Hoje é aniversário de Marcelinho Carioca, um dos maiores
ídolos e heróis na história do Corinthians, não apenas pelos 437 jogos
disputados com a camisa do Timão, ou os 206 gols marcados, mas pelo jeito
polêmico com que cativou os milhares de torcedores corintianos. Marcelinho é o quinto maior artilheiro na história do Corinthians.
Parabéns ao Pé de Anjo pelos 43 anos de vida. O presente do
Literatura na Arquibancada para Marcelinho é um texto do livro “Corinthians - Paixão
e Glória” (Editora DBA, 2002), do jornalista Juca Kfouri.
Marcelinho Pão e
Vinho
Ele chegou sem muita conversa, sem muito explicar, como já cantou Chico Buarque. Chegou para ser mais um, talvez porque soubesse ser o único. Pés de anjo, tamanho 35 e meio. Cara de menino, menino Jesus?
Sorriso simpático, encantado. Capaz de virar capeta quando
entra em campo, campo santo, ou arena santa, Santa Cruz de Ribeirão Preto e
Branco. Ele e mais 12 apóstolos – não esqueça de Tupãzinho e Elivélton, o que
“golgueja”. Aos 24 anos, nove a menos que o seu ídolo, saiu distribuindo graça,
fazendo gol, levantando a massa.
De milagre em milagre, fez primeiro do Olímpico o Olimpo da Fiel, momento mágico, cortando de sul a norte o céu, na ponta da lança de São Jorge.
Mas o dragão verde da maldade ainda vivia e botava fogo
pelas narinas salientes. O fogo que o humilhava fazia anos.
Um árbitro aqui, outro ali, todos como Dimas, bons ladrões.
Para existir Deus tem de existir o demônio, Saramago já ensinou. Um não vive
sem o outro.
Era, pois, a hora de fazer o diabo. Ele ajeitou a mais
cobiçada das mulheres com carinho de amante.
O pecado é perder, pensou, logo afastando tão mau pensamento. E bateu o pé direito contra a relva, como querendo afastar a tentação. Mas o mundo tremeu.
Ela voou libertina, pomba sem asas, pomba da paz. Paz de
tantos, aflição de outros. Picasso não a teria desenhado melhor.
Nem o mais veloz dos Velosos chegaria a tempo de evitar que
a bola fosse se aninhar na rede, que a acolhe.
E balança. Uma pintura de gol.
A via-crucis mudava de lado. Aquelas 21 bodas já tinham dono, era só continuar a pregação, na direita, na esquerda, no meio.
Deus é pai, a bola é mãe, não há falta que não possa ser
cobrada, não há barreira que não possa ser transposta, não há derrotas
definitivas para o povo.
Até o ateu se convenceu. Alguma parte com o Criador aquele
menino devia ter.
Pois não o ouvia dizer que uma voz lá de cima mandou-o chutar de três dedos?!
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