Nesta sexta-feira, dia 9 de
novembro, Paulo Machado de Carvalho, um dos maiores dirigentes esportivos do
país e dono de um império das comunicações no Brasil, completaria 110 anos. Ele
morreu no dia 7 de março de 1992. Literatura na Arquibancada contará em alguns
posts a trajetória do empresário de comunicação e dirigente esportivo.
Neste terceiro post, recuperamos
trecho da obra “Donos do Espetáculo – Histórias da Imprensa Esportiva do
Brasil”, de André Ribeiro, Editora Terceiro Nome, 2007.
Para conhecer toda a vida de
Paulo Machado de Carvalho, Literatura na Arquibancada recomenda a leitura da
biografia “O Marechal da Vitória”, escrita pela dupla Tom Cardoso e Roberto
Rockmann (A Girafa, 2005).
Investir em televisão passou a ser quase uma obrigação para o
empresário Paulo Machado de Carvalho, dono da TV Record e de várias estações de
rádio em São Paulo. Oito anos após sua fundação, a Rádio Panamericana era
considerada uma potência no cenário do futebol brasileiro. Só que a liderança
não se traduzia em números, ou seja, em lucro. Em 1953, segundo levantamento feito
pelo Anuário do Rádio, o faturamento da emissora era de quase 6 milhões, com
lucro de 124 mil cruzeiros. Pode parecer muito, mas era o pior faturamento
entre várias rádios da capital paulista. Os especialistas explicavam que os
anunciantes não investiam tanto por tratar-se de uma emissora exclusiva do
esporte.
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Antonio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta |
Para cuidar melhor do negócio
televisão, Paulo decidiu entregar o comando da rádio a outro filho, Antonio
Augusto Amaral de Carvalho, conhecido pelo apelido de Tuta. Sangue novo era bom
e necessário para aumentar o faturamento e, ao mesmo tempo, administrar a
vaidade e as disputas entre as estrelas do rádio esportivo.
(...)
A partir dos anos 1950 as maiores
estrelas do rádio passaram a dividir suas atividades entre rádio e televisão, e
nessa divisão o poder de sedução da telinha começava a incomodar principalmente
aos patrões da área esportiva. Paulo Machado de Carvalho decretou para os seus
comandados: “Ou é rádio ou é TV!”.
No Rio de Janeiro, por exemplo,
Oduvaldo Cozzi, o número um da Continental, era convidado a dirigir o esporte
da rádio e TV Tupi. Outro que trocava o rádio pela televisão era o gaúcho Luiz
Mendes. A decisão de trocar oito anos de número um da rádio Globo pelo projeto
da TV Rio exigia coragem, mas o dinheiro começava a falar mais alto: “Ganhava
12 mil e me ofereceram 35 mil cruzeiros. Não dava para recusar. Conveniência
profissional”.
A TV Rio, canal 13, entrou no ar
no dia 17 de julho de 1955, e seu proprietário era João Batista do Amaral, o
popular Pipa Amaral, cunhado e sócio de Paulo Machado de Carvalho, dono das
Emissoras Unidas, com várias rádios de São Paulo, além da TV Record.
As emissoras podiam ser unidas,
mas as famílias não. Pipa e Paulo Machado fizeram um acordo: para ter 100% das
ações da TV Rio, Pipa teria de abrir mão do direito de qualquer decisão nos
negócios de São Paulo. Topou no ato. Pelo acordo, a TV Rio recebeu da Record de
São Paulo um caminhão de externa com duas câmeras e um microondas para colocar
a estação no ar.
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Prédio da extinta TV Rio |
Os equipamentos e as instalações
precárias, em um antigo prédio da avenida Atlântica, em frente ao posto 6 de
Copacabana, não impediram que a TV Rio se transformasse em sucesso absoluto no
Rio de Janeiro. Ganhou até o apelido carinhoso de “carioquinha”, dado pelos
telespectadores da cidade. No início de suas atividades, o elenco da emissora
tinha como base os artistas da Rádio Mayrink Veiga, todos capitaneados por um
jovem diretor: Walter Clark.
