Uma história que o cinema brasileiro estava devendo para os
amantes do futebol. Estreia no próximo dia 30 o filme “Heleno”, estrelado por
Alline Moraes e Rodrigo Santoro, e inspirado em um dos personagens mais
instigantes do futebol mundial.
Heleno de Freitas teve uma vida de glórias no futebol, mas um
final trágico. Como toda obra cinematográfica inspirada em um livro, “Heleno”
tem também riquezas de detalhes que só mesmo quem ler a obra literária
utilizada como referência para essa superprodução poderá conhecê-lo por completo.
E o livro em questão é uma obra-prima, uma das biografias mais bem
produzidas no mercado literário pelo carioca Marcos Eduardo Neves.
“Nunca houve
um homem como Heleno”, logo pelo título, é arrebatador. Lançado em primeira
edição pela Ediouro, em 2006, acabou inspirando o diretor de cinema José
Henrique Fonseca a levar a sua incrível história para as telonas.
Literatura na Arquibancada teve o privilégio de conseguir das mãos
do próprio autor do livro, Marcos Eduardo Neves, suas impressões sobre o filme
e uma dica superimportante para aqueles que moram no Rio de Janeiro. Hoje é dia
de relançamento do livro “Nunca houve um homem como Heleno”, só que agora,
atualizado em segunda edição pela Editora Zahar.
Sinopse:
Foram 39 anos de vida, 305 jogos como profissional e 251 gols. Heleno de Freitas era um turbilhão dentro dos campos – o grande ídolo do Botafogo na era pré-Garrincha, tendo jogado também pelo Fluminense, Vasco da Gama, Boca Juniors e pela Seleção Brasileira.
Foram 39 anos de vida, 305 jogos como profissional e 251 gols. Heleno de Freitas era um turbilhão dentro dos campos – o grande ídolo do Botafogo na era pré-Garrincha, tendo jogado também pelo Fluminense, Vasco da Gama, Boca Juniors e pela Seleção Brasileira.
Fora do gramado era um sedutor
irresistível. De um amigo tricolor do Clube dos Cafajestes ganhou o apelido
Gilda, que remetia à personagem de Rita Hayworth no filme homônimo de Charles
Vidor: linda, glamourosa e temperamental. Atributos que se encaixavam
perfeitamente em Heleno.
O jogador teve uma vida
intensa. Ídolo nos gramados e frequentador da alta sociedade carioca, era
boêmio, perfeccionista, impulsivo e viciado em lança-perfume e éter.
No fim da
vida, sofrendo de sífilis e consumido pela doença, foi internado em um hospital
psiquiátrico em Barbacena, Minas Gerais.
Morreu, em 1959, em um sanatório,
considerado louco. Nunca houve um homem como Heleno é a fascinante história de
um craque-problema do futebol nacional.
VEJA
O FILME MAS LEIA O LIVRO
Por Marcos Eduardo Neves
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Alline Moraes e Rodrigo Santoro. |
Antes mesmo de entrar em cartaz, assisti a três sessões – duas
fechadas e a pré-estreia – de “Heleno – O Príncipe Maldito”, filmaço de José
Henrique Fonseca estrelado por Rodrigo Santoro. Saí do cinema sempre com as
pernas bambas. Tanto a cena inicial quanto a final é de chocar. No meio, o
público se depara com um personagem que fascina e embriaga por sua vontade de
viver, sua arrogância e a empáfia de querer ser o que foi e o que continua
sendo. Não à toa, quase 53 anos após sua morte, estamos aqui a falar sobre ele.
Ele, no caso, é – ou melhor, foi – Heleno de Freitas. Mítico
personagem do futebol brasileiro e da sociedade carioca dos anos 40. De todo o
filme, não concordei apenas com o subtítulo “O Príncipe Maldito”. Afinal,
Heleno foi controverso não por vontade própria, mas por doença.
Confesso que quando entrei pela primeira vez no cinema para ver o
resultado final, achei que nada mais em Heleno me surpreenderia. Ledo engano; fiquei
surpreso do começo ao fim. Uma coisa é escrever sobre uma doença. Outra,
visualizar o que ela faz com o ser humano.
A atuação de Rodrigo Santoro é digna de Oscar. Pena sermos
terceiro mundo para os cinéfilos de Hollywood. Jamais vi em ator brasileiro a
entrega que ele deu ao personagem. Ele quase perdeu fibra muscular, de tão
magro. Para mostrar o que a sífilis faz num homem, alcançou o mínimo de peso a
que um ser humano são e sadio pode chegar. O resultado é um filme de alto
nível. Tipo The Doors, de Oliver Stone, com Val Kilmer no papel de Jim Morrison.
Estilo Piaf, de Oliver Dahan. Personagens que ninguém consegue precisar se são
herói ou vilão.
Quem não conhece nem nunca ouviu falar de Heleno, terá, graças a Rodrigo
Santoro, uma boa ideia de quem ele foi. Contudo, Heleno foi muito mais do que o
bom vivant apaixonado por mulheres e pelo Botafogo, que morre definhando numa
clínica de saúde após contrair sífilis e se viciar em lança-perfume. Esse
Heleno personificado por nosso mais internacional ator é apenas um recorte de
si próprio. Ainda falta muito para que se complete. O filme, assim, não é – e
nem poderia ser, nesse formato de duas horas – definitivo. Como me disse certa
vez o próprio Santoro, Heleno de Freitas dava, brincando, uma trilogia. No
mínimo.
