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Aurélio Miguel, primeiro ouro olímpico. |
O Brasil é bom de bola, mas existem várias modalidades
olímpicas em que temos vários craques. Em uma delas, o Judô, a cada competição
mundial ou olímpica, a esperança de medalhas é sempre grande. Não será
diferente nos próximos Jogos Olímpicos que acontecem em Londres e com certeza,
no Brasil, em 2016.
Na história dos Jogos Olímpicos o judô brasileiro acumula
15 medalhas: duas de ouro, três de prata e dez de bronze. Chiaki Ishii foi
nosso primeiro medalhista olímpico quando conquistou o bronze em 1972, nos
Jogos de Munique. O primeiro ouro viria somente 16 anos depois, em Seul, com
Aurélio Miguel. Nos Jogos seguintes, em Barcelona, o santista Rogério Sampaio
repetiria o feito.
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Tiago Camilo |
Nos últimos Jogos Olímpicos,
em Pequim, Tiago Camilo, ficou com a prata. Além de Tiago, outros dois judocas
brasileiros ficaram com o bronze: Leandro Guilheiros e Ketleyn Quadros.
Leandro
também conquistou o bronze nos Jogos de Pequim e passou a ser o primeiro judoca
com dois bronzes em Jogos Olímpicos consecutivos.
Ketleyn fez história em
Pequim com sua medalha, pois se tornou a primeira mulher brasileira a
conquistar tal feito em uma prova individual.
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Ketleyn Quadros |
Não faltam nomes para
justificar a fama e o respeito do judô brasileiro em todo o mundo. E para
entender as razões de tantas conquistas, o gaúcho Alexandre Velly Nunes acaba
de defender sua tese de doutorado, na Escola de Educação Física da USP, com um
estudo que tem tudo para se transformar em livro muito em breve.
Confira o artigo de Paloma
Rodrigues, da Agência USP de Notícias, reproduzido com a autorização de
Alexandre Velly Nunes.
Pesquisa da EEFE liga imigração
japonesa ao início do judô no país
Por Paloma Rodrigues
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Estudo elaborou árvores genealógicas dos nossos principais judocas. Foto: Wikimedia - Kodokan e federações de judô do Japão. |
A imigração japonesa foi fundamental para a consolidação do judô no
Brasil. Pesquisa do doutorando Alexandre Velly Nunes, da Escola de Educação
Física e Esporte (EEFE) da USP, montou uma árvore genealógica da formação dos
atletas brasileiros, desde o ingresso das primeiras gerações do esporte no
País, na década de 1960, até os nossos mais recentes medalhistas olímpicos e
mundiais. Nunes foi orientado pela professora Katia Rubio, também da EEFE.
Para montar essa árvore genealógica, Nunes entrevistou todos os
medalhistas olímpicos e mundiais brasileiros da história. Durante quatro anos,
foram realizadas 90 entrevistas. Elas partiram de 23 atletas medalhistas, que
conquistaram 38 medalhas, sendo 15 em jogos olímpicos e 23 em campeonatos
mundiais.
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Rogério Sampaio, ouro em Barcelona. |
A trajetória da carreira desses atletas, bem como seus mentores e
professores foram anotadas e ajudaram a compor um panorama geral da formação do
judô no Brasil. “O meu foco principal era entender como eles tinham chegado ali
e quem foram as pessoas que os influenciaram”, explica Nunes, que atua como
professor de Educação Física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRS).
A partir das entrevistas desses atletas, Nunes foi atrás de seus
professores e fez o mesmo processo: uma entrevista que pedia o relato de suas
carreiras e as suas principais influências. O ciclo se manteve até ser
alcançada a primeira formação de judocas brasileiros.
Genealogia
A grande contribuição desse trabalho está na construção das árvores
genealógicas dos nossos principais atletas, campeões olímpicos e mundiais.
Essas árvores são as que Nunes chama de “Famílias Judoísticas”.
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Árvore de Rogério Sampaio, ouro nos Jogos de Barcelona (1992) Imagem: Divulgação |
Elas evidenciam a
influência japonesa ao ilustrar a base desses atletas, uma base quase que é
inteiramente formada por japoneses.
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Árvore de Tiago Camilo, medalhista mundial no Rio de Janeiro (2007), jogos de Sidney (2000) e Pequim (2008). Imagem: Divulgação |
Popularidade
Nunes diz que há
registros do judô no Brasil desde 1914. Após a segunda guerra mundial, a
“esportivização” da modalidade e o seu ingresso no programa olímpico, em Tóquio
(1964) e definitivamente em Munique (1972) contribuíram para a difusão do
esporte para fora da colônia japonesa.
No pós-Segunda
Guerra Mundial, o Japão estava arrasado e muitos japoneses foram em busca de
melhores condições de vida em outros territórios. O Brasil foi um dos países
que receberam um contingente enorme desses imigrantes.
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Chiaki Ishii |
Esses novos
assentamentos serviram para popularizar o judô em algumas regiões onde a
prática do esporte não era comum. “Isso fica claro quando reparamos nos anos em
que surgiram as federações regionais e seus primeiros dirigentes”, observa
Nunes.
Com essa
oficialização do esporte no País, uma série de novos personagens passa a
integrar essa história. “Antes da guerra, a influência era totalmente nikkei.
Depois, notamos que as formações regionais e o número de professores começam a
ter mais integrantes brasileiros”. O esporte se transforma e passa a ser mais
do que uma atividade cultural. Ele se torna uma competição e isso
internacionaliza o judô.
Esse teor
competitivo torna o judô mais comercial, porque o esporte passa a render muito
dinheiro. Isso faz com que os aspectos educacionais e culturais fiquem um pouco
marginalizados na formação dos atletas, como afirma Nunes:
“A internacionalização tirou um pouco da preocupação dos orientais de
manter a ética e a disciplina durante a atividade.”
O perfil dos
atletas muda. O judô, além de ser um negócio, vira um show.
Ele diz que “como
qualquer movimento cíclico, os excelentes resultados de competição já começam a
ser estudados e eles tem como uma conclusão clara que os aspectos educacionais
precisam ser retomados para que os bons desempenhos sejam alcançados”. Por
isso, as organizações nacionais tem sim de sobreviver como responsáveis por
grandes eventos esportivos, que rendem muito dinheiro, mas sem prejudicar a
formação de seus atletas.
Sobre Alexandre Velly Nunes:
Possui
graduação em Licenciatura em Educação Física pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (1980), Mestrado em Ciências do Movimento Humano pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998) e Doutorado pela Universidade
de São Paulo (2011). Participou do Curso Internacional de Treinadores da
Universidade de Leipzig/Alemanha (1998/99), ênfase em Judô, onde se graduou com
o IV Dan, pela Deutsch Judo Bund
(DJB). Participou de estágio de treinamento na Universidade Kokushikan/Japão,
de Agosto de 1986 a fevereiro de 1987. Atualmente é professor Adjunto da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Membro da Academia Olímpica
Brasileira. Representa o Conselho Federal de Educação Física junto a Comissão
de Combate ao Doping do Conselho Nacional do Esporte. Tem experiência na área
de Educação Física, com ênfase em Treinamento Esportivo, atuando principalmente
nos seguintes temas: judô, luta olímpica, avaliação de atletas, controle de
doping e história oral.
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