Os autores tratam de temas pouco explorados, mesmo
inéditos, no “país do futebol”. Em estilo ensaístico e acadêmico, o multifacetado
mundo do futebol ganha tratamento envolvente. A leitura, do aquecimento ao
apito final, evidencia como a ética, a estética e a ontologia, entre outras
áreas da filosofia, podem desvelar aspectos fundamentais e conduzir a novas
interrogações sobre o futebol. O livro é da máxima relevância para todos que
querem conhecer como a filosofia e o futebol se entrelaçam de maneira
instigante, criativa e original. Pela atualidade, a obra reveste-se de
significado especial. O país prepara-se para sediar o maior evento de futebol
do planeta, e uma reflexão filosófica sobre esse fascinante esporte se faz mais
que necessária.
AQUECIMENTO:
A Filosofia
aplicada ao futebol
Luiz Rohden, Marco Azevedo e Celso Cândido de Azambuja
![]() |
Eduardo Galeano |
“Um vazio assombroso: a história oficial ignora o
futebol. Os textos de História Contemporânea não o mencionam, nem de passagem,
em países onde o futebol foi e continua sendo um símbolo primordial de
identidade coletiva. Jogo, logo sou: o estilo de jogar é uma maneira de ser,
que revela o perfil próprio de cada comunidade e reafirma seu direito à
diferença”. (Eduardo Galeano - Futebol, ao sol e à sombra, LP&M)
“No Brasil, muito pouco tem-se pensado sobre o futebol em
termos filosóficos. Isso não deixa de
ser surpreendente, pois desde que Charles Miller trouxe da Inglaterra, em 1894,
duas bolas usadas, um par de chuteiras e alguns uniformes que nós, brasileiros,
encantados, passamos a jogar e fizemos deste país a terra desse esporte. O
futebol, é verdade, vem sendo tema de estudos e livros em várias áreas das
ciências humanas. Ronaldo Helal, Hugo Lovisolo e Edison Gastaldo (do time de
autores deste livro) estão entre os que vêm fazendo do futebol um tema sério de
estudos em sociologia, antropologia e em ciências da comunicação. Profissionais
e pesquisadores da área da saúde, principalmente da educação física, vêm
estudando o futebol; isso sem falar nos historiadores. Em que pesem esses
esforços, a verdade é que, no Brasil, o “futebol é bastante jogado e
insuficientemente pensado”.
Esporte e futebol, entretanto, são objetos de estudos
filosóficos sérios em outros países. Uma prova disso é a existência da
Associação Internacional para a Filosofia do Esporte (IAPS), fundada em 1972
(http://iaps.net/) com o propósito de estimular, encorajar e promover estudos,
pesquisas e escritos em filosofia do esporte e atividades correlatas, além de
demonstrar a relevância do pensamento filosófico concernente a temas esportivos
de interesse profissional. Ela é responsável pela publicação de uma renomada
revista especializada, o Journal of
Philosophy of Sport (http://journals.humankinetics.com/jps), editado pela
Human Kinetics Journals, com mais de três dezenas de volumes editados. A
filosofia do esporte, embora jovem, é uma área de crescente interesse tanto
interdisciplinar como específico. Robert Scott Kretchmar, da Universidade da
Pensilvânia, uma das referências internacionais nessa nova área, mostra como as
questões erguidas pelos que estudam o tema podem ser vistas como questões
filosóficas. Uma questão simples como “jogar é bom tanto para adultos como para
crianças?” pode ser, diz ele, encaminhada de formas bastante diversas, a
depender da perspectiva que se tome.
Por exemplo, um fisiologista pode questionar-se se o jogo
afeta o desenvolvimento fisiológico de crianças e adultos, ou como o jogo afeta
certos sistemas orgânicos. Um filósofo, por seu lado, pode colocar questões
gerais como “o que é jogar?”, ou
questionar-se sobre “que tipo de experiência humana é essa, o jogo?”. Questões dessa natureza buscam
respostas conceituais, ou mesmo existenciais, cuja natureza explanatória não é
simplesmente empírica. Não se trata, nesse caso, de apresentar hipóteses
explicativas capazes de comprovação mediante experimentos ou observações
sistemáticas. Antes é preciso compreender a própria natureza da questão, o que
exige análise conceitual, esforço hermenêutico e o emprego dialético de
conceitos e teorias filosóficas.
