Nesta sexta-feira, dia 9 de
novembro, Paulo Machado de Carvalho, um dos maiores dirigentes esportivos do
país e dono de um império das comunicações no Brasil, completaria 110 anos. Ele
morreu no dia 7 de março de 1992. Literatura na Arquibancada contará em alguns
posts a trajetória do empresário de comunicação e dirigente esportivo.
Neste segundo post, recuperamos
trecho da obra “Donos do Espetáculo – Histórias da Imprensa Esportiva do
Brasil”, de André Ribeiro, Editora Terceiro Nome, 2007.
Para conhecer toda a vida de
Paulo Machado de Carvalho, Literatura na Arquibancada recomenda a leitura da
biografia “O Marechal da Vitória”, escrita pela dupla Tom Cardoso e Roberto
Rockmann (A Girafa, 2005).
Paulo Machado de Carvalho usou a criatividade para enfrentar a forte concorrência no rádio esportivo, no início da década de 1940. Até 1944, funcionavam em São Paulo dez
emissoras de rádio: Bandeirantes, Cosmos, Cruzeiro do Sul, Cultura, Difusora,
Excelsior, Gazeta, Record, São Paulo e Tupi. Com tantas rádios assim, a Rádio
Panamericana, criada pelo dono da Record havia dois anos, em sociedade com
Oduvaldo Viana e Júlio Cosi, deveria ter um diferencial. Os dois sócios
discordavam da idéia de Paulo Machado que queria uma programação exclusiva para
o esporte. Desmancharam a sociedade, e para comandar a nova programação da
Panamericana o empresário escalou seu filho de apenas 21 anos, Paulo Machado de
Carvalho Filho, que tratou de cara de firmar parceria com o jornal A Gazeta
Esportiva para ancorar toda a base de informação da nova emissora.
A primeira
transmissão de futebol da Rádio Panamericana, ainda com a programação mesclada
com outros temas, aconteceu em 6 de maio de 1944. Os dois primeiros contratados
para a equipe esportiva eram o narrador Paulo Campos e o cronista esportivo
Aurélio Belloti. Coube a Paulo Campos narrar a partida entre Ipiranga e
Atlético Mineiro e, oito dias depois, a primeira transmissão internacional,
entre Brasil e Uruguai, ficou para Paulo Gomes, direto do estádio de São
Januário, no Rio de Janeiro.
Apesar do
custo elevado das transmissões, principalmente das partidas internacionais,
dois anos depois a Panamericana tinha jornalismo e eventos esportivos em sua
grade de programação. O futebol, claro, era o carro chefe. Para trabalhar na
emissora, os narradores e repórteres tinham de conhecer todos os esportes, além
de suportar a precariedade dos equipamentos existentes.
Comandar uma
equipe desse porte não era missão fácil, e para a função Paulo Machado Filho
convidou o narrador Pedro Luiz, que já havia passado pelas rádios Tupi e
Gazeta. Além da experiência, Pedro era perfeccionista e tinha fama de durão.
Queria o que havia de melhor no mercado para trabalhar, entre narradores,
repórteres, comentarista e até mesmo técnicos de som, pois achava que “somente
homens que gostassem de futebol poderiam formar uma equipe forte”.
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Raul Tabajara, repórter de campo, no início dos anos 1950 |
Pela
primeira vez na história do rádio esportivo brasileiro formava-se uma equipe,
ou melhor, um time de craques responsáveis por segurar um dia inteiro, sete
dias por semana, um ano de programação esportiva. Nos primeiros anos de
trabalho, foram convocados para essa missão nomes como Mário Moraes, Hélio
Ansaldo, Otávio Muniz, Aníbal Fonseca, Raul Tabajara, Blota Júnior, Salém Jr.,
Nelson Spinelli e muitos outros. Até mesmo um comentarista de arbitragem era
escalado nas transmissões. O primeiro foi Flávio Iazetti. Lutas de boxe eram
narradas pelo comentarista de futebol, Mário Moraes; Otávio Muniz narrava jogos
de basquete.
O próprio Pedro Luiz, número um
da locução no futebol também narrava luta livre, golfe, basquete e vôlei, ou
seja, por causa do volume de eventos e horas de programação a cumprir, todos
deveriam narrar de tudo um pouco.
Pedro
Luiz virou lenda
no rádio esportivo brasileiro não só por ter participado de todas as Copas do
Mundo até 1998, como por formar um número incalculável de profissionais do
rádio e, mais tarde, da televisão brasileira. Era
admirado e imitado pela excelente voz e dicção perfeita e, principalmente, pela
fidelidade na descrição da jogada. Sem atropelos, dava ao ouvinte a noção exata
do que estava acontecendo em campo.
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Pedro Luiz |
A
programação da Rádio Panamericana serviu de modelo e inspiração para muitos
programas esportivos que surgiriam anos mais tarde. Logo pela manhã, os
ouvintes ficavam informados sobre tudo do esporte ao sintonizar o Alvorada
esportiva; no almoço, o irreverente Picando o couro, baseado em
crônicas e críticas esportivas; às segundas-feiras, um programa de enorme
sucesso batizado de Ceia dos maiorais, precursor das famosas
mesas-redondas, onde os principais cronistas esportivos da cidade e outros
estados se reuniam na sede do São Paulo Futebol Clube para debater futebol. As
convocações da seleção paulista eram analisadas pelos cronistas que
participavam do Tribunal esportivo. Mas o mais divertido de todos os
programas idealizados pela equipe de Pedro Luiz
na Panamericana era o Guarda noturna esportiva, apresentado por Estevan
Sangirardi e inspirado em um “inspetor esportivo”, batizado de H-7, que
percorria quarteirões da “cidade dos esportes” atrás de informações.
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Hélio Ansaldo |
Tinha muito
mais, e com todo esse cardápio a Panamericana ganhava fama de “emissora dos
esportes”. Para atrair estrelas da concorrência, do rádio e jornais, criou o
programa Voz do esporte, comandado por Hélio Ansaldo e que contou com
participações especiais de Oduvaldo Cozzi, do historiador Leopoldo Santana, do
jornalista Thomaz Mazzoni e do capitão Sílvio de Magalhães Padilha. Para atrair
a audiência do povão, equipes da emissora se posicionavam nos cinemas,
restaurantes e bares movimentados da cidade para ouvir o torcedor nas vésperas
dos grandes clássicos.
Uma nova escola de jornalismo
esportivo estava nascendo. As transmissões das partidas de futebol criaram
novas funções para os profissionais que participavam da cobertura. Repórteres
de campo passaram a ter o trabalho valorizado. Na verdade, nesse início quem
ficava atrás dos gols eram também locutores, que tinham a função de irradiar o
que acontecia quando a bola saía do campo de jogo. Após o encerramento da
partida, tinham de informar e entrevistar os personagens principais do
espetáculo.
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