Com apenas 2 anos de vida,
Literatura na Arquibancada atingiu uma marca expressiva para um blog que trata
de um tema pouco trabalhado pela grande mídia. Foram mais de meio milhão de visitas, com
gente de diversos estados brasileiros e vários países no mundo inteiro, um
número surpreendente para quem achava que pouquíssima gente pudesse se
interessar pelo tema. Feliz engano.
Como retribuição aos amigos que
ajudaram a estabelecer essa importante marca, Literatura na Arquibancada sempre
trará, no Natal, uma reportagem especial que reflita a paixão pelos livros,
foco maior deste blog. Neste sentido, não há como não lembrarmos nestes
primeiros meses de vida de um personagem fundamental para que livros de
futebol não se tornem um artigo raro.
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José Reinaldo Pontes, proprietário da Livraria Pontes, em Campinas. |
Não fosse o trabalho de “formiga”
que José Reinaldo Pontes fez no início dos anos 1990 (e muito antes dele
também), o mercado de livros de futebol no Brasil não teria chegado onde chegou
e, por tabela, nós, do Literatura na Arquibancada, não teríamos obtido o enorme
sucesso atingido em tão pouco tempo.
É apenas o começo de uma longa
jornada, esperamos. Literatura na Arquibancada irá se inspirar sempre na vida
deste “homem dos livros”. Pontes é uma figura tranqüila e desde a adolescência
amante declarado pelos livros, e, especialmente pelo futebol. Tornou-se
livreiro no tempo em que este artigo era pouco acessível. Bateu de porta em
porta, andou e caminhou por todo o país e até mesmo fora dele para que nossa
língua, nosso esporte, ganhassem fronteiras. Ele conseguiu. A entrevista
abaixo, reflete toda essa batalha pelos livros, pelo surgimento de uma
literatura esportiva no país. Com seu jeito simples e títulos, aparentemente,
despretensiosos, fez despertar nas grandes editoras do Brasil a visão de um
mercado nunca antes explorado. Parabéns José Reinaldo Pontes. Feliz Natal para
você e vida longa para os livros e a literatura esportiva.
A vida antes dos livros
Eu nasci no meio do mato, em
Itatiba, literalmente, no meio do mato. Meu pai era lavrador, carroceiro,
cortava lenha, fazia cerca, esse tipo de serviço. Fazer buraco, valeta, pra
plantar uva. Eu nasci em 1947, tenho uma foto
em que eu tenho alguns meses, num terreiro, no meio do mato.
José Pontes, aos 7 meses. |
O nome do meu pai é Joaquim
Pontes. E a mãe Zelinda Genoveva Piovesana Pontes. Pontes, português, e a minha
mãe, Piovesana, italiana. Português misturado com bugre. Meu pai era um
caboclo, a pele tisnada, um homem “bronco”.
Joaquim Pontes, pai de José Pontes. |
Minha mãe com todos os traços
italianos e eu acabei ficando mais com os traços da italianidade da minha mãe. Eles plantavam uva, no sistema de
“mear” a terra.
Morávamos no sítio e o dono aparecia por lá uma vez por ano
para receber a parte dele. Meu pai fazia o que queria, criava porco, tinha uma
horta, mas o substancial era uva.
A direita, Dona Zelinda, mãe de José Pontes |
A vida era muito dura, duríssima.
Éramos eu e eles e muito mais tarde, 20 anos depois, veio a Eva, minha irmã.
O início da paixão pelo futebol
Então, no meio do mato, a rotina era todo dia ir
a pé para a escola que ficava a uns 10 quilômetros. Desde o primeiro ano
primário. Tudo isso acontecendo em Itatiba. Nesse itinerário de ir para a
escola eu passava no campo do Itatiba Esporte Clube, que na época disputou
campeonato amador do Interior, e havia muita motivação na cidade porque ele fez
a final desse campeonato, que hoje equivaleria a 4ª divisão do Campeonato
Paulista.
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Estádio do Itatiba Esporte Clube. |
Ele disputou a final com o 11 de Agosto de Tatuí, mas perdeu o jogo.
