Ele tem apenas 45 anos e já tem uma carreira sólida no jornalismo
esportivo. Maurício Noriega é filho de um dos maiores narradores esportivos do
país, Luiz Noriega. Assim como o pai, Noriega, ou melhor, “Nori”, como é
carinhosamente tratado pelos amigos e companheiros de trabalho, tratou de
crescer na profissão de repórter aprendendo de tudo um pouco sobre as diversas
modalidades esportivas. É por isso que acabou se transformando em um dos jovens
comentaristas mais bem informados do país. Não é à toa que nos últimos sete
anos, faturou cinco prêmios da Aceesp, a Associação dos Cronistas Esportivos de
São Paulo.
A visibilidade obtida, tanto no canal fechado SPORTV e no
aberto, na TV Globo, tem um custo. Vive viajando pelo país e pelo mundo, o
que acaba limitando o sonho de fazer algo que tanto gosta: literatura
esportiva.
Mesmo assim, Nori já é autor de um livro e está com outro quase
pronto...O tema ? A biografia de um dos maiores técnicos do futebol brasileiro, um universo
que ele conhece muito bem. Confira o bate-papo com Maurício Noriega.
Literatura na
Arquibancada:
Relembre matérias e produções marcantes para você como
repórter (e outras funções) nos tempos do Diário de SP (e na TV e outras
mídias).
Maurício Noriega:
Felizmente, são muitas. Algumas marcantes. Recordo uma
reportagem no Diário Popular com a Filó, ex-jogadora de vôlei, na qual ela
assumia que era usuária de drogas e afirmava até ter roubado para comprar
entorpecentes. Ela se recuperou completamente, um exemplo fantástico de vida.
Outra foi a explicação da mudança tática do time brasileiro de vôlei masculino
na Olimpíada de Barcelona. Até o Zé Roberto falou sobre isso numa entrevista
naquela época. Na TV foram marcantes algumas entrevistas com o Zico, por
exemplo, com o Felipão, um programa muito legal que fizemos com celebridades
torcedoras às vésperas da rodada dos clássicos no Brasileiro. Teve também o
programa Seleção SporTV, que apresentei em 2006, durante a Copa do Mundo, que
foi muito legal.
L.A:
Agora que é comentarista esportivo na TV, do que sente
mais falta em relação ao trabalho em jornais?
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Noriega, Milton Leite e Lédio Carmona. |
MN:
Da convivência com alguns amigos que fiz para toda a vida. Também sinto falta
de escrever, de poder pensar e desenvolver um texto mais elaborado, longo, uma
grande entrevista. Mas estou completamente adaptado à rotina da TV.
L.A:
Como avalia o atual trabalho da imprensa do jornalismo
diário nos diversos veículos de comunicação?
M.N:
M.N:
Mudou muita coisa em relação à época em que atuei como
repórter. Hoje há muito imediatismo. Nisso a internet é boa e ruim. Boa porque
ampliou o leque de cobertura, ruim porque é superficial e apressada.
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Paulo César Vasconcelos, Milton Leite e Noriega. |
Hoje falta reportagem, falta fuçar. Mas parece que brigam
para saber quem publicou uma nota às 12 horas e um minuto e não no minuto
seguinte. E há uma mistura muito grande de entretenimento com comunicação, com
Jornalismo. Ou é um ou é outro. Uma coisa é fazer Jornalismo solto, alegre, que
entretém, outra é fazer só entretenimento. Aí passa a ser show.
L.A:
Você já participou das coberturas de grandes eventos
esportivos. Relembre os mais importantes e destaque momentos pessoais marcantes
nessas coberturas.
M.N:
Foram muitos. Mundiais de vôlei, basquete, Copa, Pan,
Olimpíada, Fórmula 1. Lembro, por exemplo, de entrevistar o Schumacher antes de
ele ser o maior campeão da história, no box da Jordan, em Interlagos. De
entrevistar o Nigel Mansell caminhando pela pista de Interlagos, uma exclusiva.
Do jogo Gana e Uruguai na Copa da África.
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Paula, campeã mundial de basquete em 1994. |
De ser um dos dois únicos jornalistas (o outro era o
Juarez Araújo) a acompanhar o embarque da seleção de basquete feminino para o
Mundial de 1994 e a fantástica Paula ter recordado disso no retorno, com o
título nas mãos. Muita coisa, felizmente. Também recordarei por toda a vida uma
entrevista que fiz com o grande Adhemar Ferreira da Silva, no Canal de São
Paulo, uma pequena TV por assinatura. Foi algo maravilhoso. O Adhemar era um
gênio da raça.
L.A:
Qual o seu diferencial como comentarista esportivo?
M.N:
M.N:
Isso quem deve dizer é o telespectador. Mas algo digo: eu
me preparo, e eu gosto e pesquiso sobre muitos esportes, não apenas sobre
futebol. Já cobri atletismo, tênis, basquete, vôlei, handebol, iatismo,
boliche, automobilismo. Por isso me considero jornalista esportivo e não apenas
comentarista de futebol.
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Noriega recebendo o prêmio Aceesp. |
L.A:
Como é sua rotina de trabalho (no dia a dia e na
cobertura de grandes eventos)? Além de comentarista, desenvolve atividades
paralelas?
