Após um ano de vida, Literatura na Arquibancada atingiu uma marca
expressiva para um blog que trata de um tema pouco trabalhado pela grande
mídia. Acabamos de ultrapassar a marca de 100 mil visitas, com gente de
diversos estados brasileiros e vários países no mundo inteiro, um número
surpreendente para quem achava que pouquíssimos pudessem se interessar pelo
tema. Feliz engano.
Como retribuição aos amigos que ajudaram a estabelecer essa
importante marca, Literatura na Arquibancada reedita agora uma reportagem
especial, publicada no último Natal. Também porque, no dia 29 de outubro,
comemora-se o Dia Nacional do Livro. Neste sentido, não há como não reverenciar
um personagem fundamental para que livros de futebol se tornassem não mais um
artigo raro.
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José Reinaldo Pontes, proprietário da Livraria Pontes, em Campinas (SP). |
Não fosse o trabalho de “formiga” que José Reinaldo Pontes fez no
início dos anos 1990 (e muito antes dele também) o mercado de livros de futebol
no Brasil não teria chegado onde chegou e, por tabela, nós, do Literatura na
Arquibancada, não teríamos obtido o enorme sucesso atingido em tão pouco tempo.
É apenas o começo de uma longa jornada, esperamos. Literatura na
Arquibancada irá se inspirar sempre na vida deste “homem dos livros”. Pontes é
uma figura tranqüila e desde a adolescência amante declarado pelos livros, e,
especialmente pelo futebol. Tornou-se livreiro no tempo em que este artigo era
pouco acessível. Bateu de porta em porta, andou e caminhou por todo o país e
até mesmo fora dele para que nossa língua, nosso esporte, ganhassem fronteiras.
Ele conseguiu. A entrevista abaixo reflete toda essa batalha pelos livros, pelo
surgimento de uma literatura esportiva no país. Com seu jeito simples e
títulos, aparentemente, despretensiosos, fez despertar nas grandes editoras do
Brasil a visão de um mercado nunca antes explorado. Parabéns José Reinaldo
Pontes. E vida longa para os livros e a literatura esportiva.
A vida antes dos livros
Eu nasci no meio do mato, em Itatiba, literalmente, no meio do
mato. Meu pai era lavrador, carroceiro, cortava lenha, fazia cerca, esse tipo
de serviço. Fazer buraco, valeta, pra plantar uva. Eu nasci em 1947, tenho uma
foto em que eu tenho alguns meses, num terreiro, no meio do mato.
José Pontes aos 7 meses. |
O nome do meu pai é Joaquim Pontes. E a mãe Zelinda Genoveva
Piovesana Pontes.
Pontes, português, e a minha mãe, Piovesana, italiana.
Português misturado com bugre.
Meu pai era um caboclo, a pele tisnada, um homem
“bronco”.
Joaquim Pontes, pai de José Pontes. |
Minha mãe com todos os traços italianos e eu acabei ficando mais
com os traços da italianidade da minha mãe.
Eles plantavam uva, no sistema de “mear” a terra. Morávamos no
sítio e o dono aparecia por lá uma vez por ano para receber a parte dele. Meu
pai fazia o que queria, criava porco, tinha uma horta, mas o substancial era
uva.
A direita, dona Zelinda, mãe de José Pontes. |
A vida era muito dura, duríssima. Éramos eu e eles e muito mais
tarde, 20 anos depois, veio a Eva, minha irmã.
O início da paixão pelo futebol
Então, meio do mato, todo dia ir a pé para a escola que ficava a
uns 10 quilômetros. Desde o primeiro ano primário. Tudo isso acontecendo em
Itatiba. Nesse itinerário de ir para a escola eu passava no campo do Itatiba
Esporte Clube, que na época disputou campeonato amador do Interior, e havia
muita motivação na cidade porque ele fez a final desse campeonato, que hoje equivaleria
a 4ª divisão do Campeonato Paulista.