A derrota foi um choque em Itatiba. Surgiu toda conversa, que o goleiro estava
vendido... Eu acompanhava os jogos. Me lembro que o Bonsucesso, Olaria, vieram
jogar amistosos em Itatiba. Ouvi falar que Vasco da Gama, o expresso da
Vitória (equipe famosa da década de 1950), veio jogar contra a Portuguesa, e ficou concentrado em Itatiba.
Até os 12 anos vivi na roça. Mudei
pra cidade e o campo do Itatiba ficou longe pra eu poder assistir aos
jogos. Mudei para a frente da sede de um
clube que se chama Operários Futebol Clube. Passei então a acompanhar a vida
deste time. Eles estavam começando a construir o estádio.
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Sede do Operários, de Itatiba. |
Além de ir à escola,
eu ia ajudar na construção, plantar grama. Antes de ficar pronto, muito antes,
o time jogava ali, mesmo com o campo sem estar com a grama formada. Eles
disputavam jogos regionais. Eu tinha até uma função nos jogos: tinha um
centroavante que chutava muito forte e o técnico acreditava que se molhasse a
bola ele a chutaria melhor. Então, quando a bola caía no “riozinho” que ficava
ao lado do campo, antes de devolvê-la eu molhava a bola.
A arte de ler e vender livros
Nessa época, lia indicações
escolares, Iracema, José de Alencar, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Peter
Pan... A cidade de Itatiba não tinha biblioteca, para ler algum livro era na
escola. Literatura sobre futebol, não existia absolutamente nada, nem se cogitava.
Eu descobri a literatura esportiva com o livro “Na grande área”, do Armando
Nogueira, uma edição de 1966, mais precisamente, junho daquele ano.
Eu estava
no colégio (antigo colegial, atual ensino médio). Achei esse livro fantástico. Ele surgiu por
acaso, lá na biblioteca da escola. Logo depois fiz faculdade de Letras
(Português – Francês), na cidade de Bragança Paulista. Eu acabei optando pelo francês,
porque havia uma professora de Itatiba, da qual fui aluno, e que ela anunciou que
iria se aposentar e eu teria de assumir o seu posto. Apesar da relutância,
aceitei o desafio e acabei dando aula lá durante sete anos.
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Grupo Escolar "Coronel Júlio César", o lugar onde José Pontes começou a arte de ler e vender livros. |
Nesse período em que lecionava
francês, eu também vendia livros. A ideia de vender livros surgiu na época em
que não existia sequer uma livraria na cidade de Itatiba. Eu comprava os livros
pelo sistema de reembolso postal. Pedia para a editora e ela mandava. No
começo, comprava os livros da minha necessidade de leitura, mas acabei
descobrindo que poderia aproveitar melhor essa compra, vendendo livro para os
professores, para os colegas. Todo mundo precisava de um livro. Tinha no máximo
16 anos. Quando chegava o livro na
agência do correio, eu não tinha dinheiro, então fazia a coleta do dinheiro
para retirá-los. Foi aí que despertou o interesse de vender livros, porque do
ambiente escolar, passou para o vizinho, para o parente. Pensava comigo: ‘será
que minha tia que é cozinheira, não compraria um livro de receitas?’. Minha
vizinha era super católica, ‘será que ela não compra uma Bíblia?’.
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Capa de um livro editado pela Tecnoprint: Histórias de Pracinhas (1967) |
Passei a trabalhar inicialmente
com a editora Tecnoprint (que antigamente chamava-se Gertum Carneiro e atual
Ediouro). Vendia de tudo, esportes variados, literatura em geral, ficção científica,
policial, clássicos...Podia-se montar uma livraria só com os títulos que eles
vendiam. Nunca havia pensado em ser “vendedor de livros”, mas a coisa começou a
dar certo. Comecei a vender para a escola inteira, para todas as classes. O
diretor da escola era quem vendia os livros, então cheguei para ele certo dia e
disse que estava comprando livros. Propus a ele para que ficasse responsável
por essas compras. Ele achou ótimo porque aquilo tomava um tempo enorme dele. A
única exigência dele foi para que eu desse uma comissão para a APM, a
Associação de Pais e Mestres.
Mudando a vida de uma pequena cidade
Nesse momento, tive de abrir uma empresa.