Vários temas serão examinados aqui de forma entrecruzada
em capítulos escritos em diversos estilos. Como o leitor notará, há um grupo de
artigos, que dá abertura ao livro (o “Primeiro Tempo”), que preservam um estilo
ensaístico e exploratório. São textos escritos com certa informalidade, muitos
contando experiências em primeira pessoa. O outro grupo de textos (“Segundo
Tempo”) preserva o estilo formal mais comum aos artigos acadêmicos.
Neste Aquecimento,
apresentaremos os fios condutores do diálogo implícito entre os autores deste
livro. Como se verá, há um interessante “jogo dialético” de proximidade e
diferença entre eles.
Futebol: Entre o
lúdico e a seriedade
![]() |
Jean Baudrillard |
“Se o jogo tivesse alguma finalidade, o único verdadeiro
jogador seria o trapaceiro”. A advertência, lembra Donaldo Schüler no capítulo Reflexões esferocêntricas, é de
Baudrillard. Mas Maradona já fez gol com a mão; logo, a trapaça também faz
parte do jogo. “Quem desespera na derrota, confunde um jogo malogrado com o
fracasso da vida. O segredo está em desviar o olhar do fim e deliciar-se com o
espetáculo”, conclui o professor Donaldo. A seriedade, portanto, não pode fazer
parte do jogo. O que importa é o jogo,
não o resultado – pois o resultado nos deixa “enfarados ou desesperados” (como
pensava Blaise Pascal).
Donaldo Schüler conta-nos de suas experiências, quando
jovem, com o futebol. Recentemente, diz, conheceu Kasparov e jogou (depois de
muitos anos parado) xadrez.
Kasparov leva o xadrez a sério: é sua profissão. Por
causa do xadrez, diz Kasparov, sua casa é o avião. Bem, a linguagem do jogo de
xadrez não é no fundo diferente da linguagem do futebol. Ambos são jogos; ambos
fazem parte da vida de seus jogadores. Observando a vida, especula o professor
Donaldo, talvez tudo o que façamos seja de algum modo um movimento (inteligente
ou não) num grande campo, num grande tabuleiro – será que a vida não é um jogo
que jogamos sem saber que de fato jogamos?
Bernard Suits pensou sobre isso uma vez, em Is life a game we are playing? Logo
depois, Suits reverberou essa tese na boca de seu imaginário Gafanhoto em The Grasshopper: games, life and utopia.
A descoberta de que a vida é um jogo, diz Suits, poderia
ser desesperadora; ou seria, antes... reveladora? De qualquer modo, diz o
filósofo canadense, se a vida for realmente um jogo, o Homo ludens seria na verdade o único verus homus (quiçá a única forma autêntica de se viver a vida).
Indagar-se não somente acerca de por que jogamos jogos,
ou de por que gostamos deles, mas sobre qual sua importância (e de suas formas
modernas, como os esportes) em nossas vidas, e, é claro, na vida dos atletas e dos
que vivem disso, não pode ser, com certeza, uma banalidade, uma mera “perda de
tempo”. Pensar o futebol é um assunto divertido, prazeroso; mas, além disso, é
pertinente, pois diz respeito hoje a milhões de seres humanos.
Este é um dos temas tratado de forma horizontal neste
livro: o tema da seriedade
contrastada à arte e ao lúdico. Futebol é um jogo, e jogos são práticas lúdicas
– o contrário, portanto, de empreendimentos sérios. Mas o que diriam os fatos?
