A bola vai voltar a rolar. No
próximo final de semana começam os campeonatos estaduais pelo país. Literatura
na Arquibancada destaca dois livros lançados no mesmo ano sobre a história de
dois dos campeonatos mais tradicionais, o paulista e o carioca. No paulista, o
livro chama-se “A história do Campeonato Paulista” (Publifolha, 1997) escrita
por duas feras da crônica esportiva, Valmir Storti e André Fontenelle.
A versão carioca é outro livro
espetacular: “Campeonato Carioca, 96 anos de história” (Irradiação Cultural,
1997), escrita por Roberto Assaf e Clóvis Martins.
O título carioca teve,
felizmente, atualização recente, em 2010, pela Editora Maquinaria, pois a obra
só era encontrada em sebos a preços astronômicos. Confira aqui o post sobre:
Nesse primeiro post, destacamos o livro da dupla paulista, Storti e
Fontenelle, que revela ano a ano “curiosidades” da disputa. Literatura na
Arquibancada destaca algumas dessas “pérolas”:
![]() |
Foto comemorativa do tricampeonato Paulista conquistado pelo SPAC. |
Em 1903, segundo ano do campeonato paulista, o São Paulo Athletic
conquista o bicampeonato. Formado pela maioria de jogadores ingleses, um deles
parecia nada adaptado a vida fora das quatro linhas:
“O início de uma das partidas
entre Paulistano e São Paulo Athletic atrasou cerca de 30 minutos. É que um dos
jogadores do São Paulo ia para o Velódromo, já uniformizado, e foi parado por
um policial quando atravessava a atual praça Antônio Prado, então largo do
Rosário. Como o inglês pouco falava português, acabou detido por “circular em
trajes carnavalescos, fora de época, ofensivos ao pudor por deixarem à mostra
as pernas em público, no centro da cidade”. Preocupados com a demora do atleta,
os dirigentes dos dois clubes telefonaram para a polícia e o localizaram na
delegacia central. Explicaram o mal-entendido, e o jogador foi liberado.”
![]() |
Corinthians de 1918: o time podia não ser famoso, mas acabou com o vice-campeonato paulista. |
Em 1918, a equipe do Paulistano conquista o tricampeonato paulista,
mas a curiosidade é o resultado de uma pesquisa. Qual corintiano de hoje
consegue imaginar um resultado como esse?
“A Cruz Vermelha realizou no
final de 1918 uma tômbola que serviu como verdadeira pesquisa de popularidade
dos clubes paulistas. Os apostadores compravam bilhetes de seus clubes
favoritos. Nada menos que 131 mil foram comprados. O Paulistano ficou em
primeiro, com 52%, seguido por Palestra Itália (25%), AA das Palmeiras (7%),
Ypiranga, São Bento e Santos (4%) e Corinthians (3%)”.
Em 1922, o Corinthians é campeão no ano do centenário da Independência
do Brasil. Mas é o Paulistano que recebe uma grande homenagem:
“O futebol paulista também
inspirava os poetas modernistas. No mais famoso livro de poemas do movimento, ‘Paulicéia
Desvairada’, lançado por Mário de Andrade em 1922, o autor homenageia jogadores
do Paulistano nos versos de ‘Domingo’:
“(...)
Hoje quem joga? O Paulistano
Para o Jardim América das rosas e
dos pontapés!
Friedenreich fez goal! Corner!
Que juiz!
Gostar de Bianco? Adoro. Qual
Bartô...
E o meu xará maravilhoso!...
– Futilidade, civilização...”
![]() |
Equipe do Santa Cruz, de 1926. "Os bons elementos negros", que não poderiam jogar o Campeonato Brasileiro. |
Em 1926, as divergências políticas já eram evidentes no futebol
paulista. O Paulistano acabou campeão de uma liga que ele mesmo criara. Na
curiosidade destacada pelos autores, outro problema eterno da sociedade
brasileira e que dentro dos gramados começava a se manifestar claramente:
“A imprensa esportiva paulista se
indignou com esta nota, publicada no “Jornal Pequeno”, do Recife: ‘Serão
afastados do quadro que representará o esporte de Recife, no próximo Campeonato
Brasileiro, todos os jogadores de cor, embora sejam bons elementos’. A ‘Gazeta’
paulistana retrucou: ‘Refleti bem, senhores membros da Liga Pernambucana,
porque deveis ficar lembrados que um homem de cor tem e terá sempre uma alma de
uma brancura invejável (...) Ser preto não é crime”.
![]() |
Entrada do Palmeiras em campo, no jogo contra o São Paulo, no Pacaembu, que entrou para a história como "arrancada heróica". |
Em 1942, por conta da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o
Palestra Itália teve de mudar de nome. E foi com ele, Palmeiras, que o clube
acabou campeão naquele ano. O jogo que marcou definitivamente a mudança de nome
do Palestra para Palmeiras foi contra o São Paulo, que trouxe para a sua equipe
o jogador mais famoso do futebol brasileiro, Leônidas da Silva, o Diamante
Negro.
Se dentro de campo as equipes
rivalizavam, fora deles, nem tanto. É o que se percebe pela curiosidade destacada
pelos autores:
“Em homenagem a Leônidas
(atacante do São Paulo) e a Junqueira (zagueiro palmeirense), a adega Castelões
criou a pizza “bicicleta”, jogada característica dos dois atletas: meio queijo,
meio ‘alicci’. A adega oferecia anualmente um jantar aos campeões paulistas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário