O Brasil é imenso e resgatar a história de ídolos
regionais que tiveram projeção nacional, além da produção literária local, é
missão de quem por ali vive. É o que o jornalista Wesley
Machado, pós graduando em "Literatura, Memória Cultural e Sociedade"
pelo Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (IF-Fluminense), em Campos dos
Goytacazes-RJ traz hoje aos leitores do Literatura na Arquibancada. E há uma
razão especial. Neste 22 de abril, Mário Seixas, considerado “o menino de ouro do futebol campista”, completaria 110 anos.
Campos, localizada na região norte do
Rio de Janeiro é a cidade do interior do estado do Rio de Janeiro de maior
extensão territorial, mais de 4 mil metros quadrados de extensão, duas vezes
mais do que a capital.
É ainda a maior produtora de petróleo do Brasil, além de concentrar a
maior parte da indústria cerâmica fluminense. Das sete usinas de açúcar e álcool do estado, seis estão em Campos.
Mas Campos
também é terra que respira futebol e berço de alguns craques esquecidos, outros
famosos, e vários autores com obras importantes para a história da literatura
esportiva brasileira.
![]() |
Mário Seixas, marcou 2 gols pelo time do Santos, na vitória por 6 a 1 contra a seleção da França, no dia 30/07/1930. Crédito: www.acervosantista.com.br |
Um dos
jogadores campistas mais famosos, com certeza não é conhecido no resto do
Brasil, mas para quem é da terra, falar em Mário Seixas é recordar um ídolo
eterno. Mário Seixas jogou no Americano (campeão em 1921-22-23 e 25), no Clube Bahiano de Tênis (futuro Bahia), na Portuguesa, no Santos (67
gols entre 1930 e 1935) e também nas seleções baiana e brasileira. Isso mesmo,
Mário Seixas chegou a jogar pela Seleção Brasileira, no Sul-Americano de 1923.
Nessa mesma seleção também estavam dois outros campistas, Amaro Silveira (pai
de Amarildo, “O possesso”, ex-seleção brasileira bicampeã em 1962) e Soda.
Sobre Mário
Seixas, o craque da literatura brasileira, Nelson Rodrigues, escreveu na orelha
de um livro sobre a história do Americano (e que você, leitor, verá abaixo)
sobre o craque campista:
"(...) Campos tem uma
tradição fulgurantíssima. Dois exemplos de cracks de nível mundial: - Mário
Seixas e Amaro Silveira. Este último é o pai de Amarildo, o Possesso, que é
outro campista autêntico.
Começamos por Mário Seixas.
Nos meus tempos de garoto, eu o vi jogar. Ele fora magro, mas eu já fui
encontrá-lo gordíssimo. Mas a vida é surpreendente: - com peso de Feola, de
Abade da Brahma, o Mário Seixas era um jogador ágil, elástico, rápido. Tinha um
altíssimo domínio de bola. Estava no mesmo nível dos maiores cracks do Brasil"
Ainda
sobre Mário Seixas, o ex-presidente do Flamengo, Gilberto Cardoso, que também
era campista, disse que "Mário Seixas foi melhor que Pelé". Pode
parecer uma heresia, mas por aí temos noção do quanto jogava o "menino de
ouro do futebol campista".
![]() |
Da direita para a esquerda, em pé: Brilhante, Fausto, Hermógenes, Itália, Joel e Fernando. Agachados: Poly, Nilo, Araken, Preguinho e Teófilo. |
Em 1930, outro
campista, Poly (Policarpo Ribeiro de Oliveira), vestiria também a camisa da Seleção
Brasileira, desta vez na primeira Copa do Mundo, contra a Iugoslávia.
A partir daí vários
craques campistas chegaram à Seleção Brasileira, alguns se tornaram ídolos
eternizados também por jornalistas da terra, mas essa história quem nos conta é
o jovem Wesley Machado.
Campos: uma terra de craques e escritores
Por Wesley Machado
![]() |
Didi |
O município de
Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, é um dos maiores celeiros de craques
para o futebol brasileiro. Além de Mário Seixas, nasceram em Campos craques
geniais como Didi, o “Gênio da Folha Seca”, primeiro jogador a marcar um gol no
Maracanã; Pinheiro, um dos jogadores que mais vestiram a camisa do Fluminense
com passagens pela Seleção Brasileira; e Amarildo, “O Possesso”, que substituiu
Pelé na Copa do Mundo de 1962 no Chile.
Campos, conhecida
no país como “A cidade petrolífera” também é berço de escritores e jornalistas
que contaram histórias do esporte, oriundo da Inglaterra, mas que no Brasil se
tornou o esporte mais popular do país. Se em São Paulo Charles Miller realizou
a primeira partida de futebol tendo como público algumas vacas, em Campos a
primeira bola chegou por meio de um circo. Os jogadores eram palhaços que já
faziam do futebol uma arte.
