Ainda não escolheu
o presente de Natal para o amigo que adora futebol e literatura. Mais uma dica
do Literatura na Arquibancada para você: “Craques do Futebol” (Editora Larousse,
2009). O livro é uma obra de arte, um tributo a diversos craques, sem falar que
tem um belo acabamento, texto sensível, enfim, um livro que qualquer um
adoraria ganhar de presente, até porque é caro, R$ 129,00, em média, nas
grandes livrarias do País.
Resenha
Memória e afetividade são as marcas de
“Craques do Futebol”. No livro, o jornalista francês Bernard Morlino
substitui estatísticas e rankings por uma série de narrativas
pessoais da história do futebol. São 87 biografias - acompanhadas
de fotos - de jogadores consagrados em todos as épocas e cantos do mundo.
Logo na capa, um Pelé adolescente e
assustado é flagrado pela câmera num vestiário do Maracanã. Como os relatos de
Morlino, a imagem em preto-e-branco tenta explorar, de modo indireto, os
mistérios de um esporte que emergiu dos subúrbios ingleses à esfera das
bilionárias transmissões midiáticas.
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Beckenbauer, craque alemão durante a Copa de 1970. Crédito: Larousse |
"Craques do futebol" tenta
resgatar exatamente a dimensão inexplicável do esporte. Explorando a face
épica, e às vezes trágica, das trajetórias pessoais, Morlino coloca o “rei dos
esportes” em pé de igualdade com o jazz, o cinema, a pintura e a cultura pop. Para o autor, o
esporte favorito do povo deve ser alçado ao patamar das belas-artes.
É assim que coloca Pelé no panteão dos
“virtuosos”, cuja habilidade com a bola é comparada à de Picasso com os
pincéis. A dupla Puskas-Di Stefano são os Lennon e McCartney do Real Madrid
campeão europeu de 1960. Maradona tinha a dimensão de um Cristo e Zidane, tão
importante quanto o pintor Cézanne, fez a França sonhar acordada durante oito
anos. Dos arquitetos aos bad boys, dos hippies, como Sócrates, aos pit bulls, como o italiano
Gattuso, Morlino analisa todos os estilos de craques, lembrando que os grandes
não são apenas os que balançam as redes.
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Maradona. Crédito: Larousse |
Escrito para o público francês,
mas com a capacidade de falar a todas as culturas que tenham enraizado o gosto
pelo futebol, o livro resgata ídolos esquecidos ou anônimos, mas que
desempenharam papel decisivo na história do esporte. São poucos os que se
lembram do francês Raymond Kopa, ofuscado pelo artilheiro de todas as Copas,
Just Fontaine. Garrincha, diminuído quase ao folclórico pela crônica esportiva,
carregou a seleção brasileira nas costas na conquista do bicampeonato em 1962,
mas ficou obscurecido pela idolatria a Pelé.
Desse modo, Morlino faz um elogio da
memória. Sem ela, diz o autor, perdemos nossa identidade. Aspectos sombrios
também são evocados, como o revanchismo da Argentina contra a
Inglaterra desencadeado pela Guerra da Malvinas de 1982. Quatro anos
depois, lembra Morlino, Maradona foi o "redentor" dos sul-americanos:
marcou dois gols - um de mão e outro driblando metade do time inglês - que
eliminaram os adversários da Copa do Mundo. A vitória nos gramados lavava a
alma dos derrotados na guerra, levando às lágrimas o locutor Victor Hugo
Morales.
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Bobby Charlton, craque inglês. Crédito: Larousse |
Na visão de Morlino, aliás, os governantes
sul-americanos parecem não merecer o prestígio que seus craques geram. Cria uma
frase lapidar para o título argentino de 1978, que caberia muito bem para o
tricampeonato brasileiro em 1970: “Na América do Sul, o futebol é mais que
futebol. Os abutres do poder tentam sempre se apropriar dele, transformando os
estádios em imensas prisões.”
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