A
derrota do Barcelona nesta semana para a equipe do Chelsea e a provável perda
do título do campeonato espanhol para o Real Madrid, levantaram intensos
debates e reflexões em torno do poderio da equipe catalã. A questão principal
gira em torno do eterno “futebol de resultados” x “futebol-arte”. Tema que
conhecemos muito bem, pois, após a fatídica derrota na Copa de 1982, com a
chamada “equipe dos sonhos”, e a conquista da Copa de 1994, com o tal
pragmatismo de Parreira, nunca mais paramos de discutir sobre essas questões.
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Guardiola deixa o Barça. |
A
derrota do Barcelona, equipe com torcedores apaixonados pelo mundo inteiro, deixa
mais uma vez no ar a questão: melhor vencer jogando feio ou perder com um
futebol bonito? Na equipe catalã, mesmo com o anúncio da saída do técnico Pepe
Guardiola, essa discussão deve ter resposta rápida, baseando-se no histórico de
formação, não apenas da equipe, mas de uma filosofia de jogo e vida.
Afinal,
qual equipe do mundo faz o que o Barça fez hoje (27/04) ao anunciar a saída de
seu comandante? Vale a pena conferir o vídeo.
É
o que também nos mostra o mestre em literatura brasileira, Mauro Rosso em suas
brilhantes reflexões sobre o Barça. Apesar de torcedor ferrenho da “escola
Barça”, Rosso revela as razões do sucesso obtido pela equipe catalã nos últimos
anos.
Choram os deuses !!!
Por Mauro Rosso
Por Mauro Rosso
Os
deuses devem estar a chorar...,e por extensão todos os amantes do futebol. Porque,
do ocorrido com o Barcelona recentemente, seremos privados daqui por diante,
por um tempo (espero, nesses mesmos deuses do futebol, que pouquíssimo), de...
encantamento – assim também vaticina mestre Tostão – do futebol jogado como
gostamos, queremos e propugnamos ele seja.
Minha
adoração pelo Barça, seu estilo, a escola que na
verdade expressa, é, por esse amor incontido a esse futebol. [o porquê de minha
paixão, na verdade idolatria pelo Barça: porque o verdadeiro futebol, comme il faut, de troca de passes, bola
no chão (sem chutões, chuveirinhos – pragas
de hoje por todos os campos do Brasil) sem brucutus (média de 9 faltas por jogo
!!! – ao contrário dos facínoras e
truculências por aqui), com harmonia, categoria e qualidade, sem nunca perder o
plumo.
Porque não é um mero time de futebol, e sim uma “escola
de futebol”, os times formados nas diversas categorias, do infantil ao
profissional, com o mesmo estilo de jogo, e de vida, de cidadania: os meninos
que lá entram desde os 12 anos recebem toda uma infraestrutura de treinamento e
formação, inclusive escola, no sentido educacional propriamente dito, e mais:
de lisura, ética, moral (há dois anos, na final do campeonato infantil, contra
o Espanhol, após o reinício do jogo, em que um jovem jogador do Barça, sob o
espírito de “fair-play” deveria devolver a bola ao adversário, ao contrário
saiu driblando e fez um golaço, o técnico (antigo jogador dos anos 90, não
lembro o nome) ficou irritadíssimo, deu uma bronca geral e exigiu que o time
desse um gol ao Espanhol, o que o zagueiro do Barça fez entregando a bola
gratuitamente ao atacante que fez o gol – mas no final o Barça
meteu 5 x 1 no Espanhol...
Quer dizer, além ou mais do que formar jogadores,
para ganhar, etc, formam-se homens, cidadãos. Isto é o Barça . Não é à toa que
o clube “patrocina” a Unicef, não é patrocinado, caso único no mundo !!!
Amo o Barça também porque é da Catalunha, região
rebelde basca, o que sempre tem minha simpatia ideológica [o pomposo Real
Madrid, ao contrário – que desde suas origens, apesar
das inúmeras e notáveis conquistas nos anos 1950 e 1960 (mas sempre formando
times “galácticos”) presume que dinheiro, poder, marketing e presunção servem
para ganhar e conquistar – esteve
visceralmente ligado ao sanguinário Franco e ao franquismo.
O Barça de hoje promove dupla revolução no
futebol: no campo, técnica e taticamente (qual o time no mundo, por exemplo,
que joga apenas com um volante – Busquet – que sabe marcar e sair jogando? Sem centroavante fixo, “matador”,
daqueles bastante comuns por aí que matam bola na canela? Que muda de esquema
tático no meio de um jogo sem mudar os jogadores, fazer substituições?); na
gestão, pelo que faz em seu centro de formação, a que aludi acima – que deveria ser modelo, molde e exemplo para todos os
clubes de futebol do mundo.
E pior, depois desse acontecido com o Barça: com
isso, pode vir agora outra vez uma era de culto ao tal futebol de resultados,
pragmático – dos Mourinhos, Felipões, Tites, que tormentosamente
grassam por aí (como já grassaram Lazaroni, Parreira, Carlo Bianchi, Fabio
Capelo, etc, argh!) – ainda bem existem Guardiola
e “el loco” Bielsa ! ave glória !; de esquemas defensivos, retrancas,
'encaixotamentos' – o termo da moda:
inventou-se que "Messi foi encaixotado"... – exatamente como se deu depois de 1982, com a derrota
daquela fantástica seleção brasileira, uma era que só começou a dissipar-se um
pouco 16 anos depois, por volta de 1998\2000 (em termos de Copa do Mundo, a
excelente seleção francesa de 1998 – na
defesa, meio-campo e ataque, dera indícios dessa inflexão).
Lamentemos, choremos como devem estar fazendo os
deuses do futebol.
Sobre Mauro Rosso:
É professor e pesquisador de literatura brasileira,
ensaísta e escritor. Palestrante e conferencista em universidades e entidades
culturais.
Escreve textos, artigos e ensaios sobre literatura brasileira para
revistas acadêmicas e sites de literatura.
Desenvolve projetos e programas de
pesquisa literária para entidades acadêmicas.
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