Como não poderia faltar na grade
de sua programação, um dos primeiros programas de sucesso da nova emissora chamava-se
Salve o Esporte, apresentado por Luiz
Mendes. Mas o programa de maior sucesso da TV Rio chamava-se Noite de Gala, que também mantinha um
quadro de entrevistas com personalidades do mundo esportivo.
Mesmo com um belo projeto, a nova
emissora não tinha equipamentos suficientes para suportar as ousadias de seu
patrão. A prova disso eram as transmissões de futebol realizadas nos finais de
semana. Câmeras e microondas tinham de ser desmontados na emissora para serem
levados e montados no estádio do Maracanã. Depois, no final do jogo, fazia-se o
caminho inverso rapidamente, para que a programação dos estúdios pudesse voltar
ao normal.
Enquanto a TV Rio sofria para
conseguir levar ao ar sua programação, sua concorrente direta, a TV Tupi de São
Paulo, tornava-se a primeira emissora do país a fazer uma transmissão
intermunicipal. O evento inédito foi a partida de futebol entre Santos e Palmeiras,
no dia 18 de dezembro de 1955, um domingo de sol na Vila Belmiro, em Santos,
litoral paulista.
Record e Tupi disputavam
diariamente a audiência do público paulistano. A transmissão pioneira feita a
partir da cidade de Santos fez o empresário Chateaubriand, dono da Tupi,
alfinetar a concorrência ao criar o slogan: “Tupi, setenta quilômetros à
frente”.
Dentro de campo, a Record saía na
frente ao deixar escapar, pela primeira vez na televisão brasileira, um
palavrão ao vivo pelo seu microfone. Sílvio Luiz era o repórter na transmissão
da partida entre Corinthians e Santos, válida pelo torneio Rio x SP de 1955,
quando correu para cima do jogador Luizinho que acabara de ser expulso da
partida. Sem titubear, o repórter da Record esticou o microfone e pegou a
primeira reação do jogador: “Foi tudo culpa daquele gaveteiro filho da puta!”.
Por causa do palavrão de
Luizinho, a Federação Paulista de Futebol chegou a proibir a entrada de
repórteres em campo. Na Câmara Municipal da capital paulista alguns vereadores
queriam proibir as entrevistas para evitar novas baixarias.
Em 1954, Mesa Redonda passava a ser o programa precursor das atuais mesas de
debates esportivos exibidos pela TV Record, nos finais de semana.
(...)
Quando Assis Chateaubriand criou
o slogan “setenta quilômetros à frente”, em 1955, por conta do pioneirismo de
uma transmissão intermunicipal, não imaginava que a concorrência pudesse
contra-atacar tão rapidamente. No ano seguinte, exatamente no dia 26 de maio de
1956, a TV Record de São Paulo e a TV Rio promoviam a primeira transmissão
interestadual, ao vivo, direto do calçadão de uma praia carioca.
O fato virou notícia em todas as
mídias, e o cidadão comum custou a acreditar que aquelas imagens de turistas e
de pessoas que tomavam banho de sol nas praias pudessem estar sendo vistas
simultaneamente nas duas cidades. Para não deixar barato, Paulo Machado de
Carvalho, dono da Record, alfinetou Chatô, seu maior concorrente, criando um novo
slogan: “Emissoras Unidas – quinhentos quilômetros à frente”.
A primazia de realizar a
transmissão inédita coube à dupla Hélio Ansaldo e Sílvio Luiz. Pouco mais de um
mês depois, no dia 1° de julho, o futebol brasileiro seria responsável direto
pelo aumento na procura por aparelhos de televisão, ainda bem pequena no país.
Tudo por causa da vitória da seleção sobre a Itália por 2 a 0. O jogo foi
transmitido direto do estádio do Maracanã, para São Paulo e Rio de Janeiro.
Santos, a cidade do litoral
paulista escolhida pela TV Tupi para a primeira transmissão intermunicipal, não
ficou triste por muito tempo, ao ser destronada. Logo apareceria na cidade um
jogador que faria com que televisões, jornais, revistas e rádios de todo o
planeta fossem atraídos espontaneamente para transmitir os jogos do Santos
Futebol Clube. Gasolina, Dico e Bilé foram alguns dos apelidos que o garoto
nascido na cidade de Três Corações, Minas Gerais, ganhou antes de se tornar
jogador de futebol profissional.
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