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Grande Otelo |
O que é fascinante no futebol é a diversidade de
personagens existentes pelo imenso Brasil. E o que é mais marcante entre tantas
histórias é a capacidade de o brasileiro criar apelidos para seus jogadores,
seja ele um craque ou um “peladeiro”. Não há no mundo nada parecido, uma marca
registrada que virou folclore.
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Fio Maravilha |
O maior de todos, por exemplo, virou Pelé.
Temos um “galo”
que é também Zico. Fio Maravilha, Garrincha, Diamante Negro, Viola, a lista é
interminável.
Só na primeira Copa do Mundo a seleção brasileira tinha Brilhante,
Nariz, Russinho e Preguinho.
Na Copa de 1958, além de Pelé e Garrincha, Zito,
Vavá. No time tricampeão de 1970, Tostão. Em 1994, Cafu, Dunga, Zinho.
No
futebol atual, uma de nossas maiores esperanças para a Copa de 2014 é um Ganso!
A criatividade é enorme.
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Paulo Henrique Ganso |
Mas não existe nada parecido com o que acontece no
Nordeste brasileiro com times desconhecidos: Vaca Brava, Leitoa, Caroço,
Limonada...A lista é interminável, criativa e exótica.
Mas também há nessa região jogador que entrou para a história
que jogou em um grande clube de Natal e que se transformou, acredite, no nosso
Macunaíma do futebol brasileiro!
Quem conta essa história é o escritor Rubens Lemos, da
cidade de Natal, torcedor apaixonado do futebol Potiguar e que lá viu ser
eternizado o nosso Macunaíma. Essa e outras crônicas saborosas podem ser
encontradas no site de Rubens Lemos, http://www.rubenslemos.com.br
Macunaíma com
carinho
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Presidente João Figueiredo |
Plante
que o seu caráter garante. Adapto sem o menor pudor um slogan ridículo dos
estertores da Ditadura, agricultor estimulado a produzir graças aos doces
financiamentos do Governo Figueiredo. Que chegavam, via Sudene, aos donos, aos
plantadores, o sol do envelhecimento e da fome.
O slogan era “Plante que o João Garante”. Em 1979, logo que ele assumiu. Propaganda mais pessoal, escancarada, não havia. Mas os saudosistas do arbítrio hoje podem trombetear. Quem reclamava na época, era porão. Porrada, tortura.
O homem do campo plantou, semeou e colheu secas terríveis, de empoeirar até
bandeira do Palmeiras, tudo o que era esperança, acabou-se. Tempo de
emergência, da procissão dos miseráveis em busca do salário-mínimo. No
interior, verdejante, só mesa de sinuca.
Entre os pobres famintos, gente rica se aproveitou, ganhou dinheiro de sertanejo, até miss ocupou vagão no Trem da Alegria e da Desgraça. Foi no Rio Grande do Norte e a conveniência esqueceu. O problema é a escrita, que não é apagada. Sempre terá alguém com um exemplar remanescente.
Entre os pobres famintos, gente rica se aproveitou, ganhou dinheiro de sertanejo, até miss ocupou vagão no Trem da Alegria e da Desgraça. Foi no Rio Grande do Norte e a conveniência esqueceu. O problema é a escrita, que não é apagada. Sempre terá alguém com um exemplar remanescente.
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Noé Soares (direita), o Macunaíma. |
Em 1979, João não garantiu, mas Noé Macunaíma plantava por que seu caráter
avalizava. Chegou Noé Soares da Portuguesa da Ilha do Governador (RJ), em 1975
para o ABC e virou Macunaíma por ser feio e elétrico jogando. Começou na ponta-esquerda,
foi ponta-direita, ponta-de-lança, meia-armador e volante. Jogou bem em todas.
Macunaíma virou Macunaíma em lampejo do radialista Souza Silva, da Rádio Cabugi (Globo AM hoje), que o comparou ao personagem de Mário de Andrade, vivido por Grande Otelo no cinema.
Macunaíma virou Macunaíma em lampejo do radialista Souza Silva, da Rádio Cabugi (Globo AM hoje), que o comparou ao personagem de Mário de Andrade, vivido por Grande Otelo no cinema.
Macunaíma, o do filme, era o “herói sem caráter”. Macunaíma, o do ABC, era o
oposto dele. Humilde, carismático, eficiente, cativante na fragilidade física. Baltasar,
Danilo Menezes e Noé Macunaíma formaram o meio-campo do ABC Campeão de 1978,
título improvável.
Os três do meio e mais o goleiro Hélio Show, veteranos numa multidão de juvenis promovidos, com destaque para o ponta-esquerda Berg, driblador e artilheiro de carreira destruída pelas pancadas que esfolaram seu joelho. Tinha também Jonas, ótimo centroavante trazido do Náutico.
