Trinta anos se passaram e
até hoje ela é a seleção mais discutida entre torcedores e jornalistas. Nem
mesmo a fatídica derrota para a Itália fez mudar a idolatria pela Seleção Brasileira
de 1982. Uma paixão muitas vezes “cega”, mas que agora é, finalmente, revista
em seus mínimos detalhes, pelo livro “Sarriá 82 – O que faltou ao futebol arte?”,
mais um lançamento da Editora Maquinaria com patrocínio da MPE – Engenharia e
Serviços.
Os autores são dois cariocas
apaixonados pelo futebol, Gustavo Roman e Renato Zanata Arnos.
A obra tem ainda prefácio de Mauro Beting e textos de apresentações de Lédio
Carmona e Mauro Cezar Pereira. Evidentemente, os personagens centrais desta
seleção não poderiam ficar de fora. Foram ouvidos os jogadores Zico, Júnior,
Leandro, Batista, Oscar, Paulo Isidoro, Adílio e Reinaldo, além de uma enorme
pesquisa em acervos de jornais, revistas e livros. Outra ferramenta de pesquisa
importante foi o acervo em vídeo de jogos da Seleção Brasileira de Gustavo
Roman, um dos maiores do mundo.
O livro deve ser lançado
próximo da data em que o Brasil acabou desclassificado pela Itália, na Copa de
1982, em 5 de julho. Enquanto isso, apresentamos as observações dos jornalistas
convidados pela dupla de autores sobre o conteúdo da obra. Primeiro, Mauro
Cezar Pereira, comentarista dos canais ESPN, responsável pela “orelha” do livro
e logo a seguir, Lédio Carmona, comentarista do canal SPORTV, que escreveu a “quarta
capa” da obra. E mais abaixo, uma bate papo com um dos autores, o jornalista
Gustavo Roman.
“O Brasil não ganhou a Copa disputada na Espanha,
mas entrou na história. Como húngaros de 1954 e holandeses de 1974, os
“canarinhos” de 1982 serão, pela eternidade, considerados superiores à maioria
dos que levantaram o troféu. Mas por que perderam? O que explica os 2 a 3
protagonizados por Paolo Rossi?
Fatalidade, azar, casualidade, um dia
ruim...Desculpas são muitas, e fáceis de criar. Difícil é entender o que há por
trás de um desfecho tão surpreendente para a maioria massacrante dos que
acompanhavam, torciam e se deliciaram com o talento de Leandro, Júnior, Falcão,
Cerezo, Zico, Sócrates, Éder...
O triangular foi aberto pela Argentina, campeã
mundial e reforçada pelo prodígio Maradona. Era favorita ante a Itália, que não
vencera na primeira fase. Mas o calcio mostrou sua velha faceta, fingir-se de
morto para inesperadamente, apunhalar o inimigo. Assim, merecidamente, a Azurra
derrotou a albiceleste.
No duelo seguinte, o Brasil superou os rivais. No
programa noturno da TV Globo, debatedores quase gargalharam quando Zezé Moreira
alertou para as virtudes dos italianos, próximos oponentes dos brasileiros, que
jogariam por um empate em Barcelona.
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Paolo Rossi, o carrasco brasileiro. |
O experiente técnico era um observador de Telê
Santana, e notou que a Azurra renascera. E tinha ótimos jogadores. Como Rossi.
O “Bambino D’Oro” escolheu a seleção do momento como vítima para despertar e
disparar sua série de tentos que conduziriam a Itália ao terceiro título.
Zezé tinha razão. E avisou antes. Mas as
explicações vão além daquele quase ignorado alerta do velho mestre, homem que
armava uma sólida defesa como poucos.
Algo que faltava à seleção de Telê, defensor de
nobres ideais, mas que atingiria a maturidade como treinador apenas algum tempo
após a derrota no Sarriá.
Nas próximas páginas, você entenderá porque a
Seleção de Telê estava longe da perfeição. Conhecerá seus defeitos,
vulnerabilidades, pontos fracos explorados pela Itália em 1982. E perceberá
isso não apenas graças às análises dos autores, mas também pelas palavras dos
atletas. Sim, se pudessem voltar lá, eles fariam diferente. Eu também”.
“Quanto mais o tempo passa, novas teorias surgem
para explicar porque aquela fantástica Seleção Brasileira perdeu a Copa. Qual é
o enigma da Tragédia do Sarriá? O ótimo livro dos amigos Gustavo Roman e Renato
Zanata Arnos é a esperança diante desse mantra interrogativo. Roman, sobrenome
de craque argentino, e Zanata, referência a um clássico apoiador brasileiro nos
anos 70, estão dispostos a desmistificar esses fantasmas. Roman estuda
jornalismo. Zanata é professor de História. Ambos amam o futebol. E se
transportaram para os anos Pré-Mundial 82 e até a Copa da Espanha para tirar
todas as nossas dúvidas. Viram e reviram os jogos. Entrevistaram personagens e
testemunhas. Entraram dento da história. Eu aposto nessa viagem, como sempre
apostei no mega-time de Telê Santana”.
