Hoje, dia 30, comemora-se o Dia
Nacional das Histórias em Quadrinhos. A data foi instituída há 22 anos
pela Associação de Quadrinhistas e Cartunistas do Estado de São Paulo, com o
objetivo de lembrar que em 1869, nesse mesmo dia, foi publicada a primeira
história em quadrinhos brasileira.
Na série que o Literatura na Arquibancada vem mostrando, hoje, um artigo
escrito pelo estudante de História da PUC de São Paulo, Marcio Cavalcante.
Histórias em Quadrinhos e o Futebol
Por Marcio
Cavalcante
Em uma homenagem simples ao dia do HQ – gibi para os íntimos – resolvi a
pedido do Andre Ribeiro, trazer a memória algumas publicações nas quais o
futebol é retratado ou é pano de fundo para diversas historias, brincadeiras,
suspense, humor, ações sociais e críticas.
No artigo escrito pelo Marcus Ramone postado neste site, o futebol
dentro da HQ foi amplamente retratado, e acabei lembrando de vários
personagens, várias histórias, vários gibis, vários amigos e também de
personagens que são mais recentes. Nesta minha breve primeira participação,
faço as minhas considerações sobre o que lembro de forma mais específica e
pessoal destas duas artes: Futebol e Histórias em Quadrinhos.
Dico, o 007 hermano
Bem, um dos gibis dos quais me refiro foi o (no original) “Dick, El
artillero”, uma série de HQ argentina criada para o público latino
norte-americano no início da década de 70. Nos EUA também era conhecida pelo
seu nome americano, Gunner, tinha
inicialmente roteiros de Alfredo Julio Grassi e desenhos do talentoso José Luis
Salinas.
O personagem ganhou fama na Europa nas páginas da revista "Mundo
de Aventuras", publicação portuguesa de quadrinhos que remodelou a série,
re-diagramando as tiras em páginas inteiras, para publicar aventuras completas.
Recomeçada com o nome do personagem principal da tira, "Dick, o
Avançado-centro", Dick chegou ao público brasileiro em 1975, com o nome de
"Dico" - provavelmente para lembrar o jogador "Zico" que
começava a encantar o Brasil - em revista própria da RGE. O Artilheiro, como
era chamado por seus companheiros Jeff, Poli e toda a equipe do Estrela Futebol
Clube, era apresentado em HQs completas, acompanhadas de reportagens sobre
futebol. Então o Dico entre um gol e outro, no uniforme preto e azul vivia
envolvido com casos policiais e entre um jogo e outro envolvido em suspenses.
Coincidentemente (ou não), Dico também é o apelido de infância de um
certo Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé.
Assumidamente
utilizando o futebol como pano de fundo das aventuras policiais e de suspense,
esse gibi transitava em um assunto não tão comum, pois aqui o futebol, a meu
ver, deveria ser destaque, os lances e tal, no entanto as edições originais
hoje valem um bom $$ nos sebos e sites especializados.
Pelezinho...sem palavras...
Agora sim, um personagem tipicamente brasileiro,
com nome brasileiro e baseado num dos maiores brasileiros vivos.
Segundo
levantamento de conversas (mercadológicas) entre Pelé e Maurício de Sousa
nasceu o personagem Pelezinho, baseado no menino Edson Arantes do Nascimento. Para
fazer um ambiente bem natural, todos os outros personagens da turma do
Pelezinho também nasceram de sugestões ou reminiscências do craque.
Pelezinho foi criado em 1976 (no auge da sua
participação no time do Cosmos de NY) para publicação em tiras diárias nos
jornais.
Como já escreveu aqui Marcus Ramone, o sucesso foi instantâneo, afinal o
toque de gênio que Pelé tinha na bola, também se manifestava em seus
empreendimentos financeiros. Mas isso não influenciava a criação das histórias
que sempre tinham o futebol como agregador da turma do Pelezinho, brincadeiras
e testes para a criançada. A única situação que não ocorreu em suas histórias
foi o encontro entre o craque da Turma da Mônica, o corintiano roxo Cascão versus Pelezinho, pois as duas turmas
viviam suas próprias histórias em separado.
Uma observação, o personagem Cascão (corintiano roxo) já era o grande
jogador da Turma da Mônica, então a familiaridade e interações das histórias
são bem feitas e lúdicas, por isso, amigo Maurício de Souza, você que já
colocou o Pelezinho frente ao Maradoninha, por que não no mesmo gibi do Cascão?
Ah !!! Lembram do corte de cabelo do Ronaldo Fenômeno na Copa de 2002 ???
Homenagem ao Cascão !!!!
Ronaldinho...o Gaúcho ?
Em 2006, quando eu já não lia tanto quadrinhos como outrora, novamente outro
gênio do futebol foi retratado por Mauricio de Souza.
Desta vez, Ronaldinho Gaúcho,
e as histórias da sua turma com personagens familiares ao jogador (irmão Assis,
mãe e irmã) se passam no Bairro do Limoeiro, mesmo bairro onde residem os
personagens da Turma da Mônica.
Em quase todas as histórias, as duas turmas se encontram em divertidas situações,
segundo meus priminhos que as lêem.
Para marcar o personagem, ele é dentucinho,
tem um cabelo longo e vive com o uniforme de futebol do Brasil e, ao menos nos
quadrinhos, torce pelo Grêmio.
O Estúdio do Maurício de Souza ainda transformou em personagem o outro
Ronaldo, o Fenômeno, mas sem aventuras específicas, somente para homenageá-lo
na despedida dos campos de futebol.