Afinal, há muito dinheiro hoje envolvido com o futebol. Não é à toa que,
atualmente, o futebol é tomado por seus atletas, pelos clubes, pelos
patrocinadores, pelos gerentes e funcionários dos clubes, pelos dirigentes,
pelos jornalistas, e também pelos torcedores como um assunto sério. Para os
atletas, ele é seu meio de vida; o mesmo se pode dizer de árbitros, treinadores
e funcionários dos clubes. E quanto aos jornalistas? Todos vivem do futebol,
sua vida está vinculada ao futebol. Onde está o lúdico? Onde está a arte? E o
que significa, afinal, seriedade?
Dentre os que vivem do futebol, e que não podem brincar
em serviço, estão os árbitros. Todos parecem concordar que no futebol estão
envolvidas as emoções; mas isso não parece se aplicar aos árbitros.
Imparcialidade é uma virtude de todo juiz, pois a emoção
afeta o juízo imparcial e justo. Mas não deveria um árbitro, justamente para
que ele seja um bom árbitro, ser também um amante do futebol? Hugo Lovisolo e
Ronaldo Helal examinam esse tema no capítulo Sobre os juízes de futebol: competência, imparcialidade e influência.
Se as emoções não importassem, ironizam Lovisolo e Helal, sujeitos como o Sr.
Spock é que representariam o modelo de imparcialidade ideal para a função. O
mesmo se aplica a outras funções semelhantes: será que magistrados não deveriam
ser pessoas igualmente desvencilhadas de suas emoções durante o trabalho? Mas
seria isso possível? No caso do futebol, parece estranho querer que alguém se
torne um bom árbitro sem gostar ao
mesmo tempo do futebol. Mas, além
disso, seria possível gostar de futebol sem simpatizar com algum clube, ou com
alguma seleção? É claro que a imparcialidade é uma virtude do juiz.
E é claro que é preciso lidar com o problema do natural
“conflito de interesses”. Alguns acreditam que a imparcialidade dos árbitros
poderia ser facilitada se lhes oferecêssemos auxílio tecnológico. Mas por que
muitos resistem a tais inovações? O problema da imparcialidade na arbitragem, e
de como favorecê-la (considere a dificuldade gerada ao árbitro pelo “fator
local”), é um problema central em filosofia moral e política do futebol.
Mas afinal, por que se exigem árbitros nos jogos? Se
jogos são esportes lúdicos, por que precisaríamos deles? A preocupação em
garantir que o resultado do jogo seja justo,
e que as regras do jogo, e apenas as regras
do jogo, sejam seguidas, é uma preocupação certamente relevante. Mas o que
podemos chamar de justo num jogo? Não seria o resultado? Por outro lado, da arte não se diz que é justa ou
injusta. O contraste entre futebol-arte e futebol de resultados parece, com
efeito, um conflito imanente a esse esporte.
Então: seriedade ou diversão? Força ou arte? Luiz Rohden,
em Filosofia em jogo no futebol-arte,
aborda o tema conversando com uma variedade de autores que reconhecem no
futebol um jogo sério, mas o compreendem sobretudo como uma combinação de arte
e técnica. Uma trama aparentemente paradoxal. De todo modo, é o futebol-arte, e não o futebol-força, segundo Rohden, que tem a
virtude de combinar ambos os traços. No termo arte, diz Rohden, “encontramos
estampadas duas lógicas, duas
racionalidades que marcam os caminhos do jogo de futebol”. A primeira, diz,
“prima pela técnica, pela eficiência, pela ênfase restrita ao produto final
retratável no futebol-força”; a
segunda “concede ênfase à criação, ao inusitado, ao imprevisto e retrata-se no
belo futebol-arte que também visa ao
gol”.
Rohden, compartilhando opiniões de Galeano e Manoel
Sérgio, lastima o fato de vivermos num tempo que “substitui a beleza pela
utilidade e eficiência”. Mas isso não significa absolutamente que a arte tenha
se extinguido, pois a essência do futebol, para Rohden, é justamente a “criação
artística”. Isso explicaria porque, de tempos em tempos, “como a Fênix que
ressurge das cinzas, o futebol-arte ressurge em nossos campos” (como exemplo,
Rohden lembra o fantástico jogo entre Santos e Flamengo na 12ª rodada do
Campeonato Brasileiro de 2011 - Em 27/07/2011, o Flamengo derrotou o Santos em
plena Vila Belmiro por 5 a 4, num jogo histórico, cheio de emoções e jogadas
geniais de Neymar e Ronaldinho Gaúcho. O primeiro gol de Neymar no jogo foi
inclusive premiado pela FIFA como o gol mais bonito do ano de 2011).