Era o ano de 1968: coloquei o nome de Livraria Vanguarda. “Vanguarda”, na
época, era um nome forte, “literatura de vanguarda”, “música de
vanguarda”...Era uma loja pequena, no centro de Itatiba.
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Vista atual de Itatiba, SP. |
Costumo brincar que
fui o precursor do shopping no Brasil, porque para dividir as despesas do
aluguel da livraria, aluguei um espaço nesse mesmo ambiente para uma lotérica,
que também não tinha na cidade. Aluguei ainda para uma tabacaria. A “Vanguarda”
ficava no fundo desse ambiente, vendendo livros e artigos de papelaria. Durante
três anos mantive o negócio e ajudava meus pais. Meu pai continuava a trabalhar
na roça e minha mãe era costureira. Só que chegou o momento de estudar em
Campinas, na PUC. Para poder me sustentar, vendi a livraria em Itatiba e montei
outra em Campinas, onde estou até hoje.
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Antiga fachada da Livraria Pontes. |
No lugar já existia uma livraria,
a famosa “LISA - Livros Irradiantes S/A”, uma editora poderosa na época, mas
que estava “quebrando”. Comprei por uma pechincha para a época, o equivalente hoje a
15 mil reais. Era o ano de 1974. Entre a venda da livraria em Itatiba e a
compra da outra, houve um hiato de dois anos, e mesmo nesse período não parei
de vender livros, só que para os companheiros de faculdade.
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Capa de livro Editora Gol. |
Nesse período, surgiu a Editora
Gol, e passei a ter acesso à livros de futebol. Ela começou em 1968 e terminou
em 1972. Esses livros não me chamaram muito a atenção e em 1974 quando montei a
“Livraria Pontes” comecei a vender títulos esportivos.
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Primeiro andar da Livraria Pontes, onde se encontram os livros de futebol. |
Em 1989, já havia
conseguido comprar todo o prédio onde ficava a livraria, com os frutos das
vendas. Trabalhava vendendo todo o tipo de título, inclusive Informática e
Direito. O forte mesmo eram os livros escolares, didáticos e paradidáticos.
Nesse período, descobri outro “filão” no mercado: a exportação de livros.
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José Pontes, na Feira de Livros de Lisboa, em 1993. |
Comecei a exportar livros para a
França, Portugal, Alemanha, Argentina, Estados Unidos e Japão. Fornecíamos para
as livrarias internacionais mais importantes desses países.
Vendíamos tudo que
um estrangeiro pudesse se interessar. Em primeiro lugar, a língua brasileira,
métodos para se aprender o português do Brasil. Depois, livros de Gramática,
Dicionários. E a seguir, a literatura em geral.
Um método revolucionário
Por tudo isso, passei a publicar
(editar) livros de “métodos de Português”, porque na época só havia um título
disponível “Português para Estrangeiros” de Mercedes Marchant...Criei um livro
com método revolucionário do ensino de línguas no País: “Fala Brasil”.
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Capa do livro de Mercedes Marchant. |
Era o ano de 1989, mesmo ano em
que começou o setor de futebol na Livraria Pontes. O primeiro livro que comecei
a vender aqui, na Pontes, foi o livro da Ponte Preta, escrito pelo Sérgio
Rossi, o primeiro volume da história do clube. O que me chamou a atenção foi
que um comprador do Rio de Janeiro ligou pra gente pedindo um exemplar. Eu nem
sabia ainda que havia sido lançado o livro.
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Primeiro volume do livro com a história da Ponte Preta. |
Fui lá no lançamento, comprei
para ele e outros para a minha livraria. Com certeza, esse camarada não devia
ser torcedor da Ponte, deveria ser um pesquisador, historiador ou jornalista.
Se tinha no Rio alguém interessado em um livro da Ponte Preta, deveria haver
outros, em outros Estados. E foi o que aconteceu. Me empolguei da mesma maneira
que aconteceu com o método de ensino de português para estrangeiros. Vendi
quase toda a tiragem do primeiro, segundo e terceiro volumes que ele escreveu.
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Pilha de livros da Ponte Preta, ainda empacotados. |
Na quarta, que ele já não tinha dinheiro para produzir o livro, comprei mais de
300 exemplares, pagos adiantados. Depois de 20 anos, os livros estão empilhados até hoje. Comprei apenas para ajudá-lo.
Um caçador de livros de futebol
Foi a partir da percepção das
vendas do livro da Ponte Preta que passei a me interessar a comprar e vender
livros de outros clubes do país. Passei a fazer uma verdadeira “caça” a livros
de clubes em todos os cantos do país.
Um exemplo: quando soube que em Londrina,
no Paraná, havia sido lançado um livro do clube, fui até lá e comprei toda a
tiragem, aproximadamente 500 exemplares, ou melhor, troquei com o presidente do
clube por títulos diversos para a montagem de uma biblioteca no clube.
Outro exemplo marcante. Recebi um
pedido da Bélgica para a compra de quatro livros sobre a história do Guarani de
Venâncio Aires. Da Bélgica !!! Fui para Venâncio Aires buscar os livros porque
já estava indo para a Feira de Livros de Porto Alegre, de 2001. A essa altura,
já havia feito diversas viagens por cidades do interior paulista, mas para
Venâncio Aires, seria a primeira interestadual.
Atravessei o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande Sul comprando tudo que
via pela frente sobre futebol. No estádio do Guarani, fui atendido pelo
secretário do clube que me informou que só tinha um exemplar e, pior, o
presidente do clube havia vetado a venda porque brigou com o autor, por
discordar de informações contidas nele.
Soube que todos os livros impressos
estavam na biblioteca da cidade, deixados pelo próprio autor. Procurei por ele,
mas estava fora, viajando. A biblioteca estava
fechada, porque era sábado. Voltei para Campinas e na segunda-feira liguei para
a biblioteca da cidade e falando com a responsável expliquei que precisava dos
livros do Guarani. Como ela não poderia vender os livros, ofereci uma troca,
por livros do Harry Porter, na moda, naquele momento. Vendi quase 100
exemplares do Guarani de Venâncio Aires.
A fama de livreiro que tinha a
história dos clubes brasileiros menos “famosos” foi se espalhando. E a cada nova
cidade que visitava comprava um título diferente. Foi assim em Erexim, Passo Fundo,
Pelotas, Rio Grande...
Era o começo do “boom” sobre
livros esportivos, especialmente, futebol. A partir do ano 2000, fiquei
conhecido como o livreiro que mais tinha títulos sobre futebol, especialmente
de clubes “desconhecidos”, porque hoje, quase toda editora tem um título sobre
esse tema.
As raridades encontradas na
Livraria Pontes sobre futebol começaram quando passei a revirar sebos de São
Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Fortaleza, Belém, Curitiba...Fiz isso
durante cinco anos, indo até os lugares, gastando do bolso e aproveitando
viagens que fazia para divulgar livros de outras temáticas que eu editava e
vendia.
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Livro comprado pelo jornalista e pesquisador Celso Unzelte. Patrimônio guardado em boas mãos. |
Em pouco tempo me transformei na
maior “bibliografia do futebol brasileiro”. Um dos grandes “achados”, foi em
Belém, no Pará. Entrei num sebo que
ficava numa galeria no centro de Belém e boto a mão num livrinho encadernado,
14x21. Era o livro “História do Futebol em São Paulo”, publicado em 1918, de
Antonio Figueiredo. Para o dono do sebo,
aquilo era nada. Paguei R$ 10,00. Vendi por R$ 300, como poderia ter vendido
por 2, 3 mil reais, porque um livro desses não tem como mensurar valor.
Livro comprado pelo colecionador Domingos D'Angelo. |
Todas essas raridades que
encontrei estão em boas mãos. São sempre cinco pessoas: em São Paulo, o
jornalista Celso Unzelte; no Rio de Janeiro, Antonio Claret Silva Gomes e Sr.
Sebastião de Mello; em Teresina, no Piauí, Carlos Said; no interior de São Paulo,
Luis Marcelo Cirillo, de Araraquara. E o fora de série, Domingos D’Angelo.
Descobrindo raridades bem longe do Brasil
Outra história fascinante aconteceu
quando fui à Paris na Livraria L’Harmattan para quem vendíamos muitos livros,
inclusive futebol. Pedi uma escada para ver se esses mesmos livros de futebol
poderiam ainda estar em alguma de suas estantes. Sempre fiz isso, gosto de
repatriar livros que eu mesmo vendi. Achei um livro, encadernado em vermelho
bem forte, pendendo para o bordô, mas que não tinha nada na lombada. Quando
tiro o livro da prateleira, abro, era uma revista, 10 ou 12 edições dela,
publicada nos anos 1970 pelo Juventus, do bairro da Mooca, de São Paulo. Isso é
incrível.
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Livraria L'Harmattan, em Paris, onde José Pontes encontrou coleção de revistas raríssimas sobre o Juventus, um de seus clubes de coração. |
Em pleno Quartier Latin, uma
livraria especializada em Ciências Humanas, África, Ásia e terceiro mundo,
desde 1960, encontro uma edição rara da Revista Amigão. Você treme, arrepia,
começa a suar, porque percorri dezenas de sebos em várias capitais e cidades do
interior brasileiro e nunca havia ouvido falar da existência daquela revista.
Naquelas páginas, além da história do Juventus, com as viagens que o clube fez
pelo mundo, havia também a história do futebol. Na França, por conta do
período da ditadura militar no Brasil, muitos brasileiros migraram forçadamente
para lá e por isso muitas bibliotecas se formaram. Na hora de retornar ao país
acabaram vendendo ou dando para algum sebo local.
O rei dos sebos
Outro livro raríssimo que quando
encontro em algum sebo tenho quase um orgasmo é o “Coração Corintiano”, de
Lourenço Diaféria, publicação da Fundação Nestlé. Para se ter ideia, tenho 18
pessoas em uma lista esperando eu encontrar em algum sebo um exemplar. O
último, encontrei em São Paulo, paguei 75 reais. Uma dessas pessoas da lista já
me disse que paga até R$ 1.500 por um exemplar.
"O Guia do Futebol em São Paulo", para mim, o primeiro livro de futebol editado no Brasil, escrito por Mário Cardim e publicado
pela Casa Vanorden, encontrei no acervo de um grande pesquisador e dono de uma
biblioteca esportiva maravilhosa, Delfim Ferreira Neto Rocha. Ele também é
autor do livro sobre a história do XV de Piracicaba. Quando fui a sua casa,
levei livros para ver se ele se interessaria por algum. Gostou de alguns e
acabei trocando com ele o exemplar do Guia.
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Página interna do Guia do Football, comprado pelo jornalista e pesquisador Celso Unzelte. |
Mas o livro, quer dizer, um conjunto de gravuras de Rubens Gerchmann sobre futebol, é outro raríssimo. Foram feitos apenas 150 exemplares. Comprei no RJ por R$ 300. Vendi por R$ 3.000,00.
O livro sobre Pelé, 20 quilos,
2.500 exemplares, da Editora Gloria, de Londres, é também outra história
interessante.
O livro é raríssimo porque virou
edição de colecionador. Comprei três exemplares, vendi dois e fiz rifa de um.
Custava 9 mil reais cada um. Paguei 6 mil reais cada um.
“Ganho hoje para comer amanhã”
Depois de muitas descobertas como
essas, muitas pessoas me perguntam se não seria mais interessante segurar tudo
isso para uma grande biblioteca. Claro que seria, se eu tivesse uma fonte de
renda. Se eu tivesse um grande emprego, claro que ficaria com tudo. Eu ganho
hoje para comer amanhã.
Em 1987, a Livraria Pontes virou
editora também. O primeiro livro que editamos foi “A história do Itatiba”.
Depois que publicamos esse, alguns clubes começaram a publicar livros
semelhantes com a gente (Velo Clube, da cidade de Rio Claro, por exemplo).
“Quando o futebol andava de
trem”, considero o melhor livro que já li. É apaixonante, porque me interesso
por livros assim, que tragam fenômenos sociológicos e é por isso que só edito
livros de clubes, biografias...
Já editei, por exemplo, um livro
sobre o XV de Novembro de Araraquara. Isso não dá dinheiro, dá satisfação,
porque essa semente veio quando eu saía todos os dias de casa para ler a Gazeta
Esportiva e ficava olhando resultados dos campeonatos amazonense, paraense,
pernambucano, paraibano, catarinense...O que me apaixonava mais era ver um time
com nome “Calouros do Ar”, “Galícia”, “Juventus do Rio do Sul”...É isso que
alimenta minha paixão pelos livros de futebol.
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Crédito: Pedro Proença, em matéria para a Revista Brasileiros. |
Hoje, a Livraria Pontes, na seção
esporte, tem 2 mil livros cadastrados, incluídos nesse número, títulos
brasileiros, argentinos, uruguaios, paraguaios, portugueses, franceses,
espanhóis e italianos. O Real Madrid, por exemplo, já comprou livro da gente, o
do São Cristóvão, evidentemente, por conta da história do Ronaldo Fenômeno. Já participamos de três Bienais, no
Rio de Janeiro; três em São Paulo e uma em Belo Horizonte. E vamos participar em
2013 e 2014.
Aonde o livro estiver
Não tenho concorrentes, tenho um
parceiro, do Rio de Janeiro, o Rodrigo, da Livraria Folha Seca. O que tenho
aqui e o que ele tem lá, trocamos figurinhas. E com ele há uma bela
história. Eu e ele estávamos intrigados
com um livro do Botafogo que é muito bom, tinha muita procura, mas ninguém
encontrava para comprar no Rio de Janeiro. O editor é Nei Carvalho. Rodrigo
disse então que tinha o telefone do filho dele. Ele ligou e disse que o livro
estava em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro. Acabei indo e o Rodrigo
não. Chegando lá, entramos numa edícula escura, e lá estava o livro,
apodrecendo. Pergunto a você: ‘quantos livros você acha que tinha lá?’. Quatro
mil e quinhentos livros !!!!! E eu comprei todos...
Eu mesmo me perguntava: o que
fazer com 4.500 livros do Botafogo do Rio, em Campinas? Rodrigo ficou com uma
parte, 200 exemplares. Fui em um sebo no Rio, cujo dono sabia ser botafoguense.
Contei a história pra ele e o camarada comprou 4 mil exemplares !!! Comprei por
R$ 1,00 cada exemplar. Vendi por R$ 5,00, cada um. Parte da venda, permutei com
ele. Em três meses, o dono do sebo vendeu todos os exemplares a R$ 15,00 cada
um. Hoje tenho apenas um exemplar aqui na loja. No Rio de Janeiro, você não
encontra mais nenhum. O torcedor do Botafogo e do Fluminense é melhor comprador
de livros do que os do Flamengo e Vasco. Assim como em São Paulo, torcedores do
Palmeiras e São Paulo são melhores compradores do que corintianos e santistas.
O livro que ainda sonho encontrar
algum dia novamente chama-se “Álbum futebolístico de São Paulo”, publicado pela
Federação Paulista de Futebol, em 1957. É espetacular. Pouquíssimas pessoas
tem.
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Exemplar do "Álbum futebolístico", vendido por José Pontes ao pesquisador Celso Unzelte. |
O prazer em cada livro encontrado
A paixão pelos
livros de futebol vem da obsessão de aumentar cada vez mais a bibliografia
sobre a literatura de livros sobre futebol. Nós vamos fazer em breve um livro
sobre essa bibliografia.
Já temos 500 livros resenhados. Cada livro que a gente
acha, cada raridade, é digna de comemoração. Cada livro encontrado é como se
fosse um gol espetacular.
Uma raridade que se encontra atualmente na Livraria Pontes:
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Capa do livro de Tito Batini, de 1958: "Cantar o gol em coral". |
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O livro de Tito Batini é ilustrado por vários artistas famosos, entre eles Aldemir Martins. |
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As páginas internas de "Cantar o gol em coral" tem um tratamento espetacular, com poemas dedicados ao futebol. |
André!
ResponderExcluirEmbasbacado, sem palavras. Grato por contar essa história. Parabéns ao Sr. Pontes e a todos os malucos que lutam essa batalha doida!
Quatro mil e 500 livros do Botafogo (o livro escrito pelo apaixonado historiador Braz Pepe, conselheiro do Botafogo FR, hoje vítima de Alzeimer) na serra de Itaipava! Eu sabia disso, mas nunca toparam falar do assunto. Esse livro chegava aos sebos sempre com um "quê" de mofo, as páginas quase úmidas, meio que colando.
