Quando esteve há alguns anos em visita ao Brasil, o presidente norte-americano Barak Obama citou uma frase que pode explicar muito bem o prestígio que o
homenageado de hoje do Literatura na Arquibancada tem por aí: “Vocês, como
cantou Jorge Ben Jor, são um país tropical, abençoado por Deus e bonito por
natureza”.
Jorge Ben Jor está completando 71 anos de vida dedicados à música e
a outra grande paixão em sua vida: o futebol. Quer dizer, ao futebol não, ao
Flamengo!!! Em uma de suas entrevistas recentes para responder a pergunta sobre
como se autodefinia, não titubeou: “Sou brasileiro e meu time é o Flamengo”.
Paixão que vem de berço. Paixão que não se resumiu às diversas
músicas que compôs em sua longa trajetória musical, mas dos tempos em que
sonhou ser jogador do Flamengo. Em 1995, convidado pelo programa Roda Viva, da
TV Cultura de São Paulo, Ben Jor relembrou como tudo começou:
“Comecei na escolinha do Flamengo, quando se jogava ainda no
campinho do lado. O Flamengo tinha um campinho, hoje melhorou, mas jogávamos no
campinho, tinha uma lixeira, a gente começou a jogar ali. Até passar depois
para a quadra onde jogava-se o futebol de salão. Eu comecei no infanto-juvenil
e fui até o juvenil”.
Nesta mesma entrevista Ben Jor disse algo que talvez muitos
flamenguistas não saibam, um desejo quase sonho que até agora não se realizou. Ben
Jor quer, um dia, ser presidente do Flamengo:
“Eu até já comprei um título para poder fazer parte do conselho.
Eu quis fazer parte do conselho. Eu acho que tem a maioria que tem essa ideia
junto comigo.
Muita gente da minha época, nós, torcedores, muita gente está
comprando seu título para poder entrar no conselho e poder me apoiar ou eu poder
apoiar alguém que tenha ideias diferentes. Mas é a única presidência que eu
gostaria de tentar”.
Ben Jor ainda não realizou nenhum dos dois sonhos (ser jogador de
futebol e presidente do Flamengo), mas com o imenso talento musical escreveu e
cantou músicas inesquecíveis sobre o tema futebol e Flamengo. Até hoje, no
círculo musical não houve alguém com tanta familiaridade para transformar em
versos e ritmo o futebol brasileiro.
Em artigo publicado no site da “Revista Lateral”, o cruzeirense,
editor do blog O Trânsito e mestre em Comunicação, Victor
Guimarães resume muito bem essa trajetória de amor e paixão de Ben Jor pelo
futebol:
“A mais célebre delas tem uma história peculiar. Fio
Maravilha foi lançada no disco Ben, de 1972, e homenageava
o mineiro João Batista de Sales.
O atacante desengonçado do Flamengo era conhecido por driblar os
zagueiros e perder gols feitos, mas ganhou o curioso apelido após marcar o gol
da vitória em um jogo contra o Benfica. No auge do sucesso radiofônico, por
obscuras razões ligadas aos direitos autorais, a canção teve de ser rebatizada
e ganhou o insosso título de “Filho Maravilha”. Na discografia de Jorge,
aparece apenas três vezes com o nome original, contra cinco regravações com a
alcunha imposta.
Mas por uma dessas ironias da sociedade do espetáculo, do mundo da
música e do futebol, Jorge e João voltaram a se encontrar numa matéria do
Esporte Espetacular de 2007, na qual o ex-atacante flamenguista, agora
entregador de pizzas sob o sol californiano de São Francisco (cidade pela qual
se apaixonou e pela qual abandonou o futebol), volta atrás em sua decisão e
autoriza o cantor a usar novamente o título original da canção.
O disco África Brasil, de 1976, traz outra grande composição
de Jorge dedicada ao futebol: Ponta de Lança Africano
(Umbabarauma) exalta o atacante decidido, homem gol, que pula, cai,
levanta, cabeceia, chuta e agradece. Em regravação recente do clássico, o
santista Mano Brown acrescentou à letra original a descrição musicada do gol de
Serginho Chulapa contra o Corinthians, na final do Paulista de 1984.
