Nesta quarta (21/11), Brasil e Argentina entram em campo mais uma vez. É a maior rivalidade
sul-americana. É um dos maiores jogos entre seleções de todo o planeta. Hoje,
pode parecer que o confronto entre as duas seleções significa apenas um
amistoso, mas não é. E a história comprova. Não fosse assim, o
confronto entre Brasil e Argentina não teria valido a pena o sacrifício do
autor Newton César de Oliveira Santos e de seu amigo Sérgio para
escrever um livro de referência como o “BRASIL x ARGENTINA - Histórias do maior
clássico do futebol mundial (1908-2008)” (Editora Scortecci). Para
ambos, Brasil e Argentina é o maior clássico do futebol mundial.
Sinopse:
“Quando disputam
uma partida de futebol, Brasil e Argentina levam a campo uma rivalidade
iniciada há mais de um século. Dois países tão próximos, e ao mesmo tempo tão
diferentes, compartilham uma paixão obstinada pelo esporte que leva seus
habitantes a extremos de alegria, tristeza e angústia.
Com o passar dos
anos, as duas maneiras distintas de se jogar futebol passaram a caracterizar
cada país em seus aspectos social, político e cultural.
Assim, as
similaridades e diferenças entre brasileiros e argentinos ganharam vulto e
importância nos gramados quando os dois selecionados se enfrentavam, e fizeram
desse encontro o maior clássico do futebol mundial.
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Brasil x Argentina - Copa Rocca 1939 |
Esse livro
mergulha na história dos jogos entre as seleções de Brasil e Argentina e mostra
como um relacionamento esportivo inicialmente marcado pela cordialidade foi se
transformando em uma rivalidade sem igual no mundo do futebol. A intenção foi
realçar as maiores conquistas e destacar os grandes jogadores de ambos os
lados; descrever as principais brigas em campo; contextualizar cada partida em
relação ao momento vivido em cada nação; reunir, enfim, as melhores histórias
que se sucederam ao longo de um século de encontros em campo.
Brasil e Argentina
são duas potências do futebol, reconhecidas mundialmente. A rivalidade que
transparece e que caracteriza o confronto esconde o muito que existe de
respeito, admiração e inveja entre os torcedores e jogadores dos dois países.
Afinal de contas, a grandeza de um ganha muito em realce e nitidez diante da
estatura da outra”.
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Copa Rocca 1957 |
Literatura na Arquibancada destaca abaixo o texto de
apresentação do autor Newton César, que retrata muito bem as dificuldades enfrentadas
por autores e pesquisadores na trajetória da construção de um livro como este “Brasil
x Argentina – Histórias do maior clássico do futebol mundial”.
APRESENTAÇÃO
“El fútbol es un invento postcolonial que sustituye las
peleas a cuchillo”.
Jorge Luis Borges (1899/1986), definindo a prática do
futebol.
“Después de muchos años aprendí a aceptarme como lo que
realmente soy: un fanático del buen fútbol. Vaya adonde vaya, en las canchas grito con
los brazos abiertos: ‘Por Dios, hagan un pase como la gente!’ Y al presenciar un buen
partido, doy gracias por el milagro, sin importar el equipo o el país que esté
jugando”.
Eduardo Galeano, em “El fútbol a sol y sombra”.
“(...) Porque estou convencido, (...), que o ‘sport’ é o
primado da ignorância e da imbecilidade”.
Lima Barreto (1881/1922), em artigo publicado em revista
no qual explicava o porquê de haver fundado a Liga Brasileira contra o Futebol (Revista
“Careta”, 08/04/1922).
“Das coisas menos importantes da vida, o futebol é a mais
importante”.
Frase de autor desconhecido, citada pelo repórter
Sebastião Reis no jornal “O Estado de S.Paulo” em 17/05/1998, em entrevista a Chico Buarque de
Hollanda.
Este livro teve início no dia 3 de janeiro de 2006.
Durante uma conversa telefônica com meu amigo Sergio, na época morando em
Brasília, eu perguntei, de repente: “Quando vamos escrever um livro sobre
futebol?”. O questionamento surgiu do nada, mas vinha de um contexto. Amigos de
faculdade de jornalismo, tínhamos feito alguns trabalhos de classe juntos e, em nossos respectivos projetos de conclusão de
curso, havíamos escrito livros que foram bem avaliados. Daquela época ficou a ideia de fazer
em conjunto uma grande reportagem, algum dia. E porque não um livro sobre
futebol, tema apaixonante para os dois, e para tantos?
