Ele é torcedor assumido do Internacional, de Porto Alegre, e um dos
craques da literatura brasileira que nunca escondeu sua paixão pelo futebol,
dentro e fora dos gramados. Luis Fernando Veríssimo tem vários livros onde o
esporte aparece como tema, mas um, em especial, é dedicado inteiramente a
paixão número um do brasileiro: Time dos Sonhos –
Paixão, Poesia e Futebol (Editora Objetiva, 2010). Time dos Sonhos é diversão garantida,
cortesia do maior craque do humor brasileiro.
Sinopse (da Editora)
Em uma das crônicas reunidas aqui, Luis Fernando
Verissimo fala de mais uma criação memorável sua, o Marciano Hipotético. O
alienígena visita a Terra de tempos em tempos e costuma ficar perplexo com o
que vê. Ao lermos os textos de Verissimo, nos sentimos um pouco como o
Marciano. Isso acontece por que o autor tem o dom de nos surpreender sempre,
mostrando o mundo de ângulos inusitados.
Aqui, ele lança seu olhar astuto sobre o universo futebolístico, tão caro a nós
brasileiros. Com o seu texto enxuto e elegante, ele examina os paradoxos do
esporte, que vai do épico ao mundano no tempo de duração de um passe. Algumas
crônicas nos colocam para pensar, como a que afirma que o futebol é uma mistura
de xadrez com boxe. Outras nos arrancam risos, como a que abre o livro, sobre
um coração que vai parar na Copa do Mundo. A maioria delas provoca as duas
reações.
Para que serve o
futebol
Meu coração
No fim, desculpe a literatura, é
tudo entre nós e o nosso coração. Depois do dito e do feito, depois da paixão e
da razão, depois da vida das células e da vida social e da vida cívica e das
idas e das voltas, e da História e da biografia, e do que os outros fizeram
conosco e do que nós fizemos com os outros, é tudo entre nós e ele. Segundos
fora. Nós e ele. A única conversa que vale, a única intimidade que conta.
O coração não tem nada a ver com
nada, fora a sístole e a diástole e a sua fisiologia medíocre. Ele nem nos daria
conversa, se não dependesse de nós, se não precisasse da embalagem, dos
terminais e de alguém que cuide dele. Tudo que lhe atribuem, do mais romântico
ao mais calhorda, é falso. Trata-se de um mero músculo, e de um músculo egoísta,
que só quer saber da sua própria sobrevivência. Da qual, por uma cruel
coincidência, depende a nossa.
Fala-se do “time do coração”.
Mentira. O coração não tem time. O coração não se interessa por futebol. Só
hoje, por exemplo, o meu se deu conta de onde estava. Paris, Nantes, Marselha
ou qualquer outra cidade, é tudo o mesmo para ele, desde que ele tenha um lugar
seguro onde possa bater e cuidar da sua vidinha. Mas de repente ele se deu
conta e pediu satisfações.
Para onde eu o tinha trazido?
Expliquei. A França, a Copa, o Brasil,
os jogos, a beleza dos jogos...
Meu coração não quis ouvir falar
da beleza dos jogos. Ele não tem nenhum senso estético. Quis saber que história
era aquela de morte súbita.
— É uma maneira nova de decidir
as partidas que acabam empatadas. Há uma prorrogação e o primeiro gol quem
marcar ganha.
Meu coração não quis acreditar.
— Quer dizer que, se esse time
pelo qual você torce, como é mesmo o nome?
— Brasil.
— Quer dizer que se o Brasil
empatar com algum outro time, tem prorrogação com morte súbita?
— É...
— Você sabia disso quando me
trouxe para cá?
— Sabia.
— Você deliberadamente me trouxe
a um evento em que eu posso parar de repente, mesmo não tendo nada a ver com
isso? Não era para ser um campeonato de futebol, um esporte, um divertimento,
enfim, nada que me dissesse respeito?
— Desculpe. Eu tentei substituí-lo
pelo distanciamento crítico, mas...
— Só me diz uma coisa. Se a
prorrogação terminar sem que ninguém marque gol, o que acontece?
— Aí decidem nos pênaltis.
— Me leva pra casa.
— O quê?
— Me leva pra casa
imediatamente. E pare de me envolver nos seus divertimentos. Você parece que
não tem coração.
— Mas nada disso vai acontecer
com o Brasil. Prorrogação, pênaltis, nada disso.
— Quase aconteceu contra a
Dinamarca!
— É, mas...
— Me tira daqui!
Sobre Luis Fernando Veríssimo:
É gaúcho de Porto Alegre, filho do grande escritor Érico Veríssimo.
Tem dezenas de livros publicados e com o tema futebol é autor, entre outros, de
O cachorro que jogava na ponta esquerda
(Editora Rocco), Time dos Sonhos –
Paixão, Poesia e Futebol (Editora Objetiva) e Internacional - Autobiografia de uma paixão (Ediouro).
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