![]() |
"Ao Livro Verde", a livraria mais antiga do Brasil. |
Para uma cidade,
que não é uma capital, são vários os livros que abordam as histórias do futebol
campista e brasileiro em geral. Mas considerando que Campos tem a livraria mais
antiga do Brasil, “Ao Livro Verde”, fundada em 1844, bem que poderíamos ter uma
publicação de literatura esportiva mais extensa, especialmente sobre futebol.
Campos é terra de
autores conhecidos como Oldemário Touguinhó, que não escreveu especificamente
sobre a cidade, mas é campista de nascimento.
Foi um dos maiores
repórteres esportivos do Brasil e cobriu 10 Copas do Mundo de 1962 a 1998 para
o Jornal do Brasil e a Agência
Estado.
![]() |
Oldemário Touginhó |
Além de toda essa experiência jornalística, Touguinhó foi um dos repórteres que mais
entrevistaram Pelé e para se ter ideia de sua relação com o Rei do Futebol,
chegou a ser seu compadre.
Touguinhó deixou
para a literatura esportiva obras fundamentais como “As Copas que eu vi” (Editora Relume Dumará,
1994); Maracanã: Onde todos são iguais (Editora Relume Dumará -
Coleção "Contos do Rio", 1998) e “O Curingão” (Editora Erregê,1981).
![]() |
Péris Ribeiro |
Mas o jornalista
campista de maior destaque na literatura esportiva brasileira é Péris Ribeiro,
da Revista Placar e autor da biografia “Didi – O gênio da folha seca” (Editora
Imago, 1993), que surgiu de um conto premiado no Concurso José Cândido de
Carvalho.
“Perinho”, como é
tratado carinhosamente pelos amigos, também é autor de “Brasil e as Copas”
(Editora Mitavaí, 1986) e “Em Cima do Lance” (Edição do autor, 2001).
Outras obras de
autores campistas merecem destaque. O primeiro exemplo é o livro de Paulo
Ourives, radialista gaúcho radicado por aqui que escreveu “História do Futebol
Campista” (Editora Cátedra, 1989).
Uma pesquisa minuciosa que conta a
história futebolística de Campos dos Goytacazes com dados coletados em arquivos
de jornais sobre os clubes profissionais da cidade, resultados de partidas e
lista de campeões.
Ourives destaca na obra a rivalidade entre Goytacaz e
Americano, dois dos principais clubes locais.
Há ainda a
importante obra do pesquisador Hélvio Santafé, autor de “Ídolos do Esporte”
(Edição do autor, 2006), uma publicação que reúne biografias inéditas de
esportistas campistas, resumos históricos de clubes e curiosidades esportivas
da cidade.
Recentemente
tivemos publicada a pesquisa do jornalista Aristides Leo Pardo, que foi a campo
desvendar os mistérios de clubes das antigas Usinas de Campos, como Cambaíba e
Sapucaia. O livro “No país do futebol, cidade sem memória: A história
futebolística de Campos dos Goytacazes” (Editora: Agbook, 2010) é
fruto de uma minuciosa pesquisa de quatro anos que foi reduzida para ser
apresentada como monografia de conclusão do curso de jornalismo da FAFIC e teve
nota máxima dada pela banca julgadora. Pardo narra desde a chegada da primeira
bola de futebol a Campos dos Goytacazes, passando pelos mais de 20 clubes
profissionais existentes na cidade, seu auge, sua decadência, o surgimento e
desaparecimento de clubes, a elite canavieira, os craques campistas entre
outras curiosidades do nosso futebol.
Em “Futebol Pitoresco”, o professor de Educação Física
aposentado Osvaldino Pedro Vieira, e ex-jogador profissional campeão com time
campista nos campeonatos de 1959 e 1960 e supercampeão em 1963, fala sobre
vários personagens do futebol de Campos, do futebol do Rio de Janeiro, São
Paulo e de Cachoeiro de Itapemirim (ES).
Não podemos
esquecer de Tite, ex-jogador do Santos, que enveredou pela música e deixou para
nós “Futebol x Música – Minha História e seus detalhes” (Editora Grafisa,
2002). São relatos e crônicas do ex-jogador de futebol, Augusto Vieira de Oliveira, o "Tite",
revelado no Goytacaz e que foi jogar no Santos com Pelé.
A obra contém a
trajetória do ex-jogador e também detalhes de sua carreira musical.
Mas,
definitivamente, a mais importante obra sobre o futebol de Campos dos
Goytacazes, foi e é até hoje, mesmo após 50 anos de seu lançamento completados
em 2012, “Almanaque Esportivo do Jubileu de Ouro do Futebol Campista”
(Editora Atlas, 1962), de Nilo Terra Arêas.
Arêas faz o registro pioneiro em homenagem aos 50 anos do
futebol de Campos dos Goytacazes-RJ por intermédio de documentos relevantes
sobre times de futebol, jogadores, dirigentes e cronistas esportivos, além de
fotografias de formações históricas.
