Em 2010, o SESC, de Santos organizou a exposição e vídeo-instalação "É 10!". O evento prestou homenagem aos 70 anos de Pelé e outros craques do mundo que se destacaram vestindo a camisa 10. Para quem não viu, compartilho aqui os textos que produzi para o evento.
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Sucesso
Vivemos no tempo em que o
fenômeno da autoajuda domina as mais variadas culturas e sociedades, mas nem
por isso, o significado da expressão “ser 10”, pode ser confundido com tais
situações. Somos bombardeados diariamente por “especialistas” na arte de
vencer, que tentam vender ao mundo, pelas mais diversas formas, como livros,
palestras e cursos, fórmulas variadas para se atingir o sucesso.
Talvez resida aí o fascínio que o
futebol exerce sobre nós. Como simples mortais conseguem atingir o topo do
mundo e ser o melhor entre os melhores, com histórias de vida extremamente
simples? Pergunte isso a um atleta consagrado e, invariavelmente, por menor que
seja o grau cultural do personagem, a resposta sempre passará por “chavões”
sempre utilizados pelos gurus da autoajuda, tais como: “acredite em você”,
“persista nos seus sonhos” e muitos outros.
Como se vencer ou obter sucesso
dependesse simplesmente de regras pré-estabelecidas, passamos grande parte de
nossas vidas tentando nos espelhar em pessoas ou situações cujos resultados
positivos obtidos nas suas trajetórias refletem um modelo ideal de
sobrevivência.
Ser 10 tornou-se clichê
representante daquilo ou daqueles que obtém sucesso no dia-a-dia. No esporte,
como na vida, ser vencedor passou a ser quase uma obsessão. Profissionais
especializados dos mais variados setores de atividades trazem na ponta da
língua discursos prontos e ensaiados exaustivamente sobre a quase
obrigatoriedade do “instinto vencedor”.
Afinal, alguém saberia responder
se pessoas ou produtos de sucesso nasceram vencedoras? Ou ainda, o que faz tais
pessoas obterem sucesso enquanto outras fracassam?
Por mais que “especialistas”
tentem estabelecer parâmetros, regras e guias, o ser humano estará sempre
sujeito aos sonhos idealizados durante a progressão de sua vida. Aqueles que
acreditam em uma chave-mestra para abrir as portas da felicidade, poder e
riqueza, como algumas pessoas bem-sucedidas conseguiram alcançar,
invariavelmente, ficam pelo caminho das frustrações.
Ser 10 é muito mais do que se
consagrar nos gramados de futebol. É conseguir desempenhar os inúmeros papéis
que a vida nos obriga a exercer como mãe, pai, filha, profissional, amigo e
esportista, com o melhor comportamento possível em cada um deles.
Ser 10 é evoluir diariamente com
os erros e acertos, altos e baixos a que estamos sujeitos pelas
responsabilidades assumidas.
Se seguir modelos
pré-estabelecidos representasse o caminho certo a ser percorrido em busca do
sucesso, muitas celebridades, de vários segmentos, não teriam alcançado a
notoriedade em suas vidas.
O ator Fred Astaire, que encantou
o mundo dançando em mais de 40 filmes, foi recusado em seu primeiro teste para
o cinema sob alegação de que não sabia atuar, dançava pouco e além de tudo era
careca.
Walt Disney foi despedido por um
dos editores dos jornais em que trabalhou sob alegação de “falta de
criatividade”. Nunca desistiu do sonho de construir a Disneylândia, mesmo tendo
ido à falência diversas vezes.
Rodin, considerado o pai da
escultura moderna, criador de obras eternas como “O Pensador” e “O Beijo”, foi
reprovado três vezes na escola de artes parisiense antes de conseguir entrar e,
depois ainda foi considerado o pior aluno da turma. Não desistiu jamais, mesmo
sabendo que até o próprio pai o considerava um idiota.
Ser 10, vencedor ou detentor de
algum sucesso na vida é, sem sombra de dúvida, aquele que triunfa sobre as
próprias limitações.
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