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Roberto Avallone. Crédito: arquivo pessoal |
No passado distante,
especialmente nas décadas de 1950 e 1960, as crônicas recheavam as páginas dos
principais jornais esportivos do país. Gente da mais alta competência literária
assinava esse gênero do jornalismo, de norte a sul do país, fato que, hoje,infelizmente,
por falta de talento ou espaço nos diários esportivos não se vê mais. As
crônicas migraram para o espaço virtual, nas centenas de milhares de blogs
existentes no mundo inteiro.
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Nelson Rodrigues |
Nomes como Nelson Rodrigues,
Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos, na década de 1950 deixavam os leitores
extasiados com suas histórias. Em São Paulo, na década de 1960, surgiu também
uma geração de jornalistas, especialmente a partir da criação do caderno de
Esportes do jornal O Estado de S.Paulo
e da revista Placar, já no final da
década, que eram craques na arte da crônica (evidentemente, sem compará-los aos
monstros sagrados mencionados pouco acima).
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Avallone, no comando da Mesa Redonda, da TV Gazeta. Crédito: arquivo Roberto Avallone |
Um deles, e talvez agora você
leitor entenda e conheça um pouco mais o homem da foto que abre esse post,
chama-se Roberto Avallone, dono de um texto limpo e inteligente, mas que acabou
se tornando “famoso” no meio jornalístico esportivo por comandar uma das mais
tradicionais mesas de debates da televisão brasileira, a famosa “Mesa Redonda”,
da TV Gazeta de São Paulo.
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Avallone, repórter, entrevistando Luís Pereira, do Palmeiras. Crédito: arquivo Roberto Avallone |
A qualidade dos textos que
escreveu durante 23 anos, a partir de 1966, no Jornal da Tarde, o JT,
praticamente desapareceu. Na televisão, pelo menos em São Paulo, não há quem
não o identifique pelo fanatismo pelo “Palestra”, o seu Palmeiras, que defendia
com unhas e dentes, e, principalmente pela forma com que falava para o
telespectador criando bordões inesquecíveis: “Palestra, vírgula, é o maior,
exclamação!”.
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Avallone e companheiros de redação do JT. Crédito: arquivo Roberto Avallone. |
Roberto Avallone trabalhou ainda
em várias emissoras de televisão de São Paulo, e sua projeção no cenário
nacional cresceu a partir da conquista dupla de dois prêmios, o Esso de
jornalismo, como chefe da equipe nas coberturas das Copas do Mundo de 1978 e
1986. Em 2001, pouca gente deve saber, Avollone foi tocado novamente pelo “bichinho”
da escrita. Publicou um livro, pequeno, com 95 páginas, mas rico em informações
e sobretudo com a qualidade do texto que o marcou no início de carreira. As Incríveis Histórias do Futebol (Editora Tipo, 2001) é o único livro que
Avallone escreveu, mas poderia muito bem ter muitos outros. Dificil, pois
atualmente, após 35 anos de carreira, ele continuava na TV, com um programa
semanal no canal CNT, aos domingos, além de manter um blog: blogdoavallone.blog.uol.com.br/.
Vale a pena recordar uma de suas
crônicas publicada em seu único livro, As Incríveis Histórias do Futebol .
Nela, Avallone revela como surgiu de verdade o famoso Carrossel
Holandês, famoso sistema tático que encantou o mundo, na Copa de 1974,
comandado pelo supercraque Cruyff.
Repare leitor que, até na crônica, Avallone
não deixa de lembrar os famosos bordões criados na TV, vírgula, exclamação!
Cruyff, o revolucionário.
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Cruyff |
Engraçada essa história de
táticas, de estratégias no futebol.
Antes, é claro, não era assim: os técnicos
tinham a coragem por hábito e honra, deixando para os jogadores, em especial os
craques, a missão de decidir.
Sejamos sinceros: o comentarista Pelé não é nem
de longe o gênio dos campos, preocupando-se apenas com a atuação individual e
quase nunca tocando em esquemas.