Ele disputou a final com o 11 de Agosto de Tatuí, mas perdeu o
jogo. A derrota foi um choque em Itatiba. Surgiu toda conversa, que o goleiro
estava vendido... Eu acompanhava os jogos. Me lembro que o Bonsucesso, Olaria,
vieram jogar amistosos em Itatiba. Ouvi falar que Vasco da Gama, o expresso da
Vitória (equipe famosa da década de 1950), veio jogar contra a Portuguesa, e
ficou concentrado em Itatiba.
Até os 12 anos vivi na roça. Mudei pra cidade e o campo do Itatiba
ficou longe pra eu poder assistir aos jogos.
Mudei para a frente da sede de um clube que se chama Operários Futebol
Clube. Passei então a acompanhar a vida deste time. Eles estavam começando a
construir o estádio.
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Sede do Operários FC, de Itatiba. |
Além de ir à escola, eu ia ajudar na construção, plantar grama.
Antes de ficar pronto, muito antes, o time jogava ali, mesmo com o campo sem
estar com a grama formada.
Eles disputavam jogos regionais. Eu tinha até uma
função nos jogos: tinha um centroavante que chutava muito forte e o técnico
acreditava que se molhasse a bola ele a chutaria melhor. Então, quando a bola
caía no “riozinho” que ficava ao lado do campo, antes de devolvê-la eu molhava
a bola.
A arte de ler e vender livros
Nessa época, lia indicações escolares, Iracema, José de Alencar,
Machado de Assis, Monteiro Lobato, Peter Pan...A cidade de Itatiba não tinha
biblioteca, para ler algum livro era na escola.Literatura sobre futebol, não
existia absolutamente nada, nem se cogitava. Eu descobri a literatura esportiva
com o livro “Na grande área”, do Armando Nogueira, uma edição de 1966, mais
precisamente, junho daquele ano.
Eu estava no colégio (antigo colegial, atual ensino médio). Achei esse livro fantástico.
Ele surgiu por
acaso, lá na biblioteca da escola. Logo depois fiz faculdade de Letras
(Português – Francês), na cidade de Bragança Paulista.
Eu acabei optando pelo
francês, porque havia uma professora de Itatiba, da qual fui aluno, ela
anunciou que iria se aposentar e que eu teria de assumir o seu posto. Apesar da
relutância, aceitei o desafio e acabei dando aula lá durante sete anos.
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Grupo Escolas "Coronel Júlio César", o lugar onde José Pontes começou a arte de ler e vender livros. |
Nesse período em que lecionava francês, eu também vendia livros. A
ideia de vender livros surgiu na época em que não existia sequer uma livraria
na cidade de Itatiba. Eu comprava os livros pelo sistema de reembolso postal.
Pedia para a editora e ela mandava. No começo, comprava os livros da minha
necessidade de leitura, mas acabei descobrindo que poderia aproveitar melhor
essa compra, vendendo livro para os professores, para os colegas. Todo mundo
precisava de um livro. Tinha no máximo 16 anos.
Quando chegava o livro na agência do correio, eu não tinha dinheiro,
então fazia a coleta do dinheiro para retirá-los. Foi aí que despertou o
interesse de vender livros, porque do ambiente escolar, passou para o vizinho,
para o parente. Pensava comigo: ‘será que minha tia que é cozinheira, não
compraria um livro de receitas?’. Minha vizinha era super católica, ‘será que
ela não compra uma Bíblia?’.
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Capa de um livro editado pela Tecnoprint: Histórias de Pracinhas (1967). |
Passei a trabalhar inicialmente com a editora: a Tecnoprint (que
antigamente chamava-se Gertum Carneiro e atual Ediouro). Vendia de tudo,
esportes variados, literatura em geral, ficção científica, policial,
clássicos...Podia-se montar uma livraria só com os títulos que eles vendiam.
Nunca havia pensado em ser “vendedor de livros”, mas a coisa começou a dar
certo. Comecei a vender para a escola inteira, para todas as classes.
O diretor
da escola era quem vendia os livros, então cheguei para ele certo dia e disse
que estava comprando livros. Propus a ele para que ficasse responsável por
essas compras. Ele achou ótimo porque aquilo tomava um tempo enorme dele. A
única exigência dele foi para que eu desse uma comissão para a APM, a
Associação de Pais e Mestres.