Rohden sustenta que o futebol-arte identifica um traço
essencial do futebol brasileiro (e indica razões históricas e sociais para que
se pense assim). A ênfase atual no futebol-força seria, porém, uma forma de
desencaminhamento do futebol, algo como uma traição à nossa identidade como
brasileiros.
Beleza ou força? Seriedade ou brincadeira? Estaria a
seriedade condenada a viver apartada do lúdico? Rohden pensa que não. Mas para
tanto, recomenda, é preciso viver o futebol-arte (espelho da própria vida),
pois é nele que se pode conjugar a seriedade com a gratuita alegria, isto é, “o
aperfeiçoamento científico-técnico com o desenvolvimento da capacidade
criativa, lúdica”.
Álvaro Valls também defende que o futebol combina o
lúdico com o sério. Em No futebol, a
gente ganha, empata ou perde, possibilidade versus probabilidade. Valls
lembra que o “lúdico se opõe a um tipo de seriedade (‘Estás brincando, ou
falando sério?’), embora possua a sua própria seriedade (‘Não venha atrapalhar
o nosso jogo, não seja um estraga-prazeres!)”. Mas o tema principal do
professor Valls é outro: a contingência
do jogo. Seu artigo pode ser classificado como uma reflexão em metafísica prática. No futebol – e isso
parece óbvio – pode-se ganhar, perder ou empatar; mas não há como fazer
previsões absolutas. Apesar de saberem isso, as pessoas sentem-se instadas a
dar palpites. Mas como adivinhar resultados?
Comentaristas, no entanto, usualmente fazem previsões
sobre as possibilidades de desfecho de um jogo. Mas, “no mundo da contingência,
as coisas podem acontecer, ou não acontecer”. Trata-se de uma verdade metafísica: pode-se vencer, perder ou
empatar. Isso é de importância crucial para os jogadores e torcedores. O que
não impede, ao contrário, que, no futebol, todos cantem suas vitórias (ou
chorem suas derrotas). Assim, todos,
de algum modo, valem-se desse traço essencial do jogo. Então...
Viva a contingência! Como lembra Kierkegaard, a
contingência, ou a possibilidade, “é como o oxigênio, sem o qual nós
sufocamos”.
Elio Carravetta e Rafael Kasper, em Dois conceitos de futebol, também abordam o contraste entre a arte
e a força, o lúdico e o sério, mas sob um viés ligeiramente (e originalmente)
distinto: como um dualismo conceitual, o do futebol
de performance e o do futebol de
resultados. No primeiro tipo, a ênfase dá-se nas diferentes formas de execução do esporte capazes de agradar
um espectador; no segundo, a ênfase recai sobre a competição, sobre o placar
final: o resultado do jogo. Carravetta e Kasper lembram que, para os antigos, a
execução contava tanto quanto o objetivo a ser alcançado. Nas artes
performativas, muito apreciadas pelos antigos gregos, “o ‘produto’ é a própria execução,
e o autor é inseparável da ‘obra’” (diferentemente das artes poéticas,
ressaltam os autores, em que a atividade precede à obra – poetas primeiro
escrevem, depois encenam).
O nascimento do futebol na Inglaterra já carregava esse
dualismo entre performance e resultados. Não obstante, a ênfase que a elite
promotora desse esporte conferia ao amadorismo estava ligada a sua preocupação
em preservar a virtude atlética como um bem em si, e isso algo
independentemente dos resultados sociais que o novo esporte presumivelmente era
capaz de gerar. Carravetta e Kasper entendem que a popularização moderna do
futebol, bem como sua transformação em artigo econômico, também dependem do fato
de ele ter preservado esse caráter performativo de suas origens. Essa conexão
explicaria também porque os torcedores se mantém ligados a seu time preferido
mesmo quando não há bons resultados.
