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Arte: Fernando Francez Confira o trabalho espetacular do artista plástico, designer gráfico e ilustrador no http://fernandofrancez.blogspot.com/ |
A bola para de rolar
no Brasil em dezembro, pelo menos no Campeonato Brasileiro. Calma, os estaduais já já estão
chegando. Enquanto isso, Literatura na Arquibancada não deixa a bola parar de
rolar. Só que desta vez, o jogo é bem diferente: "Futebol da Bicharada". Agora, durante as férias, se
for a uma fazenda, olhe para os animais e imagine uma “peleja” igual a que o
compositor Raul Torres criou. E se não for, basta “viajar” com essa obra-prima
da verdadeira e autêntica música caipira brasileira. Quem disse que letra de
música não pode ser considerada “quase” uma obra literária.
Raul Torres é uma
das grandes referências da música caipira. Nasceu em Botucatu, interior de São
Paulo, no ano de 1906 e morreu em São Paulo, em 1970. Basta ver seu perfil elaborado
pelo “dicionário MPB” para entender sua importância para a música caipira.
"Cantor. Compositor. Filho de imigrantes
espanhóis. Ainda em sua cidade natal se iniciou na música, cantando modas de
viola em festas, acompanhado de amigos. Com a decisão de seguir a carreira
artística, mudou-se para São Paulo. Para se manter na capital paulista exerceu
outras atividades profissionais. Foi cocheiro na Estação da Luz. Paralelamente
exercia a atividade artística, cantando em bares, circos e cabarés. Trabalhou
como lenheiro no trem de lenha da Sorocabana, fazendo o percurso entre a Barra
Funda e a cidade de Itararé. Trabalhou com o pai da cantora Inezita Barroso, a
quem ensinou o rasqueado, sendo um dos influenciadores da, então menina, em seu
interesse pela música sertaneja."
Para conhecer a
obra completa de Raul Torres, acessar:
Futebol da
Bicharada
(Composição: Raul
Torres)
Lá no arraiá das coruja formaro dois cumbinado,
O time do quebra-dedo, e o time do pé-rapado.
A bicharada reuniu, formaro logo seu quadro,
Nóis fumo vê esse jogo, por sê um jogo faladu.
A bicharada pediu pro jogo sê irradiadu,
Na estação du lugá, PRJ-Bichadu,
O "ispriqui" era o jumento, rapaizinho apreparadu,
As quinze hora da tarde o jogo foi cumeçado.
O time do quebra-dedo tinha fama de campeão,
Sapo jogava no gol, béqui de espera o leão,
Cavalo o béqui de avanço, o arco esquerdo preá,
Veado de center-arco, arco direito o gambá.
A linha tava um perigo, na meia jogava o rato,
No centro jogava o tigre, na otra meia o macaco,
Na esquerda jogava o bode, direita jogava o gato,
E pra atuá di juiz, foi convidado o lagarto.
(Boa tarde senhoras e senhores. Ai que bicharada gorda, barbaridade...)
O tigre deu a saída, coelho foi pra tirá,
O tigre passô pru bode, mais quando ele foi chutá,
Puxaro a barba do bode, o bode foi recramá,
Juiz falô que num viu, cachorro já quis brigá.
A cabra muié do bode, xingô o juiz de ladrão,
Torcida do quebra-dedo fizéro recramação,
A capivara e a cotia chegaro a xingá o leão,
Preguiça dava risada, de vê o sapo de carção.
Largato que era o juiz, na hora dele apitá,
Tinha engulido o apito, num pôde o jogo pará,
A torcida entrô no campo, de pau, de faca e punhá,
O pau cumeu direitinho, mataro trêis no lugá.
O bode ficô ferido, mataro o béqui leão,
Rasgaro a saia da cobra, cavalo quebrô a mão,
O sapo saiu correndo, jogou-se no riberão,
Por que na hora da briga ele ficô sem carção.
O jogo num terminô, pur isso ficô empatado,
Agora nóis vai falá, do center-arco veado.
Nervoso ele dizia, entre suspiros e ais:
Ai meu Deus do céu qui jogo bruto, meu Deus, que estupidez.
Assim num
jogo, num jogo, num jogo mais...
Vale a pena assistir o vídeo com a composição
de Raul Torres acompanhado de seu parceiro Florêncio.
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