Mas nem só os artilheiros têm espaço no panteão futebolístico de Ben
Jor. Aos zagueiros, ele pede que arrepiem, limpem a área e saiam jogando. E
define o bom defensor como aquele que não pode ser muito sentimental, e que tem
que ser sutil, elegante, malandro, leal e ciumento – para ganhar todas as
divididas.
Ouça as músicas Zagueiro e Umbabarauma.
Aos goleiros, avisa que não se pode falhar, nem ficar com fome na hora
de jogar (senão é um frango aqui, um frango acolá). Aos juízes, rende também
homenagem, quando reclama veementemente de um erro de arbitragem em Cadê o
Pênalty. E até aos cartolas oferece a ironia, ao fazer piada das
transferências de jogadores em Troca-Troca.
Sou Flamengo
Mas se Ben Jor homenageou o atleta do século em O nome do Rei é
Pelé, e fez sua própria versão do “Pra Frente Brasil” em Camisa 12,
não foi a seleção brasileira que lhe rendeu os melhores frutos musicais. Jorge
teve a sorte de ser flamenguista durante a época áurea do clube carioca. Ainda
nos anos 70, já dedicava canções ao time do coração, que seria imortalizado na
década seguinte, sob a batuta de Zico. Além de ter gravado o Hino Oficial do
Clube de Regatas Flamengo, o compositor se deixou irrigar mansamente por aquele
lendário escrete rubro-negro, que contava ainda com Adílio, Carpegianni, Júnior
e Cláudio Adão.
Hino do Flamengo cantado por Jorge Ben Jor
São dessa safra Camisa 10 da Gávea, que descreve as
habilidades insubstituíveis do Galinho de Quintino, craque de chutes
maliciosos, que eram como flashes eletrizantes; e Flamengo, que faz
jus aos outros gênios, pedindo-lhes que não batam na bola com desprezo, mas que
a toquem com razão. Isso sem contar a magnética País Tropical, que
inclui a paixão pelo Flamengo entre os dados biográficos mais significativos do
eu-lírico.
O futebol está para as canções de Jorge Ben Jor como o mar está para as
de Dorival Caymmi. Não é apenas um tema abordado e uma fonte de homenagens, mas
uma presença que se faz sentir em composições sobre os mais variados assuntos.
Às vezes, um motivo futebolístico torna-se o estopim para toda uma canção sobre
o inverno, o sorriso, a namorada e a paz (Eu vou torcer). Noutras, a
paixão pela bola aparece de supetão, tal qual um Luiz Suarez aos quarenta e
cinco do segundo tempo, e bagunça todo o coreto. Se depois de Tereza, bem
depois, só o Flamengo, Cassius Clay tem a cadência de uma escola de samba e o
4-3-4 de um time de futebol”.
Ben Jor e Diogo Nogueira na festa do Hexacampeonato
brasileiro conquistado pelo Flamengo.
Em entrevista à repórter Bela Megale, da Isto É Gente, é o próprio
Ben Jor que nos brinda com explicações das origens de várias de suas
composições históricas sobre o futebol. Em clima de Copa do Mundo da África do
Sul, Ben Jor fala do carinho que tem por aquele povo e continente:
Como surgiu a ideia de regravar a música
“Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)”?
Meu filho Gabriel (produtor do projeto) me abordou em setembro do ano passado com a ideia de fazer um trabalho visando a Copa do Mundo e a África. Sempre gostei de futebol e esse clima contagiante de Copa do Mundo.
Meu filho Gabriel (produtor do projeto) me abordou em setembro do ano passado com a ideia de fazer um trabalho visando a Copa do Mundo e a África. Sempre gostei de futebol e esse clima contagiante de Copa do Mundo.
Clique no link abaixo e veja o clip imperdível desta versão de
Ponta de Lança Africano com Mano Brown:
O que o levou a escrever músicas como
“Fio Maravilha” e “Umbabarauma”?
Sobre “Fio Maravilha”, sempre admirei o estilo do futebol do Fio. Quando ele metia um golaço, eu imaginava o Maracanã exaltado gritando: “Fio Maravilha, nós gostamos de você”. Já Umbabarauma me inspirou pelo fato de ser o primeiro jogador africano a jogar na Europa, numa época em que o racismo era maior no futebol europeu.