Os três do meio e mais o goleiro Hélio Show, veteranos numa multidão de juvenis promovidos, com destaque para o ponta-esquerda Berg, driblador e artilheiro de carreira destruída pelas pancadas que esfolaram seu joelho. Tinha também Jonas, ótimo centroavante trazido do Náutico.
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ABC, de Natal, em 1976. Noé Macunaíma é o primeiro agachado a direita. |
O
favorito América ostentava de uma das melhores duplas de ataque da história do
sepultado Castelão (Machadão): Marinho Apolônio na meia-cancha e Aluísio
Guerreiro de centroavante. Ronaldinho, o garrinchinha potiguar, driblava e
redriblava o lateral-esquerdo Noronha. Ronaldinho e Noronha morreram. Depois
foi a vez do estádio. O ABC conseguiu segurar esse time.
Danilo Menezes encerra seu ciclo no ABC em junho de 1980. Noé Macunaíma recebe o bastão, a camisa e nenhuma distinção de honraria. Assume, ao seu jeito serelepe, o coração da massa alvinegra. Há jogadores que nem o mais radical torcedor adversário consegue odiar: Noé Macunaíma foi um deles.
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ABC de 1975. Noé Macunaíma. (agachado, primeiro a direita) |
O ABC apanhou do América nos anos 1980 como os adversários de Anderson Silva no
UFC.
O hiato foi no timaço entre 1983 e 1984, com Dedé de Dora, Marinho e
Silva. E lá, no cantinho dele, reserva sem reclamar, Noé Macunaíma, a graça
interior numa plástica de Zezé Macedo dos gramados.
Noé
Macunaíma, o nosso, desmente o consagrado anti-herói do escritor Mário de
Andrade, um dos consagrados romancistas da literatura nacional.
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Noé Macunaíma |
O Macunaíma de Mário de Andrade era preguiçoso, traidor, mentiroso, dono de um
repertório de palavrões terríveis e petrificado na história cinematográfica
brasileira pela interpretação de Grande Otelo.
Macunaíma foi vítima da malandragem de Danilo Menezes. Macunaíma, o Noé, é um
homem diferente.
Em 1975, ABC disputando campeonato perdido para o América,
Danilo diz ao repórter Souza Silva que Noé é filho de Grande Otelo, o Macunaíma
do cinema.
Souza Silva sustenta a mentira ao microfone, a torcida do ABC acredita. Grande
Otelo, em Natal para uma apresentação no teatro, entra na sacanagem e é
apresentado “ao filho” num programa esportivo da Rádio Cabugi.
Os dois se abraçam e Otelo diz que vai embora sabendo que no Rio Grande do Norte encontrou um novo amigo.
Os dois se abraçam e Otelo diz que vai embora sabendo que no Rio Grande do Norte encontrou um novo amigo.
Que não era seu filho, pois ele sempre foi
bonito e não produziria o contrário de um Narciso.
Noé Macunaíma é o verdadeiro personagem brasileiro.
De semelhante com o do
filme, a aparência de amuleto, que foi, durante anos, de uma torcida sedenta
por títulos.
Saciada pelos seus dribles curtos, seus gols de falta, seu amor ao clube. Sua
doçura cativante. O caráter que plantou, semeou e dele colheu o amor do povo da
Frasqueira. Um craque construído pelo carinho.
Sobre o autor:
Rubens
Manoel Lemos Filho nasceu em Natal (RN) em 20 de agosto de 1970. É jornalista
desde abril de 1988. Trabalhou como editor e repórter em jornais como a Tribuna do Norte e Dois Pontos e editor de cadernos especiais no Diário de Natal. Foi editor dos telejornais Bom Dia RN e RN TV da
afiliada Rede Globo em Natal, da TV Potengi (Band Natal). Coordenou assessoria
de imprensa em cinco campanhas eleitorais. Foi
subsecretário de Comunicação Social do Estado de 1995 a 2001 e Secretário de
Comunicação de 2003 a 31 de março de 2010. É Coordenador de Comunicação Social
da Assembleia Legislativa do RN e colunista do Jornal de Hoje. Autor
de dois livros: Danilo Menezes, o Último
Maestro (2001) e o Homem Óbvio (2009).
Por onde anda Noé Soares "Macunaima"?
ResponderExcluirO meu irmão Noé Soares"Macunaíma"encerrou a carreira de jogador de futebol, e mora em um condomínio no bairro Candelária, se dedicando com muito carinho,a esposa, filhas e três netinhos lindos .
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