Da pergunta começaram a surgir palpites de todo tipo, até
que Sergio sugeriu: “E se falássemos sobre a história de Brasil x Argentina?”
Logo em seguida, entusiasmados com as possibilidades que íamos vislumbrando, já
estávamos desenvolvendo a ideia e, de vez em quando, fazíamos a observação que
repetiríamos nos meses seguintes: “Como é que ninguém pensou nisso antes?”
No dia seguinte começamos a busca na Internet por referências
ao grande clássico. Tudo o que encontrávamos e toda nova informação que surgia
sobre o assunto era anotado e repassado ao outro via correio eletrônico. Por
coincidência, naquela mesma semana um canal de televisão a cabo, especializado
em esportes, exibiu um programa no qual o ex-lateral e volante Júnior foi
convidado a comentar a partida Brasil x Argentina na Copa do Mundo de 1982. Assistimos
ao programa com o olhar voltado para o nosso projeto, e assim passamos a enxergar
toda e qualquer alusão ao confronto dali em diante – passada, presente ou
futura.
Ao longo de 2006 nos dedicamos a coletar fontes de pesquisa.
Começamos comprando e lendo livros e revistas sobre a história das duas
seleções. Eu fui aos arquivos do jornal “Folha de S. Paulo” e reuni cópias de
edições de 1922 a 2005. Sergio esteve no Rio de Janeiro e, dos arquivos da
Biblioteca Nacional, trouxe material impresso no “Jornal do Brasil” das duas primeiras
décadas do século passado. Juntos, em visita à Biblioteca Mario de Andrade, em
São Paulo, levantamos dados em publicações do “Correio Paulistano” entre 1914 e
1921. Eu fui ainda ao Rio de Janeiro para entrevistar o sociólogo Ronaldo
Helal, que havia morado dois anos em Buenos Aires e realizado um profundo estudo
sobre o tratamento da imprensa argentina em relação à Seleção Brasileira.
Acompanhamos a Copa de 2006 – ele em Brasília, eu em São
Paulo – na expectativa de um confronto entre os dois selecionados que, acreditávamos,
seria um fator a mais de interesse para o nosso livro – na época, chegamos a pensar que o
trabalho estaria concluído até o final do ano.
Essa ilusão se desfez quando percebemos que, para que o
trabalho fosse literariamente interessante e jornalisticamente equilibrado, teríamos de
ir a Buenos Aires. Não somente para coletar fontes de pesquisa locais, mas também para
fazermos entrevistas com alguns dos principais personagens do clássico. Foi nessa ocasião
que pensamos em produzir, junto com o livro, um material em DVD com as entrevistas que
teríamos em mãos. Só conseguimos viajar a Buenos Aires em novembro, e ali
tivemos uma semana bastante produtiva. Além dos livros, revistas e fotocópias
que trouxemos, tivemos a oportunidade de visitar as redações do jornal “Olé” e
da revista “El Gráfico”; passamos horas na Biblioteca del Congreso e na Biblioteca
Nacional; fizemos pesquisas na biblioteca da Asociación del Fútbol Argentino
(AFA); estivemos na Asociación de Técnicos del Fútbol Argentino (ATFA), onde
entrevistamos o ex-jogador Ramos Delgado; conversamos com o sociólogo Pablo
Alabarces em sua sala na Universidade de Buenos Aires; e conhecemos os
jornalistas Pablo Geraldes e Walter Vargas, que muito nos ajudaram com contatos
de ex-jogadores e técnicos argentinos. Para fechar o trabalho daquele ano, em
dezembro fomos juntos a Uberaba para conversar com o grande Djalma Santos.
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1º gol de Pelé com a camisa da Seleção Brasileira contra a Argentina |
No início de 2007 já sabíamos que a tarefa que teríamos
pela frente não seria tão fácil quanto imaginávamos. Ainda não tínhamos
começado a escrever e não sabíamos que formato dar ao livro. Mas algumas
certezas já não se discutiam: tínhamos uma quantidade enorme de material de
ótima qualidade para ser lido e avaliado; além disso, apesar de instigante e de
ser um grande diferencial do nosso trabalho, a ideia de realizar entrevistas não
havia progredido, fundamentalmente por dois motivos: dificuldade em agendar os encontros
e a memória difusa dos entrevistados. No primeiro caso, não tínhamos tempo e recursos
disponíveis para nos submetermos às agendas dos potenciais entrevistados – eram
muitos, tanto brasileiros como argentinos, morando no Brasil, na Argentina e em
outras partes do mundo. No segundo caso, percebemos que o tempo tratou de
misturar imagens e lembranças de tantos jogos disputados anos a fio, e que os
detalhes de partidas específicas que procurávamos estavam muito escondidos,
quando não esquecidos. Isso sem contar a falta de conhecimento e equipamento
apropriado para filmagens, além dos cuidados burocráticos para a garantia de direitos
de imagem. Assim, a ideia do DVD foi abandonada.
Seguimos em frente. Dividimos o material em partes iguais
e decidimos organizar em textos o conteúdo do que tínhamos em mãos – mesmo que
no futuro tivéssemos que modificar substancialmente a forma em que ele seria
apresentado. No entanto, pouco avançamos com a escrita naquele período, já que
mudanças profissionais substanciais, para os dois, nos afastaram do nosso
projeto durante boa parte do ano. Nesse período eu consegui rever, na íntegra,
as quatro partidas entre Brasil e Argentina em Copas do Mundo, assim como
vários outros jogos entre as duas seleções; além disso, tive acesso a diversos
trechos de inúmeras partidas, assim como de muitos dos gols que foram anotados
nos confrontos desde a década de 1970.
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Copa Rocca 1941 - Leônidas da Silva |
Para 2008, sabíamos que nossa principal dificuldade, a
falta de tempo, não seria superada. Ainda assim, decidimos começar a escrever
de maneira sistemática, avançando com o livro ao longo do ano. Devido ao
excesso de trabalho e a um problema pessoal, Sergio não conseguiu dar conta de
sua metade dos textos. Assim, concluí a minha parte e, durante o segundo
semestre, comecei a escrever os capítulos inicialmente a cargo dele. Fui a
Buenos Aires em julho e trouxe mais material exclusivo – infelizmente não foi
possível realizar algumas entrevistas que estavam programadas, que dariam
peculiaridades especiais ao projeto. Foi então que percebi que a ausência das
entrevistas poderia ser compensada – na ausência de um termo melhor – pelas
declarações dos personagens em cada partida.
Nesse particular, tínhamos um material inigualável em
mãos, coletado ao longo de quase 100 anos de reportagens. Bastava ter talento
para discerni-lo, editá-lo e contextualizá-lo. Seria ótimo poder estar com Pelé
e perguntar sobre a cabeçada que ele deu no rosto do argentino Messiano na
partida pela Taça das Nações, em 1964. Mas igualmente rico é o depoimento que
ele deu naquela noite ainda no gramado, a caminho do vestiário, assim como a
repercussão desse fato na imprensa argentina. Fantástico seria perguntar a Maradona
sobre a entrada violenta em Batista na partida pela Copa do Mundo de 1982. Mas
a declaração que está em seu livro sobre o episódio é impagável, assim como o comentário
de Sócrates, logo após a partida, sobre essa agressão.
Foi assim que o livro começou a tomar forma. Eu já não
tinha a intenção de contar a história dos confrontos entre Brasil e Argentina –
mesmo porque, ao relatar o histórico dos jogos da Seleção Brasileira (e, por
contraposição, de seus respectivos adversários), Ivan Soter (“Enciclopédia da
Seleção – As Seleções Brasileiras de Futebol 1914-2002”) e Duilio Domingos
Martino (“História da Seleção Brasileira – 80 anos”, revista “Placar” –
Especial) – só para mencionar dois dos melhores historiadores do escrete –
fizeram trabalhos memoráveis. Minha intenção passou a ser reunir a maior
quantidade possível de histórias que permearam cada jogo, cada campeonato, cada
disputa.