Mudando a vida de uma pequena cidade
Nesse momento, tive de abrir uma empresa. Era o ano de 1968:
coloquei o nome de Livraria Vanguarda. “Vanguarda”, na época, era um nome
forte, “literatura de vanguarda”, “música de vanguarda”...Era uma loja pequena,
no centro de Itatiba.
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Vista atual de Itatiba, SP. |
Costumo brincar que fui o precursor do shopping no Brasil, porque
para dividir as despesas do aluguel da livraria, aluguei um espaço nesse mesmo
ambiente para uma lotérica, que também não tinha na cidade. Aluguei ainda para
uma tabacaria. A “Vanguarda” ficava no fundo desse ambiente, vendendo livros e
artigos de papelaria. Durante três anos mantive o negócio e ajudava meus pais.
Meu pai continuava a trabalhar na roça e minha mãe era costureira. Só que
chegou o momento de estudar em Campinas, na PUC. Para poder me sustentar, vendi
a livraria em Itatiba e montei outra em Campinas, onde estou até hoje.
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Antiga fachada da Livraria Pontes. |
No lugar já existia uma livraria, a famosa “LISA - Livros
Irradiantes S/A”, uma editora poderosa na época, mas que estava “quebrando”.
Comprei por uma pechincha para a época, o equivalente a 15 mil cruzeiros.
Era o
ano de 1974. Entre a venda da livraria em Itatiba a compra da outra, houve um
hiato de dois anos, e mesmo nesse período não parei de vender livros, só que
para os companheiros de faculdade.
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Capa de livro Editora Gol. |
Nesse período, surgiu a Editora Gol, e passei a ter acesso à
livros de futebol. Ela começou em 1968 e terminou em 1972. Esses livros não me
chamaram muito a atenção e em 1974 quando montei a “Livraria Pontes” comecei a
vender títulos esportivos.
Em 1989, já havia conseguido comprar todo o prédio
onde ficava a livraria, com os frutos das vendas. Trabalhava vendendo todo o
tipo de título, inclusive Informática e Direito.
O forte mesmo eram os livros
escolares, didáticos e paradidáticos. Nesse período, descobri outro “filão” no
mercado: a exportação de livros.
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Primeiro andar da Livraria Pontes, onde se encontram os livros de futebol. |
Comecei a exportar livros para a França, Portugal, Alemanha,
Argentina, Estados Unidos e Japão.
Fornecíamos para as livrarias internacionais
mais importantes desses países. Vendíamos tudo que um estrangeiro pudesse se
interessar. Em primeiro lugar, a língua brasileira, métodos para se aprender o
português do Brasil.
Depois, livros de Gramática, Dicionários. E a seguir, a
literatura em geral.
Um método revolucionário
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José Pontes, na Feira de Livros de Lisboa, em 1993. |
Por tudo isso, passei a publicar (editar) livros de “métodos de
Português”, porque na época só havia um título disponível “Português para
Estrangeiros” de Mercedes Marchant...
Criei um livro com método revolucionário
do ensino de línguas no País: “Fala Brasil”.
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Capa do livro de Mercedes Marchant. |
Era o ano de 1989, mesmo ano em que começo o setor de futebol na
Livraria Pontes.
O primeiro livro que comecei a vender aqui, na Pontes, foi o
livro da Ponte Preta, escrito pelo Sérgio Rossi, o primeiro volume da história
do clube.
O que me chamou a atenção foi que um comprador do Rio de Janeiro
ligou pra gente pedindo um exemplar. Eu nem sabia ainda que havia sido lançado
o livro.
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Primeiro volume do livro com a história da Ponte Preta. |
Fui lá no lançamento, comprei para ele e outros para a minha
livraria. Com certeza, esse camarada não devia ser torcedor da Ponte, deveria
ser um pesquisador, historiador ou jornalista. Se tinha no Rio alguém
interessado em um livro da Ponte Preta, deveria haver outros, em outros
Estados.
E foi o que aconteceu. Me empolguei da mesma maneira que aconteceu com
o método de ensino de português para estrangeiros.
Vendi quase toda a tiragem
do primeiro, segundo e terceiro volume que ele escreveu.