Zé Carioca pra camisa 10 !!!
A Disney tem um personagem que tem o futebol dentro de suas histórias,
já também muito bem lembrado aqui, na matéria do Marcus Romano. Ele fez parte
das minhas leituras de infância. Falo do Zé Carioca e, especificamente, quando
jogava no Vila Xurupita Futebol Clube, que tem as cores rosa e branco (cores
que teriam sido escolhidas para não lembrarem nenhum do Brasil). Ainda existem
rumores diversos sobre o time, como o que reza que os "causos"
ocorridos com a equipe não seriam inventados, mas sim baseados nos acontecimentos
reais do futebol amador jogado pelos roteiristas, desenhistas e todos aqueles
envolvidos com a produção das revistas. Então, se assim for o desenhista do Zé
é bem ruim de bola...rsrsrsrs
Mas ele joga em todas as posições e vive dando seus “perdidos” no time
adversário e no seu próprio....rsrsrsrs
Como a Disney não entende de futebol, mas aproveitando essa
identificação, quadrinhos especiais foram lançados como o Manual do Zé Carioca,
dentre os Manuais Disney, lançados na década de 1970 pela Editora Abril, mais especificamente,
em 1974 (graças à Copa da Alemanha), e depois em 1978, edição revisada e
atualizada (Copa da Argentina), e 1982, na Espanha, e uma reedição da Copa do
México em 1986.
Dr. Sócrates e seus
ensinamentos alem do futebol.
(Texto de Marcus Ramone, no link:
http://www.universohq.com/quadrinhos/2011/n06122011_02.cfm)
Uma das primeiras citações a Sócrates nas HQs aconteceu no final dos
anos 1970, em uma história do personagem Visconde de Sabugosa, no gibi Sítio do
Picapau Amarelo, da RGE.
Na aventura, o intelectual e literato vegetal faz uma
brincadeira com o nome do filósofo grego Sócrates e do futebolista que pegou
seu nome emprestado - e que, curiosamente, também acabou se tornando um
"pensador", característica rara no universo da bola.
Mas somente na década de 1980 o jogador Sócrates ganhou suas primeiras
versões para os quadrinhos, quando já se tornara figura marcante nos
noticiários esportivos e políticos e também passara a ser chamado de Doutor,
graças à sua formação profissional em medicina.
Ele contracenou diversas vezes com a criançada do Bairro do Limoeiro (uma
delas foi republicada recentemente na série Coleção Histórica Turma da Mônica)
em aparições curtas e ocasionais, protagonizou peças publicitárias em forma de
HQ e, até a Copa do Mundo de 1986, virou figura fácil nas aventuras do Zé
Carioca - e com ele chegou a trocar passes.

Nos últimos meses, o ex-atleta preparava-se para lançar um gibi
estrelado por ele mesmo, como parte de um projeto de cunho social. O HQ do Doutorzinho
"pretende transmitir mensagens educacionais para os jovens que terão os
gibis em mãos", com exemplos de "socialização, tolerância e respeito
entre os seres humanos", de acordo com as palavras do Dr. Sócrates, que
deveria escrever os roteiros das HQs, em parceria com o jornalista Xico Sá. Se
nos quadrinhos o corintiano Cascão está triste, no mundo real o pesar se abateu
não apenas sobre os torcedores do clube pelo qual Sócrates será sempre
lembrado, mas também entre todos os amantes do futebol. Mas com a prematura
morte do craque em 2011, o projeto passa por um período de estudos.
Maciota, futebol e suas
realidades.
Inicialmente foi na primeira metade dos anos 70 que o quadrinhista Paulo
Paiva, criou junto com Franco de Rosa o jogador de futebol Maloca, trabalho
nunca publicado. Mais tarde, Maloca virou “Maciota”, feito só por Paiva Lima. Paiva
iniciou sua carreira, nos anos 1970, nos estúdios de nem mais nem menos Maurício de Sousa onde
roteirizava tiras e também escrevia, nos anos 1980, roteiros para o Zé Carioca. Podemos então perceber por que o
futebol esta tão presente neste personagem “craque” do Xurupita.

Foi um dos personagens mais marcantes que eu lia, pois era completamente
diferente dos outros citados. Era um típico jogador folgado, malandro, “perna-de-pau”
não assumido e com um humor crítico sobre o próprio meio do futebol. Paulo
Paiva fazia muito bem o contra ponto do humor e crítica pelas histórias do Maciota
nas páginas da revista Placar (e
também em outros veículos como a Folha
da Tarde e as revistas Flash!
e Calvin & Cia), no início
na década de 1980, juntamente com os escudinhos de futebol de botão de grande
sucesso entre a garotada.
Em uma das suas tirinhas ele insinuava que iria dar o tiro de meta com um
revólver!!! Brincava com as situações reais do futebol, dizia que seu time
jogava num 4-3-4 (quatro pingas no início, três no intervalo e mais quatro no
segundo tempo) e que era um jogador inegociável, afinal nenhum time do mundo o
compraria.
Em 1987, foi lançada uma revista que tinha somente as histórias do
grande Maciota , que não tive oportunidade de possuir, mas somente folhear na
Gibiteca do Centro Cultural Vergueiro.
Sobre Marcio Cavalcante:
Estudante
de História da PUC-SP, gremista e lutador pela memória do futebol juntamente
com os demais companheiros de Memofut (Grupo Memória e Literatura do Futebol).