Edison Gastaldo também reexamina esse tema de fundo, sob
a temática específica da importância do jogo na cultura, a partir da
recuperação das ideias de um dos pensadores mais originais do último século,
Johan Huizinga. Nascido na Holanda no final do século XIX, Huizinga conviveu
com os efeitos das grandes guerras e com a ascensão do nazismo. Gastaldo
apresenta-nos um resumo da vida e das ideias principais de uma das principais
obras de Huizinga, o Homo ludens,
dentre as quais a ideia de que o “espírito do jogo” preside todas as formas de
manifestação da cultura, em todas as épocas e sociedades. No entanto, Huizinga
via os esportes modernos, e o futebol principalmente, com grande ceticismo. O
profissionalismo, e toda seriedade envolvida na busca por renda e prestígio,
representava para ele uma “espécie de perversão do impulso puro” do espírito
lúdico.
Gastaldo, por sua vez, pensa que as ideias de Huizinga
podem ser interpretadas de modo positivo. O futebol profissional, diz Gastaldo,
mesmo sendo hoje exageradamente comprometido com o resultado financeiro, tem o
potencial de representar um “elemento de libertação e humanização dos seres
humanos”, pois “as apropriações feitas pelas pessoas comuns a partir dos fatos
do jogo (...) mostram-se como um tema de infinitos desdobramentos em suas vidas
cotidianas, com imenso potencial de narratividade, de aposta, de discussão, de
provocação e de boas risadas”. Assim, o “o futebol não é só bom para jogar. É,
também, bom para pensar, para brincar e para viver”.
Mas que forma de interação humana é essa, o futebol? Como
competição e cooperação podem combinar-se numa atividade produtiva? Marcelo
Dascal, em Futebol e filosofia,
ressalta um traço fundamental dessa invenção cultural que é o futebol. O
futebol não é um jogo individual, ele não é uma competição entre indivíduos. O
futebol é um jogo coletivo. É da
essência do futebol que ele seja cooperativo, em que vitória e derrota são
resultado do efeito da ação de um grupo inteiro. Mesmo a jogada, a defesa ou o
gol mais fantásticos são resultado de uma ação orquestrada, coletiva. Nossa
satisfação estética com o futebol não está apenas na satisfação em ver o craque
jogando, mas em ver o jogo, um empreendimento essencialmente coletivo. Como
lembra Dascal, no futebol jogadores individualistas, que não jogam para o
grupo, não são bem vistos, são “fominhas” que irritam os torcedores e
companheiros de time.
Dascal vê a tendência a subordinar a cooperação à
competição como um grave erro. O traço cooperativo pode combinar-se com o
elemento competitivo, mas não é preciso que se subordine a ele. O conflito, no
entanto, não precisa ser visto como um entrave à cooperação.
“Na verdade”, afirma Dascal, “competição e cooperação,
que parecem ser fenômenos completamente opostos, não o são”. Dascal lembra que,
na ciência, também há “competição”, divergência e conflito. E nas ciências, a
divergência desempenha um papel fundamental em seu desenvolvimento. O essencial
para a evolução na ciência vem sendo justamente o fato de que os cientistas, em
geral, não estão de acordo uns com a posição dos outros, isso mesmo que se eles
estejam tratando de um mesmo problema. Competir parece ser uma tendência algo
natural entre os seres humanos. Essa tendência convive com outra, não menos
natural: a tendência a viver juntos. Mas o aperfeiçoamento das qualidades
humanas em conflito, o que Dascal chama de o ‘fazer bem’, somente ocorre quando
se as exercita num ambiente cooperativo. É nessas circunstâncias que o fazer bem no futebol se revela a seus
expectadores como uma forma de beleza estética. Como diria Luiz Rohden, o
futebol consegue expressar ambas numa harmonia esteticamente sublime.
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