A bola vai voltar a rolar. No
próximo final de semana começam os campeonatos estaduais pelo país. Literatura
na Arquibancada recomenda e destaca hoje a leitura de um livro espetacular,
repleto de informação, pesquisa histórica e recheado de causos divertidos:
“Campeonato Carioca, 96 anos de história” (Irradiação Cultural, 1997), escrita
por Roberto Assaf e Clóvis Martins.
A obra teve, felizmente,
atualização recente, em 2010, pela Editora Maquinaria, pois a obra só era
encontrada em sebos a preços astronômicos.
Literatura na Arquibancada
destaca algumas dessas “pérolas”:
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Equipe do Mangueira. |
Em 1909, o Fluminense foi o campeão, mas um certo Mangueira foi o
time a entrar para a história:
“A nota curiosa da competição foi
a goleada, a maior de toda a história do futebol brasileiro, do Botafogo, 24 a
0 sobre o Mangueira, um clube modesto da Tijuca, Zona Norte do Rio, que
desapareceu em 1924, somando 96 derrotas nas 118 partidas que disputou. Para
muitos, o resultado não passa de lenda do amadorismo. Para alguns
historiadores, o time deixou-se abater com facilidade porque teve de ser
reforçado por “dois ou três diretores” sem qualquer aptidão para a prática do
futebol. Mas a partida aconteceu de fato, sem que o Mangueira precisasse
recorrer a dirigentes. Está em quase todos os jornais da época. O Mangueira
jogou completo, tanto que também disputou, no mesmo dia, o jogo de segundos
quadros e perdeu de “apenas” 12 a 1.”
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Charles Williams, em destaque na foto, além de 1º técnico do futebol carioca é também autor do primeiro gol de goleiro, quando jogava no futebol inglês. |
Em 1911, a novidade é fora das quatro linhas:
“...pela primeira vez, no futebol
carioca, uma equipe era dirigida por um treinador – a do Fluminense (que acabou
campeão na temporada) –, o inglês Charles Williams, contratado por 18 libras
esterlinas mensais, além de casa, comida e duas passagens ida e volta
Rio-Londres”.
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Camisa cobra-coral do Flamengo. |
Em 1916, o América foi campeão, mas o destaque é rubro-negro:
“Na briga pelo tri, o Flamengo
foi de fato uma das vedetes da temporada. Mas, temendo que a imagem do clube
fosse definitivamente por água abaixo, sua diretoria mudou, enfim, o uniforme.
A camisa “cobra-coral”, semelhante à bandeira da Alemanha, principal
protagonista da Primeira Guerra Mundial, foi substituída pela de listras
vermelhas e pretas que, com pequenas variações no desenho, dura até hoje.
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Uniforme do Flamengo, a partir de 1917. |
A troca aconteceu no amistoso em
que o Flamengo derrotou o São Bento de São Paulo (não é o atual) por 3 a 1, e
que marcou a inauguração oficial do estádio da rua Paysandu, no dia 4 de junho”.
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Equipe do América, em 1913: Belfort Duarte está do lado direito do goleiro Marcos, de branco, no alto da foto. Crédito: www.abi.org.br |
Em 1918, o Fluminense é campeão mas foi um jogador do América que
entrou para a história:
“...O grande jogador (do América)
João Evangelista Belfort Duarte foi assassinado em 27 de novembro, em Campo
Belo, interior do estado do Rio, aos 35 anos de idade, em conflito motivado por
posse de terra.
Em 1945, o Conselho Nacional de Desportos (CND) decidiu
homenageá-lo, entregando um prêmio com seu nome aos atletas que, a partir dali,
encerrassem a carreira sem uma única expulsão de campo”.
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Sidney Pullen |
Em 1920, o final da Guerra na Europa revelou um estrangeiro como ídolo
rubro-negro:
“Vivia-se, enfim, um tempo de paz
e de promessas. A guerra na Europa terminara, e foi justamente um inglês,
Sidney Pullen, que lutara nos campos de batalha defendendo seu país, quem
comandou o Flamengo rumo ao título. Curiosa, de fato, a história de Sidney. O
jogador, capaz de atuar em várias posições com a mesma eficiência, já havia
ganho dois campeonatos da cidade, o primeiro pelo Paysandu, em 1912, e o outro
pelo próprio Flamengo, em 1915. Em 1916, integrou a Seleção Brasileira que
esteve no Sul-Americano de Buenos Aires, tornando-se o único estrangeiro a
vestir a camisa do scratch, entre 1914
e 1917.
Convicto da importância de sua
presença na luta contra os alemães, Sidney largou o futebol em 1917 para
defender, como simples soldado britânico, a Inglaterra na Primeira Guerra,
regressando a tempo de jogar pelo rubro-negro até 1925, quando encerrou,
definitivamente, a carreira. No campeonato de 1920, Sidney fez de tudo um pouco.
Revezou-se entre as três posições da linha média e em pelo menos três do
ataque, marcou seis gols e deu passes para muitos outros. E dirigiu, na prática,
o time dentro do campo”.
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Presidente Epitácio Pessoa |
Em 1921, o Flamengo é campeão, mas quem é notícia é o presidente da
República:
“...o acontecimento de maior
repercussão ocorreu em setembro, pouco antes do Sul-Americano que seria
disputado em Buenos Aires.
O presidente da República, Epitácio Pessoa, convocou
o alto comando da CBD ao Catete e recomendou que a entidade evitasse de levar
negros ou mulatos à Argentina. A maior figura do Brasil no torneio foi um
gaúcho de pele claríssima, descendente de alemães, o goleiro Júlio Kuntz.
Por
suas soberbas atuações, o maestro argentino Ganaro dedicou-lhe o tango El
Colosso. Mas a campanha da Seleção foi desastrosa. O time acabou em penúltimo
lugar”.
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São Cristóvão, campeão carioca de 1926. |
Em 1926, no primeiro e único título conquistado pelo modesto São
Cristóvão, o destaque é uma senhor de 40 anos:
“...não foi um campeonato fácil,
como se possa pensar a princípio. Foram necessárias batalhas dentro de fora do
campo. Conta O Imparcial que, em pelo menos duas ocasiões, o São Cristóvão
esteve perto de dar adeus ao título. A primeira aconteceu a 14 de julho, em
Figueira de Melo, quando perdeu de 3 a 2 para o Vasco, seu mais ferrenho
adversário na competição. Registra o jornal que o público absurdo de 19040
pagantes, composto por maioria esmagadora de torcedores cruzmaltinos,
praticamente ganhou o jogo no grito. Foi a tarde de glória de dona Eusébia. “Há
uma penalidade lateral. O juiz apita. A multidão, julgando ser o apito final,
invade o campo. E a pancadaria começa. Dentre os que brilharam na pancadaria
encontrava-se a dona Eusébia, residente em uma rua próxima, e que sendo uma das
figuras positivamente caricatas dos nossos grounds não deixa de ser uma
enthusiasta extremada do onze de Henrique. Dona Eusébia, que aparenta ter 40
anos, é de cor parda. Logo que fechou o tempo às suas redondezas, entrou valentemente
n o brinquedo e deu que fazer a muito marmanjo. Foi um número, a valente”.
Confira também o post sobre o livro que resgata a história do Campeonato Paulista:
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