O desaparecimento de um estádio de futebol não apaga da memória o que nele
vivemos (ou nossos antepassados), mas deixa uma ferida na memória de todos que um
dia ali desfilaram, nas arquibancadas ou no gramado. É o que nos conta o gaúcho
de Santa Maria, Athos Miralha da Cunha sobre o tradicionalíssimo Estádio dos
Eucaliptos, que está sendo demolido para a construção de um condomínio
residencial. Athos mantém o blog:
Adeus aos Eucaliptos
Por Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Posso imaginar o que sentiu Larry Pinto de Farias ao ver o início da
demolição do Estádio dos Eucaliptos. Possivelmente um sentimento de perda e
vazio. Impotência diante da máquina avassaladora.
O estádio inaugurado num distante março no início da década de 30 dá
lugar a um condomínio residencial. Em breve, o gramado onde brilharam Ivo,
Alfeu, Nena, Assis, Ávila, Abigail, Russinho, Villalba, Tesourinha, Adãozinho e
Carlitos, craques do lendário Rolo Compressor será, apenas, algumas lembranças
de saudosos torcedores do Sport Club Internacional.
Não conheci os Eucaliptos, sequer fui fazer uma visita para ver o palco
que abrigou jogos da Copa de 50. O Estádio dos Eucaliptos nunca esteve nos meus
roteiros em visita a Porto Alegre.
Não tive a felicidade de assistir ao Rolo
Compressor e não vi as atuações de Tesourinha e Cia. Essa turma de boleiros só
nos livros e fotos.
A minha geração é a do Gigante da Beira-Rio. Que também é um templo
sagrado de mitos e lendas do futebol.
A geração do Bigorna, Bola-bola e Dom
Elias Figueroa. Da mesma forma que alguns torcedores mais idosos têm a
escalação do Rolo Compressor na cabeça, eu tenho a da equipe campeã de 75 e o
inesquecível Gol Iluminado.
Não tenho esse sentimento de afeto ao Estádio dos Eucaliptos, mas posso
imaginar que seja a mesma sensação melancólica de um ferroviário ao contemplar
as ruínas de uma estação da Viação Férrea. E esse sentimento – como filho de
ferroviário –, eu tenho presente. São emoções indescritíveis como folhar um
corroído álbum de fotografias que contam a história de uma Era. A história de
um tempo que está marcado nos gritos de uma torcida ou num gol de bicicleta.
O Estádio dos Eucaliptos ficará na memória dos torcedores – e na memória
dos filhos e netos desses torcedores –, nas fotos, em um perdido filme de uma
tabelinha de Larry e Carlitos. Na voz de um narrador alucinado com um
desconcertante drible de Tesourinha. Essa é a historia que deverá ser contada e
escrita nos pormenores detalhes.
É uma pena. Os Eucaliptos poderiam abrigar a história do futebol, a
memória dos esportes, mas temos que compreender que futebol e time campeão não
se faz com sentimentalismo e nostalgia. Hoje, futebol é um negócio cujo
resultado vem das quatro linhas do gramado. Não basta ter um estádio, tem que
ter time e time vencedor.
![]() |
Chácara dos Eucaliptos, em 1912. |
Assim, resignado, mas com o mesmo sentimento de Larry, entendo o adeus
aos eucaliptos.
O Beira-Rio é o nosso palco e o Rolo Compressor nós refaremos junto ao
pôr do sol do Guaíba. E quando o capitão colorado levantar a taça de campeão
estará saudando os craques do passado e as glórias do Estádio dos Eucaliptos.
Sobre Athos Miralha da Cunha
É graduado em Engenharia Civil pela UFSM e funcionário da
Caixa. Integrante dos livros de crônicas Tudo Haver ed. 2005; Nada Haver ed.
2006; O maquinista daltônico ed. 2007; O gol iluminado ed. 2009 (2º lugar no
prêmio Paulo Mendes Campos 2010 da UBE); Pra começo de conversa ed. 2009 e das
coletâneas de contos A nona assassina ed. 2007; A frase do doutor Raimundo Ed.
Movimento 2009 e Milongueiro Ed. Movimento 2011. Um dos autores dos romances
coletivos Os dez mandamentos – Ed. Movimento 2008 e Arquimedes – Ed. Movimento
2010.
Tudo “ haver” ???????? Nada “ haver” ?????????????
ResponderExcluirTabelinha entre larry e carlitos. Sei....sei...lhe entendo senhor....
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