Em um 20 de janeiro, há 29 anos,
o eterno ídolo do futebol brasileiro, Garrincha, nos deixava. Terminava para o
homem simples, Manuel dos Santos, uma jornada feita de fama e tragédia. O
alcoolismo acabou devastando a vida de mais um brasileiro.
Garrincha morreu quando tinha
apenas 49 anos, em 1983. Na pequena série que o Literatura na Arquibancada vem apresentando
sobre o jogador que era “a alegria do povo”, apresentamos agora uma crônica
inédita de quem entende muito bem dos “Manés” que circularam pelo clube da “estrela
solitária”.
O “Mané” de hoje soube como
ninguém honrar e eternizar a camisa do Botafogo. E para aqueles que nasceram
com o dom, ou ainda aprenderam a colocar no papel fatos dos quais foram
testemunhas oculares, fica fácil recordar histórias de um homem que até hoje
encanta pela sua simplicidade e genialidade.
Roberto Porto não é só um
jornalista bofafoguense.
Ele é o botafoguense que se pode chamar de “Phd” no
clube da “estrela solitária”. E nada melhor do que um mestre da boa prosa para
nos contar uma boa história sobre Mané Garrincha, até para “quebrar” um pouco o
clima “pesado” sobre a doença que o vitimou, o alcoolismo.
Um bêbado no Electra da Varig
Fazia um calor infernal naquela noite de dezembro de 1981, quando
decidi embarcar para São Paulo, onde tinha um encontro marcado com o amigo e
publicitário Mauro Ivã Pereira de Mello. Assim, foi um alívio quando entrei no refrigerado
Electra II da Varig à espera dos outros passageiros. O ambiente no avião –
confortável como nenhum outro – e o silêncio a bordo me fizeram dormir, creio
que por uns dez minutos.
Pouco antes, para minha surpresa, Mané Garrincha subiu a bordo, acompanhado
de dois amigos. E ao passar por mim, tocou em meu braço e me cumprimentou a seu
jeito e modo simples de se expressar:
– Fala, gente boa...
Minutos depois, acordei meio assustado e ao ver o avião
estacionado, perguntei ao passageiro a meu lado:
– Já chegamos?
O cidadão, meio impaciente, foi curto e grosso:
– Ainda nem decolamos... O comandante disse que há um bêbado a
bordo e que ele havia chamado a segurança do Santos Dumont para retirá-lo. Caso
contrário, o vôo não se realizaria.
Confesso que fiquei assustado. Será que Garrincha entrou
alcoolizado no Electra II? Será que testemunharia uma vergonha perpetrada pelo
meu ídolo do Botafogo?
Assim, meio envergonhado, fiquei esperando pelos seguranças
chamados pelo comandante.
E qual não foi minha surpresa, agradável até certo ponto, quando
verifiquei que os seguranças foram lá atrás e trouxeram arrastado um senhor de
cabelos brancos, de paletó e gravata, tentando resistir a ser expulso do avião.
Em meio ao tumulto, o cidadão perdeu um sapato, que ficou preso embaixo de uma
poltrona.
Senti um alívio sem igual. Garrincha estava sóbrio como nunca e
sossegado em seu lugar. Eu teria ficado arrasado se fosse ele, Garrincha, a
origem de tamanha confusão.
Manoel dos Santos, o Mané Garrincha (1933-1983), já havia
abandonado o futebol. Mas era meu ídolo, minha referência ao grande Botafogo
que ele ajudou a formar. Fiquei feliz com o desenlace. Garrincha fora aprovado
com nota 10.
Por sinal, esta foi a última vez que vi Garrincha.
Sobre o Autor
Roberto Porto é carioca, bacharel em Direito, botafoguense e
jornalista, não necessariamente nessa ordem. No dia 22 de fevereiro,
completa 72 anos de amor ao Botafogo. Porque, segundo ele, já o era no ventre
da mãe. Largou o canudo da faculdade do Largo de São Francisco "para ir
atrás do Botafogo" e nunca mais parou. Com "a maior paixão imaterial
da sua vida", viveu sempre desbragadamente o fato de ser Botafoguense.
Hoje, é colunista da ESPN Brasil no programa Loucos por Futebol. Escreveu
vários livros sobre o Botafogo, dentre os quais se destaca “Botafogo: 101 anos
de histórias, mitos e superstições”. E está prestes a lançar “O maior Botafogo
de todos os tempos”, além de escrever a biografia do artilheiro Tulio
Maravilha, livros que vai lançar pela LivrosdeFutebol.Com. É irmão do arquiteto
Carlos Porto, autor do projeto do Engenhão. E pai do narrador Roby Porto, da TV
Globo/Sportv.
Maravilhoso texto sobre o maior jogador de futebol de todos os tempos, na minha humilde opinião.
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