Parte de um estudo interessante sobre futebol
e literatura, a praia do Literatura na Arquibancada, feito por Andrêya Garcia
da Paixão Morgado e apresentado durante o III Colóquio de Estudos Linguísticos
e Literários (Celli), em 2007. O trabalho tem o título: UM BATE-BOLA ENTRE
FUTEBOL E HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA e tem ótimas dicas de leitura sobre
o futebol.
O FUTEBOL NA CULTURA BRASILEIRA
A escolha por esse assunto deve-se, principalmente, ao fato de esse ser
um esporte de grande importância cultural, econômica e identitária para o
Brasil, sendo, assim, uma prática relevante da cultura brasileira. Pensemos em
cultura como construção humana constituída por um sistema simbólico e pelas
ações e experiências sociais dos homens, sejam crenças, costumes e mitos, entre
outros, seja manifestações humanas materiais – obras de arte ou artefatos. Tomemos,
então, o esporte em seu aspecto lúdico, como um fenômeno sócio-cultural. Logicamente,
portanto, o futebol faz parte da cultura. No caso do Brasil, o futebol não só faz parte, como tem grande importância. Construída ideológica e
politicamente, esta pode ser sentida e medida de várias formas na cultura
brasileira. Sua presença é marcante na linguagem do povo e em manifestações artísticas
como o cinema, a música, o teatro, a dança e a literatura. A mídia tem o
futebol como um de seus principais assuntos: há muitas publicações exclusivas sobre o assunto, cadernos diários em jornais (isso desde,
aproximadamente, 1930), programas televisivos, inúmeros sites de internet e é
presença constante em anúncios publicitários. O futebol é ainda [...] uma
dimensão da cultura brasileira construída no dia-a-dia, nas conversas de
segunda-feira entre colegas de escola e de trabalho, nos desafios e nas apostas
anteriores aos jogos, no reconhecimento do outro, que veste a camisa do clube
do coração, um irmão na dor e na alegria (ANTUNES, 2004, p. 17).
Há uma relação peculiar entre o futebol e a identidade nacional brasileira.
Um exemplo é que a imagem do Brasil como um país onde há democracia racial
plena foi difundida em especial através do futebol. Intelectuais, Estado e
mídia viram no futebol uma das maiores manifestações da cultura popular
brasileira; este se tornou símbolo nacional, o que é reforçado constantemente.
Isso também porque, como afirma o antropólogo Roberto DaMatta, que estuda o
futebol como um fenômeno cultural brasileiro. O futebol não é apenas uma
modalidade esportiva com regras próprias, técnicas determinadas e táticas
específicas [...] O futebol é uma forma que a sociedade brasileira encontrou
para se expressar. É uma maneira (sic) do homem nacional extravasar
características emocionais mais profundas, como paixão, ódio, felicidade,
tristeza, prazer, dor, fidelidade, resignação, coragem, fraqueza e muitas
outras (DAMATTA apud CARRANO, 1998, p. 35).
A construção da interdependência entre o futebol brasileiro e a
identidade nacional abrangeu também o jeito de jogar do brasileiro – o chamado
futebol-arte – e o fator emocional do esporte, o qual se verifica nas
celebrações dos torcedores, no envolvimento da maioria dos brasileiros quando
há competições internacionais e até mesmo na forma de organização
administrativa do esporte.
Por outro enfoque, é uma atividade socioeconômica de peso, visto que,
além de propiciar a ascensão social dos atletas e profissionais das comissões
técnicas e movimentar altas somas monetárias no mercado esportivo, na
publicidade e em outros setores diretamente ligados ao futebol, participa,
indiretamente, da renda de uma grande parcela da população brasileira.
A importância desse esporte para a cultura nacional, conforme
comentamos, provocou mudanças inclusive na aceitação de se discutir o assunto
no âmbito acadêmico. Houve discussões a seu respeito no início do século XX
entre literatos, em jornais, principalmente, quando o futebol ainda era
elitizado e estava no início de sua popularização. Mais tarde, nas décadas de
60 e 70, após a consagração do Brasil como campeão mundial no esporte, o
interesse por discutir o assunto aumentou. Contudo, só recentemente houve um
aumento respeitável de pesquisas e artigos nas ciências sociais que o têm como
objeto, isso porque esse esporte "transformou-se em fenômeno social de grande
importância, envolvendo uma complexa rede de relações sociais e de interesses,
às vezes mais, às vezes menos divergentes" (ANTUNES, 1994, p.109).
