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Maurício Murad |
Ele
é um dos mais respeitados estudiosos sobre o futebol brasileiro. Há 20 anos, Mauricio
Murad coordena o Núcleo de Sociologia do Futebol na Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (Uerj). Nesta longa trajetória, foram desenvolvidas pesquisas e
estudos fundamentais para entendermos melhor o futebol como um fenômeno social.
Neste bate papo com o Liteteratura na Arquibancada,
Murad revela sua nova paixão literária, com a produção de alguns romances.
Literatura na
Arquibancada:
Um de seus
livros, A violência e o futebol - dos estudos clássicos aos dias de
hoje, traça um panorama da relação histórica entre violência e futebol. O que mudou
neste tema desde o fim de suas pesquisas para este livro? Quais evoluções
ocorreram em termos de segurança nos estádios?
Maurício Murad:
Pouca
coisa mudou. O Estatuto de Defesa do Torcedor, embora incompleto, foi um
avanço, como também a segurança dentro dos estádios. Contudo, a
infiltração de grupos de vândalos, as agressões violentíssimas, as mortes e o
uso das redes sociais para a marcação dos confrontos, sem a atuação prévia da
polícia, permanecem quase que inalteradas e pior, em escala crescente.
L.A:
O que está
sendo feito em termos de estudos acadêmicos sobre os dois maiores eventos
esportivos do planeta que acontecerão por aqui, Copa do Mundo e Jogos
Olímpicos? Quais estudos internacionais recomenda para estudiosos e autoridades
públicas brasileiras?
M.M:
Vários
estudos estão sendo feitos no Brasil, sobre o Mundial de 2014 e os Jogos
Olímpicos de 2016. Acredito, que a partir de agora, com o calendário definido,
esses estudos ganharão mais visibilidade e outros virão. Os estudos realizados
na Alemanha, para a Copa de 2006, por universidades e por organismos públicos,
principalmente em relação ao legado do evento, são a meu juízo as melhores
referências.
L.A:
Quais foram
os principais estudos e pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Sociologia do
Futebol da Uerj desde o seu surgimento em 1990?
M.M:
Começamos
com a pesquisa sobre Violência e
Futebol no Brasil, inclusive fazendo
parcerias com o GEPE, Grupamento Especializado de Policiamento dos Estádios, da
Polícia Militar do Rio de Janeiro. Futebol e
Artes no Brasil: Cinema, Música e Literatura, Racismo no Futebol Brasileiro e os Olhares Femininos no Futebol, são exemplos de outros estudos realizados pelo Núcleo de Sociologia do
Futebol, do Departamento de Ciências Sociais da Uerj, em seu início.
L.A:
Você
escreveu um romance infanto-juvenil, em 1994, Todo esse lance que rola, onde
explora a história social do futebol brasileiro, a partir do namoro entre dois
jovens. O livro, inclusive, foi adaptado para o Teatro. Você acredita que o
futebol poderia ser melhor utilizado como instrumento de educação e
socialização?
M.M:
Sem
dúvida! Acho que o futebol é uma poderosa linguagem, um instrumento riquíssimo,
de educação para a cidadania, principalmente com crianças e jovens. Deveríamos
aproveitar bem mais essa nossa cultura coletiva e identidade tão importante que
é o futebol.
L.A:
Depois de se
tornar referência por seus trabalhos de pesquisa científica no campo da
sociologia dos esportes (especialmente do futebol), você também passou a
escrever romances. Fale um pouco sobre os principais personagens de cada um
deles e por que esta decisão de escrever ficção?
M.M:
Tenho três romances já publicados e um “no forno”. Gosto muito de
escrever ficção, pela liberdade que dá ao autor e também porque, acho eu, que
atinge a um número maior de pessoas. Dos três, só um trata de futebol: Todo
esse lance que rola, uma história de namoro e futebol, premiado pelo
Ministério da Educação e Cultura (MEC) e adaptado para o teatro, na versão de
um musical. As fogosas aventuras de J. Ferreira e Os pés de Laura, são os
outros. Este último, inclusive, eu considero como sendo a minha obra literária
mais madura...Até agora.
L.A:
Em seus
romances, o futebol é tema de alguma forma?
M.M:
No
primeiro, sim, é todo em torno do futebol. Os outros não, embora ambos tenham
uns “pitacos” aqui e ali.
L.A:
O que é
futebol para você, um estudioso do esporte?
M.M:
Um
esporte maravilhoso, cheio de toques artísticos e linguagens corporais. Além
disso é uma das manifestações coletivas mais relevantes e democráticas de povos
em diferentes sociedades, regimes políticos e sistemas culturais. Futebol é
mais do que uma modalidade esportiva; é um grande e significativo evento das
multidões.
L.A:
Quais as
leituras obrigatórias de livros sobre futebol na literatura esportiva?
M.M:
É
difícil fazer essa seleção, mas vamos lá. Os textos de Gilberto Freyre, como o
prefácio ao Negro no futebol brasileiro, de Mário Filho. Este, também, um livro indispensável. As crônicas de
Nelson Rodrigues, de Mário Filho, de João Saldanha e de Armando Nogueira,
também acho que são fundamentais. O universo
do futebol, organizado por
Roberto da Matta e outros mais.
L.A:
Por que
grandes nomes da literatura brasileira não escrevem mais sobre futebol, como no
passado (José Lins do Rego, Nelson Rodrigues, e outros)?
M.M:
Essa
é uma grande questão a ser estudada, porque praticamente todos os grandes
autores de nossa riquíssima literatura eram muito ligados ao futebol e, no
entanto, quase não há textos sobre o assunto. Romances, a bem da verdade,
porque contos e crônicas há muitos e muitos exemplos. Poesia também, embora em
menor escala. Acho que o preconceito, em torno do futebol, que marcou sua história
social, pode ajudar a explicar um pouco. Mas, ainda precisamos aprofundar mais
esse assunto. De uns anos pra cá (na última década) houve uma melhora, sem
dúvida.
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