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Pilha de livros da Ponte Preta ainda empacotados. |
Na quarta, que ele já não tinha dinheiro para produzir o livro,
comprei mais de 300 exemplares, pagos adiantados.
Os livros estão até hoje aqui
empilhados. Vinte anos e os livros ainda estão aqui.
Comprei apenas para
ajudá-lo.
Um caçador de livros de futebol
Foi a partir da percepção das vendas do livro da Ponte Preta que
passei a me interessar a comprar e vender livros de outros clubes do país.
Passei a fazer uma verdadeira “caça” a livros de clubes em todos os cantos do
país.
Um exemplo: quando soube que em Londrina, no Paraná, havia sido
lançado um livro do clube, fui até lá e comprei toda a tiragem, aproximadamente
500 exemplares, ou melhor, troquei com o presidente do clube por títulos
diversos para a montagem de uma biblioteca no clube.
Outro exemplo marcante. Recebi um pedido da Bélgica para a compra
de quatro livros sobre a história do Guarani de Venâncio Aires. Da Bélgica !!!
Fui para Venâncio Aires buscar os livros porque já estava indo para a Feira de
Livros de Porto Alegre, de 2001. A essa altura, já havia feito diversas viagens
por cidades do interior paulista, mas para Venâncio Aires, seria a primeira
interestadual. Atravessei o Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande Sul comprando tudo que via pela frente sobre
futebol. No estádio do Guarani, fui atendido pelo secretário do clube que me
informou que só tinha um exemplar e, pior, o presidente do clube havia vetado a
venda porque brigou com o autor, por discordar de informações contidas nele.
Soube que todos os livros impressos estavam na biblioteca da
cidade, deixados pelo próprio autor. Procurei por ele, mas estava fora da
cidade, viajando. A biblioteca da cidade da cidade estava fechada, porque era
sábado.
Voltei para Campinas e na segunda-feira liguei para a biblioteca da
cidade e falando com a responsável expliquei que precisava dos livros do
Guarani. Como ela não poderia vender os livros, ofereci uma troca, por livros
do Harry Porter, na moda, naquele momento.
Vendi quase 100 exemplares do Guarani
de Venâncio Aires. A fama de livreiro que tinha a história dos clubes
brasileiros menos “famosos” foi se espalhando a cada nova cidade visitava e
título que comprava. Foi assim em Erexim, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande...
Era o começo do “boom” sobre livros esportivos, especialmente,
futebol. A partir do ano 2000, fiquei conhecido como o livreiro que mais tinha
títulos sobre futebol, especialmente de clubes “desconhecidos”, porque hoje,
quase toda editora tem um título sobre esse tema.
As raridades encontradas na Livraria Pontes sobre futebol
começaram quando passei a revirar sebos de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto
Alegre, Fortaleza, Belém, Curitiba...
Fiz isso durante cinco anos, indo até os
lugares, gastando do bolso e aproveitando viagens que fazia para divulgar
livros de outras temáticas que eu editava e vendia.
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Livro comprado pelo jornalista e pesquisador Celso Unzelte. Patrimônio guardado em boas mãos. |
Em pouco tempo me transformei na maior “bibliografia do futebol
brasileiro”.
Um dos grandes “achados”, foi em Belém, no Pará.
Entrei num sebo que ficava numa galeria no
centro de Belém e boto a mão num livrinho encadernado, 14x21. Era o livro
“História do Futebol em São Paulo”, publicado em 1918, de Antonio
Figueiredo.
Para o dono do sebo, aquilo
era nada. Paguei R$ 10,00. Vendi por R$ 300, como poderia ter vendido por 2, 3
mil reais, porque um livro desses não tem como mensurar valor.
Livro comprado pelo colecionador Domingos D'Angelo. |
Todas essas raridades que encontrei estão em boas mãos.
São sempre
cinco pessoas: em São Paulo, o jornalista Celso Unzelte;
no Rio de Janeiro, Antonio
Claret Silva Gomes e Sr. Sebastião de Mello;
em Teresina, no Piauí, Carlos Said;
no interior de São Paulo, Luis Marcelo Cirillo, de Araraquara.
E o fora de
série, Domingos D’Angelo.
