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Antonio Lizárraga |
Literatura na Arquibancada recupera agora um artigo
publicado em 1994, pela Revista USP – Dossiê Futebol, sobre
dois gênios, um da poesia e outro da pintura, da escultura e das artes gráficas. Haroldo de Campos, brasileiro; e Antonio
Lizárraga, argentino; ambos já falecidos, o poeta em 2003, Lizárraga, em 2009. Juntos, transformam a literatura e o futebol em verdadeiras obras de arte. Haroldo escreve sobre o amigo artista plástico, mas acaba deixando para posteridade um documento precioso de sua criação poética raramente vista sobre o tema futebol.
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Haroldo de Campos |
Para saber mais sobre Antonio Lizárraga, acessar:
Para saber mais sobre Haroldo de Campos, acessar:
Anatomia do Gol
Por Regina Silveira
Antonio Lizárraga nasceu em Buenos Aires em 1924 e estava
radicado no Brasil desde 1956, tendo se naturalizado cidadão brasileiro. No
primeiro time da arte abstrata desde os anos 70, Lizárraga começou como
desenhista, ilustrador de jornais e designer gráfico. Exerce privilegiado senso
de construção formal tanto na pintura como na escultura e na intersecção
criativa dessas duas áreas. Participou de quatro bienais internacionais de São
Paulo, duas delas com salas especiais. Desde 1967 era presença
constante no Panorama de Arte Contemporânea do Museu de Arte Moderna de São
Paulo. (...) O artista, conforme a crítica de arte Angélica de Moraes, de O
Estado de S. Paulo, “consegue a proeza rara de, há mais de três décadas, estar
sempre renovando sua produção dentro do mesmo universo de problemas formais”.
Angélica diz também que na arte de Lizárraga “não há repetição de ideias mas
aprofundamento de questões. Sua linguagem nasce da confluência da abstração
geométrica com o minimalismo, mas segue trajetória própria. Isso envolve o
sábio uso da cor como volume virtual e a ordenação de elementos plásticos
segundo um ritmo musical que ele, adepto de jazz, credita ao be-bop. Nós
preferimos creditá-lo a uma afiada compreensão das potencialidades oferecidas
por uma simples linha e à exploração sensível do imenso espectro tonal
existente nos pigmentos.”
Anatomia do Gol
Haroldo de Campos
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ferrolho suíço |
jogar um
jogo
é como
jogar o jogo
da pintura ou
do poema
jogar o jogo
do poema
(ou da pintura)
é como
jogar qualquer
jogo
as mãos jogam
cartas ou
basquete
na
mesa ou na
quadra
os pés jogam
bola
no
campo ou na
praia
mas quem joga
mesmo é o
cérebro
suas bossas e
cerebelo
seus lobos:
um jogo de luz
sem peso
que faz passar por
um triz
por um cabelo
ou acertar
em cheio:
mão de baralho
plena
ou pé no tiro
certeiro
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retranca aberta |
antonio
lizárraga joga
um jogo de
cartas marcadas
um jogo onde tudo joga
um futebol de papel
com peças de diamante
triângulos
setas
arestas
acuando o círculo
migrante
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dábliu-eme |
retranca aberta
dábliu-eme
pelo meio
ferrolho suíço
casados contra solteiros
ponta recuado
overlapping
pelas pontas
triangulagem
carrossel holandês
quadrado mágico
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pelo meio |
chegados neste quadrado
a gente pára e medida:
se o círculo ficou acuado
se pensa como o estagirita
ou se ainda foge -->
evasivo -->
perseguido por sagitas -->
o que se vê é o centro:
um triângulo ^ uma tríade
(como charles sanders peirce
gostava de ver com a mente)
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ponta recuado |
é o uno posto no trino?
é o primeiro
concluso no seu
terceiro?
são as de Pitágoras
últimas categorias
primevas?
no sei não sabemos
por mais
que a gente dê tratos
à bola
ninguém atinge essa
meta (sol)
onde se exaure a pintura
e o poema:
sede secreta
(gol)
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