Neymar, Messi, Garrincha, Canhoteiro, Denner e tantos
outros craques do mundo da bola se não tivessem nascido com o talento para
jogar futebol bem que poderiam ter sido músicos. Isso mesmo. E se tivessem
nascido no início do século 21 certamente teriam sido especialistas no gênero
musical conhecido na época por “tango brasileiro” ou simplesmente “choro”.
A analogia entre os talentos dos craques da bola e a
música que permanece eterna é simples: para ser um bom “chorão” há de se ter destreza
dos instrumentos, capacidade de improviso e puro virtuosismo.
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Ernesto Nazareth |
O nosso Neymar, do “Choro”, chama-se Ernesto Nazareth,
pianista e compositor, considerado um dos maiores especialistas neste gênero
musical e também compositor de vários gêneros como samba, polca, fox-trot,
valsa e outros que ficaram famosos no mundo inteiro.
Neymar permanecerá eterno, mesmo que não tenha sucesso
nas grandes competições ou fora do Brasil.
É o que acontece com Ernesto
Nazareth às vésperas do ano em que completaria 150 anos de existência.
Ele é o primeiro compositor no mundo a ter sua
discografia completa disponibilizada online por um projeto sensacional do
Instituto Moreira Salles, coordenado por Bia
Paes Leme e Paulo Aragão, inspirado em pesquisa grandiosa de um de seus maiores
especialistas, Alexandre Dias: http://www.ernestonazareth150anos.com.br
O mais espetacular em Ernesto Nazareth é que ele era
praticamente surdo desde os 10 anos de idade como consta no site do IMS: “Aos
dez anos de idade, cai de uma árvore, sofrendo forte concussão na cabeça,
seguida de hemorragia nos ouvidos, principalmente no direito. Com o passar dos
anos, as sequelas levariam-no à quase completa surdez”.
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Ernesto Nazareth aos 7 anos. Crédito: www.ernestonazareth150anos.com.br |
Compôs sua primeira música quando tinha apenas 14 anos,
mas somente em 1902 teve uma música gravada, pois foi neste ano que se
iniciaram as gravações em disco pela Casa Edison (Odeon).
Era o ano também da
disputa do primeiro Campeonato Paulista de futebol e também o da fundação do
Fluminense do Rio de Janeiro.
Nazareth era carioca, nascido no ano de 1863, no
bairro de Santo Cristo, no Rio de Janeiro e pela pesquisa publicada no site do
IMS sobre sua vida é possível afirmar que Ernesto Nazareth era apaixonado por
futebol...Quer dizer, pelo Fluminense...
A prova que o futebol bem jogado, feito de gols e
craques, inspirava Ernesto Nazareth (assim como Neymar e Messi hoje), é uma
música que ele publicou em 1920 dedicada ao “distincto player José Carlos
Guimarães (Zezé)”, o artilheiro tricampeão do tricolor carioca em 1917-18-19. É
assim que o site do IMS descreve a história:
“Menino de ouro, tango brasileiro publicado em 1920
pela Casa Carlos Gomes. dedicado “ao distinto player José
Carlos Guimarães (Zezé)”. O artilheiro Zezé jogou para o Fluminense entre 1915 e
1928, e teve também participação destacada em jogos da seleção
brasileira. Sua fama provavelmente foi grande na década de 1910, pois sua
participação poderia por vezes determinar a vitória do time, fazendo 5 gols em
uma só partida. A homenagem de Nazareth foi feita logo após o triênio em que o
tricolor foi campeão consecutivo no Campeonato Carioca, e em que Zezé marcou um total de 42 gols: 1917, 1918 e 1919.
Foi gravada pela primeira vez por volta de 1920 pela
Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, e até 2012 recebeu sete
gravações comerciais.
Em um dos CD-ROMs inclusos no livro A Casa Edison
e seu Tempo (Biscoito
Fino, 2002), de Humberto Franceschi, encontra-se um arranjo manuscrito de Menino de
ouro para banda, presente no acervo coleção de Fred
Figner e cujo arranjador é desconhecido.
Este arranjo provavelmente é o mesmo
gravado pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio quando a música havia acabado
de ser lançada”.
Vale a pena ouvir a música de Ernesto Nazareth feita em
homenagem ao craque tricolor Zezé, na interpretação de Alexandre Dias:
Mas Ernesto Nazareth teve outras músicas consagradas ligadas
ao tema futebol. Em 1911 o tango “Perigoso”, dedicado a seu amigo Lino José
Barbosa, proprietário da Casa Mozart, poderia, segundo seu biógrafo Luiz
Antonio de Almeida, “fazer referência ao apelido de um jogador de futebol da
época”.
Música "Perigoso", de Ernesto Nazareth.
Outra música composta por Ernesto Nazareth que, na época,
1907, não tinha a ver com o tema futebol, ganhou muito tempo depois letra de
José Miguel Wisnik e utilizada como encerramento do filme sobre a vida de
Garrincha “Estrela Solitária”, de 2003. A interpretação de Elza Soares é
inesquecível.
Elza Soares interpreta composição de
Ernesto Nazareth e José Miguel Wisnik.
Ernesto Nazareth só não merecia o final de vida trágico
que teve. Em 1932, já com surdez avançada, é diagnosticado como portador de
sífilis, e é internado no Pavilhão Guinle do Hospício D. Pedro II, na Praia
Vermelha.
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Cachoeira na qual foi encontrado o corpo de Ernesto Nazareth. Crédito: www.ernestonazareth150anos.com.br |
No ano seguinte, é internado na Colônia Juliano Moreira,
em Jacarepaguá. A loucura o levou a fugir do local no ano seguinte, em 1934.
Foi encontrado morto três dias depois nas águas da “Cachoeira do Cigano”,
situada aos fundos do manicômio. Segundo Ricardo Mota, do site “Tudo na Hora” (http://blog.tudonahora.com.br/ricardomota/2012/04/01/um-homem-chamado-nazareth/):
“Um achado macabro e surpreendente. Seu corpo
estava em pé, vertical, e tinha as mãos para frente, como se estivesse
tocando um piano”.
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Ernesto Nazareth aos 42 anos. Crédito: www.ernestonazareth150anos.com.br |
Para saber mais
sobre a vida e a obra de Ernesto Nazareth, acessar:
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