Por Ronaldo Helal
Fonte: http://blogdojuca.uol.com.br/2011/10/25320/
A
literatura acadêmica sobre o futebol brasileiro começou a se constituir no
Brasil alguns anos após a publicação do livro
Universo do Futebol: esporte e sociedade brasileira, organizado por
Roberto DaMatta
e publicado em 1982.
Até
aquele momento, os estudos eram escassos e havia uma tendência a se utilizar
uma perspectiva “apocalíptica” (nos termos de Umberto Eco), influenciada pelo
marxismo, que considerava o esporte de massa uma poderosa força de alienação
dos dominados.
Mais
adiante, a perspectiva apocalíptica deu lugar a outra que pretendeu entender o
fenômeno esportivo como expressão da cultura, como uma forma de se entender
melhor a sociedade em que vivemos.
Ainda
naquele período, era comum que os escritos sobre a temática lamentassem o
descaso das ciências sociais sobre o futebol, um fenômeno tão abrangente no
país.
Hoje
podemos dizer que o descaso inexiste e que proliferam estudos e grupos de
trabalhos em congressos científicos que tratam do tema.
As
razões alinhavadas justificam o título escolhido: Futebol, Jornalismo e Ciências
Sociais: interações.
Consideramos
que o esporte, e especialmente o futebol, em suas variadas dimensões, hoje
interage como um parceiro que gera questões significativas para as ciências
sociais.
De
fato, o campo cresceu e foi se consolidando como importante área de estudos
acadêmicos.
Na
Faculdade de Comunicação Social da Uerj,
Ronaldo Helal e
Hugo Lovisolo organizaram o grupo de pesquisa “Esporte e
Cultura”, cadastrado no CNPq desde 1998.
Em
2001, publicamos, junto com Antonio
Jorge Soares, membro atuante do grupo e, uma vez mais coautor
deste livro, A Invenção do
País do Futebol, contendo artigos dos pesquisadores “Esporte e
Cultura”.
A
Invenção do País do Futebol teve, para nossa alegria, expressiva repercussão
nos estudos que lidavam com a historiografia do futebol brasileiro,
principalmente por ousar debater sobre um dos cânones da simbologia do futebol
brasileiro, o consagrado livro de
Mário Filho, O
Negro no Futebol Brasileiro.
Quase
uma década após a publicação de A
Invenção do País do Futebol, continuamos na linha de debater e
questionar “verdades construídas”.
Se
já não apresentamos a evidente heterogeneidade de antes é porque estamos
continuamente refinando nossos argumentos.
Ainda
que os pontos de convergência superem em muitos os de divergência, seguimos
buscando o entendimento dos processos que levam à construções mitológicas que
surgem em torno do futebol brasileiro.
Invariavelmente
esta busca tende a desconstruir as verdades do senso comum e gera polêmica. Se,
por um lado, fazemos, muitas vezes, o papel de destruidores dos mitos mais
prazerosos dos brasileiros, por outro, estamos convencidos de que este mesmo
papel contribui para o avanço acadêmico do campo.
Os
artigos reunidos neste livro dão igualmente prova da força e da amplitude do
campo (sem duplo sentido), além de demonstrarem fôlego para debates e
questionamentos acerca dos argumentos apresentados. Mais do que certezas
absolutas, nossas certezas podem ser provisórias, desde que argumentos
contrários sejam apresentados com evidências empíricas.
O
leitor vai encontrar aqui estudos sobre os seguintes temas: a)uma revisão
geral, e crítica, da literatura do campo acadêmico sobre o futebol;
b)
análises sobre a construção do estilo brasileiro de jogar o futebol e de seus
principais expoentes, como Garrincha;
c)
uma análise de material jornalístico sobre a reconstrução da memória da partida
entre Brasil e Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950, mostrando como o
futebol pode ser abordado e reconfigurado simbolicamente e como ele está
presente no senso comum e na memória coletiva das nações;
d)uma
discussão sobre as narrativas da imprensa argentina sobre a seleção brasileira
durante a Copa de 2006, em uma tentativa de se entender o processo de
acirramento das rivalidades entre os vizinhos nas últimas décadas;
e)uma
análise comparativa sobre as figuras públicas de Pelé e Maradona e do sentido
da construção sobre quem foi o melhor da história;
f)uma
investigação etnográfica em bares onde são transmitidas partidas de futebol,
buscando interpretar as lógicas relacionadas do compartilhar coletivo do acesso
ao mesmo produto de mídia – o jogo de futebol – nesses ambientes de frequência
predominantemente masculina;
g)
uma discussão da importância social do futebol, tendo como base a recepção
coletiva dos jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo;
e
finalmente,
h)
uma investigação do papel do futebol como um dos fatores de integração nacional
brasileira no século XXI e de como este mesmo papel vem declinando nas últimas
décadas.
Desejamos
que a produtiva interação das ciências sociais com o futebol continue ativa e
de que novos “profissionais” ou “peladeiros” se incorporem ao campo escolhendo,
cada um, seu tipo de jogo e papel.
Mais informações sobre o tema:
http://comunicacaoeesporte.com
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