Oscar Daniel
Bezerra Schmidt, ou simplesmente Oscar, ou ainda Oscar Mão Santa, para os
apaixonados pelo basquete está eternizado no Hall da Fama americano, uma das maiores honrarias do basquete mundial.
Muito pouco pelo tamanho, 2,05m, mas tudo pelo talento incomparável, Oscar
é um dos maiores jogadores na história do basquete mundial, um dos maiores
colecionadores de recordes do esporte mundial durante mais de 30 anos de
carreira. Tem e sempre teve admiradores e fãs, dentro e fora das quadras, no
mundo inteiro, até dos astros na NBA (a Liga Profissional Norte Americana),
como Magic Johnson e Kobe Bryant.
Mas como todo herói do esporte brasileiro, Oscar teve uma trajetória de
batalhas, semelhante a que enfrenta devido a um tumor encontrado
em sua cabeça e que por muito pouco não lhe tirou a vida.
Tudo começou em Natal, no Rio Grande do Norte, onde nasceu. Nessa época,
aos 12 anos, Oscar fazia natação em um clube local, o América. Um ano depois, a
família se mudou para Brasília e a partir daí o basquete nunca mais saiu de sua
vida.
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Oscar e "Zezão" Crédito: www.solnascente.com.br |
A inspiração não só para se tornar atleta como também muitas de suas
virtudes que carregou ao longo da carreira , ele reconhece até hoje, veio de um
professor de Educação Física, do colégio Dom Bosco, onde estudava. Seu nome, ou
melhor, apelido, é Zezão:
“Acho que um de seus principais méritos foi ter muito tato e psicologia
para saber lidar com a gente na adolescência – uma época em que temos tantas
dúvidas, tanta insegurança, tanta necessidade de acreditar em nós mesmos. Ele
soube despertar o amor-próprio de cada um dos garotos, soube como nos dar
coragem e confiança. E eu tomei tamanho gosto pelo basquete que quando me disseram,
em sentido figurado, que eu teria de dormir com a bola para ser um bom jogador,
levei aquilo ao pé da letra e realmente passei a dormir com ela. Ficava deitado
com a mão para fora da cama, batendo a bola no chão, na parede, até pegar no
sono. Quando acordava, já estava com ela ali do meu lado”.
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Oscar na equipe infantil do Palmeiras. |
Dois anos depois, com apenas 15 anos, Oscar já estava em São Paulo para
jogar pela equipe infantil do Palmeiras. E como tudo que acontece de forma
meteórica na vida desses heróis do esporte, rapidamente chegou à seleção juvenil
brasileira. Em 1977 já era considerado o melhor pivô sul-americano, e com 19
anos, iniciou a longa carreira de títulos e glórias com a Seleção Brasileira
principal. Era tão bom que neste ano de 1977 chegou a disputar e conquistar dois
campeonatos sul-americanos pela seleção brasileira em categorias diferentes.
Em 1979, Oscar conquistou o que ele mesmo considera um dos maiores títulos
como jogador de basquete: a Copa William Jones, uma espécie de Mundial
Interclubes da modalidade.
Jogava no Sírio em uma equipe que entrou para a
história do basquete brasileiro, ao lado de Marcel e Marquinhos, o primeiro,
para ele, o melhor parceiro dentro de quadra, “um jogador genial”.
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Oscar no basquete italiano. |
Em 1982, Oscar deixou o Brasil e foi jogar na Itália por onde ficou 8
anos com passagens pelo Caserta e Fernet Branca. Estava no auge da carreira,
com a mão mais do que certeira de sempre (Oscar marcou 49.703 pontos em
32 anos de carreira), tanto que
acabou convidado pela Liga Norte-Americana, para jogar a NBA. Oscar recusou por
uma razão muito simples: “Naquela época, quem participasse da liga profissional
não podia defender a seleção nacional. Optei pelo Brasil, e não me arrependo”.
Sabia decisão a do Mão Santa. E sua recusa seria melhor compreendida
pelos próprios norte-americanos, nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em
1987, o evento que marcou para sempre não apenas a carreira de Oscar como a do
basquete mundial.
O Brasil acabou fazendo o que ninguém (nem os próprios
brasileiros) acreditava: vencer a poderosa e imbatível equipe norte-americana,
dentro dos Estados Unidos!!!
Foi um jogo histórico que valeu o ouro pan-americano, mas muito mais do
que isso: “Foi uma partida memorável e entramos em quadra sabendo que os Estados
Unidos nunca, em sua história, haviam perdido jogando em seus domínios. Mas,
após uns 5 minutos do segundo tempo, quando começamos a desafiar os americanos,
tive a convicção de que vencer era possível e jogamos como nunca”. (http://www.revistatipica.com.br/?s=destaque&n=19)
A partir dessa conquista Oscar projetou-se definitivamente no cenário
mundial. Continuou até o ano de 2002 fazendo com precisão o que conquistou com
muito treino: cestas, especialmente as de 3 pontos, sempre precisas. Por tudo isso, Oscar acabou incluído no livro
dos 100 melhores jogadores de basquete da história escrito por Alex Sachare, um
dos mais respeitados da modalidade, autor da enciclopédia oficial da NBA.