Sobre “Fio Maravilha”, sempre admirei o estilo do futebol do Fio. Quando ele metia um golaço, eu imaginava o Maracanã exaltado gritando: “Fio Maravilha, nós gostamos de você”. Já Umbabarauma me inspirou pelo fato de ser o primeiro jogador africano a jogar na Europa, numa época em que o racismo era maior no futebol europeu.
A versão "acústico" de "Filho Maravilha", espetacular.
É possível comparar a emoção que sente
no palco à de assistir a um jogo?
São emoções diferentes, mas ambas energéticas e maravilhosas. Já joguei muito futebol, gosto da sensação de entrar em campo e fazer gol. Já no show, você sente o público. Não gosto de tocar as músicas por ordem, gosto de sentir a energia e ver todo mundo dançar.
São emoções diferentes, mas ambas energéticas e maravilhosas. Já joguei muito futebol, gosto da sensação de entrar em campo e fazer gol. Já no show, você sente o público. Não gosto de tocar as músicas por ordem, gosto de sentir a energia e ver todo mundo dançar.
Como é o Jorge Ben Jor torcedor? É
fanático por futebol?
É lógico que sou. E sou fanático pelos estádios. Adoro conhecer todos eles. Fui, na última Copa, para a Alemanha com meu filho e gostei muito do design da Allianz Arena, em Munique. Sou brasileiro e meu time é o Flamengo. Onde ele estiver estarei. Raça, amor e paixão.
É lógico que sou. E sou fanático pelos estádios. Adoro conhecer todos eles. Fui, na última Copa, para a Alemanha com meu filho e gostei muito do design da Allianz Arena, em Munique. Sou brasileiro e meu time é o Flamengo. Onde ele estiver estarei. Raça, amor e paixão.
Qual seu maior ídolo?
Zico foi um grande jogador que inspirou uma música minha chamada “Camisa 10 da
Gávea”. O futebol dele foi surreal. Ele foi um exímio cobrador de faltas na
entrada da área.
Vale a pena clicar abaixo e assistir o vídeo de Ben Jor para Zico:
O que faz durante a
Copa? Gosta de ver os jogos sozinho, acompanhado?
Amo ver todos os jogos que consigo. Gosto da Copa, o clima, as surpresas. Como disse, meu filho Gabriel me levou para a Copa na Alemanha, em 2006. Lá assistimos Brasil x Gana e Brasil x França. Depois que o Brasil foi eliminado, vimos Portugal x França. Espero estar em breve na África do Sul.
Amo ver todos os jogos que consigo. Gosto da Copa, o clima, as surpresas. Como disse, meu filho Gabriel me levou para a Copa na Alemanha, em 2006. Lá assistimos Brasil x Gana e Brasil x França. Depois que o Brasil foi eliminado, vimos Portugal x França. Espero estar em breve na África do Sul.
Já teve de deixar de assistir a um jogo
decisivo e por ter de fazer um show no mesmo horário?
Já tive que deixar de assistir a vários jogos do Flamengo por esse motivo. As partidas da Seleção na Copa eu sempre vi. Mas quando não consigo assistir a um jogo fico ansioso pelo resultado.
Já tive que deixar de assistir a vários jogos do Flamengo por esse motivo. As partidas da Seleção na Copa eu sempre vi. Mas quando não consigo assistir a um jogo fico ansioso pelo resultado.
O que espera para a Copa do Mundo
que será sediada no Brasil?
Pretendo ir a todos os jogos da Seleção! A Copa no Brasil tem tudo para ser a
melhor. Já imagino o Brasil e a Argentina no Maracanã lotado em uma bela tarde
de domingo! Já vi decisões clássicas em diversos estádios em todo mundo, mas não há emoção igual a um Maracanã lotado.
O que acha de a
África sediar pela primeira vez a Copa do Mundo?
É um tremendo progresso, uma grande vitória. Espero que esse maravilhoso evento alavanque não só a África do Sul, mas todo o continente africano. A África tem um lugar especial no meu coração.
É um tremendo progresso, uma grande vitória. Espero que esse maravilhoso evento alavanque não só a África do Sul, mas todo o continente africano. A África tem um lugar especial no meu coração.
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