“Nunca houve um homem como Heleno”, livro que escrevi entre 2003 e
2004 e lancei em 2006, foi a principal fonte de pesquisa para o filme. Durante
todo o processo de filmagem, e antes disso, prestei consultoria, sanando
dúvidas sempre que estas surgiam. Ainda escrevi as matérias jornalísticas que
aparecem na película. Fico satisfeito ao ver tanto Santoro quanto José Henrique
Fonseca sempre a enaltecerem meu trabalho, ressaltando a importância que meu
livro teve no começo do projeto filme.
Já “Heleno – O Príncipe Maldito” condensa vários personagens num
só e traz soluções cinematográficas, como o pênalti perdido por Heleno numa
final de campeonato (pênalti que ele jamais bateu), a mostrar que o Botafogo
não foi campeão por causa dele (o que era verdade, devido a seu temperamento
intempestivo). Ou seja, diferentemente do livro, o filme é uma ficção. Até o
nome dos personagens muda; só Heleno é Heleno. Em suma, o livro é a biografia
do ídolo; o filme, um recorte – um período da vida do ex-jogador no qual ele,
já doente, se lembra o tempo todo do quão glamuroso houvera sido o esplendor de
seu apogeu.
Marcos Eduardo Neves |
Com um trabalho de ourives, a editora Zahar relança hoje, às 19h,
na Livraria da Travessa de Ipanema, na Rua Visconde de Pirajá 572, “Nunca houve
um homem como Heleno”.
Estarei autografando e antecipo: o livro traz muito mais
informações do que o filme, o que é natural. A obra oferece riqueza de detalhes
– não só de Heleno como da própria época. A reedição apresenta ainda um novo
projeto gráfico, com mais fotos e texto revisado de forma exaustiva, a lhe conferir
mais sabor.
Por meio de suas páginas você verá o que o filme não mostra. Um
Heleno amigo e depois inimigo de João Saldanha; o Heleno menino jogando na
praia no time de Neném Prancha e Sérgio Porto; o Heleno que entrava na boate e
o pianista interrompia seu repertório para tocar sua canção predileta.
Conhecerá ainda o Dr. De Freitas, que chegou em Buenos Aires
rivalizando com Carlos Gardel. Verá que seu alfaiate era o mesmo de Getúlio
Vargas e Assis Chateaubriand. Lerá histórias picantes de seus amigos do Clube
dos Cafajestes. E saberá que até o Prêmio Nobel Gabriel García Márquez ficou seduzido
pela fascinante personalidade de Heleno. Tudo isso, sem deixar de fora a
dramática troca de cartas entre o irmão de Heleno e o médico responsável por
ele no sanatório.
Apesar de suspeito, por ter escrito o livro, sou o maior cabo
eleitoral do filme. Se o longa fosse ruim, seria o crítico mais voraz. Porém,
não canso de indicar: o filme ficou ótimo. Por isso o enalteço. Meu conselho é:
corra para o cinema, no dia 30 de março, a fim de conhecer logo esse tal de
Heleno. Consciente de que muito mais, tanto do glamour quanto da tragédia por
que ele passou, há a lhe esperar nas páginas ora divertidas ora tensas de
“Nunca houve um homem como Heleno”.
Sobre
Marcos Eduardo Neves
Jornalista e
escritor, Marcos Eduardo Neves é autor de “Nunca Houve um Homem como Heleno”
(Zahar, 2012), “Vendedor de Sonhos – A Vida e a Obra de Roberto Medina”
(Melhoramentos, 2006; Palavra (POR), 2006; Nowtilus (ESP), 2008); “Servenco,
sobrenome Steinberg – a história do casal de engenheiros que construiu
História” (Rotativa.Art, 2011); “O Maquinista – Francisco Horta e sua
Inesquecível Máquina Tricolor” (Maanaim, 2009); e “Anjo ou Demônio – A Polêmica
Trajetória de Renato Gaúcho” (Gryphus, 2002).
Passou por redações cariocas, como as do Jornal do Brasil e
Jornal dos Sports. Editou revistas e uma enciclopédia esportiva para o jornal
LANCE!. Curador do futuro Museu Flamengo, foi consultor e colaborador do filme
“Heleno”, de José Henrique Fonseca, e colabora regularmente com revistas como
Placar, Lola, Trip e Tam nas Nuvens.
No livro "Memórias de Mário Américo - O massagista dos reis." fala na página 81 que o Heleno puxou o revolver para o técnico Flávio Costa mas levou uma surra. Vc já leu sobre isto? Este livro é bastante interessante e comprei por R$ 1,85, pra não pagar estacionamento! Como valeu!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Alex, não li não. Você não poderia enviar essa história para a gente publicar por aqui? abs
ResponderExcluirOlá, gostaria de falar com vocês. Sou Marcos Eduardo Neves, autor. Podem me contatar? (me.neves@uol.com.br)
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