Literatura na Arquibancada recomenda a
leitura do ensaio “O
FUTEBOL E A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (1915-1990)” escrito pelo músico Celso Branco, para
a “Recorde: Revista de História do Esporte”.
Aqui, um
pequeno trecho do trabalho. Vale a pena a leitura.
Celso Branco é músico, mestre em
História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada
(PPGHC), e doutorando do Programa de Pós-Graduação de História Social (PPGHIS),
ambos da UFRJ; também mantém vínculo com o Laboratório de Estudos do Tempo
Presente, como pesquisador.
Da
mesma maneira como se afirma que “o samba está no sangue do brasileiro”, afirma-se
também que este é “o país do futebol”. A aproximação entre música e futebol ocorre
de muitas formas dentro do contexto cultural brasileiro. No próprio dia-a-dia
da população podemos encontrar inúmeras comparações entre as regras sociais e
um jogo "afinado". De fato, a Música Popular Brasileira e o Futebol
são manifestações bastante constantes do povo brasileiro e quando unidas por "craques"
da MPB refletem, com incrível precisão, boa parte do nosso imenso universo
sócio-cultural e da nossa "brasilidade". Através das letras das
canções, isto é, na escolha de determinadas frases e palavras, é que se torna
possível uma identificação dos papeis sócio-psicológicos ocupados pelo futebol.
E que papéis são estes? Gilberto Freyre, em 1947, já havia percebido com muita
clareza, um sentido psicológico coletivo para o futebol no Brasil: “O
desenvolvimento do futebol, não num esporte igual aos outros, mas numa
verdadeira instituição brasileira, tornou possível a sublimação de vários
daqueles elementos irracionais de nossa formação social e de cultura” (Apud
SHIRTS, 1982, p. 45).
Elementos
irracionais por vezes bastante perigosos, como atesta o famoso jogador Sócrates:
“Se não houvesse o futebol, nós teríamos outra coisa. Se não houvesse outra coisa,
nós teríamos uma guerra civil a cada dia”. Na verdade, nenhuma atividade esportiva
"de massa" pode ser considerada "inocente". O filósofo
Althusser cita os esportes como um aparelho Ideológico do Estado (Althusser,
1970, p. 44-46). E os historiadores Norbert Elias e Eric Dunning produziram um
interessantíssimo trabalho sobre este assunto, demonstrando que a necessidade
de controle da atividade esportiva e do ócio representa uma etapa
civilizacional posterior ao controle do homem sobre a natureza e a sociedade: a
do controle do homem sobre si mesmo (ELIAS e DUNNING, 1992). Mas é o futebol,
no caso brasileiro, confirmado pela frase do Sócrates, que ganha toda essa
dimensão sócio-psicológica. Estritamente regulado pela CBD, pela FIFA, e pelas
respectivas federações estaduais, o “esporte rei” insere-se na sociedade
brasileira não apenas como uma instituição social, mas também política,
econômica e, sobretudo cultural, no que se refere à uma identificação com a
nossa brasilidade.
Para
a antropóloga Simoni Lahud Guedes (1998), é hoje incontestável que, "se desejamos
compreender o Brasil, é preciso passar também pelos seus campos de futebol"
(p. 5). Muitas vezes valoriza-se o jogo como o único alento para as
dificuldades da vida: assim diz João Lyra Filho (1973): “O povo brasileiro
vale-se de um grande jogo de futebol, por exemplo, para pôr em fuga os
aperreios acumulados em sua vida cotidiana” (p.284-5). Há de fato, em torno do
Futebol, toda uma literatura, uma produção jornalística, programações de rádio
e de televisão, etc., que reforçam essa identificação. O futebol tornou-se uma
entidade, por assim dizer, "tocável", ou seja, que se relaciona com o
resto da sociedade, fornecendo “lazer" e emitindo uma série de valores.
Valores que aqui entenderemos também como espaços a serem preenchidos por este
esporte, e que ganham dimensões crescentes a medida que percorremos a história do
nosso país através do século XX.
Para
ler o ensaio completo, acessar o link abaixo:
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