Arêas também
deixou para a literatura esportiva local e brasileira a história de um dos
clubes mais tradicionais de Campos, “Americano Futebol Clube - Sua História
e suas Glórias de 1914 a 1975” (Edição do Autor, 1976).
E mais boas notícias para a literatura esportiva. Ainda neste ano, devem
ser publicados mais dois livros sobre o futebol campista, ano do centenário do Goytacaz, Campos
e Rio Branco (time que revelou Didi).
O primeiro é sobre a história do Goytacaz
e está sendo escrito pelo radialista Josélio Rocha e o jornalista Humberto
Rangel, com supervisão editorial de Péris Ribeiro, autor da biografia de Didi.
O outro sobre os três centenários, de Hélvio Santafé, mesmo autor de
"Ídolos do Esporte".
Enfim, Campos não
é somente terra do “ouro negro”, é lugar de craques e escritores que jogam em
qualquer seleção brasileira de todos os tempos.
Sobre Wesley Machado:
Wesley tem 30 anos e começou no
jornalismo em 1997 fazendo charges para o "Fala Galera”, jornal da antiga
Escola Técnica Federal de Campos (ETFC), atual IF-Fluminense. Entre 2000 e 2001
estagiou como repórter fotográfico do jornal Folha da Manhã, em Campos. De 2001 a 2003 estudou Cinema &
Vídeo na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, onde acompanhou de
perto seu time do coração, o Botafogo, frequentando o Caio Martins e o
Maracanã.
Em 2003 voltou para Campos para
trabalhar na Rede Litoral de Rádio e TV, como produtor. E em 2004 ingressou no
curso de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia de Campos (Fafic), tendo
se formado em 2008 com habilitação em Jornalismo. Durante a faculdade, estagiou
na Rádio Educativa da Fafic (FM 107,5), como redator-noticiarista. Em 2009,
começou a trabalhar como assessor de imprensa da Fundação Cultural Jornalista
Oswaldo Lima. Em 2011 foi trabalhar na Secretaria de Comunicação da Prefeitura
de Campos e no jornal O Diário.
Atualmente ainda trabalha na Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Campos
e é bolsista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF),
onde alimenta as mídias sociais (blog, twitter e facebook) da Incubadora
Tecnológica de Empreendimentos Populares (ITEP) e desenvolve o Projeto
Cineclube Cabeça, idealizado por ele, que divulga o cinema brasileiro nos
telecentros comunitários de Campos e Cardoso Moreira. É autor de crônica "O Palito de Churrasco", publicada no livro "A Magia do 7" (http://estrelasolitarianocoracao.blogspot.com.br/2011/10/o-palito-de-churrasco.html).
Está escrevendo o livro sobre o centenário do
Campos Athletic Association, campeão citadino de 1918, 1924, 1932, 1956 e 1976.
Também dirigiu alguns documentários, um sobre futebol:
muito bom texto Wesley. parabéns. muito bom saber q existem pessoas como vc, q ama e valoriza essa linda cidade. q deus te abençoe sempre. abraços
ResponderExcluirO Mário Seixas não jogou no Bahia e sim no Clube Bahiano de Tênis que, mais tarde, se juntaria a Associação Atlética da Bahia e fariam surgir o Esporte Clube Bahia.
ResponderExcluirCorrigido, caro José Ricardo Almeida.
ExcluirAmigo, belíssima pesquisa, com certeza um trabalho árduo de presenças em bibliotecas e visita a acervos particulares! Sou admirador e fã da seriedade do seu trabalho! Salvei o arquivo e as imagens para mostrar aos meus filhos.
ResponderExcluirConheço Wesley desde quando ele era um garoto entusiasmado por jornalismo, estudante da extinta Escola Técnica Federal de Campos. Sei de sua seriedade enquanto cidadão e pesquisador e admiro sua paixão pelo que faz e que, quase sempre, está relacionado a cinema e futebol. Aproveito o espaço para lhe dar os parabéns pelo trabalho e dizer que está perdoado (pelo fato de, infelizmente, ser botafoguense).
ResponderExcluirAvelino Ferreira (jornalista)
Parabéns Wesley, por deixar esse registro tão importante sobre a história do nosso futebol.
ResponderExcluirAmigo, vc por acaso tem algumas fotos de times antigos, estou a procura de escudos, caso tenha entra em contato
ResponderExcluirligacampistaddesportos@hotmail.com
Amigos, o maior pesquisador de escudos do país chama-se José Renato Sátiro. Favor em entrar em contato com ele: jrsantiago@jrsantiago.com.br. Podem escrever em meu nome, é um grande amigo.
Excluirabraços
Alguém sabe informar como consigo encontrar o livro "Americano Futebol Clube - Sua História e Suas Glórias - de 1914 a 1975"?
ResponderExcluirCaro Glauco Rangel, este livro pode ser encontrado na Livraria Ao Livro Verde (https://www.facebook.com/Ao-Livro-Verde-371341429610222/?fref=ts)
ResponderExcluir