Entre tantos bares instalados na imensa São Paulo ele
consegue se distinguir dos demais por conta de suas paredes, dedicadas
inteiramente ao resgate da memória do futebol brasileiro.
O nome também é de um clube de futebol, São Cristóvão,
boteco localizado no badalado bairro de Vila Madalena. Aberto em 2000 pelo
goiano Leonardo Silva Prado, o Léo, para os amigos, reuniu em seu acervo mais
de 3.500 itens relacionados ao futebol.
Era tanto material que Léo acabou criando um livro
chamado “No Campo da Memória, Jogando Conversa Fora” (Editora Olhares, 2010). Parte
do que ali está registrado nas paredes como fotos históricas, flâmulas, escudos
e caricaturas, são presentes dos clientes.
Há de tudo que se possa imaginar nos quadros emoldurados
cuidadosamente.
“No Campo da
Memória Jogando Conversa Fora”
Sinopse (da
Editora):
“Livro fotográfico em formato de bolso, No campo da memória, jogando conversa fora
traz aos leitores um olhar curioso e surpreendente sobre as memórias do futebol
brasileiro, ao se apropriar do cenário e do acervo do bar São Cristóvão, em São
Paulo, famoso pelas paredes plenamente cobertas por fotos e toda sorte de
recortes e relicários do universo futebolístico.
As fotos de Stefan Schmeling olham para as paredes no
mesmo ângulo em que o fazem os visitantes da casa, a cada momento se deparando
com uma nova pérola em meio à catarse visual, revirando um repertório que a
primeira vista parece infinito. Os enquadramentos potencializam o interesse, o
sentido e a plasticidade de cada imagem, além da relação com suas pares de paredes.
Ao mesmo tempo, a presença de molduras e outros elementos aprofundam o sentido
lírico nas fotos.
As seis pequenas crônicas, que aparecem intercaladas com
as imagens, são assinadas por Leonardo Prado, proprietário do São Cristóvão.
Revelando-se um cronista de estilo sintético e envolvente, ele conta casos
curiosos envolvendo a formação do acervo e a relação dos fregueses com o mesmo”.
Prefácio
Por Antonio Prada
“Há algo de sobrenatural em toda fotografia. Nem uma
burocrática 3x4, tirada faz cinco minutos na máquina da esquina, escapa de ser
o retrato de um tempo morto. O rosto ali estampado não existe mais – é o topete
que baixou um pouco, dois cílios que se perderam, vai saber das células da
pele, que vivem nascendo e morrendo a torto e a direito. No entanto, aqueles
olhos nos contemplam, como se vivos fossem. Se um mero instantâneo de RG já
exala o mistério das coisas findas, o que dizer das fotos penduradas nas
paredes do bar São Cristóvão, onde centenas de craques do futebol, emoldurados
em momentos cruciais de suas batalhas entre as quatro linhas, lançam suas
miradas sobre os fregueses?
São imagens que vão do desespero de um zagueiro anônimo,
estatelado na pequena área, em alguma peleja perdida na década de 40, ao
sorriso de escárnio de Maradona diante do cartão vermelho do juiz, num Brasil x
Argentina da Copa de 82. Expressões de alívio e susto, euforia e depressão,
orgulho e desespero agudo da alma – ou como quer que se chame aquilo que o jogador
e o torcedor veem em frangalhos ao perderem a final de um campeonato.
São tantas as fotos e tão precioso o conjunto – feito também
de charges, flâmulas, plaquetas com nomes de jogadores e outros itens da
memorabilia futebolística – que talvez até o mais contumaz freguês do São
Cristóvão só vá reparar no que sempre esteve ali, a um palmo de seu nariz, ao
folhear este belo livro, de fotos das fotos, tiradas por Stefan Schmeling. Vez
por outra surgem também entre as páginas (ou, deveria dizer, entre as paredes?)
ternas histórias que o dono do bar, Leonardo Silva Prado (o Léo), colecionou e
emoldurou com o mesmo cuidado com que montou seu acervo iconográfico. Ao focar
os retratos, ora isolados, ora em grupo, criando ricos diálogos entre as
imagens, este livro nos leva por um passeio: pela memória do futebol, de um bar
e, como não poderia deixar de ser, em se tratando de temas tão caros ao
brasileiro, por nossas próprias lembranças.
Não se assuste ao ver uma bola rolando sozinha hora
dessas, cruzada na medida do nada para ninguém. O futebol tem vida própria. Já
nem é questão esportiva, é uma espécie de RG hereditário, como se o título do
clube estivesse em nosso DNA. E assim, nosso cérebro acaba por acumular um
universo de imagens, histórias, disputas e relicários de toda sorte bem maior que
nossa própria experiência prática nos campos, arquibancadas e sofás.
Para cultivar essa prática supraesportiva do futebol, não
há melhor arena do que uma mesa de bar.
Ali onde é permitido todos estarem certos, mesmo discordando em gênero,
número e grau. Bem mais emoção (e descontração) do que razão. E se o bar é o
São Cristóvão, então o assunto nunca terá fim. Foi lá que o Stefan registrou
esses lances, registros de registros, devidamente emoldurados e amarelados nos
10 anos recém-completos do estabelecimento. Foi lá que os personagens das
crônicas que seguem ganharam vida, ou melhor, passaram de gente comum, cada um
na sua, a personagem do Leo. Só porque atravessaram a encruzilhada da boemia
com o futebol”.
Abaixo, uma das crônicas de Léo, uma história
emocionante:
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