Descobrindo raridades bem longe do
Brasil
Outra história fascinante aconteceu quando fui à Paris na Livraria
L’Harmattan para quem vendíamos muitos livros, inclusive futebol. Pedi uma
escada para ver se esses mesmos livros de futebol poderiam ainda estar em
alguma de suas estantes. Sempre fiz isso, gosto de repatriar livros que eu
mesmo vendi. Achei um livro, encadernado em vermelho bem forte, pendendo para o
bordô, mas que não tinha nada na lombada. Quando tiro o livro da prateleira,
abro, era uma revista, 10 ou 12 edições dela, publicada nos anos 1970 pelo
Juventus, do bairro da Mooca, de São Paulo. Isso é incrível.
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Livraria L'Harmattan, em Paris, onde José Pontes encontrou coleção de revistas raríssimas sobre o Juventus, um de seus clubes de coração. |
Em pleno Quartier Latin, uma livraria especializada em Ciências
Humanas, África, Ásia e terceiro mundo, desde 1960, encontro uma edição rara da
Revista Amigão. Você treme, arrepia, começa a soar, porque percorri dezenas de
sebos em várias capitais e cidades do interior brasileiro e nunca havia ouvido
falar da existência daquela revista. Naquelas páginas, além da história do
Juventus, com as viagens que o clube fez pelo mundo, havia também a história do
futebol . Na França, por conta do período da ditadura militar no Brasil, muitos
brasileiros migraram forçadamente para lá e por isso muitas bibliotecas se
formaram. Na hora de retornar ao país acabaram vendendo ou dando para algum
sebo local.
O rei dos sebos
Outro livro raríssimo que quando encontro em algum sebo tenho
quase um orgasmo é o “Coração Corintiano”, de Lourenço Diaféria, publicação da
Fundação Nestlé. Para se ter ideia, tenho 18 pessoas em uma lista esperando eu
encontrar em algum sebo um exemplar. O último, encontrei em São Paulo, paguei
75 reais. Uma dessas pessoas da lista já me disse que paga até R$ 1.500 por um
exemplar.
O Guia do Futebol em SP, para mim o primeiro livro de futebol
editado em SP, escrito por Mário Cardim e publicado pela Casa Vanorden,
encontrei no acervo de um grande pesquisador e dono de uma biblioteca esportiva
maravilhosa, Delfim Ferreira Neto Rocha.
Ele também é autor do livro sobre a
história do XV de Piracicaba. Quando fui a sua casa, levei livros para ver se
ele se interessaria por algum.
Gostou de alguns e acabei trocando com ele o
exemplar do Guia.
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Página interna do Guia do Football, comprado pelo jornalista e pesquisador Celso Unzelte. |
Mas o livro, quer dizer, um conjunto de gravuras de Rubens
Gerchmann sobre futebol, é outro raríssimo. Foram feitos apenas 150 exemplares.
Comprei no RJ por R$ 300. Vendi por R$ 3.000,00.
O livro sobre Pelé, 20 quilos, 2.500 exemplares, da Editora Gloria,
de Londres, é também outra história interessante.
O livro é raríssimo porque virou edição de colecionador. Comprei 3
exemplares, vendi dois e fiz rifa de um. Custava 9 mil reais cada um. Paguei 6
mil reais cada um.
“Ganho hoje para comer amanhã”
Depois de muitas descobertas como essas, muitas pessoas me
perguntam se não seria mais interessante segurar tudo isso para uma grande
biblioteca. Claro que seria, se eu tivesse uma fonte de renda. Se eu tivesse um
grande emprego, claro que ficaria com tudo. Eu ganho hoje para comer amanhã.
Em 1987, a Livraria Pontes virou editora também. O primeiro livro
que editamos foi “A história do Itatiba”. Depois que publicamos esse, alguns
vários clubes começaram a publicar livros semelhantes com a gente (Velo Clube,
da cidade de Rio Claro, por exemplo).
“Quando o futebol andava de trem”, considero o melhor livro que já
li. É apaixonante, porque me interesso por livros assim, que tragam fenômenos
sociológicos é por isso que só edito livros de clubes, biografias...