O FUTEBOL E A
HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA
Se a discussão
do futebol aos poucos tomou corpo nas ciências sociais, desperta interesse
pesquisar também sobre fenômeno tão instigador da cultura brasileira e sua representação
literária. Empreendemos um levantamento dos trabalhos que se atentaram ao tema
e, embora parcial, incompleto, oferece um esboço do que já se falou sobre o futebol
na literatura e em que medida isso foi preocupação para a história literária. Antes
de prosseguir, cabe delimitar, ainda que de forma tênue, alguns conceitos. O
termo história/História tem várias acepções, mas aqui se toma o sentido
de estudo e narração sistemática do passado, dos fatos considerados
significativos. Quando se fala em história da literatura brasileira, temos especificados
quais fatos são registrados ou explicados – os fatos literários, ou seja, os
movimentos estéticos, os gêneros, os estilos, as obras literárias e seus
autores – e o local cujos fatos têm seu registro e estudo: o Brasil. Assim, a
história da literatura brasileira é, grosso modo, o registro e estudo das obras
literárias do Brasil.
A história
literária narra e registra os fatos significativos da literatura. Isso é
relativo – que fatos são significativos para o historiador e/ou seu meio? O que
ocorre, portanto, é que a história literária tradicional, freqüentemente,
isolou ou desqualificou indivíduos que, por idéias, raça, sexo ou nacionalidade
não se adequaram ao sistema construído, criando a ilusão de uma só história,
uma única tradição, e negando o impacto das estruturas sociais na literatura
(LEMAIRE, 1987, p. 59). Tanto o isolamento de que fala Ria Lemaire quanto a
negação, total ou parcial, da influência do social na obra de arte perpassam a
história literária, podendo deixar à margem autores, estilos literários e
temas.
Mesmo que
historiar a literatura ou quaisquer aspectos da sociedade e da cultura humana
não permita uma visão total, é indispensável que busquemos dar atenção a temas
que integram a cultura de um país e sirvam como elemento de identificação para
a idéia de uma nação e tenham tantas relações sócio-econômicas culturais, como
é o caso do futebol no Brasil. Afirmamos isso porque a literatura recria,
representa e envolve as práticas culturais de um país, das quais muitas
contribuem para a construção da idéia de nação de um povo. Logo, para
empreendermos a tentativa de entender um povo e suas identidades, é necessário
que se olhe para sua realidade e para diferentes representações feitas por sua
literatura, não apenas no tocante a temas e valores considerados
tradicionalmente literalizados.
Os trabalhos
encontrados, nenhum estritamente de história literária, são apresentados e
comentados a seguir. Os dois primeiros não são acadêmicos, ao passo que os
demais são.
A obra foi
publicada por Milton Pedrosa em 1967, inaugurando a Editora Gol, e teve uma
única edição – esse é um dado relevante para se pensar no pequeno interesse que
houve por investigar a representação literária do futebol. O prefácio é de
Paulo Rónai, no qual ele informa que o livro é, além de “uma antologia do
futebol nas letras brasileiras”, resultado de pesquisas do jornalista e
escritor, após considerar que “é impossível que um assunto tão empolgante para
a quase totalidade dos brasileiros não tenha deixado marcas na literatura” (p.
5). Pedrosa introduz a antologia com um artigo cujo nome é a segunda parte do título
da obra, em que comenta, inicialmente, sobre aspectos sócio-econômicos do futebol.
Em seguida, define o que considera literário: “produção de genuíno cunho artístico-literário,
já fixada em livro e divulgada em revistas e jornais a partir da introdução do
futebol na vida do País”, em contraposição ao que seria “literatura especializada,
obrigatória, (sic) sobre futebol” (p. 13), o que seria, basicamente, o jornalismo
esportivo.
O autor somente
lista, então, autores, vários consagrados já na época, que citaram o futebol em
obras de ficção e poesia. Ele afirma que eram poucas as obras, até aquele
momento, em que o futebol assumia papel primordial (p. 16) e que “esse esporte,
hoje nacional, ainda não foi capaz de interessar os autores brasileiros na
medida correspondente ao prestígio e à penetração que alcança nas camadas da
população brasileira” (p. 16). Embora a afirmação já não corresponda tanto à
realidade atual, ela pode ser estendida ao interesse dos intelectuais
brasileiros em relação ao futebol na literatura.