Literatura na
Arquibancada:
Qual a
justificativa de rever a trajetória da seleção brasileira de 1982 em busca de
respostas para a eliminação contra a Itália?
Gustavo Roman:
Aproveitamos o fato de a derrota estar completando 30
anos e resolvemos desmitificar alguns pontos em relação àquela seleção. É claro
que, com a bola nos pés, era um time lindo de se ver jogar. Tínhamos quatro
gênios (Zico, Sócrates, Falcão e Júnior) além de outros grandes jogadores
(Leandro, Luisinho, Cerezo). Depois de 1970 esta foi individualmente a melhor
seleção brasileira que se formou. Infelizmente, taticamente, não podemos dizer
o mesmo. Então, posso dizer que a justificativa principal da obra é exaltar,
onde o time precisa ser exaltado e ao mesmo tempo, criticar a parte tática da
equipe.
LA:
Como foi o processo de produção da obra? (tempo, métodos
utilizados, acervos, etc)
GR:
A obra durou cerca de seis meses para ser concluída. O
tempo foi um pouco maior porque assistimos as partidas do Brasil de 77 até 82,
para entendermos o processo de formação da equipe. Basicamente, nós atuamos em
duas frentes. A primeira, revendo os vts dos jogos (que eu possuo em meu
acervo) e a segunda fazendo pesquisas em livros, revistas, blogs, sites e
jornais. E, claro fazendo as analises táticas.
LA:
Existem novos fatos que explicam a derrota brasileira para
a Itália na Copa de 1982?
GR:
Acho que existe uma análise em todo o processo. Posso
citar como exemplo, o problema da ponta direita. Tita e Paulo Isidoro passaram
praticamente os dois anos de preparação para a Copa revezando-se na posição.
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Paulo Isidoro |
Na estreia da Copa, entra o Dirceu e dali em diante o
Falcão. Combinou-se de haver um revezamento para ocupar aquele lado do campo.
Entretanto, segundo os próprios jogadores, isso sequer foi treinado. Além
disso, ao revermos e analisarmos o videoteipe dos jogos, conseguimos tirar
aquela memória seletiva, na qual lembramos apenas dos méritos daquele time, nos
esquecendo dos equívocos.
LA:
Quais as maiores virtudes e os maiores defeitos da
seleção brasileira de 1982?
GR:
Acho que a grade virtude daquele time foi colocar em
campo os melhores de cada posição com a bola nos pés. Claro que vai haver
grande discussão em torno do nome do Serginho e do Valdir Peres, mas 95% do
time era formado pelos melhores jogadores, tecnicamente falando.
![]() |
Comissão Técnica da seleção brasileira |
O grande pecado daquela seleção foi a falta de uma estrutura
tática mais sólida (decorrente da mudança do posicionamento em cima da hora do
mundial). Os avisos foram dados durante a preparação, quando a falta de
cobertura dos defensores já era um problema.
LA:
No texto assinado no livro pelo comentarista Mauro Cézar
Pereira, ele cita: “Fatalidade, azar, casualidade, um dia ruim...”.
Para vocês, autores, o que aconteceu?
GR:
Na realidade, a Itália tinha um grande time. E naquele dia, além
de ter sido mais eficiente, conseguiu jogar dentro de suas características. Vale
lembrar que o Brasil jogava com a vantagem do empate e a Azurra teria que
atacar.
Porém, não conseguimos atuar nem 10 minutos com essa vantagem.
Isso fez com que os italianos ficassem a vontade, jogando da maneira como
gostavam, fechados, explorando os contra-ataques. E também tivemos alguns erros
individuais naquele dia que prejudicaram, e muito a seleção.
LA:
A seleção de 1982, como toda e qualquer seleção, não era
“perfeita”. O que faltava aquele grupo?
GR:
Faltou um pouco mais de estrutura tática. Um esquema melhor
definido, treinado. Com a qualidade individual que tínhamos, se tivéssemos
atuado de maneira estruturada, provavelmente teríamos vencido a Copa.
LA:
Ao afirmar que "faltou um pouco mais de estrutura
tática”, pode-se dizer que Telê falhou?
GR:
Não sei falhar é a melhor palavra. O Telê, todos sabem,
era adeptos de inúmeros coletivos para acertar o time. E ele passou dois anos
preparando o time de uma maneira e na hora da Copa, entrou com outra. O próprio
Zico fala no livro que o Paulo Isidoro deveria ter sido titular no
mundial, nem que fosse no lugar do galinho mesmo, tal a sua importância tática.
O Leandro passou a Copa abandonado por lá. Outra coisa que
atrapalhou foi a indefinição do centroavante. Mas acho falhar muito forte.
Ele talvez tenha se equivocado. E tudo isso serviu pra ele atingir o ápice a
maturidade como treinador quase uma década depois, no São Paulo.
LA:
Por que se criou quase um “mito” em torno dessa seleção
de 1982, mesmo derrotada na Copa?