Para realçar a importância dessas histórias, procurei
contextualizá-las utilizando-me de três artifícios: inseri-las no contexto
histórico em que se situavam, fundamentalmente sob os aspectos social, político
e econômico; equilibrar o material exposto, dando espaço para os dois lados na
abordagem de cada fato; e tratei de manter a grafia original de trechos de reportagens
e citações, tanto dos diários brasileiros antigos como, principalmente, do material
que coletamos na imprensa argentina. Tenho claro que essa segunda opção implica
o risco de comprometer a compreensão de parte das frases reproduzidas. Mas
acredito que a perda de entendimento, quando acontecer, será de menor
importância diante do ganho em contextualização que os termos originais
proporcionam. Conto com a similaridade entre os dois idiomas e aposto na busca
de uma abordagem eqüidistante entre as fontes de pesquisa.
Espero que o risco valha a pena. É bom que se diga que
Sergio sempre me alertou sobre esse risco e deixou claro que preferiria que os
trechos em espanhol fossem traduzidos ao português.
Por fim, decidi homenagear os principais protagonistas deste
confronto regional de dimensão mundial: os craques que levaram gerações de
torcedores a se emocionarem com suas jogadas, gols, falhas, declarações e
atitudes. Pequenas biografias futebolísticas de alguns dos principais jogadores
de Brasil e Argentina, ao longo de nove décadas e meia, foram inseridas ao
final de cada capítulo. Não havia espaço para todos, evidentemente, e peço
desculpas pelas injustiças cometidas. Tenho consciência de que o
desenvolvimento de nossa ideia seria um trabalho sem fim – cada um dos personagens que tomou parte destes
primeiros 100 anos de confrontos entre brasileiros e argentinos, em um campo de futebol,
foi protagonista de inúmeras histórias. Além disso, percebi que, assim como
algumas partidas de futebol são mais interessantes que outras, algumas anedotas
são mais divertidas, certas versões são mais críveis, determinados ‘causos’ são
mais fidedignos. Fomos atrás de algumas das narrativas que se encontram
espalhadas nas mais variadas obras sobre as Seleções Brasileira e Argentina.
Encontramos mais detalhes acerca de algumas delas;
descobrimos outras versões dos mesmos fatos; e, o que nos deu mais gosto, nos
deparamos com novas histórias que enriquecem ainda mais esse mosaico único no
mundo, formado pelas partidas entre os dois selecionados. Sempre encarei esse
projeto como um trabalho conjunto. Quando concluído, decidi publicá-lo com os
nomes dos dois autores na capa. Sergio não aceitou, argumentando que sua participação
na escrita foi menor e que gostaria de figurar como um colaborador. Entendi e
aceitei – mesmo porque tenho certeza de que, fossem invertidos os papéis, ele teria
escrito um livro bem diferente, e provavelmente muito melhor. Sergio foi mais
do que um colaborador: foi dele a ideia original; quando conversávamos sobre o
projeto, eram dele as melhores contraposições sociais e políticas; devo a ele
as cópias dos exemplares colhidos na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; e minha
primeira viagem a Buenos Aires não teria sido tão bem-sucedida sem a sua
presença. Esse livro é tão dele quanto meu.
Sinto muita alegria em poder compartilhar a maioria das
histórias que conseguimos reunir e ordenar, de ambos os lados da fronteira, na
expectativa de que proporcionem tanta satisfação como a que sentimos ao realizar este trabalho.
Com todo o respeito a Lima Barreto e Jorge Luis Borges, citados nas epígrafes que
abrem esta apresentação, para muitos de nós o futebol vai muito além de uma
disputa entre ignorantes. E mais ainda quando o assunto é Brasil x Argentina...
INTRODUÇÃO
“El clásico entre argentinos y brasileños merecería un
libro entero, inclusive una colección”. Opinião do jornalista argentino
Guillermo Enrique Knoll (“Historias seleccionadas – curisosidades del equipo de todos”, pág. 61).
“O árbitro chamou os dois capitães para a escolha de
campo e início do esperado cotejo. Mário Pernambuco e o goleiro Rithner atenderam. Então, os
capitães de Brasil e Argentina assistiram a Luís Muratore, ministro das
Relações Exteriores da Argentina, jogar a moeda para o alto. Seria exagero
dizer que, por um instante, os movimentos tectônicos do continente
sul-americano pararam?”. Descrição dos momentos prévios à partida entre
Argentina e Brasil, realizada em 27 de setembro de 1914, válida pela Copa Roca.
(“Visão do Jogo – os primórdios do futebol no Brasil”, pág. 103).