A postura dos
literatos e intelectuais também é comentada por Pedrosa, a partir da discussão
da reputação do esporte na sociedade brasileira, que teria piorado na proporção
de sua popularização, do pensamento eurocêntrico da intelectualidade e da falta
de mercado para a literatura que tematizasse o futebol. Em relação ao primeiro ponto,
Milton Pedrosa informa que escritores “eram censurados publicamente em razão de
sua participação na vida esportiva, ou por se manifestarem na simples condição
de torcedores” (p. 20). Em relação ao segundo assunto, ele filia o bom conceito
do futebol entre a classe dominante no início do século a sua origem bretã –
européia. Já no que se refere ao último ponto, Pedrosa coloca que grande parte
dos apreciadores do esporte não tinha interesse pela leitura ou acesso a ela,
conseqüência principalmente do índice de analfabetismo do país.
O organizador
da antologia ainda rebate a afirmação de que o futebol iguala classes sociais e
reforça a crítica à alienação dos intelectuais com o comentário duro de Fábio
Lucas de que “falsos problemas geram soluções falsas: a literatura, ao invés de
expressão da vida, se tornara numa caricatura da vida, na imitação servil de
padrões estéticos distantes, no dilaceramento (sic) piégas de reprimidas
emoções” (LUCAS apud PEDROSA, 1967, p. 34). Não se pode mais generalizar
dessa maneira a literatura nem a intelectualidade brasileira, mas há que se
refletir no quanto essa herança influencia a pesquisa e a história da
literatura no Brasil.
Após o artigo,
aparece a reunião de textos e excertos feita por Pedrosa. Sua pesquisa culminou
na seleção de textos de autores canônicos e de outros com menor consagração à
época. Conforme se pôde perceber, o princípio norteador da antologia era apresentar
textos que tivessem o futebol como tema principal ou importante. Com exceção de
Lima Barreto e Graciliano Ramos, os autores que aparecem na antologia são simpáticos
ao esporte – o que aponta para um critério também ideológico, tendo relação com
a posição de Milton Pedrosa.
A seleção é
organizada conforme gênero e por ordem alfabética dos nomes dos autores. Na
ordem, são cinco contos, excertos de quatro romances e de três textos de dramaturgia,
dez poemas e 37 textos entre artigos, crônicas literárias e excertos de ensaios.
Antes de cada texto, o organizador faz um comentário contendo pontos interessantes,
ou de julgamento estético ou resumindo o que se apresentará ao leitor. Por vezes,
cita outras obras em que determinado autor tenha incluído o futebol. A
antologia é, em resumo, um panorama da literatura que tematizou o esporte
compreendendo o período do final do século XIX à década de 60.
2. Onze em campo e um
banco de primeira
Essa obra,
organizada por Flávio Moreira da Costa pela primeira vez em 1986 e publicada
pela editora Relume-Dumará, após revisão, em 1998, é uma antologia de contos.
As duas antologias aqui apresentadas foram escolhidas porque, além de a mais recente
dialogar com a de 67, essas são resultado de pesquisa sobre a presença do futebol
na literatura brasileira e não são restritas aos objetivos de serem apenas publicações
temáticas com fins pedagógicos ou para atingir determinado nicho de mercado (o
que não significa que também não tenham esses objetivos).
Costa abre o
livro com um artigo intitulado “Jogo preliminar: Ficção x Futebol”, em que o
amplo uso de termos ligados ao futebol sobressai. Ele comenta a importância do
futebol para a cultura brasileira e identidade nacional e discute a brasilidade
do esporte. A multifacetação do assunto e as possibilidades de discussão em
diversas áreas do conhecimento também são comentadas. A partir daí, o
organizador discorre sobre a, segundo ele, ainda pequena produção artística que
tratam do tema em questão. Um “mero levantamento” (p. 10) de escritores é
recusado, mas isso é feito em relação à música popular, ao teatro, às artes plásticas
e ao cinema. Duas causas dessa “falta, praticamente na marca do pênalti” (p. 11)
são dadas: o futebol seria uma expressão em si mesmo e é um fenômeno de massa. Ao
afirmar que há pouco de arte que tematiza o futebol, Costa reitera o que Milton
Pedrosa colocou em seu trabalho de 1967, embora com diferentes explicações para
o fato. O organizador tenciona ir além da obra de Milton Pedrosa, citando-a e
afirmando que, para evitar a repetição, fez sua própria escalação, optando por
um único gênero literário – o conto – e por textos recentes. Após pesquisar
para a elaboração da primeira edição da antologia e descobrir que “havia muito
pouco material disponível” (p. 12), alguns textos foram encomendados. Na
primeira edição (1986), entre textos já publicados e feitos sob encomenda, eram
onze; na segunda edição, são 16, os quais não têm, como no livro de Pedrosa,
comentários individuais que os antecedam e a ordem em que foram colocados na
antologia é, aparentemente, aleatória.
Segundo Costa,
os contos são “todos de autores com livros publicados e com reconhecimento
da crítica” e que, com sua pesquisa, percebeu haver, a despeito de considerar a
quantidade pequena, “material literário de boa qualidade sobre o ex-esporte bretão” (p.
12). Suas palavras apontam, pois, para a qualidade estética como critério para a seleção
dos textos. Apesar de discutível o fato de serem considerados bons somente os
autores que publicaram livros e que tenham algum reconhecimento dos críticos, é
interessante (para questionamentos, inclusive) o critério de sua pesquisa. A
antologia
pretende ser e se configura, em última análise, como uma amostra da ficção recente que tem
o futebol como matéria principal.
3. Futebol
futebóleres: uma representação do esporte na literatura brasileira nas
décadas de 1910
e 1920.
Esse trabalho é
a dissertação de mestrado de João Carlos Alfredo, defendida em 1996 no curso de
pós-graduação em Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da
Unicamp. A orientação foi de Berta Waldman. Como o próprio título indica e a
introdução do trabalho confirma, a dissertação é uma síntese periódica dos
textos mais significativos no que se refere ao tratamento dado ao futebol (p.
9). Os textos selecionados são literários, mas o autor também se atentou a
textos não-literários dos autores escolhidos, Lima Barreto, Monteiro Lobato e
Antonio de Alcântara Machado.
A dissertação é
composta, em grande parcela, de teorizações feitas acerca do esporte (primeiro
capítulo) e, em sua última parte (segundo capítulo), das análises dos textos.
Essa análise tomou o futebol como elemento estruturador das obras e o debate ideológico
resultante disso. Alfredo enfatizou a questão do nacionalismo e da recepção do esporte no
Brasil. Seu trabalho de pesquisa, embora seja essencialmente relacionado à estruturação
dos textos que tratam do futebol, tem um sentido histórico, porque busca as primeiras
manifestações da literatura em relação a essa atividade esportiva no país.
4. Ficção e futebol: culturas em movimento
Professor da
Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Pedro Brum Santos
efetivou algumas pesquisas sobre a relação entre futebol e literatura. Santos
coordenou um projeto intitulado Ficção e futebol: culturas em movimento,
no qual foi feito um levantamento de textos literários que elegeram o futebol
como tema. O projeto culminou num artigo de mesmo nome, publicado na Revista
Letras, e num material organizado em 1998 que, além de discutir o futebol no
Brasil e a questão da representação desse esporte na literatura, apresenta
resenhados diversos trabalhos literários e outras publicações relacionadas ao
assunto. Este último fez parte do relatório de pesquisa “Identidade do futebol
e expressões da narrativa literária”. Também resultado dessas pesquisas, há o
artigo “De poesia e de aves: relações entre literatura e futebol”, em que o
autor analisa três poemas cuja temática é o futebol. Os autores são João Cabral
de Melo Neto, Affonso Romano de Sant’anna e Luiz de Miranda, refletindo sobre
as diferentes formas de representação do esporte nos textos literários.
Como lida com a
história literária e a identidade, Santos deu a suas pesquisas um caráter
historiográfico, embora não se restrinja a isso e abarque a análise do texto literário
em si.
5. Rastros do cotidiano:
futebol em versiprosa de Carlos Drummond de Andrade
Analisando as
crônicas de Carlos Drummond de Andrade sobre futebol reunidas no livro “Quando
é dia de futebol”(Record, 2002), Fabio Mario Iorio comenta, a partir de cada
texto do escritor, sobre a evolução do futebol e como Andrade registrou essa manifestação
cultural no Brasil. Esse trabalho foi sua tese de doutoramento na Universidade
Federal do Rio de Janeiro, sob orientação de Beatriz Rezende. Segundo Iorio, As
crônicas traçam a tensão entre o texto e o contexto, relacionando futebol e
política, desdobrada em arte e mídia. Delimita a geração Maracanã até os anos
80, assinalando sua contribuição pelo discurso do oprimido (IORIO, 2006, p.
2006). A tese de Iorio aponta para a importância de se analisar as
manifestações culturais por meio do estudo da literatura.
6. Outros trabalhos
Devido ao
restrito acesso a tudo o que foi produzido nas universidades acerca do futebol
como assunto literário, foram encontrados, para este levantamento, dados sobre outros
quatro trabalhos, entre dissertações e teses na área de Letras, cujo foco foi o
futebol e a literatura. A pesquisa foi feita junto ao acervo de Teses e
Dissertações do CNPq. Fica-se apenas na listagem breve por não se ter tido
acesso integral aos trabalhos.
a) Futebol e
palavra –
tese de Ivan Cavalcanti Proença publicada em 1981 pela editora José Olympio, em
que o autor discute, basicamente, a influência do esporte na língua portuguesa
falada no Brasil.
b) O mundo do
futebol nas crônicas de Nelson Rodrigues – dissertação de Mestrado defendida por
Marcelino Rodrigues da Silva em 1997 na Universidade Federal de Minas Gerais.
Silva, segundo o resumo de seu texto, faz um estudo semiológico dos “processos
pelos quais foram produzidos os sentidos que o imaginário coletivo brasileiro
atribui aos personagens, instituições e acontecimentos do universo
futebolístico” a partir da representação que Nelson Rodrigues faz do esporte em
suas crônicas esportivas.
c) A construção de
estratégias textuais nas crônicas esportivas de Luis Fernando Veríssimo – dissertação
defendida por Vera Lúcia Aparecida Rezende em 2002, também na UFMG.
d) Nelson
Rodrigues e o futebol: nos lances de bola, os traços da alma – tese de Doutorado
de Serafina Maria Simas Pereira de Souza Pondé pela Universidade Federal da
Bahia defendida em 2002, na qual a autora faz um estudo estéticoestilístico das
crônicas esportivas de Nelson Rodrigues.
e) Crônica de
futebol: lirismo e drama – dissertação defendida em 2003 por Angela Ignatti Silva na
Universidade Presbiteriana Mackenzie, em que Silva analisou a representação do
futebol em crônicas de Carlos Drummond de Andrade e de Nelson Rodrigues. Seu
enfoque foi na presença do lírico nos textos drummondianos e do dramático nos
textos rodrigueanos ao tratar do esporte.
ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES
Com o
rastreamento dos estudos literários em busca do que se falou sobre o futebol na
literatura brasileira, conclui-se que os trabalhos encontrados enfocam os aspectos
estéticos, ideológicos e políticos das representações do esporte nos textos. Os
recortes cronológicos ou simplesmente a escolha de autores representativos na
maior parte das pesquisas sugerem, por um lado, uma preferência pelos momentos
iniciais do esporte no Brasil e, por outro, a preferência por textos de
escritores canonizados. Então, há muitos autores e obras a serem estudados a
fim de termos uma visão mais ampla do esporte, suas implicações sócio-culturais
e a recriação literária disso.
Os trabalhos
apresentados não podem ser filiados estritamente à história literária, mas isso
não lhes reduz o mérito. Ora, apesar de as pesquisas de história literária
ficarem, muitas vezes, restritas a padrões tradicionais ditados por publicações
feitas no eixo Rio-São Paulo e fora do Brasil, em que os temas literários
recebem pouca atenção, principalmente os de pouca tradição na literatura, ficou
evidente que é possível minimizar a ainda diminuta curiosidade dos Estudos
Literários para com o tema.
Mais importante
do que afirmar que a história da literatura brasileira não se preocupou na
medida necessária com o tema futebol e fez pouco em relação à representação de
outras práticas culturais brasileiras é ressaltar a importância de que consideremos
e historiemos os registros literários dessas práticas. Histórias literárias por
temas se fazem necessárias, juntamente com outras perspectivas dos estudos
literários, para uma melhor compreensão da literatura e da cultura do Brasil. A
fragmentação de uma abordagem assim da literatura é vantagem quando se leva em
consideração que é mais interessante para o estudo de cultura tão multifacetada
como a brasileira.
Uma última
consideração, para fechar este trabalho e abrir a partida de discussões: as
antologias, os estudos acadêmicos por nós encontrados e a lacuna que se mantém
em relação ao futebol na literatura servem se não como história literária, como
material para que ela seja feita a partir de uma abordagem menos totalizante e
elitista.
Sem dúvida, o
“ecletismo teórico, uma ótica interdisciplinar e comparativista e um [...]
fascínio
temático” (MENDONÇA & ALVES, 2003, p. 1) respondem de forma
interessante às
necessidades teóricas para o entendimento da literatura e da cultura
brasileiras.
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