Alguns dias atrás o noticiário
esportivo estampava nos principais jornais e sites da internet a foto do busto
do goleiro Marcos, que anunciou a aposentadoria definitiva no futebol.
Imediatamente, houve protestos, chiadeira geral, pois o rosto esculpido naquela
estátua não tinha nada a ver com o grande Marcos, o São Marcos...
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Estátua de Marcos. |
Como estátuas normalmente são feitas
para pessoas que já morreram, Marcos, nesse caso, vivíssimo, deve ter ficado
horrorizado com o que pretendia ser uma justa homenagem pela longa carreira de
sucesso no futebol.
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Luiz Mendes |
Pode parecer deselegante, mas se fosse
Marcos,não permitiria que essa estátua fosse eternizada onde quer que seja
colocada. Digo isso e explico a razão. Ou melhor, eu não, mas o saudoso e
querido mestre Luiz Mendes, que em seu livro de memórias “7 mil horas de
futebol” (Freitas Bastos Editora, 1998) revela uma história muito parecida com
o que fizeram com o rosto de Marcos na tal estátua.
A estátua a que Luiz Mendes se
refere ainda está lá, na frente do demolido estádio do Maracanã, mas não
sabemos se continuará por lá quando o novo estádio estiver concluído para a
Copa do Mundo.
Se os arquitetos decidirem que a estátua de Bellini (sic)
continue por lá, seria bom lerem essa história do mestre Luiz Mendes.
A estátua do rei da voz
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Programa "Noite de Gala", da TV Rio. |
O programa “Noite de Gala” da TV
Rio, apresentado às segundas-feiras, era a maior sensação da televisão do Rio
nos anos 50/60. O patrocinador era o Rei da Voz, loja de eletrodomésticos
ligada às Casas Garson e tendo como um dos principais sócios e diretores o meu
amigo Abraão Medina, provavelmente o maior incentivador dos shows televisivos
do início da tevê brasileira.
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Flávio Cavalcanti, na TV Rio. |
Armando Nogueira escrevia os
editorais do programa e eu os lia. Flávio Cavalcanti, Cécil Thiré, Abelardo
Figueiredo foram diretores de “Noite de Gala”. Eu dei uma ideia para o querido
Medina. Por que o programa não promovia a colocação de uma estátua de Bellini à
frente do portão principal do Maracanã, no gesto famoso de levantar a Taça
Jules Rimet?
Medina, com aquele grande
dinamismo que lhe era característico, por ter gostado da ideia, mandou logo
esculpir a estátua. E o Rei da Voz comandou a iniciativa de “Noite de Gala”,
homenageando os campeões do mundo com a estátua de Bellini. Só que a cabeça da
estátua não tem nada a ver com Bellini. É a cabeça de Francisco Alves, o “Rei
da Voz”, o homem que havia inspirado o nome da loja de Medina. Claro que
ninguém notou. Afinal, uma estátua nem sempre parece com a pessoa homenageada.
O físico estava igual, era aquele corpo de atleta perfeito do capitão da
seleção do Brasil.
Uma vez perguntei ao Medina de
quem havia partido a iniciativa de colocar a cabeça de Francisco Alves no corpo
de Bellini. Ele me disse que não havia notado isso, para ele aquela estátua era
a reprodução em bronze de Hideraldo Luiz Bellini. Nem lhe passava pela cabeça –
me disse – que houvessem feito essa simbiose, tanto que nem havia olhado para a
cara da estátua. Aí eu disse: – “então olhe que você vai reconhecer o Chico
Alves”.
Tenho encontrado muita gente do futebol que estranha o fato de o homem
da estátua não ter a menor semelhança fisionômica com o capitão Bellini. E
nunca houve uma explicação para o fato.
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Francisco Alves |
Com o passar do tempo, as pessoas
perderam a familiaridade com as feições de Bellini e devem ter esquecido também
as de Francisco Alves. Se quiserem, no entanto, conferir a historinha aqui
contada é só pegar velhas fotos do grande e saudoso cantor Francisco Alves – “O
Rei da Voz”, confrontando-as com o rosto da estátua que fica defronte ao
estádio Mário Filho. E se quiserem, confrontem também com as fotos de Bellini.
Vão ver que aquele rosto é igual
ao de Francisco Alves e bem diferente do semblante de galã do grande capitão da
Seleção Brasileira, vencedora do Campeonato Mundial da Suécia, em 1958!
André:
ResponderExcluirAcho fundamental a ideia de homenagear nossos ídolos em vida. E aprecio a ideia que meu amigo botafoguense Marcos Müller, o Mazolinha, criou do Panteão Botafoguense, na ala oeste do Engenhão. Já temos por lá estátuas de Mané Garrincha, Nilton Santos e Jairzinho, todas absolutamente inidentificáveis. Nenhuma delas se parece, nem de longe, com o homenageado.
Por que isso? Não temos artistas à altura? Duvido! Mas o “artista” escolhido para criar as estátuas (uma iniciativa da torcida, encampada pelo Clube, paga com doações de torcedores, sem que o Clube nunca se metesse na história), a meu juízo, é péssimo escultor. Mas me parece que o “autor” da estátua do Marcão, ao contrário da imensa maioria da torcida brasileira, tem horror ao craque.
O que me deixa pior é que eu soube que as estátuas de Heleno de Freitas, em São João Nepomucento e Rio de Janeiro, serão feitas pelo mesmo “artista”.
Abs
Cesar