GR:
Porque foi a última seleção a atuar de forma romântica.
Atacávamos mesmo podendo nos resguardar um pouco mais. Além disso quem não
gostou de ver Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Leandro, Cerezo, Éder e Luisinho
atuando juntos. Eram jogadores fantásticos. Infelizmente, nem sempre vence quem
tem mais qualidade.
LA:
Levou-se muito tempo para que se reconhecessem as
virtudes da seleção italiana naquele jogo e naquela Copa. Conseguiram resgatar
algo (com e sobre eles) no livro?
GR:
Damos todos os méritos a Azurra. Ela atuou de maneira
inteligente, taticamente muito bem definida para explorar as fraquezas do
Brasil. E ninguém pode dizer que Antognioni, Tardelli, Zoff e, especialmente
Conti (que para nós foi o melhor jogador daquela Copa) eram grandes jogadores.
Com a vantagem de ter um esquema tático sólido por trás.
LA:
O resultado negativo na Copa influenciou de alguma
maneira o estilo de jogo de futuras seleções (brasileiras e de outros países)?
GR:
Sem dúvida. O futebol mundial costuma se basear em quem
vence. Infelizmente, entendeu-se errado o que aconteceu. A Itália, mesmo defensiva,
até por questões culturais, era um baita time. Equivocadamente, passou a
colocar-se o time todo atrás, sem alternativas para atacar. Não tenho dúvida de
afirmar que se o Brasil tivesse conquistado a Copa, o modelo teria sido o
futebol ofensivo.
LA:
O que seria, afinal, o tal rótulo de “futebol-arte” que
aquela seleção ganhou?
GR:
Futebol-arte quer dizer um time técnico, de maneira
extremamente ofensiva, jogado com a bola nos pés. Devido a grande qualidade dos
jogadores, via-se muitos dribles, jogadas individuais, passes em profundidade.
Enfim, acho que equivale ao futebol em sua essência.
LA:
O livro tem participações especiais de Mário Marra (CBN),
André Rocha e Ariel Judas (correspondente argentino em Nova York). O que trazem
exatamente?
GR:
São participações muito importantes. O Marra fala um
pouco do Reinaldo e o que ele fez em gramados europeus, pouco depois da
eliminação da Copa. O André traz todo seu conhecimento tático para as análises
que fizemos e o Judas traz a palavra de admiração que aquela equipe conquistou,
até mesmo em um argentino.
LA:
Para muitos torcedores e jornalistas, a seleção de 1982,
mesmo derrotada, seria a melhor da história. Concordam com isso?
GR:
Acho que todos vamos concordar que a melhor seleção da
história foi a de 70. Depois vem a de 58. Essa foi uma grande equipe, que de
tão brilhante, é lembrada até hoje, sem nem mesmo ter chegado as semifinais da
Copa. Não é a melhor, mas está certamente entre as melhores.
Sobre os autores:
Gustavo Roman tem 36 anos, estuda jornalismo e é um dos
maiores colecionadores de jogos de futebol do mundo.
Colabora com Mauro Beting
em seus livros e blogs, já tendo participado de vários programas de TV e rádio,
como o “Loucos por Futebol”, “Beting e Beting.”
Sempre foi apaixonado por
futebol. Administra dois blogs. O www.futebolpitacos.blogspot.com, onde
fala de futebol atual e o www.futebolacervo.blogspot.com onde fala da história do futebol.
Renato Zanata Arnos é niteroiense, 45 anos, e formado em
História. É o idealizador do blog "Resenha Tática" (http://resenhatatica.blogspot.com.br/),
administra em parceria com o jornalista Wagner Bordin, o blog "Futebol
Argentino" no portal Globoesporte.com (http://globoesporte.globo.com/platb/futebolargentino),
e conta com vários artigos publicados no blog do jornalista Mauro Cezar Pereira
dos canais ESPN. Entre 2010 e 2011 Zanata Arnos trabalhou na TV Esporte
Interativo como comentarista de futebol argentino, espanhol, alemão, Inglês, e
ainda, dos campeonatos estaduais, e Brasileiro, sempre priorizando as análises
táticas.
Tele deixou Dinamite....Edinho....e batista no banco.Nao levou Leao.Luisinho se superou,na copa,contra a Italia jogou melhor ate que Oscar.Mas o edinho era um genio.Batista,vimos oque ele jogou contra a Argentinha.ja pensou Zico e Dinamite tabelando....Leao,experiente,craque ele e gilar dos santos neves, para mim os melhores do brasil de todos os tempos no gol. falha tatica...sim.....olhem leandro e junior....os dois perdidos,subindo ao mesmo tempo....qtas bolas nas costas de luisinho e oscar....junior no corner,dando condiçao ao terceiro gol de rossi...cerezo....cruzando a bola no meio....e tirar chulapa,com socrates fazendo o pivo na frente.....olha....muita colher para a italia... Leao:leandro,oscar,edinho e junior: Batista, falcao,socrates e zico:Eder e Dinamite. Ja pensaram...
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