Oscar bateu todos os recordes possíveis na carreira e que não caberia enumerá-los
aqui, neste espaço (recomendados acessar o belíssimo site oficial de Oscar:
http://www.oscarschmidt.com.br/,
com fotos sensacionais de sua carreira). Entre tantos fatos marcantes, um deles
é que o Mão Santa é junto com Teófilo da Cruz e Andrew Gaze, um dos três
jogadores de basquete a terem disputado cinco Olimpíadas. Só isso, não bastaria
para Oscar. Ele foi o “cestinha” em três delas, marcando em todas elas, 1.093
pontos.
Mas o Mão Santa também deteve recordes que poucos conhecem. Além de se
tornar um dos maiores cestinhas da história do basquete mundial, Oscar, aos 19
anos era recordista em comer chocolates em um mesmo dia. Tudo por conta de um
desafio que um técnico da seleção fez a ele: a cada rebote vencido, um bombom.
Neste dia, Oscar comeu 66 bombons e foi parar direto em um hospital e do vício
em chocolate nunca mais se esqueceu e diverte: “Eu era muito guloso, comia para ter energia mesmo, já que nunca tive
problema de peso. Eu tinha 19 anos quando comi os 66 bombons. Tive forte
intoxicação alimentar. Daí para frente, passei a comer só uns 15 ou 20 por dia”.
(http://www.folhauniversal.com.br/capa/noticias/famosas-bocas-nervosas-9967.html
)
Como todo herói esportivo, a imagem de Oscar (durante e após o
encerramento da carreira) espalhou-se em diversos segmentos.
Poucos sabem ou se
lembram que ele chegou a ser personagem de uma revista de história em
quadrinhos. “Oscarzinho” (Editora Mithos, 1997) foi lançada no final do ano de
1997, ou seja, cinco anos dele encerrar a carreira.
O personagem era um amante
do basquete que procurava sempre tirar uma boa lição do esporte para a vida. Apesar
de desenhada por um dos maiores mestres da HQ, Mozart Couto, a revista
Oscarzinho teve vida curta, durou apenas alguns números e desapareceu.
Mas Oscar, evidentemente, teve caminho completamente diferente. Por onde
passou colecionou títulos e recordes. No mesmo ano em que sua revista fracassou
no mercado editorial, Oscar batia recordes incríveis. Em 1998, jogando pelo Barueri/Bandeirantes
ele atingiu a incrível marca de 40 mil pontos na carreira, transformando-se no
primeiro jogador a marcar mais de mil pontos em um campeonato brasileiro. No
ano seguinte, em 1999, quando já estava com 44 anos (!!!) outra marca
espetacular quando já jogava pelo Flamengo, do Rio de Janeiro e alcançou os 43
mil pontos na carreira.
E foi no Flamengo que Oscar acabou vivendo o que ele considera um dos
momentos mais marcantes em sua vida: jogou ao lado do filho Felipe durante 10
partidas do campeonato carioca de basquete.
Oscar teve uma única grande decepção na vida profissional, mas que
aconteceu fora das quadras.
Depois que parou de jogar basquete, tentou a vida
na política, candidatando-se a Senador, por São Paulo, mas acabou derrotado.
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Oscar no Hall da Fama da Fiba |
Talvez tenha sido até bom Oscar não entrar para a política. Será que ele
teria recebido duas homenagens eternas por tudo que fez dentro das quadras? A
primeira, em 2010, quando foi eleito pela FIBA, a Federação Internacional de
Basquete, sediada em Madri, para integrar o Hall da Fama. E a segunda, no ano
passado quando se tornou o primeiro jogador de outra modalidade a ser incluído
na Calçada da Fama do Corinthians.
Oscar também jogou basquete pelo Corinthians, mas era sabido que ele era
torcedor do Santos de Pelé e companhia. Mas ele tinha uma explicação para virar
a casaca: "Fiquem
sabendo que aqui tem um corintiano resgatado. Vale muito mais do que quem torce
para o time do pai. Eu escolhi torcer pelo Corinthians. Fui conquistado pela
torcida. Eu assisto a todos os jogos e xingo sozinho. Quando perdemos para o
Tolima, para mim a pior derrota da história, foi revoltante".
Ainda bem que desde que deixou as quadras, Oscar também se aventurou
pelo mundo das letras. Por fazer palestras motivacionais em empresas, acabou
escrevendo um livro “Conquistando o sucesso” (Editora Komedi, 2011). Talvez
tenha vindo daí também a força para superar o trauma da internação por conta de
um tumor encontrado em sua cabeça.
Outro fato que talvez poucos saibam é que além deste livro, escrito por
ele mesmo, Oscar tem três biografias publicadas sobre sua fantástica vida no
esporte mundial. Uma edição em espanhol, outra em italiano e uma em português, “Oscar
Schmidt, a biografia do maior ídolo do basquete brasileiro” (Editora Best
Seller, 1996), escrita por Odir Cunha e encontrada apenas em sebos.
E para encerrar, afinal, de onde surgiu o apelido “Mão Santa”. É o
próprio Oscar quem dá a resposta:
“Veio da imprensa. Os jornalistas Juarez Araújo, da Gazeta, e Álvaro
José, da Rede Record, começaram a falar muito disso, porque no México tinha um
jogador de basquete chamado “Mano Santa”, que “metia muita bola”. Então, eles
comentavam que eu era o “Mão Santa” do Brasil, e isso pegou. No começo, eu não
gostava, pois o meu arremesso não era resultado de milagre, mágica, mas de
muito treino. Hoje, eu acho carinhoso e até gosto. É como uma marca, um carimbo”.
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