Vamos em frente. Desconfio que estamos vencendo a luta. Creio que é preciso criar um novo paradigma para o livro no Brasil.
Quem sabe escrevo sobre isso, breve, aqui no melhor blog surgido em 2011. Sugiro que o Memofut contemple André Ribeiro com uma premiação/menção especial por este trabalho.
Saudações Botafoguenses, Feliz Natal a todos,
Cesar Oliveira - tentando ser editor de livros de futebol
César, não tem que agradecer nada. Sinto até dor no coração em pensar porque não fiz isso muito antes, já que gostava tanto de livros sobre futebol. É obrigação nossa...Veja como os grandes diários esportivos não ajudam muito. Uma história como essa do Pontes valeria 4,5,6 páginas recheadas de fotos. E o que vemos hoje? Não precisa responder, imagino sua resposta. Vamos em frente, amigo, com a eterna missão de perpetuar a memória esportiva através dos livros, sem se importar com a idade que cada um tenha, ele, os livros, e nós que já estamos dobrando o "Cabo da boa esperança"...abração
ResponderExcluirDelícia de relato.
ResponderExcluirSem palavras para definir este post e, sobretudo, o trabalho do Seu Pontes. Poxa vida, que história sensacional. André, preciso do contato dele, para presenteá-lo com um exemplar do meu livro. É possível me passar? De repente, por questão de segurança, faça isso pelo facebook. Olha, parabéns pelo post. Sensacional!
ResponderExcluirO livro da Nestlé sobre o Corinthians eu tenho! Encontrei num sebo aqui perto de casa por QUINZE reais! Mas confesso que não tenho a intenção de vendê-lo.
ResponderExcluirSobre o post: MARAVILHOSO! Ja compartilhado!
Grande André!
Super beijo pra ti!
Olha, sou amigo do "Zé Pontes" de pouca data (uns 4 anos) mas já é o suficiente pra trocarmos grandes experiencias, lógico que ele possui mais do que eu...(bribcadeira) Eu o conheci quando ele veio até o meu Sebo recém-inaugurado em Campinas-SP há uns 4 anos atrás e a partir dai sempre que tenho algum item interessante sobre futebol, ele é o primeiro a olhar. Valeu Zé, parabéns mais do que merecido !
ResponderExcluirNey
Sou amigo do Zé Pontes. Aliás ele foi o meu primeiro patrão, quando menino trabalhei na Livraria Vanguarda em Itatiba.
ResponderExcluirMuitos anos depois, por ter vivido muito de perto, e incluysive ter sido presidente do Itatiba Esporte Clube, Zé Pontes me pediu para quer eu escrevwesse a história dfo Clubão, com o é carinhosamente chamado o rubro-negro itatibense.
Assim, foi muito bom passear pelas boas lembranças do amigo, lembranças das quais muitas vezes fiz parte.
Um grande abraço a todos.
Celso Catalano
Ótima matéria, e parabéns ao Senhor Pontes pela bela jornada de vida.
ResponderExcluirGrande abraço.
Dificilmente vc encontra uma pessoa tão completa e humilde
ResponderExcluircomo Reinaldo, este sempre foi muito amigão de Milton Cornacchia
livraria Papirus.
Tenho certeza que Reinaldo sempre será um grande livreiro
digno desta homenagem feita. Sou cliente da Livraria há
mais de 40 anos. É a unica que em Campinas se respira livros
ótimo atendimentotb de Eva sua Irmã.
Parabens Reinaldo
Mauro Cornacchia
Gostei demais da matéria. Tenho um pouco de literatura sobre futebol, cerca de 65 livros. A maioria em bom/ótimo estado. Pretendo desfazer deles para venda. Havendo interesse, posso passar sua lista. Grato pelo retorno.
ResponderExcluirOlá , eu sei que tem 02 livros escritos sobre os Pontes , o senhor tem ai para vender ?
ResponderExcluirOlá amigo, tenho o Album Futebolistico de São Paulo p/ venda, qualquer coisa me comunique, Obrigado!! paulaomotocars@yahoo.com.br
ResponderExcluirSds,
ResponderExcluirEu tenho o Album que você quer encontrar.
bressas@expressonepomuceno.com.br