M.N:
M.N:
Escrevo uma coluna semanal no Diário de S.Paulo e faço
algumas apresentações de eventos. A rotina depende da escala. Sou como piloto
de avião, vou aonde a escala me mandar. Também tem os comentários para o Bom
Dia São Paulo, da Globo, sempre bem cedinho, começando o dia, geralmente às
segundas e quintas. Fora isso, é estudar muito para os jogos e eventos, viajar,
ir aos estádios, pesquisar. Nos grandes
eventos eu vivo uma espécie de imersão. Aí não tem jeito, você respira Copa,
Euro, Pan, Olimpíada. É muita coisa, então é preciso estar conectado 24 horas.
L.A:
O que se vê que o telespectador/torcedor não vê na
cobertura dos treinamentos de clubes? Existem “fontes” dentro destes clubes?
Como funciona esse bastidor? E como você utiliza essas informações em seus
comentários?
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Adriano Gabiru, comemorando o gol do Mundial Interclubes. |
M.N:
Tenho algumas fontes que construí em muitos anos de
atividade. Telefono, converso, troco e-mails. Muitas vezes as próprias fontes
me procuram para falar algo, o que denota respeito e credibilidade e me orgulha
muito. Já utilizei muitas vezes em comentários informações obtidas junto a
essas fontes. Já tenho mais de 20 anos de carreira, então não sou paraquedista.
Tem treinador que eu entrevistei quando era jogador e o cara sabe da minha
isenção e da minha seriedade. Isso ajuda bastante. Eu vi milhares de treinos na
minha vida de repórter. E eu sempre gostei de ver o treino, de prestar atenção
numa jogada, na movimentação do time, do sistema de jogo, da movimentação
tática. Geralmente eu ia para a arquibancada ver o treino, tinha uma visão
melhor. Tem muita coisa também interessante, como observar quem se posiciona
como nas jogadas de bola parada, nos escanteios. Um exemplo: antes da final do
Mundial de Clubes de 2006, acompanhei o treino do Inter, treinado pelo Abel
Braga. Foi um treinamento voltado para marcação e a aposta em uma jogada: o
lançamento longo para o alto, com o desvio de um jogador de cabeça e a entrada
em velocidade de outro. Veja o gol do Gabiru, que deu o título ao Inter. É
exatamente o que foi treinado à exaustão um dia antes.
L.A:
Como surgiu a ideia de escrever livros? Fale sobre seus
projetos já publicados e também se pensa em outros títulos.
M.N:
Eu sempre sonhei em escrever um livro um dia. Como
respondi antes, eu adoro escrever e quero sempre me aperfeiçoar nisso. Estou
trabalhando há um bom tempo em um livro, um perfil do grande treinador Oswaldo
Brandão. Fui tentar vender o projeto para a editora Contexto e o dono,
professor Jaime Pinsky, me ofereceu a oportunidade de escrever um livro que
abriria uma série. Era o livro Os 11 Maiores Técnicos do Futebol Brasileiro.
Felizmente, foi super bem, teve duas edições, vendeu bem para um escritor
novato e um tema sem grande penetração entre o pequeno público que lê
regularmente no Brasil. Depois escrevi outros dois livretos, voltados para o
público infanto-juvenil, pequenas biografias dos jogadores Kléber, hoje no
Grêmio, e do Marques, quando estava no Atlético Mineiro. É um aprendizado
maravilhoso. Jornalista tem essa arrogância de achar que sabe escrever, mas literatura,
ainda que com viés jornalístico, é outra história. Aprendi demais e gostei
muito da experiência. O livro do Brandão está andando, espero poder publicar
ainda este ano.
L.A:
Qual foi o processo de produção utilizado para a produção
do livro sobre “Os 11 melhores técnicos”, da Editora Contexto?
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Noriega e Pepe, durante o lançamento de "Os 11 maiores técnicos do futebol brasileiro". |
M.N:
A ideia foi da editora e tive total liberdade para
executá-la. É um livro de opinião, que parte de um conceito particular para
contar a história de 11 grandes técnicos de futebol. Eu utilizei como critérios
a minha opinião de analista, é claro, e detalhes históricos. O principal deles,
dentro do meu conceito como analista, foi o fato de o Brasil ter vencido a
primeira Copa do Mundo em 1958 e os primeiros campeonatos de alcance nacional
terem começado em 1959. A partir daí tabulei inovações, títulos, ineditismo e
outras coisas. Mas não tenho a pretensão de achar que os 11 que eu escolhi são
intocáveis. É uma opinião que ganhou as páginas de um livro.
L.A:
Cite 5 livros nacionais sobre futebol de sua preferência
e 5 estrangeiros (já traduzidos no Brasil).
M.N:
O Negro no Futebol Brasileiro, de Mário Filho;
Gigantes
do Futebol Brasileiro, de Marcos de Castro e João Máximo;
O Jogo Bruto das
Copas do Mundo, de Teixeira Heizer;
Itinerário da Derrota, de Ruy Carlos Ostermann;
Estrela Solitária, Um Brasileiro Chamado Garrincha, de Ruy Castro.
De fora: Futebol e Guerra, de Andy Dougan;
O Futebol ao Sol e à Sombra, de
Eduardo Galeano;
Soccer Tactics and Teamwork, de Charles Hughes;
Cuentos de
Fútbol Argentino, seleção de contos de vários autores;
Los Cuadernos de
Valdano, de Jorge Valdano.
Sobre Maurício Noriega:
Jornalista, atualmente comentarista e eventualmente
apresentador do canal SporTV.
Também é comentarista do Bom Dia São Paulo,
telejornal da TV Globo. Ganhador do Prêmio Ford/Aceesp por cinco vezes (2005,
2006, 2007, 2010 e 2011).
Noriega também mantém o blog: http://blogdonori.blogspot.com.br/
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