Corinthians x Palmeiras. Boca Juniors x River Plate. Milan x
Internazionale. Mais do que simples jogos de futebol, são “clássicos”. A mesma
palavra é utilizada nos idiomas dos países que se tornaram campeões mundiais de
futebol em Copas do Mundo para fazer referência às partidas envolvendo as
equipes mais tradicionais de determinadas regiões.
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Zico e Maradona, na Copa de 1982. |
Mas se alguns desses confrontos se restringem ao âmbito
de uma cidade, como Guarani x Ponte Preta, outros movimentam todo um país, como
Barcelona x Real Madrid, ou um continente inteiro, como Inglaterra x França.
Este livro defende a ideia de que Brasil x Argentina é o
maior clássico do futebol mundial. Afinal, quando se cruzam, as camisas
“canarinho” e albiceleste levam a campo uma rivalidade que não tem parâmetros
de comparação no planeta. Aos argumentos, pois.
* A Argentina é a seleção que o Brasil mais vezes
enfrentou. E o Brasil é o segundo maior rival histórico da Seleção Argentina,
atrás apenas do Uruguai. Buenos Aires é a cidade estrangeira em que a Seleção
Brasileira mais atuou.
* O equilíbrio na disputa é extremo, considerando-se
partidas contando com equipes tidas como as principais de seus países e
organizadas por uma entidade representativa de cada nação. Segundo a
Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 92 partidas disputadas até o final
de 2008 o Brasil venceu 36 jogos, a Argentina 33 e houve 23 empates. Por sua
vez, de acordo com a Associação do Futebol Argentino (AFA), de 93 confrontos o
Brasil ganhou 36, a Argentina 34 e as seleções empataram em 23 oportunidades. A
discórdia está em um jogo realizado em dezembro de 1956, vencido pela Argentina
e não reconhecido pela CBF, sob a alegação de que se tratava de um selecionado regional.
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Brasil x Argentina, Copa 1978. |
* Das 18 Copas do Mundo organizadas pela Federação
Internacional de Futebol Associado (FIFA) até 2006, 11 tiveram ou Brasil ou
Argentina na final. Juntos, os dois países somam sete títulos mundiais (cinco
do Brasil e dois da Argentina), e cada seleção obteve dois vice-campeonatos.
* Em disputas pelo Campeonato Sul-Americano de Seleções,
que a partir de 1975 passou a ser denominado Copa América – a mais antiga
competição entre países de todo o mundo – jamais Brasil ou Argentina conseguiu
vencer jogando no campo do adversário, em 42 edições do torneio.
* Grandes tabus foram estabelecidos e quebrados ao longo
dos primeiros 94 anos de história oficial do clássico, como os 34 anos que o
Brasil ficou sem vencer a Argentina por torneios sul-americanos (de 1922 a
1956); os 20 anos em que o Brasil não conseguiu bater seu principal rival na
Argentina (de 1940 a 1960); ou ainda os 13 anos em que a Argentina não
conseguiu superar a Seleção Brasileira (de 1970 a 1983).
* A Argentina é a única seleção que conseguiu vir ao
Brasil e impor derrotas à seleção canarinho mesmo sobre equipes que haviam
brilhado em Copas do Mundo (5 x 1 em 1939; 3 x 2 em 1963; 3 x 0 em 1964). Por
outro lado, a Seleção Brasileira venceu a rival sete vezes na casa do
adversário, número somente inferior às conquistas obtidas pelo Uruguai (oito
vitórias, mas em número bem maior de jogos até 2008).
* Em quase 50% dos confrontos ao longo da história houve
confusões, brigas ou expulsões.
* Em dezembro do ano 2000 a FIFA decidiu eleger o Melhor
Jogador do Século. O prêmio, promovido pela FIFA Magazine (periódico publicado
pela entidade) e por uma comissão de ex-jogadores, técnicos de futebol e
jornalistas, consagrou um brasileiro: Pelé. Na mesma ocasião, um argentino,
Diego Maradona, recebeu o Prêmio FIFA Internet ao vencer votação realizada
entre 30 de outubro e 24 de novembro daquele ano na rede mundial de
computadores.
* Como parte das comemorações de seu centenário, em 2004,
a FIFA divulgou uma lista dos 125 maiores jogadores de futebol vivos. De acordo
com a entidade, a escolha dos homenageados contou com a supervisão de Pelé. Na
polêmica lista, que recebeu inúmeras críticas, o Brasil aparece com o maior número de menções
(15 nomes), ao passo que a Argentina teve dez jogadores lembrados (atrás apenas de
Itália e França, com 14 nomes citados, e Holanda, com 13).