Esquemas, ora os esquemas para quem, como ele,
decidia tudo com a arte, com os dribles, com a imaginação...
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Zizinho |
O leitor já ouviu falar de
Zizinho, pois não? Dizem os que o viram jogar no auge, no Flamengo ou na
Seleção Brasileira, que era quase um Pelé, bom no drible, no chute e na força
com as bolas divididas.
Pois este grande Zizinho quando técnico da Seleção
Brasileira, em 1975, nos Jogos Panamericanos, chegou bem pertinho do
ponta-esquerda Pita, um razoável jogador do Corinthians, e tentou ensinar,
mostrar que no futebol não há segredos:
– Pita, é muito fácil, presta a
atenção – falava Zizinho, paternalista. – Você pega a bola, dribla o primeiro,
dribla o segundo, vai para cima do terceiro e, quando o goleiro sair, chuta no
canto em que ele não está. Não é fácil?
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Pita |
Pita arregalou os olhos e ficou
encabulado. Como fazer aquilo?
Ora, driblar um, dois, três e enganar o goleiro
era coisa de supercraque, como Zizinho, e para ele, Pita, dedicado e limitado
ponta da Seleção?
Consta, então, que dificilmente
um grande jogador dará um grande técnico.
Ele vai pecar, logo logo, pela ilusão
de querer ver no jogador comum a capacidade de realizar façanhas que só os
gênios do campo podem fazer.
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Zagallo |
Veja a lista dos que, Monstros
Sagrados dos campos, foram técnicos apenas razoáveis ou nem chegaram a ousar
treinar: Pelé, Garrincha, Tostão, Rivellino, Clodoaldo, Gérson, Piazza, Djalma
Santos, Gilmar dos Santos Neves, Zito, Vavá, tantos outros...Quem se
transformou em técnico, tinha missão tática em campo como Zagallo, por exemplo.
Há porém, as santas exceções. E
uma delas é Cruyff, Johan Cruyff, o magnífico jogador holandês, o astro da Copa
de 1974, com suas arrancadas, com seus dribles largos e lançamentos geniais,
num futebol que, visto à distância, dele fazia parecer um homem bem mais alto
do que o loirinho de 1,78 metro que corria por todos os lados do campo.
E Cruyff, contrariando a regra,
foi um grande técnico mesmo antes de exercer o ofício – o que aconteceu anos
depois de encerrar a carreira, no Barcelona, o mesmo Barça que fez dele um Deus
enquanto jogador, craque e artilheiro.
Mas bem antes de ser técnico eu
repito, Cruyff deu ao mundo um toque de criatividade
tática (exclamação), numa história que eu pretendo contar “no pique”. Qual foi a última grande
revolução tática no futebol mundial? O Carrossel Holandês, que encantou o mundo
– e quase levou o caneco – em 1974, na Alemanha (os alemães venceram os
holandeses, na final, de virada, por 2 a 1), uma Copa histórica, em que o
Brasil amargou uma derrota para a Holanda, outra para a Polônia e ficou em
quarto lugar.
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Rinus Michels e Cruyff. |
E como nasceu o Carrossel?
Exatamente assim: Cruyff e o técnico Rinus Michels, um professor de filosofia,
estava à beira da piscina de um hotel quando Johan comentou: “Professor, veja
como a água faz círculos concêntricos, ocupando o espaço da piscina...”. O
velho Rinus, atento e inovador, em busca de uma tática revolucionária, captou a
mensagem e não hesitou em emendar: “É verdade. Que tal fazermos isso dentro de
campo com nossos homens?”.
E assim foi feito. Como nunca se
vira antes, os holandeses ocuparam todos os espaços dos gramados da Copa da
Alemanha. Comandados por Cruyff, é claro.
Impressionante como o Avallone novinho é a cara do Tulio Maravilha! Do tipo separados na maternidade.
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