Já editei, por exemplo, um livro sobre o XV de Novembro de
Araraquara. Isso não dá dinheiro, dá satisfação, porque essa semente veio quando
eu saía todos os dias de casa para ler a Gazeta Esportiva e ficava olhando
resultados dos campeonatos amazonense, paraense, pernambucano, paraibano,
catarinense...O que me apaixonava mais era ver um time com nome “Calouros do
Ar”, “Galícia”, “Juventus do Rio do Sul”...
É isso que alimenta minha paixão
pelos livros de futebol.
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Crédito: Pedro Proença, em matéria para a Revista Brasileiros. |
Hoje, a Livraria Pontes, na seção esporte, tem 2 mil livros
cadastrados, incluídos nesse número, títulos brasileiros, argentinos,
uruguaios, paraguaios, portugueses, franceses, espanhóis e italianos. O Real
Madrid, por exemplo, já comprou livro da gente, o do São Cristóvão,
evidentemente, por conta da história do Ronaldo Fenômeno.
Já participamos de 3 Bienais, no Rio de Janeiro; 3 em São Paulo e
uma em Belo Horizonte. E vamos participar em 2013 e 2014.
Aonde o livro estiver
Não tenho concorrentes, tenho um parceiro, do Rio de Janeiro, o
Rodrigo, da Livraria Folha Seca. O que tenho aqui e o que ele tem lá, trocamos
figurinhas. E com ele há uma bela história.
Eu e ele estávamos intrigados com um livro do Botafogo que é muito bom,
tinha muita procura, mas ninguém encontrava para comprar no Rio de Janeiro. O
autor é Nei Carvalho. Rodrigo disse então que tinha o telefone do filho dele.
Ele ligou e disse que o livro estava em Itaipava, região serrana do Rio de
Janeiro. Acabei indo e o Rodrigo não. Chegando lá, entramos numa edícula
escura, e lá estava o livro, apodrecendo. Pergunto a você: ‘quantos livros você
acha que tinha lá?’. Quatro mil e quinhentos livros !!!!! E eu comprei todos...
Eu mesmo me perguntava: o que fazer com 4.500 livros do Botafogo
do Rio, em Campinas? Rodrigo ficou com uma parte, 200 exemplares. Fui em um
sebo no Rio, cujo dono sabia ser botafoguense. Contei a história pra ele e o
camarada comprou 4 mil exemplares !!! Comprei por R$ 1,00 cada exemplar. Vendi
por R$ 5,00, cada um. Parte da venda, permutei com ele. Em três meses, o dono
do sebo vendeu todos os exemplares a R$ 15,00 cada um. Hoje tenho apenas um
exemplar aqui na loja, no Rio de Janeiro, você não encontra mais nenhum. O
torcedor do Botafogo e do Fluminense é melhor comprador de livros do que os do
Flamengo e Vasco. Assim como em São Paulo, torcedores do Palmeiras e São Paulo
são melhores compradores do que corintianos e santistas.
O livro que ainda sonho encontrar algum dia chama-se “Atlas
futebolístico do Estado de São Paulo”, publicado pela Federação Paulista de
Futebol, em 1955. É espetacular. Pouquíssimas pessoas tem.
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Exemplar do "Álbum futebolístico", vendido por José Pontes ao pesquisador Celso Unzelte. |
A eterna paixão pelos livros de
futebol
A paixão pelos livros de futebol vem
da obsessão de aumentar cada vez mais a bibliografia sobre a literatura de livros
sobre futebol. Nós vamos fazer em breve um livro sobre essa bibliografia.
Já temos 500 livros resenhados. Cada
livro que a gente acha, cada raridade, é digna de comemoração.
Cada livro
encontrado é como se fosse um gol espetacular.
Uma raridade que se encontra atualmente na
Livraria Pontes:
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Capa do livro de Tito Batini, de 1958: "Cantar o gol em coral". |
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As páginas internas de "Cantar em coral" tem um tratamento espetacular, com poemas dedicados ao futebol. |
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O livro de Tito Batini é ilustrado por vários artistas famosos, entre eles, Aldemir Martins. |
Parabéns!!!!
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