* Por sua vez, em sua biografia Maradona faz uma seleção
de 100 jogadores que, ele esclarece, que não se trata de um ranking, mas de uma
homenagem. Em nada menos polêmica que a de Pelé, a lista apresenta 43 nomes de
argentinos (os mais mencionados), seguidos por 10 brasileiros (número igual aos
italianos apontados).
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Argentina, campeã mundial sub-20 em 2007. |
* Em campeonatos mundiais juvenis (chamados de Sub-20
pela FIFA), Argentina e Brasil são os maiores vencedores. Em 16 edições da
competição, até 2007, a Argentina foi campeã em seis oportunidades, e o Brasil
venceu quatro vezes. A Argentina esteve em sete finais e o Brasil em seis.
Disputaram o título duas vezes: em 1983, o Brasil venceu por 1 a 0; em 1995, a
Argentina foi campeã ao derrotar o Brasil por 2 a 0.
* A Argentina se considera “el país del mundo que más
trofeos ganó en el nível internacional”. Contabiliza, ao todo, 230 conquistas
até dezembro de 2008 – 45 títulos que considera oficiais com suas diversas
seleções (principal, Sub-23, Sub-20, Sub-17, equipes pan-americanas – incluindo
troféus de Fair Play); mais 126 Copas e torneios considerados não-oficiais; e
59 títulos internacionais conquistados por clubes argentinos. A CBF não tem, em
sua sala de troféus, tantas peças quanto a AFA. No entanto, até o Mundial da Alemanha
de 2006 a Seleção Brasileira era a única que havia vencido cinco Copas do Mundo
– o campeonato mais importante e cobiçado do planeta. Além disso, só o Brasil conquistou
títulos mundiais da FIFA nas categorias adulto, Sub-17 (3 vezes) e Sub-20 (4 vezes).
* Em todos os mais de 200 países filiados à FIFA surgiram
bons jogadores de futebol. Mas os craques, na acepção da palavra, contaram-se
em poucas centenas ao longo dos 104 primeiros anos da entidade. Somente Brasil
e Argentina conseguiram apresentar inúmeros craques, reconhecidos pela imprensa
mundial, em todas as décadas do século 20.
* A maneira específica de se jogar futebol por
determinados países ou regiões derivaram nas chamadas “escolas”. Fala-se,
assim, na “escola britânica” (recheada de cruzamentos na área), na “escola
holandesa” (intensa movimentação entre os jogadores), na “escola alemã” (vigor
físico aliado a velocidade). Não há “escolas” no mundo que representem uma
maneira de jogar tão bonita, eficiente, ofensiva e vencedora como o fizeram,
tradicionalmente, brasileiros e argentinos.
* O futebol é uma paixão mundial e o esporte principal em
muitos países. Mas a importância que o futebol assumiu como fator de identidade
e cultura nacionais, tanto no Brasil como na Argentina, parece não ter exemplos
comparáveis. Os dois, com toda a propriedade, se intitulam “país do futebol”.
Por essas razões, essa obra argumenta que a partida
Brasil x Argentina se transformou no maior clássico do futebol mundial. Um
confronto permeado de histórias fascinantes que foram surgindo com o passar dos anos. A intenção deste
livro é contar algumas dessas histórias, que ajudam a entender como foi
construída essa relação de respeito e rivalidade, com pitadas de admiração, inveja, amor e ódio que
envolvem brasileiros e argentinos quando o assunto é futebol.
Sobre o Autor
Newton César de Oliveira Santos é professor,
jornalista e micro-empresário. Paulistano e corinthiano, acompanha a Seleção
Brasileira desde a preparação para a Copa do Mundo de 1974. É do tipo de
torcedor que acha que a Seleção tem obrigação de jogar bem e vencer todos os
jogos que disputa – e sofre bastante por causa disso. Sempre teve raiva de argentinos,
até descobrir, durante a preparação deste livro, o porquê de tanta bronca: os
“hermanos” têm um futebol com tradição, estilo e quantidade de craques que se
equipara ao brasileiro. Ainda torce contra os maiores rivais, claro; mas já é
capaz de reconhecer, publicamente, que admira a maneira como eles jogam bola.
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